Faltam dois discos para chegar ao total de vinte na escolha que efectuei referentes à década de 70. Verifico que nas escolhas efectuadas até aqui (a última foi "Low" de David Bowie do ano de 1977) não surge nenhuma referente ao movimento Punk que teve a sua expressão maior nos anos de 1976 e 1977. Nem sinal de Ramones, Sex Pistols, The Clash, Dead Kennedys, Buzzcoks e muitos outros grupos, principalmente de Inglaterra, que assaltaram o Rock moribundo na segunda metade dos anos 70. Na realidade, pese a sua importância, não deixaram gravações, para meu gosto, que fossem dignas de se inscrever no Top 20 daquela década. Não faziam o meu gosto, muita energia mas muito simplismo. Rapidamente se esgotaram como novidade e logo novas nuances se desenvolveram, com uma produção mais cuidada surgiu Ian Dury, Joe Jackson, Elvis Costello e bandas como The Fall em Inglaterra e Talking Heads nos Estados Unidos.
São para estes dois últimos que vão as escolhas que faltavam, hoje The Fall, amanhã Talking Heads.
The Fall é das poucas bandas do final dos anos 70 que recordo com satisfação. Por cá foram pouco divulgados, não fossem os textos do Miguel Esteves Cardoso e provavelmente não os teria descoberto a seu devido tempo. Escrevia ele no semanário "O Jornal" a 16 de Janeiro de 1981 em artigo intitulado "The Fall: os incorruptíveis contra o Rock", sendo o pretexto o 3º LP "Grotesque (Ater the Gramme":
"Os Fall são, no mundo do Rock, a Oposição."
"Não são uma banda atraente - a fachada é o interior e o interior não é mobilado. É nu. Os Fall são uma banda nua. Sem rodriguinhos e sem concessões. Sobretudo, os Fall são necessários."
"O Punk foi mais uma pose do que uma posição - os Fall nada têm a ver com ele. Mais do que isso, fazem lembrar essa antiguidade infelizmente obsoleta que é a canção de protesto. Sim a canção de protesto, lembram-se?
A música dos Fall é pouco mais do que uma locomotiva rítmica e rápida que parece prestes a descarrilar. Sobre esse fundo trepidante (des)equilibra-se a recitação convulsivamente histérica de Smith, proferindo cada palavra como se soubesse a ácido sulfúrico, atacando cada frase, mastigando e roendo, sempre insatisfeito ou zangado."
Mark E. Smith (1957-2018) era o líder dos The Fall (1976-2018) com os quais deixou mais de 30 álbuns de estúdio, uma banda a (re)descobrir.
Edição do Reino Unido de 1979 com a ref: (SFLP 4); na capa etiqueta da discoteca Jo-Jo's |
Finalmente o disco escolhido é "Dragnet", o 2º do grupo, gravado e editado em 1979. A década despedia-se com The Fall e eu, hoje, deixo-vos com "Muzorewi's Daughter" a demonstrar a estranheza e simultâneamente a beleza da música nua e crua dos The Fall, pelo meio os gritos dilacerantes de Mark E. Smith.
The Fall - Muzorewi's Daughter
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