sábado, 6 de julho de 2019

José Cid - Todas Las Aves do Mundo

José Cid teima em não deixar definitivamente a música, continuando regularmente a animar festas e a encher Coliseus.
José Cid representa, actualmente, o que há de mais popularucho na música popular portuguesa, está ao nível de um Tony Carreira ou outros do mesmo género. Na realidade, o período mais relevante que teve foi de 1967 a 1970 com o Quarteto 1111 e a bela balada “A lenda de El-Rei D. Sebastião” ou o excelente “João Nada”. Aí sim teve um importante papel no surgimento na nova música portuguesa então em desenvolvimento. Com o fim do Quarteto 1111 a sua carreira pautou-se progressivamente pela mediocridade, sendo grande o rol de canções que o atestam: “Uma rosa que te dei”, “Ontem, hoje e amanhã”, “Na cabana junto à praia”, “Como o macaco gosta da banana”, etc., etc., etc.
E o curioso é ele julgar-se o dinossauro do Rock português comparando-se ao francês Johnny Halliday, ele que afirmava em 2007 na Semana Académica do Algarve: “Não me mandem cuecas para o palco, eu não sou o Tony Carreira”. Eis algumas frases dele que atestam o seu nível actual: “Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu.” “Se o Rui Veloso é o pai do Rock português, eu sou a mãe.” “Gostava que não reparassem só no mau (…). De qualquer forma, o meu pior é muito melhor do que o melhor do Tony Carreira.” (frases retiradas da Wikipédia).
Está tudo dito. Mas, sublinho novamente, José Cid não navegou somente por estas águas estagnadas. Quer ao nível da composição, não esquecer que foi a única excepção feita pelo excelente programa de rádio ”Em Órbita” nos anos 60, ao passar no crivo da exigente escolha musical, um tema de música portuguesa, precisamente “A lenda de El-Rei D. Sebastião”, quer na posição crítica que tinha em relação à situação musical portuguesa e anglo-saxónica dominante nessa época. Veja-se o que ele próprio escrevia no nº 13 da revista “mundo da canção” de Dezembro de 1970 intitulado “Pop em Portugal”:
“Tive sinceramente pena ao saber da dissolução da Filarmónica Fraude. (…) A colaboração que deram ao último LP de Fausto – O MAIOR – entre os “mais” da jovem música portuguesa é prova de sobejo do espírito criador dos seus elementos.”
Relativamente ao projecto que então previa a passagem de 75% de música portuguesa na rádio dizia:
“Acho preferível para a formação musical do povo português ouvir Simon & Garfunkel, Donovan, Chicago, James Taylor do que cantores de ópera falhados «made Parque Mayer» que infestam as frequências de alguns programas de rádio, dos emissores mais castiços
Quanto ao fim dos The Beatles:
“Os Beatles também há algum tempo brincavam com o mau gosto como por exemplo em «Ballad to John and Yoko e Obladi oblada» embora o seu último trabalho LP «Let it be» seja das suas melhores obras. No entanto os tempos de Yesterday, Here, There and Everywhere, e Sargent Pepper´s iam longe e alguns conjuntos como Led Zeppelin, Cream, Blood Sweat and Tears, Chicago, Creedence Clearwater Revival e Crosby, Stills, Nash & Young, menos artificiais, e actuando ao vivo vinham a ganhar terreno na consciência dos que se interessam por «estas coisas» da Pop Music.”
E ainda:
“Os Cream constituíram o melhor trio até hoje conseguido na Pop Music.”

Não podia estar mais de acordo! Mas, qualquer semelhança com o José Cid actual..., cada um que tire as suas conclusões.





Em 1971 devia ter simplesmente mudado de vida. E é de 1971 que recupero, do EP “História Verdadeira de Natal”, ainda um tema, é “Todas las Aves do Mundo”.




José Cid - Todas Las Aves do Mundo

5 comentários:

  1. Tudo o que diz a respeito de José Cid está certo, concordo plenamente, mas sinto-me abismado com o facto de não fazer qualquer referência à obra-prima dele, que é o álbum de rock progressivo 10 000 Anos Depois Entre Vénus e Marte, de 1978. Quem foi capaz de fazer um disco assim, merece que lhe perdoemos todos os macacos e todas as bananas e que lhe agradeçamos uma obra de tal valor.

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  2. No contexto do que por cá se fazia provavelmente terá razão. De qualquer forma a minha preferência vai claramente para o período, em meu entender, mais criativo e mais ligado à nossa música popular. "10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte" tem, para meu gosto, demasiados clichés do Rock Progressivo então importado e, diria, então já esgotado. Bem sei que "10000 Anos Depois Entre Vénus e Marte" é genericamente bem considerado e apreciado, mas, confesso, não é do que mais gosto na música feita no nosso país. Grato pelo seu comentário, volte sempre.

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  3. Subscrevo quer o que disse a propósito do José Cid - enfim, nem daria para rebater... - quer o referido pelo Fernando Ribeiro. Todavia, reparo que não é referido um álbum de que gosto muito, com letra (em parte) do José Jorge Letria, de 1973: "Onde, quando, como, porquê, cantamos pessoas vivas". Mas claro que tudo isso não apaga a "outra" musikaka de que também é autor...

    Mais uma vez, grato pelas partilhas, sempre bem escolhidas.

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  4. Peço desculpa pela minha insistência. Há vários "Josés Cids". Quase podemos dizer que os há para todos os gostos. Venho apenas lembrar uma entrevista que ele deu, lá pelos idos dos anos 80, não me lembro em que publicação. Perguntou-lhe o entrevistador para quando poderíamos esperar um novo disco seu com música de qualidade. Respondeu o José Cid que não iria fazer mais discos desses. Explicou porquê: «Eu sou um músico profissional. Sem a música, morro de fome, porque não sei fazer mais nada na vida. Se o público não compra a música que eu faço, então passo a fazer a música que o público compre. Preciso de comer.»

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  5. Fernando Ribeiro, concordo totalmente, há para todos os gostos.

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