quinta-feira, 30 de junho de 2022

Kraftwerk - Radio-Activity

   1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Não fora Miguel Esteves Cardoso e as possibilidades de aqui recordar os Kraftwerk eram diminutas. Na realidade nunca estiveram na lista das minhas preferências e nunca fui entusiasta do Rock predominantemente electrónico. Já Miguel Esteves Cardoso incluía-os nas suas escolhas desde 1972 ainda os Kraftwerk não eram conhecidos.

A década de 70 correspondem aos anos de ouro dos Kraftwerk e é onde se centra a maior parte da sua discografia, pelo menos aquele que obteve maior sucesso. É o caso de "Radio-Activity" editado em 1975 e onde o tema título voltou a ser bastante ouvido.


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"Radio-Activity" consta na selecção para aquele ano de Miguel Esteves Cardoso ao qual lhe dá três estrelas. E considera "Os Kraftwerk, também, limitam-se a aperfeiçoar fórmulas ensaiadas e garantidas, demonstrando apenas a sua inegável proficiência técnica". É isso "profiência técnica", mas mais não transmite, pelo menos para mim. Recorda-se agora "Radio-Activity".



Kraftwerk - Radio-Activity

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Fripp and Eno - Wind on Water

  1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


"Os King Crimson foram os únicos, dentre as grandes bandas sinfónicas da década, que escolheram arrumar as botas em nome da sua integridade artística, para perseguir carreiras individuais frescas." dizia Miguel Esteves Cardoso sobre os King Crimson que souberam acabar a horas mas também, acrescento eu, regressar devidamente.

A liderá-los estava (e está) o guitarrista Robert Fripp figura preponderante do Rock de vanguarda que os anos 70 desenvolveram. O seu primeiro trabalho fora dos King Crimson (não considerando os tempos pré King Crimson com os Giles, Giles and Fripp) data de 1973 na sua colaboração com Brian Eno, que entretanto tinha abandonado os Roxy Music. Para 1975 ficou a segunda colaboração deste duo com o LP "Evening Star".


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Também ele consta nas escolhas de Miguel Esteves Cardoso para o ano de 1975 atribuindo-lhe três estrelas e considerando "...que a nova colaboração com Fripp, embora superior à anterior, denota um certo eclipse criativo e uma obsessão excessiva com o pormenor em detrimento da inteireza."

Um disco pleno de electrónica numa amostra do que viria a ser a música ambiente. Para quem gosta segue "Wind on Water".



Fripp and Eno - Wind on Water

terça-feira, 28 de junho de 2022

Brian Eno - Everything Merges With The Night

  1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Brian Eno foi um dos elementos fundadores dos estimados Roxy Music que ainda ontem recordei. Esteve presente nos dois primeiros LP do grupo, respectivamente "Roxy Music" (1972) e "For Your Pleasure" (1973) tendo posteriormente abandonado o grupo para uma prolifera carreira a solo. Pessoalmente sempre considerei que a sua música se enquadrava bem nos Roxy Music e que muito teria a dar no grupo mas tal não aconteceu.

Na sua actividade após 1973 encontram-se múltiplas facetas, deu continuidade ao Glam-Rock e Rock Experimental que vinha dos Roxy Music mas também se destacou na música minimalista e ambiental onde se tornou um dos principais protagonistas até aos dias de hoje. Encontramo-lo também em colaboração com outros artistas onde destaco Robert Fripp e David Byrne e como elogiado produtor de David Bowie, na trilogia de Berlim por exemplo, e de grupos que se tornaram bem conhecidos como os U2 e os Coldplay.

Em 1975 realiza dois álbuns a solo, "Another Green World" e "Discreet Music". O primeiro na linha vanguardista e o segundo na senda da música ambiental que iria desenvolver e ser pioneiro.


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Para Miguel Esteves Cardoso "Brian Eno lança o seu LP [Another Green World] mais cristalino de sempre, com trechos hipnóticos e ligeiros que constituem uma espécie de música de câmara electrónica, ideal para tardes de chuva, com uma controlada e apetecível melancolia. "Discreet Music" é mais derivativo, menos inspiradamente melódico, mais papel de parede do que ambiente propriamente dito..."

Atribuiu-lhes respectivamente quatro e três estrelas, para mim, confesso, não estão entre as minhas preferências na discografia de Brian Eno



Brian Eno - Everything Merges With The Night

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Roxy Music - Love Is The Drug

  1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Os Roxy Music foram um dos grupos que melhor percorreram os anos 70. Aliás 5 dos 8 álbuns de originais que o grupo publicou centram-se nos anos de 1972 a 1975 e é nestes anos que melhor se encontra a sonoridade nova que os Roxy Music imprimiram, vanguardista e glamorosa simultaneamente. Pena foi a saída prematura de Brian Eno para outras aventuras musicais, mas o núcleo duro formado por Bryan Ferry, Andy Mackay, Paul Thompson e Phil Manzanera manteve-se e é ainda hoje a formação base do grupo sempre que se encontra.


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"Siren" foi o álbum publicado em 1975 e fechava este período dos Roxy Music da melhor maneira e ficará como um dos melhores discos de sempre do chamado Glam-Rock. Para Miguel Esteves Cardoso, que lhe atribui quatro estrelas, "Os Roxy são agora indistinguíveis de Ferry e "Siren" é um álbum luxuosamente trabalhado, gravemente sentimental, com momentos de claustrofóbico romantismo. É sem dúvida um excelente álbum, com duas canções pausadamente histéricas ("Both Ends Burning" e "Love Is the Drug") de grande valor estético."

Com saudades da música dos Roxy Music aqui recordo "Love Is The Drug".





Roxy Music - Love Is The Drug

domingo, 26 de junho de 2022

Pink Floyd - Wish You Were Here

  1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Se "Dark Side of the Moon" (1973) representava a simbiose do melhor e mais comercial que os Pink Floyd produziram e terminavam assim uma fase da sua carreira, para muitos a melhor, nomeadamente para Miguel Esteves Cardoso ao dizer, no início da década de 80, "Com os seus melhores trabalhos editados entre os anos de 1969 e 1973...", já o mesmo não se poderá afirmar do álbum seguinte "Wish You Were Here" editado em 1975.


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Será polémico afirmar, dada a popularidade e sucesso de vendas que a discografia dos Pink Floyd obtiveram a partir de então, mas o melhor já estava feito e mais do justificativo para um lugar ímpar na música popular britânica de tão saudosos anos. Assim "Wish You Were Here", prolongando o lado comercial do seu antecessor, arrastava-se no tema longo "Shine On You Crazy Diamond" dividido em duas partes (a iniciar e fechar o álbum) onde os Pink Floyd "...homenageavam o génio pioneiro de Syd Barrett, oito anos após a sua partida".

No final "..."Wish You Were Here", era mais uma reciclagem de temas antigos, um resumo acrescentado de obsessões passadas, do que propriamente uma colecção de composições novas" escrevia Miguel Esteves Cardoso e concluía ser um trabalho "meio-decepcionante", mas atribuindo-lhe mesmo assim três estrelas.

"Wish You Were Here", o tema título, terá sido mais ouvido e aqui fica a sua recordação (a valer muitas estrelas face à produção contemporânea da música popular). 



Pink Floyd - Wish You Were Here

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Joan Armatrading - No Love For Free

 1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Em 1975 Joan Armatrading não era ainda uma artista muito conhecida. O sucesso maior, esse viria no ano seguinte com a canção "Down to Zero" que a popularizou, mas mesmo assim sempre aquém daquilo que julgo ela merecia.

Em 1975 ela publica o seu 2º LP  "Back To The Night" e não passou despercebido a Miguel Esteves Cardoso que lhe atribuiu três estrelas referindo-se-lhe: "Joan Armatrading estabelece o seu estilo pessoal de baladas acústicas vigorosamente ritmadas, embora as suas canções não atingissem ainda o peso que viriam a ter."


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Possuidora de uma excelente potente e peculiar voz as suas canções oscilam entre o Folk e o Blues, onde ganham em originalidade, e o Pop-Rock onde se perdem com alguma banalidade. Joan Armatrading, uma voz que merecia ter tido outros percursos.

Este LP abria com "No Love For Free" que agora se recupera e que sabe tão bem ouvir face ao deserto que a música popular hoje em dia atravessa.



Joan Armatrading - No Love For Free

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Bob Marley - No Woman, No Cry

1975 - Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Depois de passagem longa pela música portuguesa publicada no ano de 1975, vou continuar neste ano mas agora na música anglo-saxónica nas escolhas feitas pelo Miguel Esteves Cardoso no texto "O Ovo e o Novo (uma) Discografia duma Década de Rock: 1970-1980" onde para além de uma análise global daquela década faz a escolha ano a ano do que de melhor e mais representativo se fez.

Começo por recordar o que Miguel Esteves Cardoso pensava daqueles anos de 1975 em particular do ano de 1975, dizia ele: "A partir de 1970 a qualidade, medida pela quantidade de lançamentos importantes, decresce progressivamente. Atinge a fossa mais profunda e pestilenta em 1975, recuperando depois nos anos seguintes, até atingir novo auge em 1980".

Acompanham este decréscimo de qualidade nomes como Elton John, os ex-Beatles, James Taylor, os ex-Crosby, Stills, Nash & Young (excepto este último - Neil Young), os Genesis, os Pink Floyd, etc., de um modo geral a maior parte dos grupos associados ao Rock Progressivo. "Nas alturas em que o Rock se abraça a formas musicais que lhe são estrangeiras, convencida de que se está a aperfeiçoar ou dalgum modo a "subir de classe", os resultados desastrosos que se seguem acordam-no impiedosamente", dizia ainda Miguel Esteves Cardoso considerando o surgimento do Punk no ano de 1976.

De qualquer modo destaca um conjunto de discos que são incontornáveis quando passamos pelo ano de 1975 e que hoje começo a recordar. 


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Começo com Bob Marley por quem Miguel Esteves Cardoso tinha particular apreço e do qual destacava dois álbuns "Natty Dread" (na realidade de 1974) um "... obra-prima, com canções de enganadora simplicidade que resistirão no tempo..." e o álbum "Live!" "...um documento arrebatador da sua espantosa habilidade musical e do seu poder de comunicação quase total".

Deste último LP escolho a inconfundível "No Woman, No Cry".





Bob Marley - No Woman, No Cry

terça-feira, 21 de junho de 2022

Banda do Casaco - A Ladainha das Comadres


Termino hoje esta passagem, já longa, pela música feita no nosso país no ano de 1975 e como vimos tão, tão marcada pelos acontecimentos políticos daquele ano. Por um lado compreensível pela libertação ocorrida no país através do golpe militar ocorrido no ano anterior a 25 de Abril, Portugal saía do sufoco de 48 anos de ditadura e a expressão mais popular fazia-se sentir, mas por outro, principalmente em termos das letras que então se cantaram, foram excessivamente panfletárias, por vezes donde menos se esperava. Foi o que foi e aqui deixei algumas dezenas de temas uns bem evidentes e facilmente reconhecidos por quem viveu aqueles tempos, outros nem por isso.

Para o fim deixei aquela que foi para mim a melhor proposta surgida naquele ano ou pelo menos a melhor promessa e que efectivamente se veio a concretizar ao longo de cerca de uma década, foi a Banda do Casaco.




Vejamos então o caso da Banda do Casaco, esse projecto único nascido em 1974. António Pinho e Luís Linhares vieram da Filarmónica Fraude, Nuno Rodrigues e Judi Brennan da Música Novarum. O pilar da Banda do Casaco foi a dupla António Pinho/Nuno Rodrigues com entrada e saída de inúmeros músicos. O primeiro álbum aparece em pleno PREC (1975) com o inspirado nome de “Dos Benefícios Dum Vendido No Reino Dos Bonifácios” e a confusão instalou-se. Mário Castrim numa crítica a um concerto da Banda do Casaco interrogava: “Quem são estes? Porque não se definem? São de direita ou de esquerda?”. De uma qualidade musical acima da média, explorando territórios musicais entre o Rock e a recolha da nossa música popular, as letras destilavam uma desconcertante ironia e forte crítica social. Alguns extractos:


Em “D’ Alma Aviada” :
“ Ao diabo amigo ao espírito imundo
(cornos de carneiro rabo de macaco
Com seus pés de bode e manto encarnado)
Ao senhor do mundo vendi minh’alma
Vendi minh’alma ao diabo.”
 

Em “A Ladainha das Comadres” :
“ Vade retro Satanás
t’arrenego Belzebú
ai Jesus cruzes canhoto
lagarto
lagarto
lagarto.”
 

Em “A Cavalo Dado…” :
“Imperador a tua imperatriz
é por um triz
que não se diz
ser meretriz
e merecia.”
 

Em “Horas de Ponta e Mola” :
“É um sujeito é um escritório
Uma gravata um suspensório
Uma conversa de latrina
É um verbete uma aldrabice
É um trabalho uma chatice
Entre fumo e aspirina.”
 


Sem mais delongas fiquemos com “A Ladainha das Comadres”, representativo do melhor disco de música portuguesa no ano de 1975.



Banda do Casaco - A Ladainha das Comadres

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Adriano Correia de Oliveira - Tejo que Levas as Águas

 

Entre o melhor que o ano de 1975 nos deixou em termos da nossa música popular foi o regresso de Adriano Correia de Oliveira.

O último disco de Adriano Correia de Oliveira tinha sido "Gente de Aqui e de Agora" de 1971, um dos marcos de um ano magnífico para renovação da música dita popular, o disco de Adriano que mais gosto, talvez pelas memórias a ele associado mas também pela riqueza musical, a que não é alheia a colaboração de José Niza, que a generalidade dos temas revela.

Adriano Correia de Oliveira vai posteriormente recusar-se a ter que sujeitar as suas canções a "exame prévio" que é como quem diz à censura que o regime impunha pelo que só vai ser possível ouvir novas canções de Adriano Correia de Oliveira já depois da revolução iniciada a 25 de Abril de 1974.


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"Que Nunca Mais", editado em 1975, contou com arranjos e direcção musical de Fausto e a colaboração de músicos como Júlio Pereira, Carlos Paredes e Vitorino. As palavras de Adriano Correia de Oliveira na contra-capa do álbum dão o melhor enquadramento à situação política que se viveu naquele ano:

"Que nunca mais as balas deem sangue derramado nas guerras coloniais, nem em nenhuma acção de repressão sobre os povos do mundo (mas darão seguramente o sangue que liberta, quando for necessáriio pegar em armas para construir as liberdades...).
Que nunca mais os meninos nasçam em bairros de lata, gostem de faltar à escola e aprendam ofícios de estalo e safanão.
Que nunca mais a caridade, bengala da má consciência da burguesia exploradora, se sobreponha à prática da justiça assente na fraternidade colectiva (mas que os democraques sejam imoedidos de transformar a justiça efectiva numa caridade ampliada ao nível da colectividade).
Que nunca mais os gerentes, lacaios corruptos das sociedades de concorrência, possam desconhecer os trabalhadores. Que o controle operário passe do papel à prática efectiva.
Que nunca mais a produção seja de alguns apenas mas de todos que trabalham...
Que nunca mais sejam afastados na sombra da noite alguns dos melhores combatentes da revolução portuguesa (e que nunca esqueça a tal gente sem rosto e longo braço armado que as balas não dão apenas sangue derramado,,,).
Que nunca mais o amor seja o ódio fingido amor, o das camas de amor comprado e que se dispa das grades de aço e silêncio - que seja definitivamente o nú contra o nú.
Que nunca mais em nome da liberdade de explorar se amordacem as bocas dos que lutam pelas liberdades reais, ombro a ombro com o povo, em direcção ao verdadeiro socialismo (mas que possa soltar-se a verdade das bocas dos combatentes que são os cinco dedos da mão armada do povo).
Em todo o caso, as forças da revolução portuguesa que recusam vender a pátria ao estrangeiro, fortalecem-se a cada hora e mais ano menos ano hão-de atirar pela janela os miguéis de vasconcelos (que agora prestam contas para lá de Espanha...).
E o povo de Portugal sabe já que pode contar com alguns soldados revolucionários que valem o que valem sem precisar de exibir os galões, soldados não de 3 ou 4 estrelas, mas de muitas estrelas tantas quantos os operários, camponeses e outros trabalhadores, que cada vez mais ao sul e ao norte vão erguendo o punho...".



Adriano Correia de Oliveira - Tejo que Levas as Águas

sábado, 18 de junho de 2022

Luís Cília - Parábola Aberta (a certos críticos)

 

Se bem sempre referenciado como um nome grande da nossa música popular ao lado de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho e José Mário Branco, nunca teve a projecção que qualquer um deles teve. A música de Luís Cília era aparentemente simples e na realidade de uma complexidade e riqueza que ainda hoje admiro quando a ouço, sem dúvida um caso singular e apaixonante. Com uma vasta obra discográfica que se inicia nos anos 60 e que se prolonga principalmente pelos anos 70 e 80 efectuou as primeiras gravações ainda em França onde esteve exilado até ao 25 de Abril de 1974.

Gravou de uma forma muito regular mas os seus discos nunca foram êxitos de vendas nem atingiram níveis de notoriedade expressivos. Talvez a sua coerência e crítica à produção musical pós 25 de Abril tenham contribuído para tal, diz a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX": "Após o 25 de Abril, continuou a actuar regularmente em França e, descontente com o modo como o PREC afectou o meio musical português (em especial com o tom panfletário de alguns textos de canções), começou a escrever letras que satirizavam os meios político, social e musical portugueses. Este posicionamento crítico está patente nos fonogramas da segunda metade dos anos 70 e início dos anos 80..."


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Em 1975 publica o disco "Resposta", que seria editado também em França no anos seguinte, e é dele o tema "Parábola Aberta (a certos críticos)" que segue para audição. Entre o melhor que o ano de 1975 nos deixou.



Luís Cília - Parábola Aberta (a certos críticos)

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Fausto - Um Bocado da Vida

 

Para Fausto o ano de 1975 foi o ano de edição do seu 3º trabalho de longa duração, o LP "Um Beco Com Saída". E é claramente um disco onde se começa a notar o estilo de composição que iria ser uma marca do autor, um dos melhores da nossa música popular.

No dizer de Mário Correia no livro "Música Popular Portuguesa. Um ponto de partida", "O regresso de Fausto, com o álbum UM BECO COM SAÍDA, é o reencontro com a música portuguesa em construção, uma obra na qual já se vislumbram aspectos que irão constituir seguros alicerces de uma expressão cultural emancipada e enraizada. Este disco marca, na nossa opinião, uma viragem no processo criativo de Fausto, sobretudo no modo como recorre às sugestões das raízes musicais portuguesas."


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Infelizmente sob o ponto das letras elas estão ainda muito marcadas pela situação política que se vivia no Portugal liberto de tantos anos de opressão. Um disco homogéneo onde não se revelou nenhuma canção que se destaca-se do geral.

Parei em "Um Bocado da Vida" onde proponho que se passe os próximos minutos.



Fausto - Um Bocado da Vida

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Vitorino - Menina Estás à Janela

 

Finalmente Vitorino. Quase 8 anos após ter iniciado este blogue chegou a vez de Vitorino. Nome importante da música popular portuguesa e do Cante Alentejano, iniciou-se nas cantigas ainda antes do 25 de Abril, em Paris, tendo actuado ao lado de nomes como José Afonso, José Mário Branco, Luís Cília, Sérgio Godinho e Tino Flores. As gravações só surgiram após a revolução de Abril, sendo o 1º LP, "Semear Salsa ao Reguinho", sido publicado em 1975.

Uma agradável surpresa este 1º trabalho de Vitorino onde estão patentes a preocupação de renovação musical assim como a ligação mais profunda ao canto tradicional alentejano. Teve a produção de Fausto, e as colaborações de José Afonso, Sérgio Godinho e ainda um coro alentejano.


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Entre temas próprios e arranjos de canções tradicionais se faz este disco que se destaca na produção discográfica nacional de 1975. A canção escolhida é a bem conhecida "Menina Estás à Janela", um belo exemplo de recuperação de um tema tradicional.



Vitorino - Menina Estás à Janela

quarta-feira, 15 de junho de 2022

José Almada - Ah! Se um Dia o Pedro Louco

 

Vou agora para algumas das minhas preferências na música popular portuguesa feita no ano de 1975.

Começo com um nome relativamente pouco conhecido, que nos deixou uma discografia curta: 2LP e alguns Singles, na década de 70. É ele José Almada, nome importante e infelizmente pouco divulgado no seu tempo e posteriormente pouco recordado. Valha a revista Blitz que em 2009, no nº comemorativo dos seus 25 anos, não se esqueceu de José Almada e colocou os seus dois álbuns no Top 40 da década de 70.

 Até agora as minhas escolhas têm sido do primeiro LP, o excelente “Homenagem” de 1970, á altura de passar para o 2º LP "Não, Não, Não Me Estendas a Mão" somente surgido em 1975 pois entretanto José Almada efectuou o serviço militar obrigatório.





"Não, Não, Não Me Estendas a Mão" não atinge o brilhantismo de "Homenagem" mas mesmo assim é do mais interessante que o ano de 1975 nos deixou. Deste álbum com orquestração e direcção de Jorge Palma escolho o tema " Ah! Se um Dia o Pedro Louco" com letra e música do próprio José Almada.



José Almada - Ah! Se um Dia o Pedro Louco

terça-feira, 14 de junho de 2022

Jorge Palma - Já Chega de Ilusões

 

Na ponta final desta passagem pela música portuguesa do ano de 1975 deixei um conjunto de discos que, pelos nomes a eles associados, deixam margem para acreditar que estamos na presença do melhor que então se fez, mesmo tendo em conta a particularidade que o ano encerra no que diz respeito à vivência política e social tão extremada que se viveu.

Vamos lá ver como é que estas memórias funcionam passados estes anos todos. Para o efeito retomo Jorge Palma. Deste ano já o recordei a propósito da sua participação no Festival da RTP da Canção com "Viagem" e em duo com o Fernando Girão com "O Pecado Capital". É também o ano em que Jorge Palma edita o primeiro LP a solo "Com Uma Viagem na Palma da Mão".


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Trata.se de um conjunto de canções escritas durante o exílio em Copenhagen ante do 25 de Abril de 1974 e talvez por isso um tanto distante do fervor revolucionário que então dominava. Não encanta mas também não desilude e mostra ainda um Jorge Palma à procura de um estilo que mais tarde viria a evidenciar. Um disco que não resistiu ao passar dos tempos. Neste caso algumas influências do Rock Progressivo são bem notórias.

"Já Chega de Ilusões" a manifestar algumas dessas influências.





Jorge Palma - Já Chega de Ilusões

segunda-feira, 13 de junho de 2022

José Jorge Letria - Se Um Fascista Conspira

 

Depois do desvio, com o Duo Ouro Negro e o Quarteto 1111, no tipo de música que se fazia e ouvia no Portugal de 1975, regresso aos sons mais condizentes com a situação político-social que se vivia. E regresso com o José Jorge Letria que nos tinha surpreendido  em 1972 com o disco de estreia "Até ao Pescoço" não só pelas qualidades vocais que demostrava mas também pelo estilo de composição, sonoridades novas pós movimentos dos baladeiros que tão bem explorava. Quem se lembra de "Páre, Escute e Olha", "Arte Poética" ou "Tango dos Pequenos Burgueses"?

Infelizmente após o 25 de Abril de 1974 trocou a ironia e a sátira que caracterizavam os seus textos por uma linguagem panfletaria, directa de exaltação da classe operária e perdeu-se musicalmente. São de 1975 o álbum "Lutar Vencer" e o Single "Pelo Socialismo Com a Classe Operária"





A escolha é quase impossível, se pensarmos no José Jorge Letria anterior ao 25 de Abril, de qualquer forma aqui fica "Se Um Fascista Conspira" bem reveladora da estética então abraçada.



José Jorge Letria - Se Um Fascista Conspira

domingo, 12 de junho de 2022

Quarteto 1111 - Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas

 

Também fora da onda revolucionária que caracterizou boa parte dos trabalhos publicados no ano de 1975 em Portugal, encontra-se o álbum do Quarteto 1111 (ou do José Cid) que deu pelo nome de "Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas", na capa por cima do Quarteto 1111 aparecia escrito "Obra-Ensaio de José Cid".

O Quarteto 1111 ou talvez melhor José Cid abandona o Pop-Rock criativo de fusão com o Folk nacional e abraça o Rock Progressivo tão em voga naqueles anos e do qual vai ser, por cá, um dos principais protagonistas e que iria culminar em 1978 com o LP "10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte".

Pessoalmente preferia a primeira fase do Quarteto 1111 e de José Cid onde tinha uma maior originalidade, agora parecia-me copiar a sonoridade dos Genesis e cavalgar assim uma onda de bastante sucesso.


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Porque o vinil assim o obrigava, o disco é dividido em duas faixas donde eu retiro parte do lado A.

Para os apreciadores e nostálgicos deste período eis então o início de "Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas".



Quarteto 1111 - Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas

sábado, 11 de junho de 2022

Duo Ouro Negro - Lamento do Rei

 

Não só de música dita de intervenção se fez o ano de 1975 em Portugal. Ela é quase esmagadora, mas encontram-se algumas excepções a merecerem aqui serem referidas. Uma delas é devida ao Duo Ouro Negro que continuam naquele ano a sua saga pela música de fusão com as raízes africanas, aquilo que mais tarde seria designado por World Music.

O Duo Ouro Negro teve em meu entender duas facetas, uma de caráter mais popular e de agrado fácil do grande público como em canções como "Maria Rita" ou "Au Revoir Silvye" a outra, onde as raízes africanas estão presentes, e onde procuram dá-las a conhecer desenvolvendo-as com as características do Pop-Rock daqueles tempos. É nesta segunda faceta que incluo trabalhos como "Blackground" (1972) e "Epopeia" (1975).


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Não talvez tão arrojado quanto "Blackground" mas mesmo assim uma obra manifestamente interessante e que infelizmente não ficou entre os trabalhos mais conhecidos do duo.

"Lamento do Rei" é o tema que abria o lado B do álbum e é o que fica para audição.



Duo Ouro Negro - Lamento do Rei

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Vieira da Silva - Os Lobos: Eles Estão Aí

 

Já por diversas vezes recordei Vieira da Silva, cantor popular com actividade musical centrada nos primeiros anos da década de 70 do século passado. Ainda nos anos 60 integra o chamado movimento de cantores de intervenção cujas canções ajudaram a fazer tremer o regime fascista então vigente. Alguns Single são publicados ainda antes do 25 de Abril de 1974, só voltando a editar mais dois Single posteriormente.

O primeiro dos quais data de 1975 e incluía duas canções: "Os Lobos: Eles Estão Aí" e "O Povo Há-De Vencer".


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"Os Lobos: Eles Estão Aí" aqui fica como mais um testemunho do conturbado ano que foi 1975.

Os arranjos e a produção foram entregues a José Cid





Vieira da Silva - Os Lobos: Eles Estão Aí

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Júlio Pereira & Carlos Cavalheiro - Bota Fora

 

Para hoje a colaboração de Júlio Pereira com Carlos Cavalheiro, os dois ex-Xarhanga grupo primordial do Heavy-Rock nacional, que se realizou no ano de 1975.

Dessa colaboração resultou um álbum, "Bota Fora", cuja temática remetia para os movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas. Musicalmente pode-se enquadrá-lo na área do Rock Progressivo então a dar os primeiros passos no nosso país onde sobressaía o Moog, instrumento então bem popular em diversas bandas estrangeiras. 


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As letras, essas estavam em sintonia com a defesa da independência das nossas colónias e dos movimentos que por ela lutaram. Mais explícitos não podiam ser no texto da contracapa do LP:

"Este disco refere-se especificamente a três colónias portuguesas, porque foi nelas que se desenvolveu a luta armada, luta esta que arrastou milhares e milhares de jovens portugueses, para os quais ele é dirigido.

A nossa homenagem estende-se a todos os movimentos que, pelo mundo fora, de armas na mão se necessário, lutam pela libertação dos seus povos, pelo fim da opressão, pela destruição do colonialismo, do neo-colonialismo e do Imperialismo, pela Independência Nacional.

Júlio Pereira e Carlos Cavalheiro"

De Carlos Cavalheiro pouco mais se ouviu falar, quanto a Júlio Pereira a história é outra e tornar-se-ia um nome proeminente da nossa música popular.




Júlio Pereira & Carlos Cavalheiro - Bota Fora

quarta-feira, 8 de junho de 2022

TóZé Brito - Palhaços

 

Foi elemento fundador do Pop Five Music Incorporated, passou pelo Quarteto 1111 e fez parte dos Green Windows. Em 1972 inicia carreira a solo, é o TóZé Brito.

Gravou 2 Singles antes de ir para Inglaterra donde regressa só depois do 25 de Abril de 1974 voltando a gravara solo no ano de 1975 que estou a recordar. É neste ano que encontro o Single com duas bem bonitas canções, "Palhaços" e "Já Se Faz Tarde, Vai".




Para hoje "Palhaços", também ela a reflectir na sua letra o contexto social que se vivia, bastante interessante sob o ponto de vista musical e uma interpretação de TóZé Brito a revelar a bonita voz que possuía. Pena que não tivesse sido maior a sua produção musical.



TóZé Brito - Palhaços

terça-feira, 7 de junho de 2022

Pedro Barroso - Pastilhas Reacção

 

Depois do single inaugural "TROVA-DOR" de 1970 só em 1975 Pedro Barroso voltou a publicar em nome próprio, desta vez mais 2 Singles que iriam anteceder o seu primeiro álbum, no ano seguinte, "Lutas Velhas Canto Novo".

E como não podia deixar de ser transpirava revolução por todos os poros que é como quem diz por todas as espiras. São dois discos que não ficaram na memória colectiva mas que urge recordar para quem estiver interessado no estudo da ligação da música popular aos acontecimentos políticos e sociais da época.

Os dois Singles são "Pastilhas Reacção" / "Canção Urgente" e "1º de Maio" / "Medicina Social". Vou ficar-me pelo primeiro e "Pastilhas Reacção".


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Na contracapa lia-se a propósito de "Pastilhas Reacção": "Na linha de «toada da vida»(1) e de «Medicina Social" e uma vez que se verifica que não existem apenas panças doutorais mas também panças burocráticas, eclesiásticas, administrativas, empresariais. etc., julguei aconselhável de uma vez para sempre receitar umas pastilhas que debelassem e epidemia reaccionária que contra-ataca hoje em Portugal. (Isto porque se há os que são alérgicos à pimenta, também há os que espirram ao mínimo cheiro a socialismo...).

Para tal creio que com uma dose maciça de pastilhas (anti)-reacção talvez a crise passe, embora deixe desde já o alerta de que não é com brincadeiras que o poder popular avança mas sim com vigilância e dureza para com todos os tais - os tantos!... - Que carecem desse tratamento."

(1) Disco «Trova-Dor» 1970





Pedro Barroso - Pastilhas Reacção

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Intróito - Antes Quebrar que Torcer

 

Neste filão que parece inesgotável do ano de 1975, continuo a (re)descobrir canções vincadamente marcadas pela situação política que Portugal viveu após o derrube do regime fascista em 25 de Abril de 1974. Músicas de carácter bem ao gosto popular e letras directas ou seja dizia-se explicitamente aquilo que anteriormente só nas nas entrelinhas se escrutinava.

O Intróito foi um simpático quarteto vocal que já vinha dos finais da década de 60, já com alguns discos de curta duração já publicados e conhecidos do publico português sobretudo pelas passagens pelo programa da TV "Zip-Zip" e pelo Festival RTP da Canção.


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É de 1975 este Single com duas canções intituladas "Cantiga do Trabalho, do Pão, do Dinheiro e do Patrão" e "Antes Quebrar Que Torcer". Curiosamente aquela de que lembrava era o lado B do disco epor isso aquela agora recordada.



Intróito - Antes Quebrar que Torcer

domingo, 5 de junho de 2022

Saudade dos Santos - Hino do Trabalho

 

Como se tem visto as recordações musicais portuguesas do ano de 1975 são como as cerejas, vêm umas atrás das outras. É efectivamente um ano fértil na produção nacional, em parte resultante do processo político que então se vivia. O fascismo tinha sido derrubado e as classes menos favorecidas alcançavam algumas conquistas impensáveis até então. A apologia do trabalho era notória e fazia-se sentir também nas canções gravadas naquele ano.

Para hoje mais uma, desta vez recorrendo a uma fadista Saudade dos Santos (1939-2015) que então 1975 também cantou a revolução em curso. 





Com uma produção discográfica relativamente curta é dela o Single com as canções "Hino do Trabalho" e "Homem, Abre os Olhos e Verás" com letras respectivamente de  António Feliciano de Castilho e Armindo Rodrigues e ambas musicadas pelo Shegundo Galarza.

Para ouvir a primeira, "Hino do Trabalho".





Saudade dos Santos - Hino do Trabalho

sexta-feira, 3 de junho de 2022

GAC - A Cantiga É uma Arma

 

Depois de José Afonso e Sérgio Godinho falta José Mário Branco naqueles que num ano sobrecarregado como foi o de 1975 não gravou nenhum álbum a título individual. No caso do José Mário Branco a sua actividade andou muito ao redor do GAC (Grupo de Acção Cultural) por ele formado no ano anterior. O grupo estava constituído como cooperativa (Vozes na Luta) e utilizava, como descreve a "Enciclopédia da Música Popular em Portugal no Século XX", "a música como meio de propaganda ideológica, a sua actividade exerceu-se fundamentalmente em torno de fábricas, quartéis, piquetes de luta, ocupações, empresas em autogestão, unidades colectivas de produção, comissões de moradores, campanhas eleitorais, comícios, greves e manifestações". Melhor descrição do ambiente musical naquele ano era difícil.




É em 1975 que o GAC publica o seu primeiro trabalho, o álbum "A Cantiga É uma  Arma" onde os temas são quase todos de autoria de José Mário Branco. A música, essa tinha um estrutura simples, bastante acessível alinhada com a ideologia da Revolução Popular defendida pela então UDP (União Democrática Popular). Embora muito datado possuía arranjos bem elaborados, sobretudo nas vozes, e abria caminho para o seu sucessor o fundamental "Pois Canté!!".

Para ouvir o tema título "A Cantiga É uma Arma" que José Mário Branco continuou a interpretar ao vivo por muitos e bons anos.



GAC - A Cantiga É uma Arma

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Sérgio Godinho - Macacos

 

Dizia eu ontem que não só José Afonso como Sérgio Godinho e José Mário Branco não lançaram novos álbuns em 1975. É verdade, mas nenhum deles esteve inactivo, não só percorrendo o país de lés-a-lés como mesmo assim em estúdio. Ora veja-se hoje o caso de Sérgio Godinho.

É entre dois grandes álbuns, "À Queima Roupa" (1974) e "De Pequenino se Torce o Destino" (1976) que Sérgio Godinho participa na realização do álbum " Cantigas de Ida e Volta", um trabalho de cantigas infantis, abordagem musical que não seria única já nos anos 80 voltaria com "Os Amigos de Gaspar".


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"Cantigas de Ida e Volta contaria, entre outros com a colaboração, para além de Sérgio Godinho, de Fausto, Vitorino e Sheila (então companheira de Sérgio Godinho).  A totalidade do álbum seria também publicado em três discos EP. O álbum começa com "Macacos" na voz de Sérgio Godinho, letra de Sidónio Muralha e música de Jorge Constante Pereira.



Sérgio Godinho - Macacos