Entre o melhor que o ano de 1975 nos deixou em termos da nossa música popular foi o regresso de Adriano Correia de Oliveira.
O último disco de Adriano Correia de Oliveira tinha sido "Gente de Aqui e de Agora" de 1971, um dos marcos de um ano magnífico para renovação da música dita popular, o disco de Adriano que mais gosto, talvez pelas memórias a ele associado mas também pela riqueza musical, a que não é alheia a colaboração de José Niza, que a generalidade dos temas revela.
Adriano Correia de Oliveira vai posteriormente recusar-se a ter que sujeitar as suas canções a "exame prévio" que é como quem diz à censura que o regime impunha pelo que só vai ser possível ouvir novas canções de Adriano Correia de Oliveira já depois da revolução iniciada a 25 de Abril de 1974.
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"Que Nunca Mais", editado em 1975, contou com arranjos e direcção musical de Fausto e a colaboração de músicos como Júlio Pereira, Carlos Paredes e Vitorino. As palavras de Adriano Correia de Oliveira na contra-capa do álbum dão o melhor enquadramento à situação política que se viveu naquele ano:
"Que nunca mais as balas deem sangue derramado nas guerras coloniais, nem em nenhuma acção de repressão sobre os povos do mundo (mas darão seguramente o sangue que liberta, quando for necessáriio pegar em armas para construir as liberdades...).Que nunca mais os meninos nasçam em bairros de lata, gostem de faltar à escola e aprendam ofícios de estalo e safanão.
Que nunca mais a caridade, bengala da má consciência da burguesia exploradora, se sobreponha à prática da justiça assente na fraternidade colectiva (mas que os democraques sejam imoedidos de transformar a justiça efectiva numa caridade ampliada ao nível da colectividade).
Que nunca mais os gerentes, lacaios corruptos das sociedades de concorrência, possam desconhecer os trabalhadores. Que o controle operário passe do papel à prática efectiva.
Que nunca mais a produção seja de alguns apenas mas de todos que trabalham...
Que nunca mais sejam afastados na sombra da noite alguns dos melhores combatentes da revolução portuguesa (e que nunca esqueça a tal gente sem rosto e longo braço armado que as balas não dão apenas sangue derramado,,,).
Que nunca mais o amor seja o ódio fingido amor, o das camas de amor comprado e que se dispa das grades de aço e silêncio - que seja definitivamente o nú contra o nú.
Que nunca mais em nome da liberdade de explorar se amordacem as bocas dos que lutam pelas liberdades reais, ombro a ombro com o povo, em direcção ao verdadeiro socialismo (mas que possa soltar-se a verdade das bocas dos combatentes que são os cinco dedos da mão armada do povo).
Em todo o caso, as forças da revolução portuguesa que recusam vender a pátria ao estrangeiro, fortalecem-se a cada hora e mais ano menos ano hão-de atirar pela janela os miguéis de vasconcelos (que agora prestam contas para lá de Espanha...).
Adriano Correia de Oliveira - Tejo que Levas as Águas
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