terça-feira, 21 de junho de 2022

Banda do Casaco - A Ladainha das Comadres


Termino hoje esta passagem, já longa, pela música feita no nosso país no ano de 1975 e como vimos tão, tão marcada pelos acontecimentos políticos daquele ano. Por um lado compreensível pela libertação ocorrida no país através do golpe militar ocorrido no ano anterior a 25 de Abril, Portugal saía do sufoco de 48 anos de ditadura e a expressão mais popular fazia-se sentir, mas por outro, principalmente em termos das letras que então se cantaram, foram excessivamente panfletárias, por vezes donde menos se esperava. Foi o que foi e aqui deixei algumas dezenas de temas uns bem evidentes e facilmente reconhecidos por quem viveu aqueles tempos, outros nem por isso.

Para o fim deixei aquela que foi para mim a melhor proposta surgida naquele ano ou pelo menos a melhor promessa e que efectivamente se veio a concretizar ao longo de cerca de uma década, foi a Banda do Casaco.




Vejamos então o caso da Banda do Casaco, esse projecto único nascido em 1974. António Pinho e Luís Linhares vieram da Filarmónica Fraude, Nuno Rodrigues e Judi Brennan da Música Novarum. O pilar da Banda do Casaco foi a dupla António Pinho/Nuno Rodrigues com entrada e saída de inúmeros músicos. O primeiro álbum aparece em pleno PREC (1975) com o inspirado nome de “Dos Benefícios Dum Vendido No Reino Dos Bonifácios” e a confusão instalou-se. Mário Castrim numa crítica a um concerto da Banda do Casaco interrogava: “Quem são estes? Porque não se definem? São de direita ou de esquerda?”. De uma qualidade musical acima da média, explorando territórios musicais entre o Rock e a recolha da nossa música popular, as letras destilavam uma desconcertante ironia e forte crítica social. Alguns extractos:


Em “D’ Alma Aviada” :
“ Ao diabo amigo ao espírito imundo
(cornos de carneiro rabo de macaco
Com seus pés de bode e manto encarnado)
Ao senhor do mundo vendi minh’alma
Vendi minh’alma ao diabo.”
 

Em “A Ladainha das Comadres” :
“ Vade retro Satanás
t’arrenego Belzebú
ai Jesus cruzes canhoto
lagarto
lagarto
lagarto.”
 

Em “A Cavalo Dado…” :
“Imperador a tua imperatriz
é por um triz
que não se diz
ser meretriz
e merecia.”
 

Em “Horas de Ponta e Mola” :
“É um sujeito é um escritório
Uma gravata um suspensório
Uma conversa de latrina
É um verbete uma aldrabice
É um trabalho uma chatice
Entre fumo e aspirina.”
 


Sem mais delongas fiquemos com “A Ladainha das Comadres”, representativo do melhor disco de música portuguesa no ano de 1975.



Banda do Casaco - A Ladainha das Comadres

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