quinta-feira, 30 de abril de 2015

DISCO MÚSICA & MODA, Nº 9 e 10 - O fim do "Em Órbita"


Em texto de 1ª página, o jornal DISCO MÚSCA & MODA nº 9 de 1 de Junho de 1971, sob o título "«Em Órbita» Acabou" noticiava o fim do melhor programa de rádio que existia na época.


Notícia que seria desenvolvida no nº seguinte do jornal sob o título (chamada de 1ª página) "Epitáfio por um «Em Órbita» defunto e um rádio gravemente doente"  assinado por Hélio Sousa Dias.


Podia-se ler:
"... «Em Órbita» começou também a caracterizar-se pelo seu estilo sóbrio, pela sua intransigência para com a qualidade de tudo o que apresentava, pelas suas rubricas diárias, pelos seus comentários. Apresentava-se só música anglo-americana, houve só uma concessão à música portuguesa, aa célebre «Lenda de el-rei D. Sebastião», mas dentro dela procurava distinguir-se o trigo do joio, justificando essa distinção. Robert «Dylan» Zimmerman foi uma das divulgações, e dos orgulhos, do programa. Paul Simon e Art Garfunkel, idem, idem, aspas, aspas. Ainda Tim Buckley. Ainda Donovan. Ainda muitos outros."

The Kinks - Revenge

Uma boa parte do meu gosto musical devo-o a alguns programas de rádio que nos anos 60/70 divulgaram de forma inovadora a melhor música popular de expressão anglo-saxónica.
O melhor de todos foi, sem dúvida, o programa “Em Órbita” no Rádio Clube Português em FM (Frequência Modulada). Ouvia-o religiosamente. Devo ter começado a escutá-lo com regularidade em 1969; ouvia-se das 19h às 21h e depois das 00h à 01h. Inflexível na selecção musical, passava o que de melhor se fazia na música popular anglo-americana e que dificilmente se ouvia noutro qualquer programa de rádio. Em 1967 passou, excepcionalmente, o que provocou polémica, um tema português: "A Lenda de El-Rei D. Sebastião" do Quarteto 1111. A 30 de Maio de 1971 o programa termina, embora provisoriamente.
O jornal “DISCO MÚSICA & MODA” Nº 9 de 1 de Junho, em primeira página sob o título "«Em Órbita» acabou" dizia:
“Uma história de seis anos que acaba ingloriamente. Para os que não são conhecedores das razões porque o «Em Órbita» acaba, talvez o termo inglório pareça apropriado. Para os poucos que as sabem, o fim de um dos melhores programas de rádio feitos desde sempre neste país, parece coerente e verdadeiramente glorioso”.

Foi assim num país onde a música que transformava o mundo era considerada “batuque de pretos”. Em 1974, face ao estado em que se encontrava a música popular a razão de ser do programa deixa de existir e, sabiamente, o “Em Órbita” muda de rumo, passa a divulgar música antiga e barroca. O programa terminaria em definitivo em 2001, mantiveram-se, ainda, os “Concertos Em Órbita” até 2003 quando a Portugal Telecom terminou o seu patrocínio. O indicativo do programa que ficou famoso foi “Assim falava Zaratustra” de Richard Strauss. Mas o primeiro indicativo, que teve início a 1 de Abril de 1965, era um tema instrumental dos The Kinks de nome “Revenge” saído no primeiro álbum do grupo em 1964 e é com ele que ficamos.



The Kinks - Revenge

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sérgio Godinho - Farto de Voar

O último protagonista da renovação musical operada no Outono de 1971 é Sérgio Godinho que se estreia com o EP “Romance de um dia na estrada”, 4 canções a antever o 1º álbum “Sobreviventes”. A colaboração de Sérgio Godinho e José Mário Branco foi mútua tendo cada um participado no álbum do outro. “O charlatão” é a uma evidência dessa colaboração (aparece quer em “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” de José Mário Branco, quer em “Os Sobreviventes” de Sérgio Godinho) e pode ser agora recordado.




Continua incrivelmente actual.

“… sendo «Romance de um dia na estrada», sem sombra de dúvida um dos acontecimentos mais importantes do ano, é-o, certamente, em grande parte, através da voz espontânea, fresca e intencional de Sérgio Godinho.” Escrevia Tito Lívio no “mundo da canção” em Janeiro de 1972. Sérgio Godinho que passados mais de 40 anos nos continua a encantar com a sua prolifera discografia e presença regular em palco, continua entre os melhores e é referência para sucessivas gerações.



Quando o EP "Romance de um dia na estrada" saiu o meu saudoso pai adquiriu-o via o cantor Manuel Freire, seu colega de trabalho, que então ajudava na divulgação dos discos acabados de sair de Sérgio Godinho e José Mário Branco. Para ele, que tanta música ouvimos juntos, aqui fica do álbum "Sobreviventes", "Farto de voar".

“Farto de voar, Pouso as palavras no chão…”



Sérgio Godinho - Farto de Voar

terça-feira, 28 de abril de 2015

Adriano Correia de Oliveira - História do Quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro

O terceiro grande álbum de música portuguesa de 1971 foi “Gente de Aqui e de Agora” de Adriano Correia de Oliveira.




Foi o último antes do 25 de Abril pois Adriano Correia de Oliveira vai recusar enviar os textos à Censura. Com uma discografia já assinalável, gravações desde o início dos anos 60, Adriano Correia de Oliveira tem aqui o seu melhor álbum. As músicas a cargo do José Niza, os textos diversificados, de Manuel Alegre a António Aleixo, os arranjos variados, de José Calvário a Thilo Krassman, formam no todo um álbum com qualidades estético-musicais superiores às gravações anteriores. Eduardo M. Raposo em “Canto de Intervenção 1960-1974” escreve:

É ainda Adriano que, em entrevista ao «Mundo da Canção», nos diz que agora já fora possível melhorar os meios postos à disposição, meios materiais que anteriormente eram mais deficientes pois utilizava-se só a viola ou um pequeno conjunto.”

E mais adiante pelo próprio Adriano:

“Em dez arranjos não há um único igual. São sempre diferentes segundo aquilo que nos pareceu adequado ao espírito de cada canção (…) ao contrário do que normalmente acontecia.”

Face à dificuldade de escolha, acabo por selecionar uma das que então mais ouvia, “História do Quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro”.



Adriano Correia de Oliveira - História do Quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro

segunda-feira, 27 de abril de 2015

José Mário Branco - Casa Comigo Marta

1971, o ano de todas as mudanças na Música Popular Portuguesa.
Para a ouvir era necessário sintonizar a Rádio Renascença (!!) e ouvir às 19h30m o programa "Página Um" de José Manuel Nunes. E a 26 de Novembro (eu ouvi!), foi há 44 anos, o programa realizou-se em directo do cinema Roma, motivo: a passagem integral do álbum de estreia de José Mário Branco, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" e ainda o EP de Sérgio Godinho "Romance de um dia na estrada".
Não, eles não estavam presentes, estavam exilados em França, assim, a assistência e os ouvintes da rádio o que testemunharam foi mesmo a audição dos discos e ainda entrevistas com os autores realizadas pelo Adelino Gomes.
A partir daqui tudo foi diferente na música portuguesa, José Duarte, a vaticiná-lo, escrevia na capa do LP de José Mário Branco:

«... Assim, esta obra combate uma tradição onde a palavra é o som mais inteligível. Assim se encerra a fase confusa da nova música portuguesa. Assim se inaugura uma época nova onde também cantar bem e compôr melhor serão condições a exigir à canção útil; da afirmação da palavra à desafinação das cordas, à percussão das peles e teclas, à imaginação nos arranjos, à criação melódica, à vocalização justa: aqui o circo foi desmantelado com todas as ferramentas do som»



"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", um disco absolutamente ímpar na história da melhor Música Popular Portuguesa. Agora recordação da canção "Casa comigo Marta", com letra do Sérgio Godinho.



José Mário Branco - Casa Comigo Marta

domingo, 26 de abril de 2015

José Afonso - Maio Maduro Maio

O ano de 1971 foi fulcral no panorama musical português.
Aquele que mais influências/alterações introduziu no meio musical nacional. Existe um antes e um depois como em nenhum outro ano. O principal responsável dá pelo nome de José Mário Branco. E o ano fica marcado por 4 discos fora do comum, a saber:

- José Afonso – Cantigas do Maio
- Adriano Correia de Oliveira – Gente de Aqui e de Agora
- José Mário Branco – Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades
Sérgio Godinho – Sobreviventes

Só o álbum de Adriano Correia de Oliveira não tem a presença de José Mário Branco.
Fiquemos para já pelo disco de José Afonso. Gravado em França, tem as orquestrações e arranjos a cargo de José Mário Branco, e era então o melhor de José Afonso. Se este primou na qualidade das letras/músicas e nas suas capacidades vocais, José Mário Branco caprichou nos arranjos rompendo com o simplismo (muitas vezes pobreza) do que era até então vulgar, o acompanhamento único da viola. Desde a competência, pela simplicidade, dos arranjos de “Grândola, Vila Morena”, o som de pessoas a pisar sacos de saibro, até à complexidade de “Coro da Primavera”, são nove canções absolutamente inovadoras no contexto da época. O carácter verdadeiramente revolucionário, sobre todos os aspectos, palavras, voz, arranjos, melodia, continuam a colocar “Cantigas do Maio” no que melhor de sempre se fez na música popular portuguesa.


Passando para a audição aí vai “Maio Maduro Maio”, era o José Afonso, para desfrutar.



José Afonso - Maio Maduro Maio

sábado, 25 de abril de 2015

Quarteto 1111- As Trovas Do Vento Que Passa

Adriano Correia de Oliveira faz parte de um conjunto reduzido de nomes que tiveram uma influência maior na renovação musical do fado de Coimbra.
A par de José Afonso transformam, cada um à sua maneira, o vazio e alguma lamechice do fado de Coimbra na nova canção de Coimbra, na canção da resistência. O fado de Coimbra renova-se musicalmente mas também ao nível das letras com destaque para a poesia de Manuel Alegre. Adriano Correia de Oliveira é a verdadeira síntese dos então tempos de mudança: quer na forma, quer na substância, mas também na ética e na estética, estamos na presença de algo radicalmente novo. “Trova do vento que passa” gravado em 1963 vem-no confirmar, transformando-se num hino do movimento estudantil e da resistência à ditadura. Recordemos então “Trova do vento que passa”, com o timbre inconfundível de Adriano Correia de Oliveira.




“Trova do vento que passa”, poema de Manuel Alegre, manter-se-ia até ao 25 de Abril como uma das canções mais populares da resistência.
Nos conjuntos Pop/Rock da época quase só no Quarteto 1111 de José Cid era notória a oposição ao regime. O álbum de 1970 marcado pela temática da emigração e da guerra colonial chega mesmo a ser retirado do mercado. É neste primeiro álbum, de grande preocupação musical e também literária, que se encontra o melhor do Quarteto 1111. E é neste álbum que nos deparamos com “As trovas do vento que passa” versão muito bem alcançada.




José Cid, no seu melhor, nesta merecida, mais uma, recordação do Quarteto 1111.

"Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz NÃO"



Quarteto 1111- As Trovas Do Vento Que Passa

sexta-feira, 24 de abril de 2015

José Almada na revista "mundo da canção"

José Almada - Uma voz e uma 'balada' com personalidade diferente.
 Era o título de um artigo de Tito Lívio na revista "mundo da canção" nº 12 de 15 de Novembro de 1970.
 Foi num concerto em Lousada, em 2009, onde tive a oportunidade de conhecer José Almada, que este assinou a folha deste artigo conforme se pode ver na imagem.


 Era a divulgação do primeiro disco "Mendigos", um EP, de José Almada com as canções "Hóspede", "Vento Suão", Anda Madraço" e "Mendigo". Relativamente a este EP esclarecia-me o próprio José Almada:
"O EP "Mendigos" que vem na capa com este título, foi antes do álbum "Homenagem", foi mesmo o meu primeiro disco a minha estreia absoluta nas lides da canção. É só o titulo do disco que se chama assim porque as canções têm o nome delas á parte e individuais. Chamou-se Mendigos no plural portanto senti o nome do disco mendigos bonito uma vez que no seu conteúdo o tema das 4 músicas anda á volta disso."



Relativamente à capa esclarecia:
 
"A capa não me lembro do autor, tem um pobre assentado no vão de uma escada a comer de um embrulho de lixo, foi concerteza alguém que trabalhava para as produções ZIP-ZIP, se bem que eu queria um pobre antes sentado a uma mesa mas depois concordei e ficou mesmo esta que realmente é também bonita "

Voz esquecida da música popular portuguesa do início dos anos 70 tem no álbum "Homenagem" o seu ponto mais alto.

José Almada - Hóspede

De novo um regresso a José Almada e ao seu primeiro disco, esse supremo LP de nome “Homenagem”.
Se o disco é todo ele de nível excelente, não posso deixar de destacar esse pequeno tema denominado “Hóspede”. A saudosa revista “mundo da canção” escrevia no seu nº 12 de Novembro de 1970, pela mão atenta e exigente de Tito Lívio:

“O melhor tema-musical e poético: «Hóspede».
Uma solidariedade assumida na carne (até onde a coerência e sinceridade?), uma linguagem simples, quotidiana mas igualmente bela e eficaz: «mas ninguém sofre a dor/que os outros têm/daí o mal/é que provém». Uma desmistificação da esmola, da caridade usual: «quando por essas ruas vais sozinho/diz-me acaso encontraste alguém/que te fitasse bem/de face a face/e que parasse no caminho/alguém a quem abrir o coração/a quem dizer toda a verdade».
Mas também um certo entusiasmo ingénuo e crente: «não te envergonhes da pobreza/vem sentar-te à minha mesa/e come do meu pão/mendigo meu amigo/meu irmão».
A voz de José Almada assume aqui uma personalidade própria, diferente, voz quási dolorosa. Dicção e elocução claras, marcação certa das palavras em ordem a uma correcta expressão da imagem poética.”

Quase 40 anos depois, José Almada em 2008 ao vivo, interpreta “Hóspede”, a não perder (pese a menor qualidade do vídeo).




Enquanto não vemos a reedição com a qualidade sonora que a obra de José Almada merece, contentemo-nos com esta cópia em mp3. Para audições múltiplas, segue José Almada (e aquela forma estranha de cantar) e o “Hóspede”, bela recordação!



José Almada - Hóspede

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Tomorrow - Revolution

Mais um grupo da era psicadélica na Grã-Bretanha, este muito pouco conhecido, eram os Tomorrow.
O grupo Tomorrow está entre os primeiros do movimento underground londrino a par com os Soft Machine  e os Pink Floyd.
Em 1966 gravam as canções "Blow-Up" e "Am I glad to see you" inicialmente pensadas para o filme "Blow-Up" de Michelangelo Antonioni. E em 1967 é editado o Single com a psicadélica "My White Bicycle".



Os Tomorrow tocaram no famoso clube underground UFO fundado por Joe Boyd e John Hopkins onde também actuaram os Soft Machine, Pink Floyd, The Move, The Crazy World of Arthur Brown ou ainda os Procol Harum, Family e os Ten Years After.
Famosa ficou uma noite, na altura em que Keith Richard e Mick Jagger foram presos, e que Joe Boyd descreve assim em POPMUSIC-ROCK:

"Noite verdadeiramente genial foi aquela em que se anunciou o processo dos Stones, quando ainda tocavam os Tomorrow. À meia-noite o clube esvaziou-se e descemos todos para Picadilly para nos manifestarmos contra a condenação dos Stones. Por fim, toda a gente voltou ao Clube, e, às cinco horas da manhã, a sala estava superlotada. Quando os Tomorrow subiram ao palco, (...) a atmosfera era incrível. (...) Então, descendo à sala com um microfone, os Tomorrow começaram a cantar «Revolution Now! Revolution Now!» Aquilo tinha de facto significado. Nessa noite, os Tomorrow tocavam Revolution pela primeira vez."

Pois então aqui vai pelos Tomorrow, "Revolution", decorria o ano de 1967.



Tomorrow - Revolution

terça-feira, 21 de abril de 2015

The Move - Blackberry Way

Já passei alguns dos mais importantes grupos britânicos da contracultura hippie/underground/psicadélica da Grã-Bretanha dos anos 66/67. Alguns outros, mais ou menos conhecidos, há ainda a referir, é o caso, entre os mais conhecidos, do grupo The Move mas actualmente praticamente esquecidos.
Formado em finais de 1965 praticavam o Pop-Rock e iriam fazer parte do movimento psicadélico então em desenvolvimento.
Editado em finais de 1966 pela etiqueta DERAM ( a mesma dos The Moody Blues), o primeiro Single atinge no início de 1967 o 2º lugar nas tabelas do Reino Unido. A canção principal era "Fear of the Night" cujo riff principal nos leva para a "Abertura 1812" de Tchaikovsky.




Mantiveram-se com sucesso nas tabelas de vendas até 1972, quando terminaram. A canção que melhor me lembrava e que já não ouvia deste então era "Blackberry Way" de 1968, e é com ela, cheio de nostalgia, que ficamos. Ao que parece "Blackberry Way" foi fonte de inspiração para "Penny Lane" pelos The Beatles.



The Move - Blackberry Way

segunda-feira, 20 de abril de 2015

The Rolling Stones - She's a Rainbow

"O psychadelic/underground levou assim de vencida a música «dos anos 63-66» (Beatles, Rolling Stones, Dylan, folk rock). O futuro e o sucesso desta música estavam tanto mais assegurados quanto este new sound era destituído de qualquer «passado» e, portanto, de qualquer traço de compromisso." em POPMUSIC-ROCK.
Poder-se-ia pensar que era o início do fim para The Beatles e The Rolling Stones, mas não foi bem assim.
Se The Beatles responderam bem às novas sonoridades, integrando-as e criando novos patamares difíceis de ultrapassar com "Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band", o mesmo, poder-se-ia pensar, não acontecer com The Rolling Stones.

"Os Beatles, com «Sergeant Pepper's», fizeram notar que as suas posições se modificavam e que não viviam para cá do que estava a acontecer. Quanto aos Rolling Stones, menos impetuosos e sem dúvida também menos propensos a manifestar a sua adesão ao Flower Power, eram notícia devido sobretudo às questões judiciais em que estiveram envolvidos a partir de Maio [1967], no regresso de uma digressão europeia que seria a última em que Brian Jones participaria." em "The Rolling Stones" de Philippe Bas-Rabérin.

E ainda do mesmo livro:

"Mas a partir do outono de 1966, a ameaça do declínio começou a pesar sobre eles. Diminuindo as aparições públicas de modo bastante brutal, depressa se encontram numa situação parecida com a dos Beatles, ou seja, à margem do campo de operações do rock. Mas tiveram menos facilidades que estes últimos em tirar vantagem disso."

Na realidade, parte do ano de 1967 foi passado por Mick Jagger, Keith Richard e Brian Jones com problemas com a justiça, todos eles por posse e consumo de drogas. Talvez esteja aí parte da justificação para a demora de mais de 6 meses que o álbum psicadélico "Their Satanic Magesties Request" levou a ser gravado, sendo editado somente em Dezembro de 1967.

Mas comecemos pelo início do ano com a edição do Single com 2 lados A (Double A-Side) e 2 grandes sucessos "Let's Spend The Night Together" e "Ruby Tuesday"; No Ed Sullivan Shown "Let's Spend The Night Together" é censurada e passa a "Let's Spend Some Time Together".




O final do ano de 1967 não podia terminar melhor, em "Their Satanic Magesties Request" estava "She's a Rainbow", The Rolling Stones em onda psicadélica com laivos de barroco. Para quem estava em "declínio" nada mau!


The Rolling Stones - She's a Rainbow

The Beatles - A Day In The Life

"As primeiras canções foram gravadas ao longo do mês de Dezembro de 1966 e só terminaram em fins de Março de 1967. Nunca se tinha demorado tanto tempo a gravar um álbum de rock" em "The Beatles" de Alain Dister.
The Beatles regressados de turné nos EUA, onde surgia o movimento hippie, encontram Inglaterra no boom do movimento psicadélico underground. O álbum que começam a gravar em finais de 1966 é "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" um marco na história da música Rock.
Pressões da editora levam a que a primeira canção composta "Strawberry Fields Forever" fosse entretanto editada em Single e não fizesse parte do álbum. "Strawberry Fields Forever" a fusão do clássico com o psicadélico para muitos a melhor canção composta pelos The Beatles.



O sucesso de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" foi tremendo, sendo alvo de culto e das mais discutidas análises. Diz Alain Dister no livro "The Beatles" sobre o "sucesso imenso nos EUA":
"O movimento da transformação da consciência, oriundo da Califórnia, espalhou-se por todo o país e todos os que se identificavam com ele na sua procura espiritual eram bem acolhidos. O álbum «Sergeant Pepper's» serviu pois para numerosas sessões psicadélicas, interpretando cada um o sentido das canções conforme as suas necessidades pessoais do momento."

Em Inglaterra, a faixa final "A Day In The Life" "provocou muito barulho porque a BBC, em pleno período de paranóia repressiva, a proibiu nas suas emissões.", a BBC "via nela alusões às substâncias alucinogénias."



The Beatles - A Day In The Life

domingo, 19 de abril de 2015

Jimi Hendrix - Hey Joe

Nasceu nos EUA, mas foi em Inglaterra que teve fulgurante início de carreira, faleceu aos 27 anos e é considerado o melhor guitarrista de todos tempos, é Jimi Hendrix (1942-1970).
Chegou a Londres em Setembro de 1966 e passado uma semana já Eric Clapton convidava-o a subir ao palco num concerto dos Cream; forma entretanto o trio The Jimi Hendrix Experience e em Dezembro é editado o primeiro Single do grupo com o tema tradicional "Hey Joe" cuja versão iria ter enorme sucesso.


O primeiro disco de longa duração "Are You Experienced" editado em 1967, cheio de influências dos Blues é,  um marco no Rock psicadélico e no surgimento do Hard-Rock, 2º lugar no Top de Inglaterra só não chegou a nº 1 porque lá estava "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos The Beatles.
Recordemos agora "Hey Joe", a primeira gravação do trio The Jimi Hendrix Experience e o virtuosismo de Jimi Hendrix na guitarra.


Jimi Hendrix - Hey Joe

sábado, 18 de abril de 2015

The Incredible String Band - October Song


E agora algo completamente diferente. Integrantes do movimento psicadélico da Grã-Bretanha, constituíram-se inicialmente como um trio e deram pelo nome de The Incredible String Band. Formados em 1966, na Escócia, inicialmente como trio (Mike Heron/Clive Palmer/Robin Williamson), primaram pelo Folk e dadas as influências psicadélicas foram pioneiros no Folk psicadélico.
Descobertos em 1965 por Joe Boyd (conhecido produtor dos iniciais Pink Floyd, dos Fairport Convention, Sandy Denny, Richard Thompson, Nick Drake, Kate and Anna McGarrigle, entre outros), produz o primeiro álbum homónimo do trio em 1966. Ainda sem o som intenso, surreal que os viria a caracterizar, não deixa de ser já um disco inovador com formas de interpretação invulgares.
A permanência de Clive Palmer é curta e The Incredible String Band vão ter como núcleo central o duo Mike Heron, Robin Williamson. Em 1970 eram um quarteto com as vozes femininas de Licorice McKechnie e Malcolm Le Maistre, no vídeo interpretam "Empty Pocket Blues" do primeiro álbum.




De 1966 a 1974 gravam 12 discos originais que são um marco na história do Folk daquela época. A eles havemos de voltar, para já mantemo-nos, com "October Song", em 1966, no primeiro álbum que o jornal "Melody Maker" considerou o "álbum Folk do Ano".



The Incredible String Band - October Song

sexta-feira, 17 de abril de 2015

The Crazy World of Arthur Brown - Fire

Muito antes de Alice Cooper, Kiss ou David Bowie utilizarem pinturas e outras excentricidades nas actuações ao vivo já Arthur Brown, desde 1967, era conhecido pelos seus extravagantes espectáculos.

https://www.rollingstone.com


Exuberante  e teatral vestia-se de forma estranha e utilizava um capacete em fogo nas suas representações, em 1967 forma o grupo The Crazy World of Arthur Brown de que faz parte Vincent Crane no orgão (futuro Atomic Rooster) e mais tarde, na bateria, Carl Palmer (futuro Emerson, Lake and Palmer - ELP).





"The Crazy World of Arthur Brown", gravado em 1968, é também o nome do 1º álbum da banda de Arthur Brown  e é um clássico do Rock psicadélico. Nele aparece a canção "Fire", grande êxito de 1968 que já não me recordava de ouvir.
É com The Crazy World of Arthur Brown e a canção "Fire", uns bons anos adiantados no tempo, que ficamos.


The Crazy World of Arthur Brown - Fire

quinta-feira, 16 de abril de 2015

The Pretty Things - S.F. Sorrow Is Born


Fiquei de voltar aos The Pretty Things e aqui estamos novamente com o conjunto britânico de Blues-Rock dos anos 60.
De 1963 a 1968 alterações na formação do grupo acompanharam as alterações no som praticado e ao 4º álbum o grupo alinhava com o Rock psicadélico.
O 4º álbum é o já referido "S.F. Sorrow" com início de gravação em 1967 e edição no ano seguinte. Fracasso de vendas é hoje considerado, por uma indústria sempre pronta a desenterrar discos perdidos, o segredo mais bem guardado dos anos 60 e colocado ao lado de " St. Pepper's Lonely Heart's Club Band" dos The Beatles e " Piper At the Gates Of Dawn" dos Pink Floyd.

Confirmado como a primeira ópera Rock gravada, a anteceder, portanto, "Tommy" pelos The Who, conta, à semelhança deste, a história ficcionada de um rapaz, neste caso, de nome S. F. Sorrow, no qual, consta, The Who se terão inspirado.
Em 1998 "S. F. Sorrow" é recuperado, em gravação ao vivo em Abbey Road com os convidados Arthur Brown e David Gilmour, tal como foi concebido com a leitura de textos entre canções relatando a história de Sebastian F. Sorrow.


Depois de uma hora com "S. F. Sorrow" recuperamos a primeira faixa do disco "S.F. Sorrow Is Born" tal como foi gravado por The Pretty Things em 1967/8.



The Pretty Things - S.F. Sorrow Is Born

quarta-feira, 15 de abril de 2015

The Deviants - Somewhere To Go

Continuamos com The Deviants, essa banda pouco conhecida do underground londrino dos anos 60.
O motivo, agora, é o 2º álbum "Disposable" gravado em 1968 e que, sem se lembrar como o adquiriu, a minha esposa dispõe de um exemplar.



Uma pesquisa na net e descobrimos que este disco atinge valores completamente fora do normal.
Menos enérgico que o primeiro "Stooff!", mantêm-se, no entanto, como uma referência da cena anarquista hippie vigente naquele período. O som rude dos The Deviants levou a serem hoje em dia catalogados no Garage-Rock e no Proto-Punk, ou seja, reconhecidos percursores do Punk do final dos anos 70.
"Let's Loot the Supermarket" é bem sugestiva da estética destes The Deviants.




Nas faixas mais bem conseguidas de "Disposable" está a canção de abertura "Somewhere To Go".



The Deviants - Somewhere To Go

terça-feira, 14 de abril de 2015

Faleceu Percy Sledge, fica a sua música



                          Faleceu hoje Percy Sledge, a 17 de Janeiro recordava-o desta maneira:

À medida que, ao longo da década de 60, foram crescendo os tumultos nos ghettos negros nos Estados Unidos, a Soul Music foi-se igualmente impondo no mundo branco. Em 1966 a Soul Music (de acordo com "POPMUSIC-ROCK") alcança o primeiro nº 1 nas tabelas Pop com a balada "When A Man Loves A Woman". Era o início do melhor período da Soul Music, cujo declínio se começou a sentir logo a partir de 1968. James Brown, Percy Sledge, Otis Redding (grande êxito no Festival de Monterey em 1967), Joe Tex, Wilson Pickett, Clarence Carter, Sam & Dave e finalmente Aretha Franklin interpretavam então os maiores sucessos da Soul Music.
Na sua forma apaixonada de cantar, cheia de soul, começamos com "Out Of Left Field" de Percy Sledge, decorria o ano de 1967.



Finalmente a canção a que Percy Sledge ficará para sempre associado e cujo sucesso não mais foi igual, "When A Man Loves A Woman".


Percy Sledge - When A Man Loves A Woman

The Deviants - I´m Coming Home


Do movimento psicadélico nascido em Inglaterra no ano de 1966 os Pink Floyd e os Soft Machine foram os que tiveram maior reconhecimento. Outros houve, no entanto, a merecer o devido destaque como os Pretty Things, The Jimi Hendrix Experience, a Incredible String Band, The Crazy World of Arthur Brown ou ainda, vindos já do início da década, e a não ficarem imunes ao psicadélico, The Beatles e The Rolling Stones.
Para hoje um grupo que aparece sempre referenciado ao início do Rock psicadélico mas relativamente pouco divulgado: The Deviants.

The Deviants (inicialmente The Social Deviants) teve como elemento principal Mick Farren (1943-2013), músico e escritor que faleceu na sequência de um desmaio numa actuação dos regressados The Deviants.
Da década de 60 ficam 3 LP a saber: "Ptooff!" de 1967, "Disposable" de 1968 e "The Deviants 3" de 1969.




Com uma sonoridade entre "The Stooges e The Mothers of Invention" no dizer do próprio Mick Farren, tinham um som perfeitamente vanguardista para a época lembrando, efectivamente, os contemporâneos The Stooges (de Iggy Pop) e, por vezes, os mais recentes The Fall (final dos anos 70, início dos anos 80).

Do primeiro LP ficamos com "I'm Coming Home"



The Deviants - I´m Coming Home

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pink Floyd por Jean-Marie Leduc

"Pink Floyd" escrito por Jean-Marie Leduc é um livro editado em Portugal pela Centelha e é o nº 4 da colecção Rock On. A edição de Junho de 1982 teve uma tiragem de 5000 exemplares e conta a história do grupo de Rock psicadélico que mais se destacou no movimento hippie/underground de Londres de 1966, os Pink Floyd.
O livro relata a vida dos primeiros 10 anos do famoso grupo, o que se constata logo pela data do prefácio, Março de 1977. No entanto, nos anexos aparece um texto sobre "The Wall" tendo, parcialmente, como fonte o nº 165 da revista "Rock et Folk" de 1980. Também a discografia vai até Dezembro de 1981.



Com o essencial da história dos então inovadores Pink Floyd satisfazemos a curiosidade relativamente à origem do nome Pink Floyd, literalmente Fluído Cor-de-Rosa:
" A origem do nome do grupo deve-se a Syd Barrett. Há quem diga que o nome lhe surgiu numa visão durante uma «viagem» mas na realidade Syd foi buscar o nome do grupo a um álbum que tinha de dois bluesmen da Georgia - Pink Anderson e Floyd Council - tirando simplesmente o primeiro nome de cada um. Daí não haver aparentemente tradução para Floyd. No entanto, e as coincidências são demasiadas, quando o ácido foi introduzido na Inglaterra, por volta de 1966, em gíria chamava-se Floyd a uma ampola de ácido que curiosamente eram mais ou menos cor de rosa (pink)."

Do mesmo livro a primeira foto oficial dos Pink Floyd, da esquerda para a direita, Syd Barrett, Nick Mason, Roger Waters e Rick Wright (1943-2008).


Pink Floyd - Arnold Layne

No início do ano de 1967 foram gravadas as canções, "Love Makes Sweet Music" e "Arnold Lyne", respectivamente dos Soft Machine e Pink Floyd, eram os seus primeiros Singles  e os primeiros do Rock psicadélico nascente na cena underground londrina.

No primeiro semestre de 1966 os Pink Floyd são descobertos, em Londres, por John Hopkins que os vai lançar na inauguração do jornal underground International Times a 15 de Outubro ("Esta reunião, a primeira grande noite hippie que a Inglaterra conheceu, permitiu aos Pink Floyd apresentarem uma música e uma encenação que se coadunavam intimamente com o psicadélico." em "Pink Floyd" de Jean-Marie Leduc) e da discoteca UFO (Unidentified Flying Object ou ainda Underground Freak Out) no final do mesmo ano.


No início os Pink Floyd eram formados por Roger Waters, Nick Mason, Rick Wright (1943-2008) e Syd Barrett (1946-2006) (David Gilmour ainda lá não estava) líder do grupo.
"Foi graças ao temperamento artístico de Syd Barrett que o conjunto pôde encontrar o seu caminho, de tal forma que se tinha então a impressão que os Floyd eram Syd Barrett com não importa qual músico capaz de o acompanhar!" no dizer do primeiro empresário do grupo, Andrew King, em  "Pink Floyd" de Jean-Marie Leduc.


Terminamos com a primeira gravação dos Pink Floyd, "Arnold Layne".



Pink Floyd - Arnold Layne

domingo, 12 de abril de 2015

Soft Machine - Love Makes Sweet Music

Do movimento hippie florescente a meio da década de 60 nos EUA, em particular na Califórnia já aqui demos eco nos grupos musicais que apareceram naquele período: Jefferson Airplane, Grateful Dead, Quicksilver Megssenger Service, The Doors, etc., etc..
E em Inglaterra como era?
Vejamos o que diz Hervé-Muller em "JIM MORRISON para já dos DOORS":
"... o fogo já se propagava, mas o movimento era então «underground» no sentido mais estrito do termo, reservado a um punhado de iniciados e de percursores que se juntavam numa pequena sala de Tottenham Court Road, baptizada UFO e em alguns outros clubes, ao som de grupos cujos nomes eram ainda mais surpreendentes: Soft Machine, Pink Floyd...
E depois, bruscamente, alguns meses mais tarde, «isso» tinha literalmente explodido publicamente. As ruas cinzentas e feias de Londres, de repente tinham-se identificado com as de S. Francisco, belas e luminosas, pela magia de uma horda florida e de cores berrantes, que deixava atrás dela odores de incenso e de cannabis.
Em Maio, escrevia-me uma amiga: «Ouviste falar dos hippies da Califórnia? Agora nós temos os nossos hippies de Londres: flores nos cabelos, sininhos à volta do pescoço, etc.»."

Estávamos em 1967.

Os Soft Machine formados em 1966 em Canterbury, estiveram ligados ao movimento underground londrino surgido em 1967 e foram uma das suas maiores referências. Cultivaram o psicadélico e a fusão com o Jazz, tiveram diversas formações por onde passaram mais de duas dezenas de músicos, dos primeiros anos de actividade os destaques vão para Robert Wyatt (bateria, voz), Kevin Ayers (1944-2013) (baixo e voz), Mike Ratledge (teclados), Hugh Hooper (1945-2009) (baixo) e Elton Dean (1945-2006) (Saxofone).



São do início dos Soft Machine as seguintes palavras de Rober Wyatt:
"Quase todos os grupos pop-music, aqui ou na América, fabricam indefinidamente sons e melodias para fazer consumir, sob formas mais ou menos novas, as mesmas emoções, facilmente identificadas e assimiladas pelo público. Queremos quebrar esta imagem e este conceito, reencontrar o espírito do jazz, ou seja, uma expressão autêntica, selvagem, mas desta vez nossa e não dos Negros".

A primeira gravação efectuada pelos Soft Machine foi um Single no início de 1967, no lado A "Love Makes Sweet Music", ainda com uma sonoridade identificável como Pop, com Robert Wyatt na voz principal, é a que fica para audição.



Soft Machine - Love Makes Sweet Music

sábado, 11 de abril de 2015

Pedro Osório e o Seu Conjunto - Las Clases de Cha Cha Cha

Já aqui tinha sido evocado, logo no início deste blog, a propósito de “Era um biquini piquinino às bolinhas amarelas”. Recupero-o mais uma vez, recordando assim um dos pioneiros da música moderna em Portugal: Pedro Osório (1939-2012).

Pedro Osório era do Porto e foi lá que deu, ainda nos anos 50, os primeiros passos na música ligeira, tendo na década de 60 gravado vários EP sob a designação Pedro Osório e o seu Conjunto. Mas o melhor mesmo é começar por ler o texto da contra capa do primeiro EP “Namorico da Rita” de 1960: “… Cursou piano particularmente e mais tarde no Conservatório de Música do Porto, onde chegou a tocar em público várias vezes. A sua especial atenção para a música de dança é relativamente recente, quase coincidindo com a formação do Conjunto a que dá o seu nome. A sua primeira aparição em público foi feita com o seu Conjunto, no Verão de 1957 apresentando nessa altura a forma de um trio. Em Março de 1958, passou a contar com a colaboração de mais um elemento. Presentemente o seu Conjunto é composto por 5 figuras na sua maioria jovens estudantes universitários. Na rádio tem actuado na Emissora Nacional e nos Emissores Particulares e tendo feito recentemente a sua aparição na TV Portuguesa conquistou desde logo merecidos aplausos. Além da sua óptima execução como pianista destacamos a sua capacidade para orquestrar. Eis as primeiras gravações deste jovem Conjunto, do qual há muito a esperar, para recreação dos amadores dos Ritmos de Baile”.




Nos anos 60 faria ainda parte dos conjuntos Quinteto Académico e Trio Barroco a merecerem futuras recuperações. É do referido primeiro EP que segue em anexo em ritmo de baile “Las Clases de Cha Cha Cha”.



Pedro Osório e o Seu Conjunto - Las Clases de Cha Cha Cha

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Conjunto Oliveira Muge no Ovarvisão em 1969

Estávamos no ano de 1969, eram as férias de Carnaval e encontrava-me no Café Progresso em Ovar. Nada mais natural, mas o motivo desta vez era muito peculiar, ia-se assistir a um acontecimento que julgo absolutamente inédito no nosso país naquela época: a transmissão em circuito fechado, somente para alguns cafés, de um programa de televisão feito no local, em directo. Foi a Ovarvisão.
A Ovarvisão foi uma paródia aos Festivais da Canção da Eurovisão feita por um grupo de foliões bem conhecidos localmente e que davam pelo nome de “Engelhados”. O programa teve a participação do Conjunto de Oliveira Muge, formado no início da década em Ovar, que cedo se transferiu para terras de África (mais concretamente Vila Pery em Moçambique).

Do boletim extraordinário da Junta de Freguesia de Ovar de Julho de 2012:
"Em 1969, entre concertos cancelados, digressões adiadas e ensaios ocasionais, o Conjunto regressa temporariamente a Portugal, onde irá actuar no Ovarvisão, no baile de Carnaval do Orfeão e prestar entrevistas à Nova Antena e Notícias de Ovar."




Conjunto de Oliveira Muge - Twist Bocage

Da minha terra Natal, Ovar, mais um Regresso ao Passado com o Conjunto Oliveira Muge.
Desta vez, vamos para o primeiro EP gravado em 1965 com 4 faixas, uma em cada língua: inglês, português, francês e italiano.




Vejamos o que diz a contra-capa do disco gravado em Moçambique:
“O CONJUNTO OLIVEIRA MUGE conseguiu, em pouco tempo, firmar a sua reputação como óptimos executantes de Música moderna. Em 1964 alcançou o Primeiro Prémio no Concurso de “Gente Moça” realizado pela Imprensa de Moçambique. A sua fama atravessou rapidamente as nossas fronteiras tendo sido convidados para actuar nos Estúdios da Televisão da Rhodesia e de Kenya, assim como no New Stanley Hotel de Nairobi, obtendo sempre êxitos e grande popularidade. Os quatro componentes deste Conjunto imprimem tal graciosidade nas suas interpretações que as tornam extremamente suaves e melodiosas.”

O tema em português é um original do Conjunto composto por António Policarpo (1946-2012, vocalista e viola-solo) sobre letra do poeta Bocage onde os médicos são a vítima da sua sátira.

Eis o poema de Bocage:
Lavrou chibante receita
Um doutor com todo o esmero;
Era para certa moça,
Que ficou sã como um pero.
 "Tão cedo! É milagre!"
Assenta a mãe (que de gosto chora)
"Minha mãe, não é milagre,
Deitei o remédio fora!"



Conjunto de Oliveira Muge - Twist Bocage

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Os Diamantes - A Yenka

A música não saía da cabeça. Ainda por cima lembrava-me de como se dançava, qualquer coisa como: esquerda, esquerda, direita, direita, p’ra frente, p’ra trás, um, dois, três. Algures nos anos 60 havia uma música que teve grande popularidade e que se dançava com aqueles passos. Mais tarde ou mais cedo tinha que a descobrir. Até que tropecei num tema do Quinteto Académico que se chamava “Let Kiss” e “voilá”, era ela. “Let Kiss” foi (de acordo com a wikipédia) uma dança finlandesa inventada nos anos 60 tendo por base uma dança tradicional de nome “jenka”.
Ora vejam como se dança.





A versão do Quinteto Académico de 1965 até não está mal, mas é só musical. E a memória trazia uma versão que era cantada pelo que não podia ser esta do Quinteto Académico. Tinha, e acabei, por descobrir, era ”A Yenka” pelos Os Diamantes. Esses mesmos, verdadeiro “tesourinho deprimente” de “O Telefone”, já aqui recordado. E, mais uma vez, mais fraquinho não podia ser, mas era a que eu me lembrava. E lá estava:
“esquerda, esquerda, à direita, à direita, adiante e atrás, um, dois três”
Agora é ouvir, fazer fila à volta da mesa da sala de jantar e dançar (cuidado com a loiça) ao som de “A Yenka” de Os Diamantes. Estávamos no ano de 1966.



Os Diamantes - A Yenka

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Conjunto Mistério - Goodbye my love

Continuamos com "Goodbye my Love" sucesso dos The Searchers de 1965.
Para além da versão do Conjunto Diamantes Negros, existem pelo menos mais duas versões de "Goodbye my Love" feitas por conjuntos portugueses, a do Conjunto Sousa Pinto e a do Conjunto Mistério.
A versão do Conjunto Sousa Pinto aparece num EP de 6 faixas de 1965 cantada em português e, infelizmente, não é (à semelhança da dos Diamantes Negros) bem conseguida.
Resta a versão do Conjunto Mistério.
O Conjunto Mistério, já aqui recordados por diversas vezes: “Tired of Waiting for You” dos Kinks, “Chapéu Preto” tradicional português e “America” de Leonard Bernstein, é agora a vez da interpretação de “Goodbye my Love”.




Neste caso, sem grandes aspirações, “salva-se” pela simplicidade. “Goodbye my Love” aparece no 4º e último EP do conjunto gravado em 1965.



Conjunto Mistério - Goodbye my love

terça-feira, 7 de abril de 2015

Conjunto Diamantes Negros - Eu Sei Meu Amor

The Searchers foi um dos muitos grupos britânicos a animar a cena musical da primeira metade dos anos 60. Grupo com o som típico do chamado Merseybeat (nome dado ao som das bandas da região de Liverpool no início dos anos 60 - O nome é derivado do rio Mersey, que passa por Liverpool), como The Beatles e Gerry and the Pacemakers. Gravaram temas que ficaram no ouvido de todo o mundo: “Needles and Pins”, “Love Potion Nº 9” e o que agora vamos evocar “Goodbye my Love” de 1965.
Recorde-se que The Searchers foram o primeiro grupo pop-rock estrangeiro a actuar em Portugal, em Novembro de 1965, no Teatro Monumental.




A música dos The Searchers foi por cá bastante popular e “Goodbye my Love” teve mesmo várias versões. O Conjunto Diamantes Negros, de quem já falámos acerca da versão de “I don’t want to spoil the party” dos The Beatles, também fez a sua e mais uma vez ficou aquém do desejado. Insistindo numa versão com letra portuguesa (“eu sei, meu amor”), definitivamente não acertaram no único EP que gravaram em 1966.



Conjunto Diamantes Negros - Eu Sei Meu Amor

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Conjunto Académico João Paulo - Milena (a da praia)

Em 5 anos (1964-1968) gravaram 11 EP, no mesmo período gravaram o primeiro LP de Rock (no tempo Ié-Ié) de um conjunto português, em Moçambique são editados 2 LP colectâneas de êxitos, em 1966 dão, no Monumental, o que é considerado o primeiro concerto de rock de um grupo português. Eram o Conjunto Académico João Paulo já aqui várias vezes recordado.

Também gravaram sob o nome de Conjunto João Paulo, Conjunto de João Paulo ou João Paulo e o seu Conjunto Académico, finalmente no período de 1970 a 1972 como Sérgio Borges e o Conjunto João Paulo. Começaram na ilha da Madeira em 1961 e lá terminaram em 1979.




Oscilando na qualidade das gravações, quer quando faziam versões de êxitos importados, em particular franceses e italianos, quer nos originais que escreveram, ficamos algures, no ano de 1966, com o êxito que foi “Milena (a da praia)”.
De qualquer forma sabe bem recordar este tema.



Conjunto Académico João Paulo - Milena (a da praia)

domingo, 5 de abril de 2015

Quarteto 1111 - Todo o Mundo e Ninguém

Não é que nutra um gosto exacerbado pelo Quarteto 1111, mas tenho que reconhecer a importância e a singularidade que eles constituíram no panorama da música Pop nos anos 60, início de 70. É assim que recupero mais uma vez (e não vai ficar por aqui) a música do quarteto liderado pelo José Cid. Ainda no ano de 1970, após o muito bom primeiro álbum, editam um Single com mais 2 canções inéditas. Ou seja o Quarteto no auge da sua criatividade. O Single marca também o início da colaboração de Tó Zé Brito vindo dos Pop Five Music Incorporated. As duas canções são “Todo o mundo e ninguém” e “É tempo de pensar em termos de futuro” e mais uma vez o arrojo nos temas abordados.



Não me recordo se estas canções foram ou não censuradas, mas foram sem dúvida o grupo Pop com mais problemas com a censura.

“O carácter inovador no estilo musical, a exploração de temáticas históricas e a sua relação tácita com a vida social e política do momento conferiu uma faceta interventiva à música do grupo, socialmente valorizada, facto inédito no âmbito do pop-rock em Portugal” in Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX.

Exemplo desta faceta é “Todo o mundo e ninguém” que hoje ouvimos. “Todo o mundo e ninguém” tem por base o texto “Auto da Lusitânia” de Gil Vicente, onde “Todo o mundo”, um rico mercador, conversa com “Ninguém”, um pobre homem, sobre o que desejam do mundo. Século XVI ou XX, 1970 ou 2015, a actualidade dos textos e da música do Quarteto 1111.



Quarteto 1111 - Todo o Mundo e Ninguém

sábado, 4 de abril de 2015

Moby Grape - Omaha

O Festival de Monterey em Junho de 1967 serviu de promoção à escala nacional de muitos grupos californianos formados em 1965/66 e que tinham gravado um ou dois LP. Nos três dias do festival passaram por lá as seguintes bandas californianas:
The Association
Canned Heat
Big Brother and the Holding Company
Country Joe and the Fish
Quicksilver Messenger Service
Steve Miller Band
Moby Grape
The Byrds
Jefferson Airplane
Buffalo Springfield
Grateful Dead.

Os Moby Grape não foram ainda aqui recordados, recuperemos então estes Moby Grape formados em 1966 com origem em S. Francisco. Praticavam um Rock psicadélico com influências do Folk-Rock e do Blues.
Começamos com um vídeo da bonita canção "It's a Beautiful Day Today" do 3º álbum do grupo




para terminarmos no primeiro álbum.
"Moby Grape", o LP, é editado poucos dias antes do Festival de Monterey, a revista Rolling Stone coloca-o no lugar 121 na lista dos melhores álbuns de sempre.
Para ouvir "Omaha", eram os Moby Grape e estávamos no ano de 1967, um ano nitidamente fora do comum.



Moby Grape - Omaha

sexta-feira, 3 de abril de 2015

JIM MORRISON para lá dos DOORS

"JIM MORRISON para lá dos DOORS" é o título do livro editado em 1981 pela Centelha com uma tiragem de 3000 exemplares. O livro escrito por Hervé Muller  dá-nos a conhecer, e bem, em 170 páginas, o mundo de Jim Morrison e do grupo The Doors que encantou a minha juventude.
 

Terá sido das primeiras obras a historiar a vida de Jim Morrison e julgo a 1ª a ser editada em Portugal. De acordo com o Epílogo de 1978 "Depois da edição deste livro, nos princípios de 74 ..." ou seja Jim Morrison tinha morrido há menos de 3 anos.
"JIM MORRISON para lá dos DOORS", uma abordagem simples e lúcida sobre The Doors:
"Os Doors eram portanto um cantor, compositor, cineasta, actor, um pouco exibicionista e alcoólico, Jim Morrison, e três músicos, Ray Manzarek, Robbie Krieger e John Densmore."

The Doors - Light My Fire

"O grupo americano mais popular até 1968. O seu comportamento em palco contribuiu em muito para isso: antigos estudantes, como a maior parte dos membros dos grupos psicadélicos, os Doors, mais que qualquer outros, tinham-se inspirado no teatro, ..., particularmente no opúsculo teórico de Antonin Artaud, O Teatro da Crueldade.
...
Os Doors levaram em conta os concelhos sobre encenação, vestuário, relação actor/espectador, luz (vermelha para uma atmosfera tensa/trágica), linguagem cénica («Não se trata de suprimir a fala articulada mas sim de dar às palavras, pouco mais ou menos, a importância que têm no sonho.»). O que veio a dar, na boca de Jim Morrison, inspirado por Freud: «Pai? Sim, meu filho? Quero matar-te. Mãe, quero-te Aaaaaahrr.» Ou ainda: «Queremos o mundo, e queremo-lo agora.»" do livro POPMUSIC-ROCK.

De notar que Ray Manzarek e Jim Morrison fundadores do grupo The Doors eram alunos na "UCLA School of Theater, Film and Television".
The Doors diferenciou-se de todas as outras bandas da West Coast e foi a mais evoluída.

"...se, na nossa ignorância e com o erro de perspectiva que dão 8000 km de distância, tivéssemos tendência a assimilar os Doors à mesma fonte que a dos Jefferson Airplane e pensássemos que eles vinham também de S. Francisco, era evidente que esta violência angustiada não condizia com o apelo ao amor e ao «flower power».
Com os Doors aparecia já o inverso do décor, a «bad trip» da realidade que mascarava o nosso sonho ingénuo, o fim das ilusões, o fim...
The end.", escrevia Hervé Muller em "JIM MORRISON para lá dos DOORS".

e mais adiante:

"Era preciso ser já marginal, pelo menos numa certa medida, para apreciar verdadeiramente o rock dos Jefferson Airplane ou dos Grateful Dead. Em compensação, a música dos Doors não pedia nenhum condicionamento prévio, pelo contrário, agia como detonador e neste aspecto, era mais efectivamente subversiva."

Em 1966 actuavam no "Whiskey-a-Go-Go", ainda sem nenhum disco gravado, tinham já muitas composições originais, entre as quais se encontrava "The End", uma canção que foi evoluindo noite após noite com sucessivas improvisações de Jim Morrison (vocalista e líder do grupo).

"... um sábado à noite, muito tarde, de madrugada, quando a sala do «Whiskey» estava cheia a rebentar e o público particularmente receptivo, Jim Morrison, em lugar de encadear normalmente, improvisou o monólogo que iria fazer de «The End» a canção mais discutida da história do rock:

The killer awoke before Dawn,
He put his boots on,
He took a face from the ancient gallery,
And he walked on down the hall.
He went to the room where his sister lived.
And then he paid a visit to his brother,
And he come to a door,
And he looked inside,
«Father?»
«Yes, son?»
«I want to kill you.»
«Mother! I want to...»

E explodiu então num grito demencial... Chegado a este ponto, o público estava como que hipnotizado. O grupo terminou o trecho e foi o silêncio absoluto. Ninguém aplaudiu nem disse uma palavra." ainda de "JIM MORRISON para lá dos DOORS".




Resultado, foram despedidos do "Whiskey-a-Go-Go" e passados alguns dias estavam a gravar o 1º e excelente álbum "The Doors" que seria editado no início de 1967.
Desse 1º álbum ficamos com o grande êxito que foi "Light My Fire".



The Doors - Light My Fire