terça-feira, 30 de abril de 2019

Deniz Cintra - Balada dos Homens e Mulheres Sentados

mundo da canção nº 8 de Julho de 1970


Volto a um canção que já tive ocasião de recordar, uma canção que quando foi editada em 1970 não teve uma divulgação significativa, é "Balada dos Homens e Mulheres Sentados", o poema, música e interpretação é de Deniz Cintra.

Deniz Cintra (1951-1990), era filho conhecido professor Lindley Cintra e irmão do também bem conhecido actor Luís Miguel Cintra, antes de se exilar em Inglaterra em 1972 deixou publicados, nos anos de 1970 e 71, dois EP e um Single que se enquadram no designado canto de intervenção ou de protesto, como outros lhe chamam, então em pleno desenvolvimento.




Seguindo as letras publicadas na revista "mundo da canção" nº 8 em Julho de 1970 encontro precisamente a "Balada dos Homens e Mulheres Sentados" para a qual proponho nova audição.




Deniz Cintra - Balada dos Homens e Mulheres Sentados

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Amália Rodrigues - Trova Do Vento Que Passa

mundo da canção nº 8 de Julho de 1970

No que diz respeito à música nacional este nº da revista "mundo da canção" continua com um artigo crítico relativo a Amália Rodrigues. O texto, assinado por César Príncipe, dá para perceber como o Fado e a sua representante maior era, na época, considerado por uma crítica ávida de rompimento com o passado e de descoberta de novas sonoridades.








Da controvérsia não se verá nunca Amália Rodrigues livre, críticas menos boas e elogios foram-lhe sempre feitas dos mais diversos quadrantes, com o passar dos anos apaziguaram-se as críticas e hoje é genericamente considerada um símbolo da canção nacional e em particular do Fado.
Amália Rodrigues (1922-1999) deixou uma longa discografia, ao tempo da edição do nº 8 da revista "mundo da canção" a Julho de 1970, o seu mais recente trabalho era o LP "Com Que Voz", editado em Março, considerado por muito o seu melhor álbum e onde ela interpretava poetas que iam de Ary dos Santos a Pedro Homem de Mello.
Para ouvir fica a sua interpretação de "Trova Do Vento Que Passa", o inesquecível poema de Manuel Alegre e que se pode encontrar neste blogue nas versões do Quarteto 1111, Adriano Correia de Oliveira e António Bernardino. Ei-la.




Amália Rodrigues - Trova Do Vento Que Passa

domingo, 28 de abril de 2019

Procol Harum - Boredom

Foi ontem à noite o esperado concerto dos Procol Harum no Coliseu do Porto.
E no final todo o mundo parecia satisfeito pois acabávamos de ouvir a incontornável "The Whiter Shade of Pale", a canção da  nossa meninice e juventude. Gary Brooker do alto dos seus 73 anos demonstrava ainda capacidades vocais assinaláveis que nos encantaram em diversos momentos, "A Salty Dog" talvez o melhor de todos, mas já anteriormente em "Homburg".







No entanto, pese normalmente eu apreciar concertos não previsíveis que fujam ao facilmente expectável, Gary Brooker distribuiu a selecção de canções pelo tempo nomeadamente pelo mais recente "Novum" (2017), mas as canções mais recentes não têm a magia das do período de 1967 a 1973, onde eu preferia que o concerto se tivesse centrado.






Assim muito boas canções daquele período ficaram por ouvir como por exemplo "Boredom" que agora aproveito para recordar.




Procol Harum - Boredom

Objectivo - This Is How We Say Goodbye

mundo da canção nº 8 de Julho de 1970


Entre elogios e críticas menos positivas se fez o pequeno texto de José de Veiga Lima sobre o grupo português Objectivo a propósito do lançamento do 2º Single do grupo. Por um lado "... esperávamos uma melhor qualidade musical neste disco", por outro "...consideramos como o melhor conjunto que se fixou em Portugal ..."; por um lado "... uma das melhores obras que se fez neste país" por outro lado "... tem em seu desfavor..." "aquele arremedo de valsinha «straussiana» contida em »The dance of death..."

Já quanto a "This Is How We Say Goodbye", a canção escolhida para hoje  cuja letra era reproduzida no nº 8 da revista "mundo da canção", que considerava ter "...uma linha harmónica bela, tem o senão de ter pouca variedade musical, chegando a cair na monotonia", mas "No aspecto vocal muito superior à primeira."






Uma curiosidade aqui notada é o facto "... de ser o primeiro «stereo-single» gravado em Portugal."
Assim se faz mais uma passagem pelos Objectivo, O Rock mais pesado que por cá se fazia, hoje em tons mais suaves e melódicos.




Objectivo - This Is How We Say Goodbye

sábado, 27 de abril de 2019

Procol Harum - A Whiter Shade of Pale

O jornal "Musicalíssimo" (anos de 1972, 1973) publicava normalmente um poster, alguns ainda os tenho pois não os retirei do jornal, outros retirei e alguns colei na parede da sala da casa dos meus pais onde estudava e ouvia música. Lembro-me perfeitamente dos três posteres que estavam afixados e que infelizmente os perdi por completo, eram a Joan Baez, o Ian Anderson (Jethro Tull) e o Gary Brooker (Procol Harum).


https://www.telegraph.co.uk


E é este último que hoje à noite vou ver pela primeira vez no Coliseu do Porto.
Gostava muito dos Procol Harum e da sua principal figura Gary Brooker. No final dos anos 60 e início dos anos 70 eram razoavelmente bem divulgados por cá. É claro que "A Whiter Shade of Pale" era super conhecida, e embora gostasse não estava, nem de longe, entre as minhas preferidas. A excessiva popularidade da canção, tocada e dançada em todo o lado, não me atraiu sobremaneira. As minhas preferências iam para outras canções bem menos conhecidas, mas nem por isso inferiores, bem pelo contrário, algumas delas melhores e mesmo excelentes como por exemplo "A Salty Dog", mas também "Shine On Brightly", "In Held 'Twas in I", "Boredom", "Nothing That I Didn't Know", "Whaling Stories", "Broken Barricades".

O meu interesse pelos Procol Harum começou a diminuir a partir do álbum "Grand Hotel", parecendo-me que o grupo começou a adoptar sonoridades mais comercias.


É pois com muita nostalgia que espero logo ouvir algumas daquelas canções que preenchem o meu imaginário dos tempos em que os ouvia em programas de rádio como a "Página Um" e o "Em Órbita". E ouvir novamente "A Whiter Shade of Pale", porque não?




Procol Harum - A Whiter Shade of Pale

Rita Olivaes - Noite do Renascer

mundo da canção nº 8 de Julho de 1970


O primeiro artigo que surge neste nº 8 da revista "mundo da canção" é uma pequena entrevista a Rita Olivaes. A razão da entrevista vai para a edição do seu próximo disco que iria ser o EP "A Poesia e a Música de Rita Olivaes"e que segundo resposta dela iria ter as seguintes canções: "Caravelas Moribundas", "Mulher Flor", "João dos Jornais" e "Maria Treva", na realidade neste disco, que já tive oportunidade de dar conta, não aparece nenhuma "Maria Treva" mas sim "Águas do Rio Mansôa" que foi a canção que então recordei. Na sua curta discografia não aparece mesmo nenhuma canção com aquela designação.







Aquando desta sua entrevista encontrava-se a meio da sua produção discográfica, dois EP já publicados e dois que ainda o iriam ser. De referir que quase todas as canções foram por ela compostas, letra e música, estando nos dois primeiros os arranjos e direcção de orquestra entregues a Jorge Machado e nos dois últimos ao Pedro Osório.

A publicação então mais recente era o EP "Noite do Renascer", de 1969, aonde fui buscar a canção título.




Rita Olivaes - Noite do Renascer

sexta-feira, 26 de abril de 2019

mundo da canção nº 8 de Julho de 1970

mundo da canção nº 8 de Julho de 1970

Estamos em 1970, no mês de Julho, e mais um nº da revista "mundo da canção" é publicado, é o oitavo e a capa vai para uma fotografia de Manuel Freire, alguns nomes são a ainda realçados no lado esquerdo, a negro alguns dos nomes da música popular portuguesa, de alguma forma tratados no interior, Denis Cintra, José Afonso, Rita Olivaes, Ernesto César, Objectivo e alguns nomes da música Pop-Rock internacional de então, Leonard Cohen, Donovan, Arrival, The Beatles, Jethro Tull, The Moody Blues, Joni Mitchell, Bee Gees, Robin Gibb e Family Dogg.

Mais um nº onde um pouco de tudo se pode ler no seu interior, do muito bom ao menos bom. O editorial intitulado "a engrenagem e o resto" explica:
" Os nossos artistas, vamos falar principalmente deles, encontram-se divididos por um profundo vale. De um lado aqueles muitos, ditos comerciais, alienados à «priori» ou apanhados pela engrenagem das concessões, das dificuldades, de «de certo modo» vencíveis, do profissionalismo; do outro, em nº crescente, mesmo assim, os «amadores», aqueles que lutam contra a engrenagem das concessões, que se debatem com as depressões, pressões e opressões (pausa para respirar...), que querem dizer alguma coisa com esta e aquela canção, e não deixam que o editor lhes dite sistematicamente a «receita de vencer». E, no meio, o vale. Ao longo do vale, o rio de toda a gente, devorador de palavras, fabricador de mitos com o barro do leito, destruidor de hipóteses, construtor de hipérboles..."





Muitas letras, alguns artigos, assim se preenchem as 40 páginas deste nº que hoje começo a lembrar.
Mantêm-se algumas rubricas ("mc ficha", "curiosidades") e aparece "Tiro pela direita", ou seja aquilo de que não se gosta.
De algumas letras não consegui obter a respectiva canção, por exemplo "Trova do Emigrante" de José Manuel Osório e "Se Há Barcos, Se Há Velas" de Ernesto César. Vamos ao restante.
Ainda espaço para "Fotos e Notícias" onde surgia Luís Rego, Pedro Barroso e os Mungo Jerry.









quinta-feira, 25 de abril de 2019

José Afonso - Coro da Primavera

E chego ao fim desta incursão por canções da música popular portuguesa do ano de 1971. Para o fim deixei aquele que por muitos é considerado o melhor disco de sempre da nossa tradição musical, o álbum "Cantigas do Maio" de José Afonso.

Também este disco foi gravado em França, foi nos Strawberry Studios, em Hérouville a cerca de 40 km de Paris, no mesmo sítio onde nesse mesmo ano Sérgio Godinho e José Mário Branco gravam os seus primeiros álbuns (e os Petrus Castrus gravam "Mestre", Elton John "Honky Château", os Pink Floyd "Obscured by Clouds" e muitos, muitos outros...).





Se  José Afonso tem em "Cantigas do Maio" um dos seus trabalhos mais inspirados, ele é completado em parte por José Mário Branco que assegura a direcção dos arranjos levando "... a música de Cantigas do Maio bem para além de Coimbra e das baladas do início de carreira", na revista "Blitz" nº 41 de Novembro de 2009.
Para Mário Correia, em "Música Popular Portuguesa", neste álbum "... José Afonso diz-nos com toda a autoridade que assimilou do seu passado - presente musical, projectando no futuro propostas de inevitabilidade de uma música popular portuguesa viva, autêntica e enraizada."

Era o melhor trabalho de José Afonso até então, qualidade que felizmente iria manter em boa parte da sua obra posterior, dele escolho o tema final "Coro da Primavera", um bom exemplo da riqueza musical do ano de 1971.
Nem de propósito, hoje é dia de 25 de Abril, dia ao qual a memória de José Afonso estará para sempre ligada.




José Afonso - Coro da Primavera

quarta-feira, 24 de abril de 2019

José Mário Branco - Abertura (Gare D'Austerlitz)/Cantiga Para Pedir Dois Tostões

O ano de 1971 em Portugal, musicalmente falando, é sinónimo de José Mário Branco.
Exilado em França desde 1963 desenvolve grande actividade em associações culturais e recreativas, participa em espectáculos, em particular para emigrantes portugueses.
O EP "Seis Cantigas de Amigo" (1969), edição do Arquivos Sonoros Portugueses, e o Single "Ronda do Soldadinho" (1970), com edição de autor, prepararam o caminho paro o trabalho que iria revolucionar o panorama da música popular portuguesa, o LP "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" precisamente em 1971.


Edição em CD de 1996 com a ref: 7243 8 35655 2 8

A genérica fragilidade musical do movimento das baladas assente no acompanhamento tradicional da viola, onde a primazia ia para os textos e a melodia, ia ser ultrapassada pelo arrojo e criatividade de José Mário Branco num trabalho "revolucionário" nos arranjos e ideias musicais. A propósito lê-se em "Música Popular Portuguesa" em citação de José Duarte:
"... Assim esta obra combate uma tradição onde a palavra é o som mais inteligível. Assim se encerra a fase confusa da nova música música portuguesa. Assim se inaugura uma época nova onde também cantar bem e compor melhor serão condições a exigir à canção útil; da afirmação da palavra à desafinação das cordas, à percussão das peles e teclas, à imaginação nos arranjos, à criação melódica, à vocalização justa: aqui o circo foi desmantelado com todas as ferramentas do som."

Foi a 26 de Novembro de 1971 que conheci este disco na integra, foi no dia em que o programa de rádio "Página Um" transmitiu a sua apresentação a partir do Cinema Roma, em Lisboa (assim como o EP do Sérgio Godinho) com entrevistas gravadas por Adelino Gomes aos dois. Foi nesse dia que primeira vez ouvi os acordes de "Abertura (Gare D'Austerlitz)" seguida de "Cantiga Para Pedir Dois Tostões", é o que se segue. Inesquecível!




José Mário Branco - Abertura (Gare D'Austerlitz)/Cantiga Para Pedir Dois Tostões

terça-feira, 23 de abril de 2019

Sérgio Godinho - A Linda Joana

Se é verdade que o grande impacto de Sérgio Godinho só se verificou no ano de 1972 com a publicação de "Sobreviventes", o seu primeiro disco de longa duração, também é verdade que o EP que saiu em 1971, ao mesmo tempo que "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades" de José Mário Branco, já tinha todos os ingredientes para se identificar que ali estava algo de novo e verdadeiramente diferente do que era habitual ouvir-se na música de expressão portuguesa.

Pouco depois de serem editados, o EP de Sérgio Godinho e o LP de José Mário Branco, já eu, então  com os meus 15 anos, os tinha e ouvia em casa dos meus pais, chegaram lá via Manuel Freire que os disponibilizou ao meu pai, pois nessa altura eram colegas de trabalho.
"Romance de um dia na estrada", assim se intitulava o EP e a sua canção principal, ainda o mantenho comigo, e a ele volto com alguma regularidade com as recordações que ele me trás de um tempo em que me abria para o mundo onde grassava a miséria e a injustiça e onde, tudo que se manifestava na luta por um país melhor, era por mim rapidamente absorvido. Sérgio Godinho é de todos os cantores portugueses revelados naquela época o que maior discografia apresenta e o que melhor perdurou no tempo, ouça-se "Nação Valente" de 2018.


EP com  ref: 2000 002 da Guilda da Música, "Made in France"

Eduardo M. Raposo, escreve em"Canto de Intervenção 1960-1974":
"Composto por quatro temas: «Romance de um dia na estrada»; «Linda Joana»; «Charlatão» e "AEIOU», sendo Romance de um dia na estrada, sem dúvida um dos acontecimentos mais importantes do ano, é-o, certamente, em grande parte, através da voz espontânea, fresca e intencional de Sérgio Godinho."


Revelava-se assim um dos principais protagonistas na renovação do panorama musical que hoje mais uma vez recordo, hoje com "A Linda Joana".




Sérgio Godinho - A Linda Joana

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Sandy Denny - Fhir A' Bhata



Ontem fez 41 anos que Sandy Denny faleceu.
Ontem o meu filho chegou de Inglaterra e trazia a encomenda que lhe tinha feito. Trazia a caixa "Sandy Denny - Live at the BBC" composta por 3 CD e um DVD. Que coincidência!







A primeira canção é o tradicional "Fhir A' Bhata" por ela interpretado ainda no ano de 1966, e aqui fica para despertar o apetite por esta caixa que de certeza me vai proporcionar muitas horas de deleite. Não fosse Sandy Denny a minha cantora preferida de sempre.




Sandy Denny - Fhir A' Bhata

Luís Cília - Fala do Homem Nascido

Em 1971 Luís Cília já tinha publicado, para além de um Single e um EP, quatro trabalhos de longa duração, "Portugal-Angola: Chants de Lutte" e "La Poésie Portugaise de nos jours et de toujours" nº1, nº2 e nº3, todos eles editados em França, onde se encontrava desde 1964, sem nenhuma edição em Portugal.
Não me recordo de todo quando ouvi Luís Cília pela primeira vez, mas muito provavelmente somente depois do 25 de Abril de 1974, com o seu regresso a Portugal e o inicio da publicação dos seus novos discos. A sua obra, infelizmente pouco divulgada, encontra-se entre a minha preferida, quer a anterior quer a posterior a 1974 e continuo a ouvi-la com redobrado prazer.

Do exílio vinham em 1971 três trabalhos a evidenciar, os de Luís Cília, José Mário Branco e Sérgio Godinho respectivamente. "La Poésie Portugaise de nos jours et de toujours nº 3" foi o trabalho editado naquele ano por Luís Cilia.






"Luís Cília surge com o último álbum da série A POESIA PORTUGUESA DOS NOSSOS DIAS E DE SEMPRE, o nº 3, através do qual se prolonga o encontro com poesias de excelente qualidade, tendo do ponto de vista musical sido acompanhado por músicos de grande mérito.", diz Mário Correia em "Música Popular Portuguesa"

Escolho "Fala do Homem Nascido", um poema de António Gedeão musicado por Luís Cilia (o mesmo poema foi musicado no ano seguinte por José Niza, no álbum homónimo e interpretação de Samuel).




Luís Cília - Fala do Homem Nascido

domingo, 21 de abril de 2019

Adriano Correia de Oliveira - Emigração

Ao recordar o ano musical português de 1971 há 5 nomes incontornáveis que marcaram significativamente aquele ano: Luís Cília, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho.

Das gravações efectuadas por estes 5 cantautores da melhor música popular portuguesa da minha juventude, somente Adriano Correia de Oliveira efectuou a gravação em Portugal, dos restantes José Afonso, foi a França efectuá-la e os outros já lá estavam...

Começo então por Adriano Correia de Oliveira e pelo seu histórico "Gente de Aqui e de Agora". Gravado em Lisboa, com arranjos vários, José Calvário, José Niza, Rui Ressurreição e Thilo Krasmann, era, até então, o seu trabalho mais arrojado.




A revista "Blitz" considera-o o 14º melhor álbum português da década de 70 (a merecer melhor classificação, em minha opinião), e faz a seguinte apreciação:
"Última gravação de Adriano Correia de Oliveira antes do 25 de Abril, este álbum foi composto com José Niza e é outro grande exemplo da arte de fazer canções com palavras que não disfarçam a vontade de mudança. «Emigração», «E Alegre Se Fez Triste» e «O Senhor Morgado» são os três temas de abertura num álbum de nobres e fortes emoções onde o canto consegue tocar no mais fundo dos homens."

Porque era enorme a comoção, quando com os meus 15 anos ouvia este disco, recordo,agora, mais uma canção de um disco que tanto me marcou, "Emigração" aqui fica.




Adriano Correia de Oliveira - Emigração

sábado, 20 de abril de 2019

José Jorge Letria – Pare, Escute e Olhe

Depois de ter visto José Jorge Letria na sua passagem pelo programa "Zip-Zip", em 1969, na RTP, é em 1971 que volto a ouvir falar dele. Desta vez na rádio, no saudoso programa da Rádio Renascença "Página Um", e o propósito era a passagem do seu 1º Single que aquele programa tanto divulgou.

Este Single, que antecedeu o LP "Até ao Pescoço" no ano seguinte, continha as canções "Pare, Escute e Olhe" e "Arte Poética" (esta última já por mim anteriormente recuperada).






“Foi mais de um ano de silêncio (depois do primeiro disco-fracassado) [o EP História do José -Sem-Esperança, penso eu]. Mais de um ano de silêncio inteiramente assumido. Voluntariamente aceite. É fora dos circuitos normais (televisão, rádio, promoção, venda) que, dolorosamente, sem trincheiras nem disfarces, se descobrem os amigos (?), que se aprende a abominar a hipocrisia e a falsa coerência, a miséria das intenções, a ignorância das coisas elementares."É no silêncio (um certo silêncio, entenda-se), que se descobre a utilidade das palavras. O seu fogo. A sua forma exacta. A sua acutilante facilidade de chegar onde mais ninguém chega. E ao mesmo tempo a sua infinita pobreza. A sua enorme timidez. Sim, porque as palavras são tímidas. Haverá alguém que duvide?
"Para mim conservo a certeza de que está tudo ainda por fazer. Não são meia dúzia de discos ou de frases publicitárias, publicamente ditas, que definem uma música e lhe dão a necessária consistência. Desfaçam-se pois os equívocos. Já não é sem tempo. A quem me ouvir deixo, entretanto, a possibilidade de transformar em acto (ou quase) o que no canto se propõe. Se isso não acontecer fico, pelo menos, com a certeza de ter levado até ao fim a minha ingenuidade. Ou seja o silêncio donde partiu. Para os que ficarem pelo caminho vai também a minha saudação.", era o texto assinado pelo José Jorge Letria na contra-capa do disco.


Muito ouvi as duas canções, a segunda tornou-se um verdadeiro hino de resistência ao regime fascista que então nos "governava", a primeira era uma canção Pop-Rock e soava-me a algo de novo, diferente do que cá se ouvia na música de produção nacional.

É com ela que ficamos, agora "Pare, Escute e Olhe".




José Jorge Letria – Pare, Escute e Olhe

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Manuel Freire – Poema da Malta das Naus

Estou entre o melhor que o ano de 1971 nos deixou no que diz respeito à música popular portuguesa. Ontem foi o inesquecível Carlos Paredes e o seu "Movimento Perpétuo" e ainda faltam algumas preciosidades que nesse ano se iriam revelar e contribuir definitivamente para o virar de página que então ocorreu. Falta o José Afonso, o Adriano Correia de Oliveira, o Luís Cília, o José Jorge Letria, o Sérgio Godinho e o escolhido para hoje, Manuel Freire.

O sucesso de Pedra Filosofal no ano anterior tinha sido enorme e Manuel Freire encontrava-se já entre os consagrados cantores de intervenção. Na realidade ele já era conhecido desde 1968, altura do primeiro EP onde se destacava a conhecida "Livre". A popularidade de Manuel Freire, não ficou por aqui e iria prolongar-se por toda a década de 70.





Em 1971 surge o EP sucessor de "Pedra Filosofal" e, sem alcançar o êxito daquele, era ainda um trabalho inspirado. Referindo-se a trabalhos, a merecerem "haver memória", do ano de 1971 Mário Correia afirma em "Música Popular Portuguesa":
"... dele [Manuel Freire] se conhecem temas de grande qualidade, tais como Poema da malta das naus, Dulcineia, Fala do Velho do Restelo ao Astronauta e Canção, com poemas respectivamente de António Gedeão, José Ferreira [José Gomes Ferreira], José Saramago e Eduardo Olímpio".

Deste EP escolho "Poema da Malta das Naus", letra de António Gedeão, música de Manuel Freire e arranjos de Thilo Krasmann.




Manuel Freire – Poema da Malta das Naus

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Carlos Paredes - Mudar de Vida

Embora as suas primeiras gravações datem ainda da década de 50, 1957 mais precisamente na categoria de acompanhante de seu pai, o também guitarrista Artur Paredes (1899-1980) e principal responsável pela autonomização da guitarra de Coimbra ("Contribui decisivamente para a configuração da canção de Coimbra e para a modificação da morfologia da guitarra de Coimbra", em "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX").

Como solista a primeira gravação de Carlos Paredes (1924-2004) data de 1962, tendo Fernando Alvim a acompanhá-lo na viola, e é composto por temas da sua juventude. Em 1963 é a vez do EP "Verdes Anos", música do filme com o mesmo nome e porventura o seu tema mais conhecido. Na década de 60 realce ainda para o LP "guitarra portuguesa", o melhor disco português da década de acordo com a revista "Blitz".


https://www.discogs.com


A década de 70 começa com mais um trabalho histórico de Carlos Paredes, o LP "Movimento Perpétuo", a colocar a sua música no patamar mais elevado do que então por cá se realizava. Logo a seguir a "Cantigas de Maio" de José Afonso, a revista "Blitz" considera-o o 2º melhor da década referindo-se-lhe:
"Carlos Paredes gravou pouco para o que o seu incomensurável talento pedia, mas o que gravou é brilhante. Uma vez mais registado na Valentim de Carvalho (Hugo Ribeiro, o engenheiro de som, até surge na capa), Movimento Perpétuo levou Eduardo Lourenço a descrever Paredes como «um coração sintonizado com o canto inaudível do que somos».  Pura verdade: «Movimento Perpétuo» ou "Danças Portuguesas» e «Mudar de Vida» são retratos tão nítidos que nem precisamos de abrir os olhos para os contemplarmos."

"Mudar de Vida", música do filme com o mesmo nome de 1967 (realizado na minha terra natal, Ovar e praia do Furadouro), é a minha escolha.




Carlos Paredes - Mudar de Vida

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Francisco Fanhais - Descalça Vai para a Fonte

Ficou conhecido em 1969 aquando da passagem pelo programa televisivo "Zip-Zip". Um EP (1969) e um LP, "Canções da Cidade Nova", (1970) depois encontra-se proibido de exercer todas as suas actividades, sacerdócio, leccionar e cantar, em Portugal. Parte em 1971 para França aderindo à LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária). Já deram conta que me estou a referir a Francisco Fanhais, ou, como era então conhecido, Padre Fanhais que era como constava na capa daqueles dois discos.
Regressa a Portugal após o 25 de Abril de 1974 tendo participação activa no processo revolucionário que então se iniciou.



https://www.discogs.com/


A escolha de hoje é um EP, editado pela etiqueta "zip-Zip", em 1971 cujas 4 canções constavam no LP do ano anterior. A curiosidade vai para o facto de na capa já ser com  o nome Francisco Fanhais. As canções eram:
"Corpo Renascido", "Canção da Cidade Nova", "Porque" e "Descalça Vai para a Fonte", esta última também intitulada "Leonor" na edição em álbum.
Em nome próprio, ao que julgo saber, não efectuou novas gravações.
Estamos então em 1971 e recorda-se "Descalça Vai para a Fonte".




Francisco Fanhais - Descalça Vai para a Fonte

terça-feira, 16 de abril de 2019

Luíz Goes - Cantiga para Quem Sonha

Dou um salto na carreira de Luíz Goes. Quando o recordei pela primeira vez fiquei em 1958, hoje vou directo para 1971.

Luíz Goes (1933-2012), médico de profissão, foi cantor e compositor e figura importante da canção de Coimbra, talvez o que a levou mais longe e lhe deu maior contributo. Possuía uma bela voz de barítono e uma expressividade dramática que lhe era característica.
Segundo a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX", "Luíz Goes contribuiu para a renovação da canção de Coimbra nos planos literário, musical e interpretativo. As suas letras introduzem novas temáticas no género coimbrão, passando a incluir, além dos temas líricos tradicionais, a desigualdade social, a pobreza, a solidariedade, a distância, as relações de poder, assumindo vincadas características de canção de intervenção social."

Os anos 60 vêem interrompida, entre 1963 e 1965, a sua actividade artística com o cumprimento do serviço militar, a qual é de seguida retomada.


https://musicasdosanos60.blogspot.com


O LP "Coimbra de Ontem e de Hoje" é editado em 1967 e em 1969 "Canções do Mar e da Vida".
Em Dezembro de 1971 encontra-se em estúdio onde grava o seu próximo trabalho "Canções de Amor e Esperança" e que vê a luz do dia no ano seguinte. É um trabalho excelente e encontra-se entre o melhor que nos deixou, revelando assim que a música popular portuguesa se encontrava num período de grande criatividade e renovação.
"Cantiga para Quem Sonha" é uma bela canção que abria este LP e que agora se recorda. Quem se lembra desta maravilha!




Luíz Goes - Cantiga para Quem Sonha

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Denis Cintra - Garotas

Denis Cintra, mais um nome que se insere na renovação da música popular portuguesa anterior ao 25 de Abril de 1974.
Dele já dei o devido destaque do seu seu primeiro EP publicado em 1970. Avanço, agora para o ano de 1971 e para o seu segundo trabalho, desta feita um Single.

"Após um diferendo com a editora Philips, Deniz Cintra muda-se para a Orfeu e constrói no seu segundo disco retratos satíricos de personagens-tipo, em que diversos extractos musicais aparentemente desconexos se sucedem, como se de um pot-pourri se tratasse.", referia-se João Carlos Callixto no seu livro "Canta, Amigo, Canta" relativamente ao Single editado em 1971.





As duas canções deste Single "Garotas" e "O Guardanapo do Snr. Silva" inserem-se na descrição acima citada e é a recordação que proponho para hoje. Segue "Garotas".




Denis Cintra - Garotas

domingo, 14 de abril de 2019

Vieira da Silva - Canto da Hora Chegada

Mais um nome importante, mas menos conhecido, da nova música popular portuguesa que se desenvolvia nos anos anteriores a 1974, Vieira da Silva.

Com gravações efectuadas desde o final dos anos 60, em 1971 contava já com algumas canções gravadas. Mas nada melhor do que socorrer-me do sítio do próprio (http://www.vieiradasilva-ilhavo.com) onde se pode ler:
"Em Agosto de 1969 venci o 1º. Festival de Música Popular Portuguesa realizado no Casino da Figueira da Foz (aberto a malta nova que nunca tivesse gravado discos e apresentasse canções do tipo intervenção ou “baladas” como se dizia nessa época). Do júri faziam parte vários jornalistas entre os quais o Mário Castrim e a Alice Vieira."
"Em Novembro de 1969 foi editado o meu primeiro disco pela editora “RRdiscos” (do Francisco Nicholson, Armando Cortez e Eugénio Pepe) com o título “Canção para um povo triste” (que veio a ser apreendido pela PIDE)."
"Em Dezembro de 1969 foi editado um single com uma canção minha (“Canção para um Natal”) e uma canção interpretada pela Rute (“O Natal dos simples” de José Afonso)."
"Em Janeiro de 1970 foi editado o meu segundo disco (pela mesma editora), com capa minha, e com o título “Para a construção da cidade necessária”)."
"Ainda em 1970 foi editado o meu terceiro disco (“Canto da hora chegada”)."





Algumas fontes apontam este terceiro disco como sendo de 1971, pelo que o incluí nesta passagem que estou a fazer por aquele ano, no entanto, fazendo fé no autor terá sido editado no ano anterior  (terá sido gravado em 1970 e editado em 1971?).

De qualquer forma aqui fica mais um passagem por este cantor que "...foi companheiro de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Francisco Fanhais, Francisco Naia, entre outros, integrando o movimento dos cantores de intervenção.", em "Canto de Intervenção 1964-1974".

"Canto da Hora Chegada" é a escolha de hoje.




Vieira da Silva - Canto da Hora Chegada

sábado, 13 de abril de 2019

Francisco Naia - Por Trinta Dinheiros

Tendo sido aluno de História de José Afonso, dele recebe influências na interpretação de baladas (de Coimbra), passa pelo programa televisivo "Zip-Zp" e vê o seu primeiro EP proibido pela PIDE.
Francisco Naia não é novo neste blogue, "Barco Novo" e "Amigo João", respectivamente do 1º EP (1969) e 2º EP (1970) podem ser ouvidos neste Regresso ao Passado.

Recordê-mo-lo mais um pouco nas palavras recolhidas de "Canto de Intervenção 1960-1974":
"Nos últimos anos do Estado Novo recorda-se dos inúmeros espectáculos realizados de parceria com José Afonso, Adriano, Fanhais, Manuel Freire, José Jorge Letria, António Pedro Braga, Vieira da Silva, Mário Viegas ou José Fanha.
Recorda os inúmeros recitais organizados por pessoas que, na sombra, tanto nas associações culturais e recreativas, como nas universidades, no «Técnico» nomeadamente, quase sempre ligadas ao Partido Comunista, ou a outros grupos políticos de esquerda, tiveram grande importância para esta frente de luta contra o fascismo. Recorda a divulgação dos grandes poetas pelos cantores de intervenção, e diz ter influências do José Afonso, do Adriano e do Luís Cília,de quem refere a importância e o papel decisivo que este compositor teve para a música de intervenção, injustamente esquecido."






O ano de 1971 trás mais 1 EP com 4 composições originais desta vez com a orquestração de Pedro Osório.
Este 3º EP intitulado "Canto Suão" era composto pelas seguintes quatro canções: "Por Trinta Dinheiros", "Lá em Casa Somos Três", "Oh Moças Façam Arquinho" e ""Quem Bate à Porta", todas de sua autoria.

Para ouvir fica "Por Trinta Dinheiros"




Francisco Naia - Por Trinta Dinheiros

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Luís Romão - Mulher, Minha Mulher

De Luís Romão poucas são as memórias que possuo, o nome e pouco mais. A informação que se consegue obter também é reduzida pelo que aqui fica alguma dela que se consegue encontrar aqui e ali.

Nascido em Évora é em Coimbra que se inicia na música algures a meio da década de 60. Já em Lisboa, ainda nos anos 60, está na origem de grupos já referidos neste blogue, a Banda 4 e Fluido. No ano de 1971 efectua as primeiras gravações a solo, sendo então publicados 3 Singles (na realidade 2 e meio pois um deles é a meias o grupo Elas no 1º Festival da Canção da Guarda).






Numa toada Pop, mas relativamente pouco interessante, a canção "Mulher, Minha Mulher" segue para audição. A canção escrita por Carlos Portugal teve arranjos e direcção de orquestra de Pedro Osório e foi a apresentada no Festival acima referido.




Luís Romão - Mulher, Minha Mulher

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Teresa Paula Brito - Poema Sobre a Recusa

Vou sensivelmente a meio desta selecção de canções portuguesas publicadas no ano de 1971. Que tal? Tiveram boas surpresas? O Rock dos Pop Five Music Incorporated, do Quarteto 1111, dos Objectivo, dos Beatniks, a música mais ligeira de Paulo de Carvalho, da Rita Olivaes, da Tonicha, do Hugo Maia de Loureiro eram alguns dos sons que naquela ano por cá se ouviam. Mas havia mais, muito mais, como vamos ver, e, em meu entender, também muito mais interessante,
Refere Mário Correia em "Música Popular Portuguesa": "Convirá desde já salientar que os anos de 1970 e 1971 se caracterizaram por um intenso labor da canção portuguesa aos mais distintos níveis, com o aparecimento de novos nomes (dos quais alguns prosseguiram, criando até aos nossos dias), confirmando as palavras de Adriano Correia de Oliveira quando afirmou que era todo «um movimento que cresce em múltiplas formas».
Teresa Paula Brito, Francisco Naia, Rita Olivaes, Pedro Barroso, José Almada, Fausto, Manuel Freire, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, José Mário Branco, Sérgio Godinho, ..., foram alguns deles e deles procurarei relembrar algumas das canções editadas no ano de 1971.
Dizia ainda Mário Correia:
"O ano de 1971 marcou, efectivamente, uma viragem histórica: não é por mero acaso ou simples questão superficial de terminologia que se começa a falar na nova música portuguesa, ultrapassando-se termos como balada, trova e canção de protesto, entre outras designações menos vulgares, após o aparecimento de obras de José Jorge Letria, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de oliveira e José Afonso entre outros."

Nesta viragem podemos encontrar Teresa Paula Brito que já há uma década marcava presença na música portuguesa. Para conhecer melhor sugiro relembrá-la nas diversas passagem que já efectuei pela sua discografia, onde se pode constatar a diversidade de géneros por ela abordados.





"Minha Senhora de Mim" foi o EP gravado em 1971 em parceria com a poetisa Maria Teresa Horta e o músico Nuno Filipe e foi um marco na sonoridade Pop-Rock então praticada. Com "Poema Sobre a Recusa" fica completa a passagem por este trabalho.




Teresa Paula Brito - Poema Sobre a Recusa

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Daphne - Redondilhas de Jano e Franco

Ontem foram os Family Fair, onde a voz de Daphne pontificava de uma forma pouco vulgar na nossa música popular. Hoje, lugar para a Daphne em nome próprio. Um nome que se revelava no ano de 1971, pena é que não viesse a ter um futuro na nossa música que as suas qualidades vocais anteviam ser tão promissor.
Na verdade, vozes femininas do gabarito da de Daphne não proliferavam naqueles, agora, longínquos anos e é com alguma nostalgia que me lembro de ouvir aquela voz fora do que era habitual no nosso meio musical. Primeiro nos Música Novarum, depois nos Family Fair, depois a solo e ainda na sua passagem pela Banda do Casaco.





O primeiro Single a solo foi o que continha "Verde Pino", a canção de Nuno Rodrigues com que concorreu ao Festival da RTP da Canção e que já foi recordada neste blogue. Na contra-capa o seguinte pequeno texto:
"Clara Stock de Aguiar Rodrigues é, realmente, o verdadeiro nome de Daphne, diminuitivo porque desde sempre toda a família a tratou e que mais facilmente se explica pelo facto de ser filha de mãe inglesa.
Daphne aprendeu música e piano sózinha, começando com o auxílio dos vulgares manuais de aprendizagem sem mestre e, actualmente, é uma executante de mérito.
Com Nuno Rodrigues, Judy Bremen e António Lobão formou o conjunto Musica Novarum que mais tarde se transformou  no conjunto Segundo Andamento; agora, apenas constituído por ela e seu marido, Nuno Rodrigues." 


Segue "Redondilhas de Jano e Franco" o lado B do Single.




Daphne - Redondilhas de Jano e Franco

terça-feira, 9 de abril de 2019

Family Fair - Soldier

Da nossa música Folk, ou Folk-Rock, daquela que se aproximava daquilo que melhor então se fazia, em particular, no Reino Unidos com os Fairport Convention, Pentangle e Incredible String Band, não ficaram muitos registos. Também pouca houve, é verdade. Um dos melhores exemplos resume-se a um Single editado no ano de 1971 e é a proposta para hoje, são os Family Fair.

Os antecedentes destes Family Fair são os seguintes.
Em 1969, Nuno Rodrigues formou conjuntamente com Clara Stock Aguiar (Daphne), António Lobão e Judi Brennan o grupo Música Novarum de boa memória e de curta duração, deixou um EP gravado que tenho vindo a recordar.
Em 1971 é a vez dos Family Fair, ou seja Nuno Rodrigues e Daphne com Carlos Zíngaro, Celso de Carvalho e Carlos Coelho Achega. Lembre-se que no mesmo ano Daphne participou no Festival RTP com a canção "Verde Pino" composta por Nuno Rodrigues da qual já dei nota.





A sonoridade dos Family Fair é absolutamente incrível no contexto musical da época, o Single é uma raridade e vale bom dinheiro. Na contra-capa um texto de Tito Lívio:
"Torna-se sempre arriscado e comprometedor para um crítico aceitar sobre si a responsabilidade da apresentação de uma nova gravação no tão pobre e confuso panorama da "nova" canção portuguesa.
Escutei várias vezes este "single" de "Family Fair". Com agrado, com uma surpresa não isenta de alegria, de prazer. Aquele que nos comunica a validade e qualidade de uma experiência.
Música que enraíza nos grupos folk-rock como os Fairport Convention, Fotheringay, Mathew´s Southern Comfort  e Pentangle ela aparenta-se ainda quanto à instrumentação utilizada (ausência absoluta da percussão por desnecessária) com Jim Webb e John Mayall.
Em "Soldier" há desde o início a criação de uma atmosfera estranha, exótica que nos é fornecida pelo som  acre dos instrumentos utilizados (recuperados assim para a pop experiência rara entre nós): violino e violoncelo. A voz de Daphne aparece aqui dotada de uma transparência  e espiritualidade serenas servindo muitas vezes de contraponto instrumental, sublinhando a força de um poema-tema actual e oportuno.
"Mrs Colbeck" - um poema de raízes surrealistas, melodia com uma instrumentação mais curiosa embora não tão colorida e rica como "Soldier" em que a viola (ela própria quando seca utilizada como percussão) vai marcando o ritmo e criando um crescendo de intensidade sonora muito belo.
"Family Fair" constitui, sem dúvida, desde já, uma experiência muito positiva e honesta merecedora de toda a nossa atenção."


Para mim a lembrar os Pentangle de Jacqui McShee, segue "Soldier".




Family Fair - Soldier

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Petrus Castrus - Batucada Vulgaris

Constituídos no ano de 1971 ( a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX" aponta a sua origem a 1967), os Petrus Castrus eram formados pelos irmãos Pedro e José Castro, Júlio Pereira, Rui Reis e João Seixas.

Entretanto assinam contrato discográfico com a Valentim de Carvalho, "O vínculo à editora resultou em dois EP apresentando um estilo pop-rock com textos satíricos sobre o contexto político e social português, um dos traços transversais à estética do grupo." de acordo com a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX". Estes dois EP antecederam o disco de longa duração "Mestre" de 1973, trabalho de maior fôlego do grupo e hoje considerado uma referência do Rock Progressivo por cá praticado.





Mas para já estou com o ano de 1971, e nesse ano é o EP "Marasmo" que interessa. Disco composto por três temas, "Marasmo", "Ovo de Chumbo" e "Batucada Vulgaris". Tendo já recordado a canção título "Marasmo", opto agora por "Batucada Vulgaris".




Petrus Castrus - Batucada Vulgaris

domingo, 7 de abril de 2019

Pop Five Music Incorporated - Golden Egg

Continuo com mais uma passagem pelos Pop Five Music Incorporated.

No ano de 1971 os Pop Five Music Incorporated tiveram acesso aos estúdios da Pye em Londres onde gravaram uma série de músicas que seriam publicadas em diversos Singles nesse e no ano seguinte.
O ano de 1971 viu serem editados 2 desses Singles e ainda pelo meio uma passagem, menos bem recebida pela crítica, pelo Festival de Vilar de Mouros a 8 de Agosto.
Primeiro foi o Single "Orange"/"Mission Impossible", depois "Stand By"/"Golden Egg", diga-se que nenhum dos discos me impressionou, tinha os sons de "Page One" na cabeça que aqueles não conseguiam substituir. O melhor já tinha passado e o pouco sucesso deste conjunto de Singles levou ao fim do grupo em 1972.




Reduzidos a um quarteto desde finais de 1969, contrariando assim o nome do grupo, aquando da saída de Tózé Brito, que partiu para se juntar ao Quarteto 1111, e  David Ferreira, este substituído por Miguel Graça Moura, o grupo sofria de fortes influências do Rock Progressivo que então se praticava e que são bem identificáveis no Single que agora recupero.
No lado B o instrumental "Golden Egg".




Pop Five Music Incorporated - Golden Egg

sábado, 6 de abril de 2019

José Cid - Dona Feia, Velha e Louca

É um José Cid de barba e chapéu (qual Woodstock!) que em Agosto de 1971 se apresenta com o Quarteto 1111 no Festival de Vilar de Mouros. Naquele ano o Quarteto 1111 começa a privilegiar cantar em inglês e ao vivo muitos temas eram não originais, de Santana a Led Zeppelin (de acordo com o jornal "DISCO MÚSICA & MODA" – Nº 13 de 1971).
Procurava o Quarteto a sua internacionalização, tentativa essa continuada em 1972 com a formação dos Green Windows.

Paralelamente José Cid inicia carreira a solo. É um José Cid cheio de oscilações: carreira a solo? Internacionalização do Quarteto 1111? Cantar em português ou inglês? E ainda a formação próxima dos populares e ligeiros Green Windows. Não mais atingiria os níveis de 1967-1970. José Cid termina aqui.




Depois do primeiro álbum a solo grava 2 EP, respectivamente “Lisboa Perto e Longe” e “História Verdadeira de Natal”. Se os destaques dos EP iam directos para os temas título com poemas respectivamente de Manuel Alegre e Natália Correia é, no entanto, nos 2 temas (1 em cada EP) com textos de origem medieval que José Cid consegue manter alguma da chama dos anos anteriores.
A minha preferência vai para “Dona Feia, Velha e Louca” do EP “Lisboa Perto e Longe” no original “Ai Dona fea, fostes-vos queixar” cuja autoria é de um trovador português do séc. XIII de nome João Garcia de Guilhade. Ora ouçam:




José Cid - Dona Feia, Velha e Louca

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Quarteto 1111 - 1111

Em 1970 tinha sido editado o 1º LP, o álbum homónimo, do Quarteto 1111, essa obra-prima do melhor Pop-Rock que então por cá se fez, onde estão presentes as preocupações anti-racistas, anti-coloniais e relativas à emigração. São conhecidos os problemas que então tiveram com a censura e o disco chega ser retirado do mercado.
O Quarteto decide começar a cantar em inglês, alegadamente para fugir à censura. Ainda em 1970 sai o Single "Back To The Country"/"Everybody Needs Love, Peace and Food" e em 1971, o ano que estou a recordar novo Single, "Ode To The Beatles"/"1111". As alterações não foram só nas letras em inglês, também o som se alterou e aproximou-se do Rock mais pesado que então se ouvia nos grupos ingleses e americanos.



www.discogs.com


A prova está no lado B do Single de 1971, neste caso nem em português nem em inglês, somente instrumental e que ficou com o nome de "1111" e que fica como a proposta para hoje.




Quarteto 1111 - 1111