Depois de ter visto José Jorge Letria na sua passagem pelo programa "Zip-Zip", em 1969, na RTP, é em 1971 que volto a ouvir falar dele. Desta vez na rádio, no saudoso programa da Rádio Renascença "Página Um", e o propósito era a passagem do seu 1º Single que aquele programa tanto divulgou.
Este Single, que antecedeu o LP "Até ao Pescoço" no ano seguinte, continha as canções "Pare, Escute e Olhe" e "Arte Poética" (esta última já por mim anteriormente recuperada).
“Foi mais de um ano de silêncio (depois do primeiro disco-fracassado) [o EP História do José -Sem-Esperança, penso eu]. Mais de um ano de silêncio inteiramente assumido. Voluntariamente aceite. É fora dos circuitos normais (televisão, rádio, promoção, venda) que, dolorosamente, sem trincheiras nem disfarces, se descobrem os amigos (?), que se aprende a abominar a hipocrisia e a falsa coerência, a miséria das intenções, a ignorância das coisas elementares."É no silêncio (um certo silêncio, entenda-se), que se descobre a utilidade das palavras. O seu fogo. A sua forma exacta. A sua acutilante facilidade de chegar onde mais ninguém chega. E ao mesmo tempo a sua infinita pobreza. A sua enorme timidez. Sim, porque as palavras são tímidas. Haverá alguém que duvide?
"Para mim conservo a certeza de que está tudo ainda por fazer. Não são meia dúzia de discos ou de frases publicitárias, publicamente ditas, que definem uma música e lhe dão a necessária consistência. Desfaçam-se pois os equívocos. Já não é sem tempo. A quem me ouvir deixo, entretanto, a possibilidade de transformar em acto (ou quase) o que no canto se propõe. Se isso não acontecer fico, pelo menos, com a certeza de ter levado até ao fim a minha ingenuidade. Ou seja o silêncio donde partiu. Para os que ficarem pelo caminho vai também a minha saudação.", era o texto assinado pelo José Jorge Letria na contra-capa do disco.
Muito ouvi as duas canções, a segunda tornou-se um verdadeiro hino de resistência ao regime fascista que então nos "governava", a primeira era uma canção Pop-Rock e soava-me a algo de novo, diferente do que cá se ouvia na música de produção nacional.
É com ela que ficamos, agora "Pare, Escute e Olhe".
José Jorge Letria – Pare, Escute e Olhe
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