sábado, 31 de dezembro de 2016

Louis Armstrong - When It's Sleepy Time Down South

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Louis Armstrong faleceu a 6 de Julho de 1971. A 16 de Julho do mesmo ano, no nº 1675 da revista "Vida Mundial", tinha direito a capa e a desenvolvido artigo (3 páginas) assinado por Fernando Dil.




O Jazz é uma música que não se define e Louis Armstrong sabia-o bem ao dizer que o Jazz "É a maneira como eu acho que se deve tocar uma melodia."









Sob o título "Armstrong: A Linguagem" a "Vida Mundial" dava a conhecer a figura de Louis Armstrong, um virtuoso do trompete, cuja história se confunde com a do próprio Jazz. «Satchmo» (satchel-mouth - boca em forma de saco), como era conhecido, foi um mestre do trompete. A sua paixão pelo trompete era assim relatada:
"Com esse instrumento Louis manteve um duelo carinhoso por toda a vida. «Nenhuma mulher - disse certa vez sua mãe - foi ou será tão importante para ele como a trompeta.»" 

Fernando Dil, parecia não apreciar particularmente, a fase final de Louis Armstrong que chegou a interpretar e gravar versões de canções de, por exemplo, The Beatles, "...Em Armstrong ficam melhores as imagens das docas de Nova Orleães, a lembrança de um grande lenço branco na mão esquerda, a enxugar o suor do rosto largo; os seus gemidos sensuais e nostálgicos, a boca eternamente húmida, o seu sorriso empolgante e livre, a beleza da sua rude cultura e as quatro primeiras notas, lentas, de «Sleepy Time Down South»."

Miles Davis dele disse: "A partir do momento em que se sopra para um instrumento, sabemos que não se lhe pode tirar som nenhum que Louis não tenha já tirado" (em "Os Grandes Criadores de Jazz).

Com uma versão de 1941 recordamos "When It's Sleepy Time Down South".




Louis Armstrong - When It's Sleepy Time Down South

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Miles Davis - Sanctuary

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Jorge Lima Barreto (1949-2011) foi um musicólogo e músico de Jazz, cuja carreira se iniciou nos anos 70 na Anarband com Rui Reininho (futuro GNR) e mais tarde, já nos anos 80, e com mais destaque, no Telectu com a companhia de Vitor Rua (ex-GNR). 
Escreveu para tudo quanto era revista ou jornal de divulgação musical. De escrita difícil - musicalmente também - assina um artigo no nº 1658 de 19 de Março de 1971 da revista "Vida Mundial" intitulado "O "Jazz". O Som e a Palavra" onde começa por considerar ultrapassada a definição de Jazz de André Clergeat (1927-2016 - fundador do Hot Club da Universidade de Paris) que diz só se aplicar ao Jazz "clássico".






Desenvolve, de seguida, a sua opinião (leia-se o artigo) ao considerar que o Jazz se podia desenvolver em seis correntes principais.
Entre os músicos referidos está o nome de Miles Davis, segundo Jorge Lima Barreto, inserido na segunda corrente, o Jazz com a influência da música Pop, "Este Jazz-Pop é a melhor música de consumo de momento".

Miles Davis que no final dos anos 60 se aproxima e é influenciado por músicos do Pop-Rock, edita em 1970 o duplo-álbum "Bitches Brew" que ficou uma referência fundamental na música de fusão.




Miles Davis - Sanctuary

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Bob Dylan - If Not For You

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Mais um nº da revista "Vida Mundial" onde a música popular marcava presença. Estamos no final do ano de 1970, precisamente no nº 1646 de 25 de Dezembro, onde é publicado um artigo sobre Bob Dylan. Sob o título "O Fenómeno "Pop" e Bob Dylan" pode-se ler que há um novo disco na forja onde participam Al Kooper e o ex-Beatle George Harrison e que após a desaparição dos The Beatles "... fica, com 29 anos, o único mito do mundo «pop», um buda indiferente a tudo o que se possa dizer dele, fugindo ao sagrado jogo das etiquetas, solitário, taciturno, extravagante, seguindo o seu caminho, numa viagem ao fundo das coisas, ao fundo de si mesmo. Com um orgulho distante. Em voo livre."







O disco novo que é referido trata-se de "New Morning" entretanto já editado. Quanto à colaboração de George Harrison, ela limitou-se a "If Not For You", o maior êxito comercial do disco, numa versão que acabou por não ser incluída no álbum. Aliás "If Not For You", original de Bob Dylan, foi primeiramente editada no triplo LP "All Things Must Pass" de George Harrison, alguns meses antes. "If Not For You" foi ainda um grande êxito, em 1971, na versão da cantora Olivia Newton-John.

Ficamos com Bob Dylan e "If Not For You".




Bob Dylan - If Not For You

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Wallace Collection - Memorabilia

O sucesso "Daydream" dos Wallace Collection foi, em Portugal, editado em EP de 7", pela Valentim de Carvalho com a etiqueta LMEP 1360 e continha as seguintes faixas:

A - Daydream
B1 - Baby I Don't Mind
B2 - Fly Me To The Earth

Segue a capa do meu exemplar:




Wallace Collection - Day Dream

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Wallace Collection foi um grupo belga que teve um super-êxito com a canção "Daydream" decorria o ano de 1969.
Em 1970, os Wallace Collection estiveram em Portugal, actuaram no Coliseu do Porto a 21 de Março, mas primeiro estiveram em Lisboa. De acordo como sítio http://www.ondapop.pt/:
" A 17 de Março de 1970 voam de Orly para Lisboa. São recebidos como verdadeiras estrelas de Rock por muitos fãs e seguem directamente para os estúdios da Televisão (RTP). No dia seguinte entrevistas nas Rádios. Tudo está bem orquestrado. O público português recebia os criadores de "Daydream". Um dos primeiros grupos que a ditadura de Marcelo permite. No Monumental dia 19 a sala esgotada e a multidão em histeria. Tanto a chegada ao Teatro como a saída foram difíceis porque a multidão queria autógrafos e mesmo a polícia teve dificuldade para controlar os fãs. No final do espectáculos e perante os aplausos que não terminavam, o jovem Denis chegou-se ao microfone e solou um "Blue" na harmónica que fez as delícias de todos. Só depois de duas horas nos camarins a polícia garantiu segurança para saírem do Teatro. Acabaram a noite num "party" de gente muito "chique". O concerto do dia seguinte foi semelhante."







Recordo-me de ver os Wallace Collection na RTP, tendo o nº 1622 de 10 de Julho da revista "Vida Mundial", na secção "Actualidade «V. M.»", na rubrica "TV", se lhes referido assim:
«Wallace Collection» mantém-se dentro da linha dignificante, no âmbito de uma música «pop» a todos os títulos «sui generis», e que serve de paradigma como honestidade de processos e como inquietação criadora num campo intencionalmente ligeirista. Sabendo-se por conseguinte, as coordenadas em que semelhante música se insere, mais difíceis se tomam os esforços para a obtenção da qualidade, qualidade essa que surge revestida de uma carapaça tendente a seduzir o chamado grande público. Em nosso entender, o mérito maior de «Wallace Collection» reside na procura do sério, do estruturado, do qualitativo, através do ligeiro..."

O mesmo artigo referia-se ainda à passagem de Jorge Ben pelo mesmo programa o "Tele-Ritmo" e a dos Up With People no "Curto Circuito". Quem se lembra?




Wallace Collection - Day Dream

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

The Beatles - The Long and Winding Road

A revista "Vida Mundial" e a música popular

A 10 de Abril de 1970 Paul McCartney anunciou a saída dos The Beatles, era o já esperado fim do grupo.
A 27 de Maio o nº 1616 da revista "Vida Mundial" trazia um artigo de Philippe Koechlin exclusivo para a a revista e para o "Le Nouvel Observateur" que, sob o título "Desintegração", fazia um breve resumo da carreira dos The Beatles. Arriscava-se um futuro menos interessante - e acertado, dizemos hoje - em relação a cada um dos elementos do grupo ao afirmar:
"Ora os Beatles, cada um por seu lado, arriscam-se a ver as suas qualidades banalizarem-se, enquanto, em conjunto, elas se expandiam, granjeando-lhes um sucesso extraordinário."








Ainda no ano de 1970 cada um dos The Beatles edita o seu disco a solo:
Ringo Starr fica-se pelo sofrível "Sentimental Journey". Data de edição - 27 de Março
Paul McCartney desilude com "McCartney". Data de edição - 17 de Abril
John Lennon entusiasma com "John Lennon/Plastic Ono Band". Data de edição - 11 de Dezembro
George Harrison surpreende com "All Things Must Pass". Data de edição - 27 de Novembro

A este discos havemos um dia de chegar. Para hoje ainda The Beatles e o último registo publicado, o álbum "Let It Be" a 8 de Maio.

"Let It Be" foi o 12º e último álbum de originais e representava um abandonar da complexidade dos álbuns anteriores.
Deste álbum sobressaia, para além do tema título, o muito bonito e melancólico "The Long and Winding Road" que seria, em Single, o último nº 1 dos The Beatles.




The Beatles - The Long and Winding Road

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Janis Joplin - Summertime

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Janis Joplin faleceu em 4 de Outubro de 1970 com apenas 27 anos (uma semana depois de Jimi Hendrix, também com 27 anos).
Poucos meses antes, a 15 de Maio, a revista "Vida Mundial" nº 1614 publicava um pequeno artigo intitulado "A explosiva Janis Joplin", a legenda da fotografia dizia somente "JOPLIN - Um furacão".

Janis Joplin tinha sido dada a conhecer no Festival de Monterey, em 1967, e rapidamente teve o reconhecimento que a consagrou como "a mais negra das cantoras brancas". A crítica norte-americana recebeu-a bem e dizia: "Ela está a tomar de assalto o mundo dos músicos negros do Sul dos Estados Unidos" e BB King afirmava: "Janis Joplin tem a garra de uma negra".




Entre digressões, que incluíram uma tournée pela Europa, Janis Joplin gravou 2 LP com o grupo Big Brother & The Holding Company, respectivamente "Big Brother & The Holding Company" e "Cheap Thrills", a solo deixou ainda mais 2 LP "Kozmic Blues" e "Pearl", este último editado postumamente.

"O seu disco «Cheap Thrills» atingiu uma venda de 1 milhão de exemplares em menos de 3 meses" lê-se no artigo da "Vida Mundial" e nele constava o tema escolhido para hoje, o clássico "Summertime" na voz incrível de Janis Joplin.



Janis Joplin - Summertime

domingo, 25 de dezembro de 2016

Carlos do Carmo - Fica Comigo Saudade

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Já recuperámos textos de Jazz, música popular brasileira, francesa, espanhola e portuguesa publicados pela revista "Vida Mundial". Hoje mais um artigo relativo à música que por cá se fazia, em particular o Fado. Sob o título "Carlos do Carmo: ruptura de um quadro", o nº 1594 de 26 de Dezembro de 1969 da revista "Vida Mundial", divulgava a figura de Carlos do Carmo como a esperança maior na renovação do Fado.

"Talvez esteja em Carlos do Carmo o primeiro passo para a difícil renovação do Fado." começava assim o dito artigo. Sem nunca fazer referência a qualquer disco de Carlos do Carmo, remete para as actuações no restaurante O Faia, e dá-nos a conhecer algumas das características, o estilo, o espectáculo, a música, na renovação do Fado que Carlos do Carmo então começava a operar.




Com gravações desde 1963 em diversos Singles e EP, em 1969 são editados os primeiros dois LP, "O Fado de Carlos do Carmo" e "O Fado em Duas Gerações", este último a meias com a sua mãe Lucília do Carmo.

Deste último álbum recorda-se a faixa inicial, "Fica Comigo Saudade".



Carlos do Carmo - Fica Comigo Saudade

sábado, 24 de dezembro de 2016

Duke Ellington - Satin Doll

A revista "Vida Mundial" e a música popular

De pianista de Ragtime, aos 17 anos, a chefe de Orquestra foram somente 8 anos. Depois foram 50 anos em que o génio de Duke Ellington compôs mais de um milhar de temas e o tornaram no maior compositor da história do Jazz.

Em 1969, quando a revista "Vida Mundial" publicou, no seu nº 1592 a 12 de Dezembro de 1969, um artigo sobre ele, Duke Ellington tinha 70 anos e andava em tournée pela Europa. Nesse artigo dizia-se:
"O importante em Duke Ellington é a renovação permanente do seu trabalho, sem perder de vista a origem negra da sua mensagem, pois, segundo ele diz, «a minha música é o canto vivo da minha raça e eu não sou mais do que um embaixador do seu povo»."






Na renovação permanente da sua música teve um percurso que passou pelo Ragtime, Jungle, Mood, Swing, Suites, Sacred Music, ou melhor dizendo simplesmente Jazz, eis então o grande Duke Ellington aqui lembrado neste Regresso ao Passado pela primeira vez.

Miles Davis disse:
"Penso que todos os músicos de jazz deveriam reunir-se num certo dia do ano e ajoelhar-se juntos para prestar homenagem a Duke" (em "Os Grandes Criadores de Jazz").

Celebremos Duke Ellington! Do álbum "70th Birthday Concert" gravado ao vivo em Inglaterra em Novembro de 1969 e editado no ano seguinte vamos buscar o belo tema "Satin Doll".



Duke Ellington - Satin Doll

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Georges Brassens - La Mauvaise Réputation

A revista "Vida Mundial" e a música popular

"«As pessoas sensatas não gostam que os outros sigam um caminho diferente do seu» (Georges Brassens, em «A Má Reputação»).
— Tenho uma voz desgraçada, não faço nada em cena, a minha música é sempre idêntica, não falo senão de canalhas, de morte, de prostitutas e mesmo assim, isto já dura há 17 anos!
Corre tudo tão bem que, desde 1952, Brassens vendeu qualquer coisa como dezasseis milhões de discos de 45 rotações, dos quais cerca de dois milhões de 30 cm., ou seja, muito mais do que qualquer outro cançonetista francês. As letras, publicadas na colecção «Poetas de hoje» da edição Seghers, chamaram a atenção de 300 mil leitores, e em 1967 foi-lhe atribuído o prémio de poesia da Academia Francesa. 
No entanto, em 1952, as discotecas tinham recambiado o seu primeiro disco com a indicação «invendável, obsceno», e a rádio nacional tinha-o proibido. Era vulgar ouvir-se dizer: «Tudo o que ele diz é absurdo, ou, então, obsceno. É um desafio ao bom gosto.» Ele desafiava, sim, mas outras coisas bem mais importantes do que a razão ou as boas maneiras. Brassens desmitificava, desintoxicava. Era, e é ainda, inimigo duma sociedade inimiga do homem. Restituiu ao público o gosto pela poesia, pois o público encontra nos versos de Brassens coisas que compreende e lhe dizem respeito. Não é exagero dizer-se que, devido à sua imensa popularidade, Brassens contribuiu mais do que qualquer outro para o rejuvenescimento das ideias. O seu sucesso teve o carácter dum fenómeno social. Conseguir manter-se em cena no Bobino durante três meses é um acontecimento social."

Começava assim o artigo intitulado "Georges Brassens: Luta Contra uma Sociedade Inimiga do Homem", um exclusivo para a "Vida Mundial" da revista francesa "Rock & Folk", publicado no nº 1591 de 5 de Dezembro de 1969.

São 3 páginas que o artigo ocupa, ao longo do qual se relata a vida de Georges Brassens intermediada por declarações do próprio.








Georges Brassens (1921-1981) foi um cantautor francês que se notabilizou nos anos 50 e 60, ainda nos anos 40 escreve os primeiros poemas e adere à causa anarquista. Diz o próprio:
"Penso que já tinha a anarquia dentro de mim aos 10 anos. O que é certo é que já estava predestinado para ela. A sua filosofia e o seu comportamento perante a vida convinham-me. Foi por isso que me juntei a eles. Ainda hoje procuro a companhia dos meus amigos anarquistas. Há uma coisa que me impressionou e me seduziu neles: o medo de se enganarem. Os anarquistas são os seres mais escrupulosos que conheço."

Em 1952 grava o primeiro álbum que ficou conhecido pelo nome da primeira canção, "La Mauvaise Réputation". Mais tarde um tema interpretado por outros cantores dos quais saliento Paco Ibáñez e Luís Cília.



Georges Brassens - La Mauvaise Réputation

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Caetano Veloso - Alegria, Alegria

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Vamos para o nº 1588 da revista "Vida Mundial" editada a 14 de Novembro de 1969. O artigo que agora destacamos aparece nas páginas finais na secção "Actualidades «V. M.»", na parte dedicada à "Música" e intitulava-se "Tropicalismo - forma alegre de dizer não".

Tropicalismo foi um movimento artístico, fundamentalmente musical surgido nos anos 60 no Brasil, então debaixo de um regime militar ditatorial. Esteticamente atrevido, misturava a música tradicional brasileira com o Pop-Rock internacional então em expansão.

"Não pode ser negada a influência do tropicalismo no Brasil, nos vários ângulos da vida nacional, incidindo desde interesses económicos, na indústria de tecidos, artigos domésticos, nos vários sectores da criação publicitária (no mesmo padrão da influência internacional dos Beatles), até ao campo das artes plásticas, do próprio teatro e até mesmo da poesia." afirmava-se no citado artigo.

Entre os mais destacados do tropicalismo encontravam-se Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Os Mutantes, foram os que obtiveram maior sucesso.


 


Ainda do mesmo artigo:
"Foi ao lado de Capinam, Torquato Neo e Gilberto Gil, que Caetano Veloso deu o primeiro passo com «Ale­gria, Alegria», verdadeira retratação de uma irresponsabilidade contestatória, ponto de partida para toda a polémica, interpretações e «nascimento» de um movimento não esquematizado."

"Alegria, Alegria" é uma canção composta e interpretada por Caetano Veloso e fazia parte do seu primeiro álbum a solo editado em 1968, ainda em 1967 tinha sido editada em Single, era o início do movimento tropicalista.


Caetano Veloso - Alegria, Alegria

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

José Afonso - Natal dos Simples

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Num número em que a "Vida Mundial" tinha como capa Jannis Xenakis sob o tema de "Música de Vanguarda" e a quem dedicava um artigo de 6 páginas, espaço ainda para uma pequena caixa onde se destacava o último álbum de José Afonso.

Estávamos a 11 de Abril de 1969, era o nº 1557 da revista e José Afonso tinha editado em Dezembro do ano anterior o seu 2º LP de nome "Cantares do Andarilho".

José Afonso (1929-1987) era à época um nome ainda relativamente pouco conhecido do público português. Isto apesar do 1º álbum de 1964 e de mais 4 EP já editados. Era claramente mais conhecido entre a juventude e particularmente no meio estudantil universitário. O pequeno texto da "Vida Mundial" assim o testemunhava:
"Zeca Afonso, o dr. José Afonso, é um dos nomes grandes no panorama da canção portuguesa, apesar de ainda, e infelizmente, desconhecido do grande público."





O artigo transcrevia ainda as notas da contra-capa escritas por Urbano Tavares Rodrigues e que já tivemos oportunidade de divulgar em Regresso ao Passado anterior.

Recordamos mais um tema de "Cantares do Andarilho", em período natalício a escolha vai para "Natal dos Simples".



José Afonso - Natal dos Simples

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Elvin Jones - Reza

A revista "Vida Mundial" e a música popular

A "Vida Mundial", enquanto revista. existiu entre os anos de 1967 e 1979 (teve início em 1939 no formato de jornal). A revista, de edição semanal, era presença em casa dos meus pais, tendo sobrevivido bastantes nºs de 1967 a 1973 os quais ainda guardo. Pese a censura, a "Vida Mundial" constituiu uma lufada de ar fresco na imprensa de então tratando sobretudo de assuntos de política nacional e internacional. Também a cultura tinha presença garantida.

Já foram diversas as referências que fizemos a alguns nºs da "Vida Mundial" onde, de alguma forma, se fazia referência à música popular que então transbordava fronteiras e era ouvida um pouco por todo o lado.

Altura para, de uma forma um pouco mais completa, recordarmos textos que também me ajudaram a tomar contacto com algumas propostas então divulgadas, do Rock ao Jazz, à música popular portuguesa.

Começamos pelo nº 1503 de 29 de Março de 1968 e um artigo de Jazz sobre Elvin Jones intitulado "Uma Bateria Diferente".




Elvin Jones (1927-2004) foi um baterista de Jazz, "indiscutivelmente o maior baterista dos anos 60" citando o artigo.
É efectivamente na década de 60 que Elvin Jones se vai dar a conhecer a um público maior, nomeadamente na passagem pelo famoso quarteto de John Coltrane entre 1960 e 1966.
Conforme o texto, Elvin Jones refere-se àquele período de colaboração e aprendizagem com John Coltrane: "Tenho a noção nítida do que uma criança sentiria se tivesse férias ilimitadas na escola."

É em formato de trio que Elvin Jones grava em 1968 o álbum "Puttin' It Together", referindo-se este artigo ao trio da seguinte forma:
"Jones parece ter encontrado um máximo de efeitos mágicos num trio. Joe Farrel, saxofone-tenor, ágil e vibrante, tem uma estranha maneira de se embrenhar na essência das melodias; e o contrabaixo Jimmy Garrison, ataca as cordas de forma requintada, com interrupções duplas e triplas, ou fá-las cantar, com a clareza e a maviosidade duma guitarra espanhola. Todos três executam as suas complexas improvisações no mais elevado estilo."

A este álbum vamos buscar o tema "Reza", um belíssima canção da Bossa Nova, original de Edu Lobo.



Elvin Jones - Reza

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Rodriguez - Sugar Man

Passou, por cá, quase despercebida a exibição, em 2013, do filme/documentário “Searching for the Sugar Man”. É um belo documentário, uma história incrível e comovente sobre o músico folk americano Sixto Rodriguez.

Rodriguez, filho de emigrantes mexicanos, gravou 2 álbuns “Cold Fact” e “Coming from Reality”, respectivamente em 1970 e 71. O sucesso nos Estados Unidos foi nulo, mas, não se sabendo exactamente como, as gravações foram parar à África do Sul tendo-se transformado em objecto de culto com enorme sucesso e influência no meio branco na luta anti-apartheid. Diz-se no documentário com vendas superiores a meio-milhão de discos.

Rodriguez, trabalhador na construção civil em Detroit, desconhecia por completo o culto de que era objecto na África do Sul (e Austrália também); na África do Sul desconhecia-se por completo o que tinha acontecido a Rodriguez correndo a lenda que se teria suicidado durante um concerto.

 Em 1997 a filha mais velha de Rodriguez descobre, pela internet, o sucesso do pai na África do Sul (diz-se igual à de Bob Dylan e superior a Elvis Presley) e da busca, por alguns fãs sul-africanos, do rasto de Sixto Rodriguez.





Várias tounées pela África do Sul, o documentário e o reconhecimento nos Estados Unidos e um pouco por todo o lado, assim se resume o resto da história de Rodriguez. Para conhecer um pouco melhor segue em anexo a canção “Sugar Man”, tema de abertura do primeiro álbum “Cold Fact” de 1970 e que só depois da sua redescoberta tivemos o prazer de conhecer.



Rodriguez - Sugar Man

domingo, 18 de dezembro de 2016

The Nice - Hang on to a dream

The Nice foi a designação de um dos melhores grupos dos anos 60 e um dos primeiros a desenvolver um estilo que mais tarde se designaria por Rock Progressivo.

Do quarteto destacar-se-ia no piano, pela sua formação clássica, Keith Emerson (mais conhecido nos futuramente famosos Emerson, Lake & Palmer). No curto período de duração do grupo (1967 a 1970) gravaram 4 álbuns repletos de influências Clássicas (Leonard Bernstein, Sibelius, Bach, Rachmaninoff, Tchaikovsky) e de Jazz (Dave Brubeck, Charles Lloyd) também.

A selecção para hoje vai, no entanto, para algo distante destas influências, vai para a versão de um tema de Tim Hardin, esse “Folk Singer”, ignorado e esquecido e prematuramente desaparecido.Trata-se da belíssima canção “Hang On To A Dream” por ele composta em 1966.
A versão original pode ser lembrada no seguinte vídeo do YouTube.




Tendo o original passado quase despercebido, foram  The Nice a dar-lhe alguma notoriedade, existindo pelos menos 2 versões. Uma primeira do 3º álbum de nome “Nice” de 1969 gravada em estúdio e uma outra ao vivo no “Fillmore East” no álbum póstumo “Elegy” de 1971 com quase 13 minutos e complexidade acrescida. Em virtude da duração fica a escolha na gravação de estúdio.

Da simplicidade do original de Tim Hardin, para a complexidade e virtuosismo de Keith Emerson e restantes The Nice.



The Nice - Hang on to a dream

sábado, 17 de dezembro de 2016

The Rolling Stones - Love In Vain

Mais uma passagem para os sempre bem vindos The Rolling Stones.
Esclareçamos, The Rolling Stones nunca estiveram no topo das nossas preferências. E cada vez menos, ou melhor, o nosso interesse é inversamente proporcional à sua longevidade. Longevidade essa, que se por um lado é de admirar, por outro é de desconfiar. Vamos lá ver, há quantos anos (décadas?) é que não fazem um álbum a colocar entre os melhores? Não serei tão radical quanto um artigo surgido em 1972 no jornal “a memória do elefante” que punha de rastos The Rolling Stones pós “Beggar’s Banquet” (1968) parodiando num dos títulos:
 “Rolling Stones: ritmo «porreiro», voz «bestial» e depois aquele som todo pá um gajo não resiste percebes!”
 e assim os descrevia:
 “DEFINIÇÃO ACTUAL – Stones: a podridão hipócrita de um condicionalismo acústico de feira, chinfrim paranóico que afinal não passa de uma nova forma de marcha bélica, desportiva, musicata de romaria, etc., destinada (pois esta expressão «musical» tem um OBJECTIVO!) a polarizar o psiquismo de massas incultas (ou anti-cultas).”

 ou ainda,
 “Caro leitor: se julga que «Wild Horses» é a suprema beleza experimente Cohen; se quer à força música para dar saltos de raiva existencial, ouça os Doors. Com os Stones perde (pelo menos!) tempo. E tem muita sorte de não perder ainda outras coisas mais importantes. Stones: para escatófagos.”




Concedemos-lhes, no entanto, o benefício da dúvida até, pelo menos, 1971 e o álbum “Sticky Fingers” (precisamente o de “Wild Horses”, ui! e a magnífica capa de Andy Warhol). A escolha de hoje vai para “Love in Vain”, de 1969, claramente dentro da janela de validade dos The Rolling Stones.
“Love in Vain” pertencia ao muito bom álbum “Let It Bleed” com que The Rolling Stones fechavam a década, uma década que não repetiriam.



Rolling Stones - Love In Vain

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Tim Buckley - Phantasmagoria in Two

Por vezes é assim, aparecem músicos completamente únicos e impossíveis de catalogar.

A wikipédia na dificuldade de classificar Tim Buckley, atribui-lhe os seguintes géneros: Folk, Rock Experimental, Jazz Rock, Funk, Rythm & Blues, Soul Music.
Por nós, dada a sua singularidade, está acima de qualquer classificação, era somente um construtor de canções único.
Compositor de rara qualidade, possuidor de uma voz ímpar, foi, ao longo de cerca de 10 anos (1966-1975), um “avant-garde” pouco conhecido. Faleceu prematuramente de overdose em 1975 com apenas 28 anos.

 Em 1967 Tim Buckley toca no clube “The Folklore Center” perante cerca 35 pessoas. O dono pede-lhe autorização para gravar o concerto. Nem um microfone presente, voz e viola directos para a fita, a única produção foi carregar no botão “Rec”. Em 2009 apareceu em CD “Tim Buckley - Live At The Folklore Center, NYC-March 6, 1967”, para os puristas do som será para esquecer, para os amantes de Tim Buckley uma oportunidade única de fechar os olhos e ouvir durante mais de uma hora o melhor de Tim Buckley, então com 21 anos, sem qualquer produção de estúdio. “I never asked to be your mountain”, “Phantasmagoria in two”, “Dolphins”, ”No man can find the war” ou “Carnival Song” só mais tarde gravadas em estúdio podem ser já aqui ouvidas em todo o seu fulgor.

Primeiro a versão de estúdio de “Phantasmagoria in two”.


 


Agora “Phantasmagoria in two” no “Folklore Center” e como diz um comentário no YouTube, “A ecouter seul en forêt, les yeux fermés, l'esprit envahi par les senteurs du printemps! Ô Délire.“. Uma pequena maravilha!



Tim Buckley - Phantasmagoria in Two

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

CCR - Down on the Corner

Para os mais novos o nome John Fogerty, provavelmente, pouco dirá e a sigla CCR também não. Para os mais velhos, se a memória não atraiçoar, CCR remeterá para o grupo Creedence Clearwater Revival e John Fogerty o seu líder.

Todo o mundo sintonizado resta perguntar, quem não se lembra de “Have You Ever Seen the Rain?”, “Who’ll Stop the Rain”, ou as anteriores “Proud Mary”, “Green River”, “Bad Moon Rising”? Estas são algumas das mais conhecidas canções que os CCR gravaram em 6 álbuns entre 1968 e 1970 e que nunca mais saíram da memória. Rock simples, forte, “riffs” de ficarem no ouvido, simplesmente eficaz. Ou seja, estilo muito directo e de fácil assimilação. Por isso a revista “Rolling Stones” afirmava na época:
“São o limite máximo admissível na comercialidade musical”. Ok!

John Fogerty era o elemento principal da banda a quem se deve a maioria das composições que nos ficaram na lembrança. De um concerto gravado em 2005, John Fogerty então com 60 anos, em plena forma, aqui fica, de 1969, para que ninguém fique indiferente, o muito conhecido “Down on the Corner” (a mesma energia passados quase 40 anos!). Diga-se que, em 2016, continua activo e recomenda-se.




 “Down on the Corner” aparece a abrir o 4º álbum da banda de nome “Willy and the Poor Boys” e é com o original que, por agora, ficamos.



CCR - Down on the Corner

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Ten Years After - Love Like A Man

Alvin Lee (1944-2013) foi um virtuoso guitarrista que liderou a banda de Blues-Rock Ten Years After, particularmente produtiva no final dos nos 60, início dos anos 70, do século passado.

A segunda metade dos anos 60 foi profícua no surgimento de grupos de Rock, tendo muitos deles, na sua génese, forte influência dos Blues. Os Ten Years After foram um deles.
Apesar de se terem formado em 1967, em Portugal só viriam a ter algum reconhecimento já na década de 70 com álbuns como: "A Space in Time", "Rock & Roll Music to the World" e ainda "Positive Vibrations". No entanto a sua fase mais interessante reside na década anterior onde a presença e fusão com os Blues era mais nítida.
O primeiro contacto que tive com a banda foi com o excelente álbum "Ssssh" de 1969. Em 1970, publicam ainda um interessante e popular álbum de nome "Cricklewood Green" onde se destacava o tema "Love Like a Man". O tema, de composição muito simples, tinha um riff poderoso e acessível de trautear, associado a uma letra igualmente simples e de fácil memorização, "Love like a man, love all you can …".

No liceu, aos mais interessados por estas músicas, o tema não passou despercebido, e felizes, imitávamos e cantarolávamos, o refrão do guitarrista Alvin Lee. Na primeira deslocação ao Porto em vão procurei este disco, para minha infelicidade nenhuma discoteca conhecia os Ten Years After e o seu “Love Like a Man” (devo ter procurado demasiado cedo pois "Love Like a Man" foi cá editado em Single). E a baixa do Porto tinha, que eu me lembre, pelo menos 8 discotecas, a Valentim de Carvalho, a Santo António, a Melodia, a Casa Figueiredo, a Electro-Visão, etc.

Alvin Lee, talvez o guitarrista mais virtuoso a seguir a Jimi Hendrix, era então considerado o mais rápido guitarrista e, com os seus Ten Years After, teria o seu ponto alto em 1969 no festival de Woodstock.
Não passados 10 anos, mas sim 25 (em 1983),  “Love Like a Man” como se ainda estivéssemos nos anos 60.


 


Segue a versão original de estúdio. É bom recordar “Love Like a Man”…



Ten Years After - Love Like A Man

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Procol Harum - A Salty Dog

A 24 de Fevereiro de 1973 os Procol Harum tocaram no Pavilhão de Desportos de Cascais. Foram cerca de 5000 os felizardos que tiveram a oportunidade de os ver  ao vivo, em Portugal, no auge da sua carreira. Era o primeiro grande concerto de Rock depois de Elton John e Manfred Mann no Festival de Vilar de Mouros em 1971 (da raridade de concertos Rock, e os poucos centrados em Lisboa, à sua banalização nos dias de hoje).

De 1967 até ao Concerto de Cascais tinham sido editados 5 álbuns de originais e ainda “Procol Harum Live with the Edmonton Symphony Orchestra” em 1972. E até à gravação deste álbum ao vivo (de adesão fácil) eram justas as palavras publicadas no jornal “a memória do elefante” de Julho de 1971 quando se afirmava:
“De costas voltadas para um vanguardismo cabotino como para o rotineiro fastidioso e gratuito, os Procol Harum lograram, graças às suas potencialidades criadoras, praticar uma música plena de pujança e vitalidade”

O realce vai todo para o terceiro álbum, “A Salty Dog”, de 1969, talvez o ponto mais alto da discografia dos Procol Harum. O álbum abria com o sublime “A Salty Dog”, uma das mais bonitas músicas de sempre que nos foi dado ouvir, de cortar a respiração! Ora aqui vai.




ou uma empolgante versão de 2006 (mas excessivamente produzida, preferimos o original) com Gary Brooker a manter uma qualidade vocal invejável (primeira parte do vídeo).




“A Salty Dog” é para se ouvir, de preferência, em vinil e volume bem alto, para quem não o tiver aí vai, o melodrama “A Salty Dog” superiormente interpretado por Gary Brooker. Repetimos assim o regresso, bem merecido, a "A Salty Dog".



Procol Harum - A Salty Dog

‘All hands on deck, we've run afloat!’ I heard the captain cry
‘Explore the ship, replace the cook: let no one leave alive!'
Across the straits, around the Horn: how far can sailors fly?
A twisted path, our tortured course, and no one left alive

We sailed for parts unknown to man, where ships come home to die
No lofty peak, nor fortress bold, could match our captain's eye
Upon the seventh seasick day we made our port of call
A sand so white, and sea so blue, no mortal place at all

We fired the gun, and burnt the mast, and rowed from ship to shore
The captain cried, we sailors wept: our tears were tears of joy
Now many moons and many Junes have passed since we made land
A salty dog, this seaman's log: your witness my own hand

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Sandy Denny - You Never Wanted Me

Sandy Denny foi, é e estará sempre no topo das nossa preferência. Falecida prematuramente em 1978 tem vindo a ser devidamente recuperada com a reedição e edições novas da sua discografia. Não é a primeira vez que a ela nos referimos mas é o primeiro Regresso ao Passado a ela dedicado.


Sandy Denny em 1966

“Sandy Denny foi a maior cantora britânica da sua geração” afirmou um dia Richard Thompson, companheiro de Sandy nos Fairport Convention. E é somente a cantora/compositora de música popular dos últimos 50 anos, nossa preferida. Faleceu com apenas 31 anos, deixou uma impressionante discografia que é importante recuperar.
Para além da carreira a solo e 4 excelentes álbuns, passou por, e gravou com, diversos grupos a saber: Alex Campbell & Friends
Sandy & Johnny
The Strawbs
Fairport Convention
The Bunch
Fotheringay

Colaborou ainda em gravações a solo de Ian Matthews e Richard Thompson (ex-companheiros nos Fairport Convention) e foi a única voz convidada a gravar em estúdio com os Led Zeppelin, é dela a voz em “The Battle of Evermore” do álbum “Led Zeppelin IV”.

As primeiras gravações de Sandy Denny datam de 1967 nos discos “Alex Campbell & Friends” e “Sandy & Johnny” e são discos fortemente influenciados pelo folk americano (Bob Dylan, Tom Paxton e Jackson C. Frank, este último com quem teve ligação amorosa). Ao que parece gravações pouco queridas pela própria Sandy, mas onde já se denunciam todas as suas potencialidades vocais. Anteriores a 1967 existem gravações caseiras (demos) e outras ao vivo entretanto recuperadas. De entre elas, todas, obviamente, muito pouco conhecidas, sobressai o tradicional “Fhir A Bhata (The Boatman)” de 1966 (que grande voz então despontava!), tinha somente 19 anos, surpreendente.




As gravações de 1967, não contêm ainda originais de Sandy Denny, são pouco produzidas e assentam em baladas do folk tradicional. A nossa primeira escolha vai para “You Never Wanted Me” de Jackson C. Frank do álbum “Alex Campbell & Friends”



Sandy Denny - You Never Wanted Me

domingo, 11 de dezembro de 2016

Fleetwood Mac – Oh Well

Para saborear, de preferência a meio da noite, em silêncio e bem acompanhado, aqui fica mais uma passagem pelos Fleetwood Mac.
Ainda com a presença do excelente Peter Green, do álbum “Then play on”, de 1969, o magnífico “Oh Well”.

Para visualização (versão reduzida) os Fleetwood Mac ao vivo em 1969.




Com a saída de Peter Green e a invasão feminina (Christine McVie e mais tarde Stevie Nicks) os Fleetwood Mac atingiram a popularidade e os Tops (“Rumours” de 1977 é um dos discos mais vendidos de sempre, mais de 40 milhões), mas nunca mais proporcionaram momentos como este, oh well!

Junto segue “Oh Well”, versão original e completa (1ª e 2ª partes bem distintas), são mais de 9 minutos, ouçam e não se arrependem.



Fleetwood Mac – Oh Well

sábado, 10 de dezembro de 2016

Donovan - Lalena

Passagem, agora, por algumas canções soltas do final dos anos 60 que de alguma forma preenchem o nosso imaginário. Começamos com Donovan Leitch.

Donovan Leitch, mais conhecido só por Donovan. Símbolo maior do movimento hippie e do “flower power” dos anos 60 na Europa. Gravou entre 1965 e 1971 nove álbuns de qualidade superior. O seu estilo peculiar de mistura folk/jazz e o seu domínio do “vibrato” vocal produziram temas inesquecíveis como "Catch the Wind", "Colours", "Season of the Witch", "Mellow Yellow", "Jennifer Juniper", "Atlantis", "Celia of the Seals" e muitas, muitas mais … Hoje vamos ficar com um tema belíssimo, muito pouco conhecido e não gravado em nenhum LP de originais e é uma das minhas preferidas: “Laléna”.

Nas antípodas de Donovan, os Deep Purple gravam em 1969, no 3º álbum, “Laléna” dando azo às fantasias de John Lord no órgão. Outros tempos, onde tudo se cruzava. A versão dos Deep Purple está disponível no YouTube.




Gravado em Single em 1968 a origem do título “Laléna” manteve-se desconhecido até que em 2004 o próprio Donovan ter esclarecido:
“It's not very well-known, but Laléna is a composite title made up from the name of the German actress Lotte Lenya*. I was fascinated with The Threepenny Opera as a socially conscious musical, so when I saw the movie version with Lotte Lenya, I thought: "OK, she's a streetwalker, but in the History of the world, in all nations, women have taken on various roles from priestess to whore to mother to maiden to wife". 
(*Lotte Lenya cantora e actriz casada com o compositor Kurt Weill, já anteriormente recordada a interpretar “Alabama Song”)

Junto segue esta bela canção “Laléna” na versão original de Donovan.

“When the sun goes to bed
That's the time you raise your head
That's your lot in life,
Laléna
Can't blame ya
Laléna 

Arty-tart, la-de-da 
Can your part get much sadder? 
That's your lot in life, 
Laléna 
Can't blame ya 
Laléna 

 Run your hand through your hair 
Paint your face with despair 
That's your lot in life,
Laléna 
Can't blame ya 
Laléna”



Donovan - Lalena

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Steam - Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye

mundo da canção nº 2


A revista nº 2 do "mundo da canção" editada em Janeiro de 1970 continha ainda mais algumas letras de canções de gosto sofrível mas que de alguma forma se tornaram populares à época, algumas confessamos não conhecíamos ou estavam simplesmente esquecidas.
"Teresa" de um Joe Dolan nº 1 na Irlanda, "When I Die" de Steve Kennedy (descubrimos agora ser de um grupo canadiano de nome Motherlode) nº 1 no Canadá, "Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye" grande sucesso de uns desconhecidos Steam, nº 1 nos Estados Unidos e ainda "Jesus Ia a Soul Man" de um cantor country norte-americano de nome Lawrence Reynolds.




Porque "Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye" era a que melhor nos lembrávamos, pois foi na realidade bastante ouvida naquele tempo, é a que vamos recordar. O grupo Steam parece que na realidade nem chegou a existir tendo a canção sido escrita e gravada por músicos de estúdio.

"Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye" um verdadeiro "one hit wonder", Na na na na, na na na hey hey hey goodbye...




Steam - Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

The Foundations - In The Bad Bad Old Day

mundo da música nº 2

The Foundations foi um grupo britânico, multi racial, activo entre os anos 1967 e 1970. Musicalmente adeptos do Soul concorriam claramente com os grupos negros norte-americanos confundindo-se com a sonoridade típica da Motown.

Gravaram 3 LP nos anos de 1967, 1968 e 1969 e variados Singles sendo os de maior êxito "Baby Now That I've Found You" de 1967 e "Build Me Up Buttercup" do ano seguinte.




O nº 2 do "mundo da canção", que temos vindo a recordar, no seu nº 2 de Janeiro de 1970, trazia uma foto do grupo a ocupar uma página da revista e fazia-lhes uma pequena referência, numa página com pequenas notícias, relativa aos discos mais vendidos no Porto. Depois de referir alguns dos Singles mais vendidos, "Je t'aime ... moi non plus" em primeiro lugar, passa para os álbuns:
"Em LP: José Afonso, com "Contos velhos, rumos novos"  e "Adriano Correia de Oliveira, com "O Canto e as armas", seguindo-se o conjunto The Foundations."

Muito provavelmente tratava-se do 3º e último LP do grupo "Digging the Foundations" editado em 1969 do qual recordamos a faixa inicial "In The Bad Bad Old Day".




The Foundations - In The Bad Bad Old Day

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Simon and Garfunkel - The Boxer

mundo da canção nº 2


Passagem repetida para "The Boxer" de Simon and Garfunkel. Já anteriormente objecto de recordação, então a propósito das 15 melhores canções de 1969 de acordo com o programa de rádio "Em Órbita", agora pela transcrição da letra na revista "mundo da canção" nº 2 de Janeiro de 1969.
Qualquer motivo é um bom motivo para voltarmos a uma das grandes canções do ano de 1969 e uma das melhores que o duo Simon and Garfunkel nos deixou.




"The Boxer" a lembrar-nos os tempos em que tínhamos que sintonizar a rádio (dependendo da estação e do programa) para ter acesso às melhores novidades discográficas.




Simon and Garfunkel - The Boxer

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Elvis Presley - Suspicious Minds

mundo da canção nº 2

Elvis Presley revelou-se nos anos 50 e a esta década ficará para sempre ligado. Ficará, entre os pioneiros do Rock'n'Roll, como o mais bem sucedido. Elvis trouxe, tornando-o aceitável para o mundo branco, o blues negro e com as suas vocalizações frenéticas e poses arrojadas esteve na génese do Rock'n'Roll. No final da década tinha já mais de uma dezena de Singles como nº 1 nos Estados Unidos e a rebeldia inicial "domesticada" em baladas como "Love Me Tender" e "Blue Moon".

Na década de 60 afasta-se dos palcos e dedica-se ao cinema sendo a produção discográfica de estúdio reduzida. É com um Elvis Presley em decadência que, no final dos anos 60, se verifica o seu reaparecimento. 1969 vê um novo álbum de estúdio "From Elvis In Memphis", o que não acontecia desde 1962, e o regresso a nº 1 nos Top de vendas com o Single "Suspicious Minds".




A revista "mundo da canção" nº 2 de 1970 publicava a letra de "Suspicious Minds" e numa pequena notícia anunciava assim o regresso de Elvis Presley:
"Elvis Presley, com 35 anos, está a ressurgir na Europa com o seu novo disco «Suspicious Minds» e sobe rapidamente no «top» americano com «Don't cry, daddy»."




Elvis Presley - Suspicious Minds

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Diana Ross & The Supremes - Aquarius/Let The Sunshine In

mundo da canção nº 2


Como dissemos, a revista nº 2 do "mundo da canção" editada em Janeiro de 1970, trazia as letras de duas canções do musical "Hair", a primeira "Good Morning Starshine" que ontem recordámos na versão de Oliver, a segunda, a conhecida "Aquarius", na canção, na realidade um medley de "Aquarius" e "Let The Sunshine In".

"Aquarius/Let The Sunshine In" foi das canções mais ouvidas em 1969 e foi alvo de diversas interpretações. Já referimos a versão dos The Fifth Dimension, o "mundo da canção" referia-se à de Diana Ross & The Supremes.

A canção vinha inserida no álbum "Let The Sunshine In" e era o 16º álbum do grupo feminino da Motown, The Supremes. Surpreendente a produção deste grupo vocal na década de 60, até Diana Ross seguir carreira a solo a partir de 1970.




Sem atingir o sucesso que a versão dos The Fifth Dimension obteve, eis "Aquarius/Let The Sunshine In", eram Diana Ross & The Supremes.




Diana Ross & The Supremes - Aquarius/Let The Sunshine In

domingo, 4 de dezembro de 2016

Oliver - Good Morning Starshine

mundo da canção nº 2

"Hair: The American Tribal Love-Rock Musical" ou simplesmente "Hair" é um musical criado em 1967. O espectáculo e a banda sonora ficaram como uma referência da contra-cultura hippie daquela época. Diversas foram as canções a destacarem-se e a constituírem êxito em diversas versões. A mais conhecida terá sido o medley "Aquarius/Let the Sunshine In" na interpretação dos The Fifth Dimension que já tivemos oportunidade de recordar.

A revista "mundo da canção", em Janeiro de 1970, no seu nº 2 trazia a letra de duas dessas canções, "Aquarius/Let the Sunshine In" precisamente e ainda "Good Morning Starshine".




É esta última na versão de Oliver que agora se recupera.
Oliver (1945-2000) foi um cantor Pop norte-americano cujo sucesso se circunscreveu quase exclusivamente à sua versão de "Good Morning Starshine", um bom exemplo de "one hit wonder".




Oliver - Good Morning Starshine

sábado, 3 de dezembro de 2016

Stevie Wonder - Yester-Me, Yester-You, Yesterday

mundo da canção nº 2

O período de ouro para Stevie Wonder foi a década de 70 com um conjunto de álbuns de fusão de géneros que ficaram históricos. No entanto a fama já vinha de longe, desde o início dos anos 60, que Stevie Wonder, ainda adolescente, era uma figura bem conhecida do Pop e Rhythm'n'Blues, logo com o sucesso de "Fingertips" em 1963. Terminava a década com canções bem populares como "For Once In My Life" e "Yester-Me, Yester-You, Yesterday". De 1963 a 1969 esteve quase todos os anos no Top 10 do Rhythm'n'Blues nos Estados Unidos.

Por cá "Yester-Me, Yester-You, Yesterday" passava frequentemente na rádio e a revista "mundo da canção" no seu nº 2, de Janeiro de 1970, publicava a respectiva letra.




O melhor ainda estava para vir, mas Stevie Wonder era já uma personagem destacada na música popular de então, a prova em "Yester-Me, Yester-You, Yesterday".




Stevie Wonder - Yester-Me, Yester-You, Yesterday

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

The Moody Blues - Lazy Day

mundo da canção nº 2

Ignorando o álbum "The Magnificient Moodies", de 1965, com The Moody Blues ainda sem a sua formação clássica, ou seja Mike Pinder, Justin Hayward, Ray Thomas, John Lodge e Graeme Edge, quando surgiu a revista "mundo da canção" já estes tinham editado 4 álbuns que ficaram para sempre como do melhor que se produziu na música popular da década de 60.

O ano de 1969 viu serem editados dois deles, os fundamentais "On the Threshold of a Dream" e "To Our Children's Children's Children" já aqui anteriormente recordados. É do álbum "On the Threshold of a Dream" que o nº 2 da revista "mundo da canção" de Janeiro de 1970 publica 2 letras: "Lazy Day" e "Never Comes the Day".
Esta última já anteriormente recuperada, é a vez para "Lazy Day".




"Lazy Day" foi composto por Ray Thomas, o flautista do grupo que abandonou The Moody Blues em 2002. De acordo com a página oficial do grupo, The Moody Blues mantêm-se como trio (Mike Pinder foi o primeiro a sair em 1977), no entanto os últimos concertos referem-se a 2014.

Há muito sem o encanto de outros tempos, a não ser na recordação desses mesmos tempos, aguardamos por notícias, para já um "Lazy Day" do ano de 1969.




The Moody Blues - Lazy Day