Na história da divulgação da melhor música popular anglo-saxónica é incontornável a abordagem ao programa de rádio “Em Órbita”da segunda metade dos anos 60, início dos anos 70. Passava na Rádio Clube Português, em FM, com duas emissões, primeiro das 20h às 22h e depois das 00h à 1h (das 20h às 21h havia conflito de interesses com o programa “Página Um” na Rádio Renascença). Por estes programas passava o que de melhor e mais recentes era editado principalmente em Inglaterra e nos EUA, mas também em França, Espanha,… e Portugal (Portugal, no caso do programa “Página Um”).
Estes e alguns pouco mais (todos em FM – Frequência Modulada) destacavam-se da mediania, mesmo mediocridade, da maior parte da programação radiofónica.
Mas nada melhor que recuperar alguns extractos de textos publicados pela revista “Vida Mundial” em rubrica dedicada à rádio de então:
“Sempre pensámos ter chegado a hora de se pensar no radiouvinte, não apenas em termos de mercado, e que é preciso dar-lhe algo em troca daquilo que ele paga.
Pode-se interessar o povo com o folhetim piegas ou entrevistas bacocas, mas pode-se também interessá-lo com boa música popular, por exemplo (um Correia de Oliveira, um Luís Cília, um Manuel Freire, etc., são belas lições a ministrar) que é a expressão mais geral e comunicativa da educação de um público. E por música...”
Vida Mundial Nº 1566 de 13-06-1969
“Não chega. Não basta ter uma boa ideia. Não basta ser um bom rapaz. Não chegam os Quakers, nem os Adventistas do Sétimo Dia. Rubricas como «Que Quer Ouvir», «Quando o Telefone Toca», «Cartas a Ninguém», «Uma Vedeta na Noite», «Grande Feira do Disco», «Vozes que São Êxito», etc., são o papel químico umas das outras, repetindo a mesma mediocridade, a mesma inutilidade e idêntica sensaboria. Nada as destaca, nada as distingue, constituem, apenas, uma forma de preencher tempo, a mesma colecta de publicidade.”
E mais adiante:
“Seria óptimo saber quais as intenções que movem os responsáveis de tais rubricas, e indagar porque as defendem eles com unhas e dentes. Talvez fosse este o modo de se chegar a outras e proveitosas conclusões, sobretudo, às de carácter cultural, social e pedagógico. Sim, porque não acreditamos não ser deliberada a prioridade radiofónica dada a tais absurdos, assim como não acreditamos que outros não vejam e reconheçam a inutilidade de tais emissões. Um propósito existe. Qual?”
Vida Mundial Nº 1575 de 15-08-1969
E, relativamente ao referido programa “Em Órbita”:
“«Em órbita» embarcou na nave cósmica do êxito e transmite dos espaços siderais, com repetições de eco que se perdem no infinito, os últimos sucessos dos Beatles, de Donovan e de outros. E faz critica, fiscalização minuciosa ao que é verdadeiramente mau.
Aberta ao que em educação musical da canção moderna tem realmente valor e significado e às inovações que uma exigência rigorosa possa ir certamente justificando, «Em órbita» é de facto uma excepção no panorama radiofónico nacional. Rádio funcional, sendo simultaneamente um processo de assimilação de formas sócio-culturais, «Em órbita», é uma espécie de canção de protesto e um conceito que vai abrindo caminho e está contido numa única palavra — seriedade.”
Vida Mundial Nº 1560 de 02-05-1969
Porque ouvia diariamente o programa “Em Órbita”, recordo-me, por exemplo, da passagem de "Curry Land" do cantor folk escocês Donovan. Pertencia ao álbum “Open Road” (1970) e na classificação final do ano, que já tivemos oportunidade de recordar, “Curry Land” tomava o 7º lugar na lista das melhores canções.
Agora, recuar no tempo, e deliciar-mo-nos, novamente, com “Curry Land”.
Donovan – Curry Land
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