sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Joni Mitchell - Woodstock

mundo da canção nº 10 de Setembro de 1970


Setembro de 1970 é publicado o nº 10 da revista "mundo da canção" que trazia na capa a Joni Mitchell, estranhamente no interior nenhuma referência a ela, nem a publicação de alguma letra, nem algum texto sobre a sua ainda curta mas já relevante carreira.





De resto este nº continuava na senda dos anteriores, muitas letras publicadas quer de autores portugueses, quer da musica Pop internacional e também alguns artigos que refiro, Blood, Sweat & Tears, o Duo Orpheu e os festivais da canção, Pedro Barroso, George Moustaki, ficha sobre os Creedence Clearwater Revival e uma entrevista a Fernando Martins são alguns desses textos.

De Fernando Martins não consegui obter qualquer uma das quatro canções por ele gravadas num EP único, pelo que fica aqui a dita entrevista.




Recorte ainda ainda do artigo, bastante crítico, de Tito Lívio sobre o primeiro EP de Pedro Barroso cuja canção "Trova-dor" já anteriormente dei conta.




Como no interior não há nada sobre a Joni Michell, fica a capa como pretexto para recordar a sua música. Aquando da publicação deste nº do "mundo da canção" o seu álbum mais recente era "Ladies of The Canyon", era o terceiro disco de originais e dele recordo a bem conhecida "Woodstock" objecto de grandes versões como a dos Crosby, Stills, Nash & Young ou a de Ian Matthews.




Joni Mitchell - Woodstock

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Objectivo – I Know That

Bem demonstrativo das diferenças existentes entre o início e o fim da década de 60  na música Pop-Rock por cá produzida está o Regresso ao Passado de hoje se o compararmos, por exemplo com Os Conchas de "Serás Tu Para Mim" (1960) com que iniciei mais esta passagem pelo Pop-Rock nacional daqueles anos.
Tudo é diferente, a técnica, o estilo, as influências, enfim traduzindo o que lá fora também acontecia, compare-se 1960 e 1969 na música anglo-saxónica e as diferenças são abismais.

Para hoje mais um tema do grupo de Rock Objectivo cuja constituição foi das mais inconstante que me lembro. Começaram em 1969 com uma formação exclusivamente portuguesa para terminarem com uma formação mista, três estrangeiros e três portugueses a saber: Kevin Hoidale, Mike Sergent, Terry Thomas, José Rodrigues, Zé Nabo e Guilherme Scarpa Inês, pelo meio ficam Dick Stubbs, Bas Riche, Jim Cregan, Zé da Cadela entre outros.

A música praticada era mais pesada, mais agressiva do que era até então habitual em sintonia com o Hard-Rock que naqueles anos se desenvolvia.





Um EP e três Single, só com originais e interpretados em inglês, compõem a discografia que os Objectivo publicaram. Do primeiro EP lembra-se "I Know That".




Objectivo – I Know That

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Filarmónica Fraude – Canção de Embalar

Como ontem disse, a par do Quarteto 1111, a Filarmónica Fraude foi das propostas mais interessantes surgidas nos anos 60 na renovação da música popular portuguesa num contexto Pop-Rock. Com um poder satírico único, fizeram evoluir, com mestria, a música tradicional portuguesa para novos patamares que só com as influências do Pop e do Folk-Rock anglo-saxónicas foi possível.

Donovan, Canned Heat, The Moody Blues e os nacionais José Afonso e Carlos Paredes são influências por eles reconhecidas, mas é no estudo do levantamento do folclore nacional efectuado por Fernando Lopes Graça e Michel Giacommeti que vão buscar a sua principal fonte de inspiração.

É António Pinho que o reconhece, em "E Tudo Acabou em 69" quando afirma ter ido, em 1968, ao cinema Império "Mas antes havia um documentário sobre as recolhas de música tradicional portuguesa feitas por Michel Giocometti e Fernando Lopes Graça. Fiquei apanhadinho pelas músicas do documentário. Liguei logo ao Sousa. «Tens de vir ver um documentário que  está no Império.»

E continua o autor do livro, Rui Miguel Abreu: "Nada tinha que ver com o que habitualmente ouviam na televisão tocado por ranchos folclóricos. Sousa ficou de tal modo impressionado, que logo tratou de adquirir os quatro famosos LP com capas de serapilheira com as recolhas de Giocometti e Lopes Graça, numa edição limitada a 250 discos da Valentim de Carvalho para o SNI (Secretariado Nacional de Informação)."






Para a história ficaram dois EP e um LP publicados em 1969 e que são do melhor que a década de 60 nos deixou.
Segue do 2º EP "Canção de Embalar" de Luís Linhares sobre motivo popular.




Filarmónica Fraude – Canção de Embalar

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Quarteto 1111 - Dona Vitória

Sempre bem-vindas, digo eu, estas passagens nestes meus Regresso ao passado do Quarteto 1111.
No panorama musical português são um dos que mais vezes recordei. E nesta nova ronda que tenho feito pela música por cá praticada na década de 60 não podiam deixar de ter novamente lugar.
Para meu gosto o Quarteto 1111, a par da Filarmónica Fraude, foi a proposta mais interessante que aqueles anos nos deixaram. Longe de algum primitivismo do início da década, não se ficaram por copiar o que então se importava, mas foram mais longe, muito mais longe e criaram uma sonoridade jovem, atraente e bem portuguesa.

Deram-se a conhecer em 1967 com a famosa "A Lenda de El-Rei D. Sebastião" e até ao seu trabalho maior o LP homónimo de 1970 deixaram um conjunto de Single e EP que não é demais recuperar.





Entre eles está o EP de 1968, o terceiro EP, que, com as influências psicadélicas da época, continuava na senda da renovação da nossa música popular, a capa redonda a fazer jus ao psicadelismo. Deste disco escolho "Dona Vitória" que quão agradável é de se ouvir. Serei só eu ou pareceu-me ouvir The Kinks?




Quarteto 1111 - Dona Vitória

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Os Rocks – Something's Gotten Hold of My Heart

Eduardo Nascimento (1943-2019), lembram-se?, ganhou o Festival RTP da Canção de 1967 com "O Vento Mudou", canção que ficou na memória de todos os portugueses de então. e de agora também com a recuperação dela feita pelos UHF (2010) e a ainda mais recente versão de Miguel Ângelo com o próprio Eduardo Nascimento em 2015.

Para quem não souber Eduardo Nascimento fez parte de um conjunto formado em Angola no início da década de 60 denominado Os Rocks, terminada a década, terminavam Os Rocks e a carreira musical de Eduardo Nascimento. Deixaram gravados dois discos EP, o primeiro em 1966 após terem ficado classificados em 2º lugar no famoso Concurso de Ié-Ié realizado no Teatro Monumental e o segundo já em 1968.






Do segundo EP escolho "Something's Gotten Hold of My Heart" um original da dupla Roger Greenaway e Roger Cook, sucesso em 1967 na voz de Gene Pitney.




Os Rocks – Something's Gotten Hold of My Heart

domingo, 26 de janeiro de 2020

Conjunto Universitário Hi-Fi - Crystals and Trees

Sem dúvida que o Conjunto Universitário Hi-Fi foram uma das propostas mais interessantes e simultâneamente menos conhecidas que o o nosso pequeno mundo musical do Pop-Rock feito em Portugal nos anos 60 teve.

Oriundos de Coimbra constituíram-se em 1966, deixaram gravados dois EP respectivamente em 1967 e 1968. De um para o outro caiu o nome Universitário e ficou somente Conjunto Hi-Fi, de um para outro verificaram-se alterações na composição do grupo, sendo uma delas a saída da vocalista Ana Maria que merece todos os elogios na prestação do primeiro disco. Ainda de um para o outro a sonoridade modifica-se para opções mais psicadélicas, mais consentâneas com o que se produzia na melhor música de expressão anglo-saxónica.






A prova vai logo para a faixa de abertura "Crystals and Trees" a não ficar atrás do muito que então importávamos, as composições seguintes eram: "Standing The Scene", "Running Away" e "I See The Rain", esta última uma versão do original dos escoceses Marmalade do ano anterior.

Apreciem pois "Crystal and Trees".




Conjunto Universitário Hi-Fi - Crystals and Trees

sábado, 25 de janeiro de 2020

Os Tubarões – Baby It Hurts

Foram poucos os grupo Pop-Rock portugueses fora de Lisboa e Porto que lograram gravar. Os Tubarões de Viseu foram um deles, tendo editado um EP em 1968, onde constavam as seguintes quatro canções originais:
- Poema do Homem Rã
- Baby It Hurts
- Lucky Day
- Você Vai Chorar,
duas cantadas em português (uma abrasileirada) e outras duas em inglês a poder agradar a diferentes públicos.

Pela leitura de "Biografia do Ié-Ié" de Luís Pinheiro de Almeida ficamos a saber que o nome do grupo foi escolhido a partir do nome de um gang, Sharks, do filme "West Side Story" e que o Casino da Figueira da Foz foi como uma escola para eles pois lá actuaram durante 4 anos, nos meses de Verão.
Em 1965/66 participaram no Concurso Ié-Ié no Teatro Monumental tendo chegado à final mas classificando-se em último lugar.





É da contra-capa do EP o extracto seguinte :
"...O Conjunto «cresceu» com o desejo de triunfar. Pouco a pouco (como podiam...) iam comprando instrumentos, aperfeiçoando métodos, estilizando canções. Alargando horizontes. Do clube privado passaram a actuações públicas. A tactear reacções. A aprender.
Não quiseram gravar logo. Podiam tê-lo feito. Mas não quiseram! Era ponto assente: o disco apareceria, sim, mas quando se sentissem «seguros», certos do êxito. Gravaram agora. Para a «Alvorada» (claro), que é sempre oportunidade para jovens de talento.
Em tempo: os 6 rapazes são - Carlos Alberto (órgão); Victor Barros (viola-ritmo e compositor); Luís Dutra (viola-baixo); José Alexandre (vocalista e compositor; Waldemar António (viola-solo e compositor) e Eduardo Pinto (bateria).
E sabe uma coisa? Nós (os da Alvorada) sabemos que eles têm valor."




Os Tubarões – Baby It Hurts

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Quinteto Académico - Train

Com assistência musical de Luís Villas-Boas e colaboração do trompetista Mário de Jesus, o Quinteto Académico publicou no ano de 1967 o seu 3º EP composto por quatro composições, o normal para este tipo de disco de vinil de 7 polegadas, a saber:
- Train
- Puppet On a String
- Finchley Central
- 724710





Duas são originais do grupo ( a primeira e a última) e duas versões de temas internacionais, sendo "Puppet On a String" a conhecida canção que Sandie Shaw com a qual o Reino Unido venceu o Festival da Eurovisão de 1967.
Contradições num grupo cuja sonoridade primava pela originalidade ou seja num Portugal em que os conjuntos musicais formados pela então juventude privilegiavam o Pop nas suas vertentes Ié-Ié e do Twist, o Quinteto Académico abraçava o menos acessível Rhythm'n'Blues e o Soul.

Deste 3º EP, ainda Quinteto, já com Pedro Osório e Jean Sarbib, mas antes de se tornarem Quinteto Académico + 2, escolho "Train" bem identificador da música por eles praticada.




Quinteto Académico - Train

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Conjunto Académico João Paulo – Oásis

Caso sério de popularidade nos anos 60 o Conjunto Académico João Paulo teve um percurso impressionante de longevidade (formados em 1961 só terminaram no final da década de 70), assim como de nº de gravações efectuadas (mais de uma dezena de EP e Single e quatro álbuns entre 1964 e 1972).
Constituídos no início da década na Ilha da Madeira revelaram-se em 1964 ao vencer o Concurso Caravana em Férias resultado da exibição do filme "Summer Holiday" com The Shadows  e Cliff Richard. Seguiu-se a consagração no Continente com a gravação do primeiro EP, passagem pela RTP e vários concertos.
Muitas foram as canções de intérpretes internacionais que foram alvo de versões por parte do grupo que tinha no seu vocalista Sérgio Borges a figura mais conhecido embora o conjunto toma-se a designação do seu teclista João Paulo. Charles Aznavour, Adamo, Gilbert Bécaud, Roy Orbison, The Mamas and The Papas, The Turtles, Bee Gees, Sandie Shaw foram alguns desses intérpretes.






Mas também gravaram muitos originais, dos quais a canção de hoje é um exemplo. Estávamos em 1967 quando foi editado o EP "Poema de Um Homem Só" (o 7º segundo as minhas contas) do grupo onde constavam as seguintes canções:
- Poema de Um Homem Só
- Monday, Monday
- Oásis
- When a Man Loves a Woman
ou seja dois sucessos internacionais e dois originais.

Começava assim o texto assinado por José Farinha na contra-capa dos disco:
"Em plena "tournée" por África, e precisamente no caminho de Porto Alexandre para Moçâmedes, João Paulo e Carlos Alberto, inspirados no passeio que tinham dado pelo deserto, chegaram ao Hotel e no piano instalado na Sala, compuseram "OÁSIS". O arranjo, feito pelo Conjunto processou-se mais tarde na Escola Prática de Infantaria, em Mafra. A letra tem a particular curiosidade de ter sido feita por um Senhor Oficial, que assistindo, a alguns dos seus ensaios e apaixonando-se pela melodia, se inspirou, e, sem que "eles" dessem por isso apresentou-lhes o seu trabalho. Pela primeira vez, numa composição de sua autoria, admitiram letra de um estranho, só porque reconheceram nela um POEMA EXTRAORDINÁRIO."

Recorda-se "Oásis"




Conjunto Académico João Paulo – Oásis

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Ekos – I Saw That Girl

"Eko" é uma marca de guitarra, bem conhecida nos anos 60 pois encontrava-se entre as mais acessíveis em termos de preço.

"Como na altura os conjuntos do género eram em grande número, tornava-se difícil arranjar um nome que tivesse algo de original. Aconteceu num passeio fluvial, onde o conjunto se exibiu, que por ideia do Mário foi dado o nome de "Ekos", inspirado, talvez, na marca das suas violas." pode-se ler em artigo da revista "TV" de 4 de Novembro de 1965

Os Ekos foram um conjunto de Pop-Rock formado em 1963, gravaram 6 EP, tiveram diversas formações sendo o último registo do ano de 1970, já com uma formação bastante diferente da original.




A escolha para hoje recai sobre o 5º EP do conjunto editado em 1967 e que continha quatro temas originais, três interpretados em inglês e um em português, são eles:
- I Saw That Girl
- A Place In Your Heart
- Nova Geração
- We're Gonna Be Free

Ficamos com a canção inicial "I Saw That Girl"




Ekos – I Saw That Girl

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Chinchilas – Take That Train

Os jovens músicos que compunham os conjuntos de Pop-Rock nacionais que proliferaram pelo país, com concentração evidente em Lisboa e Porto, nos idos anos 60, estavam bem atentos ao que se produzia na música anglo-saxónica que ia ganhando espaço na radiodifusão um pouco por todo o lado, cá também. Veja-se estes últimos Regresso ao Passado e identifique-se as principais influência para se constatar como actualizados se encontravam.
As sonoridades ao longo da década vão-se alterando e será fácil de constatar as diferenças que existiram no início e fim dela. Mesmo no mesmo grupo é, por vezes, notória as alterações que se verificavam. Veja-se o exemplo dos Chinchilas (1965-1972), com interrupções pelo meio, Pop, Pop psicadélico, Folk-Rock, Rock mais pesado, em sintonia com a música importada.





Nos Chinchilas pontificava um jovem guitarrista Filipe Mendes (1947-2018) que muitos anos mais tarde adoptaria o nome de Phil Mendrix, revelando assim o seu gosto por Jimi Hendrix.
Deixaram gravados entre 1967 e 1970 um EP e 3 Singles.
O EP é de 1967 e nele constava a composição mais conhecida dos Chinchilas, "I'm a Believer", um original de Neil Diamond popularizada pelos The Monkees do ano anterior, as restantes faixas eram originais do grupo. Uma delas era "Take That Train".




Chinchilas – Take That Train

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Jets – Loving You

Do mais interessante que me foi dado recuperar dos conjuntos Pop-Rock nacionais dos anos 60 encontra-se o grupo lisboeta Jets que em tempos já ocupou espaço nestes meus Regresso ao Passado. Pena é que a informação seja quase nula e que só tenham deixado um EP gravado e ainda que o som das gravações, que se encontram em mp3, me pareçam que não fazem jus ao som original.

Salvaguarda feita, refira-se mais uma vez que os Jets foram um grupo de Pop-Rock português pró psicadélico que deixaram 4 canções gravadas em EP no ano de 1967, a saber:
- Let Me Live My Life
- Loving You
- Chase Your Blues Away
- Green Green





"Let Me Live My Life" e "Chase Your Blues Away" são originais do grupo, enquanto "Loving You" é uma canção do improvável Bobby Darin de 1966 e "Green Green" uma canção Folk norte-americana do início da década.
Hoje é a vez de "Loving You"




Jets – Loving You

domingo, 19 de janeiro de 2020

Os Claves – Daydream

Em 1966, Os Claves venceram o Concurso de Música Ié-Ié realizado no Teatro Monumental, em Lisboa, organizado pelo jornal "O Século" (com o Movimento Nacional Feminino, Emissora Nacional, Rádio Clube Português e o empresário Vasco Morgado, ao que consegui apurar). Nele interpretaram, entre outras, "Crer", escrita por Luís Pinto de Freitas propositadamente para aquele certame, tendo a vitória do grupo sido envolta em polémica ao ser atribuído o 2º lugar aos Rocks oriundos de Angola.




Gravaram de seguida dois EP, um primeiro para etiqueta espanhola Marfer e um segundo para a nacional Alvorada. Este último era constituído pelas seguintes quatro canções:
- California Dreaming (The Mamas and Papas)
- Somebody Help Me (The Spencer Davis Group)
- Daydream (The Lovin' Spoonful)
- Sha La La Lee (Small Faces)


São, portanto, quatro versões de êxitos, todos eles de 1966, isto é que era estar atento.
Recupero "Daydream".




Os Claves – Daydream

sábado, 18 de janeiro de 2020

Sheiks – I'm Feeling Down

Ao Conjunto Mistério faltavam vozes para acompanhar as novidades musicais que então surgiam a uma velocidade impressionante e assim ficaram pela influência sobretudo instrumental vinda dos The Shadows que seriam rapidamente ultrapassados pelo surgimento fulgurante do grupo de Liverpool que iria mudar o rumo da história, The Beatles. Por cá não se fizeram esperar os conjuntos a ir atrás das novas sonoridades que The Beatles traziam e a procurar imitá-los.

Os Sheiks ficaram como os "Beatles portugueses" e bem o mereceram pois se é verdade que beberam das influências Pop de então, The Beatles em primeiro lugar, a qualidade deles era inegável.
Os Sheiks existiram no período áureo dos The Beatles, ou seja de 1965 a 1968, e nele figuraram nomes ainda hoje importantes da nossa música popular, Paulo de Carvalho, Carlos Mendes e já no final do grupo Fernando Tordo.





É de um EP de 1966 a canção que hoje escolhi, de entre quatro originais cantados em inglês, dois assinados por Carlos Mendes e Edmundo Silva e outros dois por este último e Paulo de Carvalho, fica, desta última dupla, "I'm Feeling Down".




Sheiks – I'm Feeling Down

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Conjunto Mistério – Coimbra, Menina e Moça

Formados em 1963 a partir do Conjunto Nova Onda, o Conjunto Mistério que se "escondiam" atrás de mascarilhas que usavam nas actuações. Daqueles vieram Luís Waddington e Edmundo Silva aos quais se juntaram Michel Mounier e António Moniz Pereira, ocasionalmente Fernando Gaspar (comercialmente Fernando Concha) de Os Conchas assegurava as vozes.


Vencedores do Concurso de Conjuntos Tipo Shadows realizado em Setembro, Outubro  de 1963, que lhes valeu uma ida a Londres onde conheceram The Shadows um dos grupos ingleses mais conhecidos internacionalmente e principal influência do Conjunto Mistério.
Deixaram-nos quatro EP, gravados entre 1963 e 1965, onde são visíveis as suas características fundamentalmente instrumentais onde revisitavam canções tradicionais portuguesas. Curta duração pois para este interessante grupo nacional.
Quanto ao fim do conjunto Edmundo Silva afirma no livro "Biografia do Ié-Ié":
"Os Beatles é que deram cabo do Conjunto Mistério. Nós fazíamos instrumentais de canções populares portuguesas e depois apareceram os Beatles com as suas vozes fantásticas e nós fomos por água abaixo. Não tínhamos vozes."






Entre o que de melhor fizeram está esta versão de "Coimbra, Menina e Moça", o tradicional fado de Coimbra, pertencente ao 2º EP.




Conjunto Mistério – Coimbra, Menina e Moça

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Thilo’s Combo – Madrid

Fazer mais esta recuperação da nova música que despontou em Portugal nos anos 60 e não passar por Thilo Krasmann era impossível face à importância que ele teve no panorama musical nacional.
Já o disse Thilo Krasmann era alemão e veio para Portugal em 1957 tendo cá vivido até falecer em 2004.
"Os seus arranjos e orquestrações, a par das várias funções que desempenhou na indústria fonográfica e na televisão, foram decisivos para o desenvolvimento da música ligeira em Portugal nas últimas quatro décadas do séc. xx.", lê-se na "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX".

Twist, Bossa Nova, Cha-Cha-Cha, Pop Latino, Jazz, de tudo um pouco se encontra na vasta discografia que Thilo's Combo (a formação de Thilo Krasmann) nos deixou e que tanto podiam ser temas instrumentais como canções interpretadas em português, espanhol, francês ou inglês.


https://www.discogs.com/

O ritmo latino do Cha-Cha-Cha está presente num EP de 1962 com os temas "Madrid"/"Perdonna Paganini"/"Porco Pelo"/"Bacco Tabacco e Venere".

Vamos dançar o ChaChaCha? Claro, para quem o souber, com "Madrid".




Thilo’s Combo – Madrid

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Conjunto Nova Onda – Vendaval

É sabido que o Conjunto Mistério, já neste blogue bem representado e que nos deixou gravações entre 1963 e 1965, teve a sua origem no Conjunto Nova Onda onde militava como vocalista o Gonçalo de Lucena mais um dos pioneiros do Pop-Rock por cá então fase nascente.
Os Nova Onda tiveram a sua formação ainda nos ano 50 e dele faziam parte ainda Luís Waddington (pai de Jay Kay mais conhecido como Jamiroquai), Edmundo Silva, ambos transitados para o Conjunto Mistério, Manuel Lucena e Francisco Deslandes. Musicalmente a influência maior era dos ingleses The Shadows que então pontificavam, a solo e a acompanhar Cliff Richard, na cena internacional e que por cá qualquer conjunto que se prezasse imitava.





O Conjunto Nova Onda gravou, em 1963, um único disco, onde constava o tema de hoje "Vendaval".
"Vendaval" canção popularizada por Tony de Matos aqui numa mistura estranha de Fado e de Pop-Rock instrumental tipo Shadows. Era o que havia em 1963.




Conjunto Nova Onda – Vendaval

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Sobreviventes - O Rock em Portugal na Era do Vinil

Sobreviventes - O Rock em Portugal na Era do Vinil

De autoria de Pedro de Freitas Branco, "Sobreviventes - O Rock em Portugal na Era do Vinil" é um livro editado pela editora Marcador, em Outubro de 2016. Trata-se de uma viagem pela histórico do Rock feito em Portugal desde o início década de 60, de Daniel Bacelar, Os Conchas e Zeca do Rock, até aos anos 90 com o surgimento de Pedro Abrunhosa, Resistência, Santos e Pecadores entre outros.





Para todos os curiosos da música popular portuguesa das últimas décadas do século passado, com enfoque na vertente mais Pop-Rock, é um livro que se lê num ápice na procura de novos relatos de acontecimentos ocorridos em décadas tão férteis da nossa músic.
Na contra-capa do livro pode-se ler:
"SOBREVIVENTES narra a história da cultura pop/rock em Portugal desde o pioneirismo de 1960, e consequente progresso ao longo das duas décadas seguintes, até à explosão de 80 e maturidade artística de início dos anos 1990. A narrativa parte do lendário episódio da «batata no olho» do cantor Artur Garcia, e atinge o ponto culminante na chegada da era digital à indústria fonográfica.

SOBREVIVENTES, cujo título se inspira no primeiro álbum de Sérgio Godinho, é uma narrativa clara, cronológica, crítica, personalizada e fascinante. A não perder!"

Zeca do Rock – Nazaré Rock

À nossa medida, Portugal viu aparecer nos primeiros anos da década de 60 uma série de cantores, e conjuntos também, que, absorvendo as influências externas e afastando-se do chamado nacional-cançonetismo e também da música ligeira, davam início ao desenvolvimento do Pop-Rock nacional que como veremos no final da década era substancialmente diferente do seu início. Foram os pioneiros, foram os primeiros a abrir caminho para que mais tarde tivéssemos conjuntos e cantores do gabarito dos Sheiks e de Paulo de Carvalho.

Depois de recordar mais uma vez Os Conchas e o Daniel Bacelar reservei para hoje Zeca do Rock que outros houve que não chegaram a gravar como o Armindo do Rock e o Nelo do Twist (engraçada a maneira como eram e ficaram conhecidos). Zeca do Rock, de nome verdadeiro Zeca das Dores (1943-2012), teve uma breve passagem pelas gravações que foram um EP e uma canção na banda sonora do filme "Pão, Amor e Totobola".
A incorporação, em 1965, no serviço militar que era necessariamente obrigatório levaram ao fim da sua carreira como Zeca do Rock.
A necessidade de associar os nossos rockers a figuras maiores da cena internacional parecia ser então uma necessidade, se Os Conchas eram os nossos The Everly Brothers, Daniel Bacelar o Ricky Nelson nacional, a imprensa portuguesa rotulou Zeca do Rock de "Elvis Presley" português conforme o próprio afirmou (ver wikipédia).





Com autoria do Zeca do Rock ouça-se "Nazaré Rock", o Rock'n'Roll nacional em 1961.




Zeca do Rock – Nazaré Rock

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Daniel Bacelar – Só Um Beijo Mais

Se para Os Conchas a influência maior eram The Everly Brothers, para Daniel Bacelar (1943-2017)  ela ia directa para Ricky Nelson (1940-1985) que foi o seu ídolo de sempre.
Mas não só de interpretações de Ricky Nelson se fez o percurso musical de Daniel Bacelar, na "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX" pode-se ler:
"Compositor de muitas das canções que gravou, D. Bacelar contribui  para a criação de um reportório rock em português."
Reportório que ficou parcialmente gravado em 8 EP (incluindo o inicial editado a meias com o duo Os Conchas, o disco "Caloiros da Canção 1") editados entre 1960 e 1967.
Em 2008 em resposta a um e-mail meu, respondeu-me Daniel Bacelar:
"Eu tinha 17 anos, quando por puro acidente ganhei um concurso da Rádio Renascença e gravei um E.P. para a VALENTIM DE CARVALHO sendo o lado A com duas canções minhas e o lado B duas canções pelos Conchas que ganharam também como duo vocal. Foi o primeiro disco de rock'n'roll em português (se é que se pode chamar rock'n'roll) e uma série de outros se seguiram tendo gravado o último com cerca de 22 anos. Tenho hoje 65 anos e estou reformado da TAP AirPortugal."

Foi, portanto, muito novo que Daniel Bacelar fez o seu percurso musical e ouvindo agora os discos que nos deixou, fica a pergunta o quão importante teria sido a sua passagem pela música caso tivesse optado por uma carreira profissional no mundo musical.






Em 1961 foi publicado o 2º EP onde constava "Marcianita", a mais conhecida do disco, mas à qual o próprio Daniel Bacelar parecia não ter muito apreço. "Tenho Pena", "Só Um Beijo Mais" e "O Tempo Dirá", estas duas últimas originais por ele compostas, completam o disco.
Recorda-se "Só Um Beijo Mais", os primórdios do Pop-Rock nacionais.




Daniel Bacelar – Só Um Beijo Mais

domingo, 12 de janeiro de 2020

Os Conchas – Serás Tu Para Mim

Da música Pop-Rock feita em Portugal nos anos 60 penso que já dei informação suficiente sobre os grupos e cantores que então transportaram e adaptaram o que lá fora se fazia, Inglaterra e USA particularmente, para a realidade portuguesa. Pensava eu, pois há sempre mais informação a descobrir e a propositar novas abordagens e novas recordações daquele género musical que então a juventude adoptou e que tantas rejeições teve na sociedade caduca e opressiva que vivíamos. A leitura de "Sobreviventes - O Rock em Portugal na era do vinil" motivou-me para voltar àqueles tempos e assegurar mais um conjunto de Regresso ao Passado.






Volto assim ao início e nesse Os Conchas são normalmente reconhecido como tendo sido um dos pioneiros das novas sonoridades então importadas. No caso de Os Conchas a principal influência vinha dos The Everly Brothers de quem adaptaram algumas canções, logo no EP inicial (dividido a meias com Daniel Bacelar) constava "Quero O Teu Amor", "Should We Tell Him" no original, ou no primeiro EP em exclusivo, também de 1960, as canções "Serás Tu Para Mim" ("Let It Be Me") e "O Fantoche do Amor" ("Cathy's Clown").
O EP tomou o nome "Novos Ídolos da Canção" e dele recorda-se "Serás Tu Para Mim".




Os Conchas – Serás Tu Para Mim

sábado, 11 de janeiro de 2020

Miramar - Pine Trees

Algumas memórias de 2019

No panorama musical português 2019 ficou marcado, definitivamente, pela morte daquele, que para muitos, foi o maior compositor e intérprete da música popular portuguesa dos últimos 60 anos: José Mário Branco.
De resto o ano passado viu-se arredado de qualquer um dos intérpretes que marcaram a minha adolescência e juventude, não tivemos gravações de Fausto, Sérgio Godinho, Júlio Pereira entre outros.

Não me identifico muito com a música portuguesa que nos é dado ouvir hoje em dia, mesmo assim não posso deixar de referir algumas das publicações de 2019 que mereceram a minha atenção.

Camané e Mário Laginha - Aqui está-se Sossegado
Salvador Sobral - Paris, Lisboa
Miramar - Miramar
Capião Fausto - A Invenção do Dia Claro
Manel Cruz - Vida Nova


De referir ainda "Desalmadamente" de Lena d'Água, uma agradável surpresa neste seu regresso aos originais.



https://www.rastilho.com/



É pouco, bem sei, é mesmo muito pouco, falha minha com certeza, mas não consegui ir mais longe.
Aquele que mais me impressionou foi Miramar, o duo constituído por Frankie Chavez e Peixe, os dois já com provas dadas na nossa musica moderna. O álbum tem a particularidade de ser somente instrumental e particularmente agradável de se ouvir.
Para a revista Blitz foi o 3º melhor nacional e Lia Pereira terminava assim a sua apreciação:
"Apesar da diferença de cinco anos, Frankie Chavez e Peixe começaram a tocar guitarra no mesmo ano:1988. Cada vez mais importante ao longo dos anos, para ambos, foi englobar tudo o que ouviam e criar a sua própria linguagem. Hoje, continuam apaixonados pela guitarra ("A guitarra eléctrica é o instrumento mais cool de sempre. Dificilmente vai ser destronado, por mais tecnologia que apareça. É como o livro, compara Peixe) e também maravilhados pela surpresa que a maré lhes trouxe. "De repente tens mais uma coisa bonita na tua vida", diz o portuense sobre o disco. "É quase um bónus, uma prenda do destino". E um dos álbuns mais inspirados e até comoventes do ano."
Do destino veio "Pine Trees", assim começa "Miramar".



Miramar - Pine Trees

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Tindersticks - For the beauty

Algumas memórias de 2019

Não são da geração de 60, mas também não estão entre as propostas mais recentes da música popular, contudo, têm já uma sólida carreira iniciada nos anos 90, são os Tindersticks. E são uma das sugestões  mais interessante da música, digamos, alternativa que nos é apresentada actualmente. Desde 1993 que desenvolvem um percurso que é de enaltecer, pois, têm conseguido, pese as alterações do grupo, uma coerência e qualidade musical pouco vulgar. 12 álbuns de estúdio, várias bandas de sonoras de filmes da realizadora francesa Claire Denis, compilações e registos ao vivo de não menos interesse, compõem a discografia deste grupo oriundo de Nottingham, Inglaterra e que tão frequentemente têm actuado no nosso país.


Edição em CD ref: Lucky Dog 24 / Slang50236




"No Treasure but Hope" é a proposta mais recente e que as mais diversas listas de melhores álbuns do ano ignoraram por completo. Poderá não ser o melhor dos álbuns dos Tindersticks, mas mantém níveis de interesse mais do que satisfatórios para, apesar de ter sido lançado somente em Novembro ter sido o que mais ouvi no ano transacto. Vou mais longe e elejo-o o meu álbum do ano, no seguimento de Richard Thompson, The Unthanks, Shirley Collins e Quercus nos anos anteriores. Os primeiros acordes de "No Treasure but Hope" são assim.



Tindersticks - For the beauty

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Angel Olsen - Lark

Algumas memórias de 2019

Não sou capaz de fazer uma listagem dos melhores discos de Rock e ou suas variantes do ano de 2019. Cada vez se edita mais e cada vez ouço menos as novidades que vão surgindo. Uma ou outra ouço, é evidente, mas não o suficiente para me abalançar em tal tarefa. E, provavelmente é da idade, diga-se em abono da verdade, mas confesso que tenho alguma dificuldade em me identificar com alguma, alguma é generoso, da música que nos chega nos tempos de hoje. Cada vez assiste-se a lançamentos de jovens, cada vez mais jovens, que das duas uma ou são génios ou então são produto de marketing pelo qual não estou interessado, inclino-me mais para este último caso. Veja-se o caso de Billie Eilish, a aclamada adolescente de 2019. Comecei a ouvir o tão falado disco de estreia, "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?", o melhor álbum de 2019 para o New York Times,  e não passei da faixa inicial "Bad Guy".
Outro exemplo: FKA Twigs surge em 2019 com o 2º trabalho "Magdalene" e no final da primeira faixa arrepiava de frio, como se estivesse no Pólo Norte, e não tive forças para continuar tão gélida é a sua música, melhor álbum do ano em diversas publicações, o 2º melhor para as consideradas classificações da Pitchfork.


Segue listagem de álbuns que de alguma forma fui ouvindo ao longo ano e que devem ser destacados:
Sharon Van Etten - Remind me Tomorrow
William Tyler - Goes West
Better Oblivion Community Center - Better Oblivion Community Center
The Unthanks - Lines; Part Three: Emily Brontë
Robert Forster - Inferno
Deerhunter - Why Hasn't Everything Already Disappeared?
King Gizzard & the Lizard Wizard - Fishing for Fishies
Big Thief - U.F.O.F.
The Divine Comedy - Office Politics
Bill Callahan - Shepherd in a Sheepskin Vest
Aldous Harding - Designer
Edwyn Collins - Badbea
Thom Yorke - Anima
Devendra Banhart - Ma
Angel Olsen - All Mirrors
Bonnie 'Prince' Billy - When We Are Inhuman

A questão é que ouço estes discos, posso até gostar, mas, na verdade, não me trazem nada de realmente novo, na generalidade é o rever de sonoridades há muito conhecidas e assim sendo geralmente opto pelos sons originais.
Alguns são bem "Noise", electrónicos e experimentais mas muito distantes e pouco cativantes, os mais próximos do Folk e do Folk-Rock nutrem a minha preferência pese a pouca inovação que introduzem.


https://genius.com/


Depois das escolhas de PJ Harvey, Laura Marling e Lucy Dacus nos anos anteriores, destaco para 2019 Angel Olsen com o álbum "All Mirrors". Trabalho que se encontra na intercepção do tradicional e do vanguardismo Pop, entre sonoridades que nos são já familiares e a busca de algo novo que nos prende a atenção e os sentimentos. Para continuar a seguir esta cantora, autora americana que já vai no seu 4º álbum. Será que sou só eu, ao fazer estas escolhas, ou as mulheres estão a dominar o panorama musical ano após ano?




Angel Olsen - Lark

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Van Morrison - You Don't Understand

Algumas memórias de 2019


Quem não é fã de ou não conhece a música de Van Morrison não sabe o que perde. Felizmente sou-o desde há muito, muito tempo. Teria que recuar, provavelmente a 1970 quando pela primeira vez o ouvi (terei ouvido antes, nomeadamente "Gloria", mas sem identificar que era ele quem a interpretava), provavelmente com "Moondance" ou algum tema de "Astral Weeks" que logo ficaram na lista para aquisição há primeira oportunidade.

Van Morrison tem actualmente 74 anos e quem o ouve não os dá tal a frescura que sai das suas canções. E no ano de 2019 publica aquele que é o melhor álbum, pelo menos dos que conheci, dos cada vez menos sobreviventes dos anos 60 que insistem em continuar as suas carreiras quer em gravações quer ainda em actuações.


Edição em CD com a Ref: 0801663



É uma injustiça que "Three Chords & The Truth" não figure em nenhuma das listas, e não foram poucas as que consultei, dos melhores discos de 2019. Merecia-o!
Listas à parte, que valem o que valem, o importante é que consiga manter por muitos anos a qualidade aqui revelada. E já agora a quantidade com que nos tem prendado nos últimos anos. Lembre-se que em 4 anos publicou 6 álbuns! É obra.
Destes 6, "Three Chords & The Truth" é o que prefiro a acompanhar "Keep Me Singing" (2016), pelo meio 4 trabalhos, entre o Jazz e o Blues, que misturavam algumas canções novas com interpretações de temas daqueles universos musicais.
Onde eu gosto mesmo de Van Morrison é quando se desprende de géneros e cria as suas canções no seu género, devia haver um género com o seu nome. É claro que as influências estão lá, principalmente o Blues, é claro, mas "Three Chords & The Truth" ouve-se e apetece dizer "isto sim, é Van Morrison!". 14 canções e quase 70 minutos de audição que fazem o que de melhor o ano de 2019 nos deixou.


Para audição o irresistível "You Don't Understand".




Van Morrison - You Don't Understand

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Neil Young - Milky Way

Algumas memórias de 2019

Presença regular nestes meus Regresso ao Passado, Neil Young faz parte de uma lista reduzida de artistas revelados nos anos 60 do século passado que mantém uma actividade superior ao que seria de esperar, se fosse só por isso já merecia constar neste tema de "Algumas memórias de 2019".
É, na realidade, um caso ímpar na história do Rock este profícuo canadiano que acompanho desde o início da minha adolescência.

Deambulando entre vários estilos musicais, tem vindo nos últimos anos, concretamente na última década, a revelar uma regularidade impressionante de novos disco em estúdios, dez nas minhas contas, e também na edição dos seus famosos arquivos, contabilizei sete da "Performance Series", acrescente-se um duplo álbum ao vivo com os Promise of the Real e ainda a banda sonora de Paradox e ficamos com uma ideia de quão produtivo tem Neil Young estado.

Quanto ao ano de 2019, primeiro foi a edição de "Tuscaloosa" a encaixar como Volume 04 da referida "Performance Series" e corresponde a gravações ao vivo efectuadas em Tuscaloosa, Alabama no ano de 1973 com os The Stray Gators.


Edição em CD com a ref: 93624901112



É a digressão posterior ao sucesso de "Harvest" e nele encontramos canções inesquecíveis como "After the Gold Rust", "Harvest", "Heart of Gold", ou seja do período dourado de Neil Young. Um prazer reviver a música por ele produzida naqueles tempos.

O ano de 2019 de Neil Young é também marcado por mais um disco de originais editado em finais de Outubro passado. Depois dos menos interessantes, quase decepções dos dois álbuns anteriores, "Peace Trail" (2016) e "The Visitor" (2017) era com muita curiosidade que aguardava o novo trabalho de nome "Colorado" gravado com os seus Crazy Horse.


Edição em CD de 2019 com a ref: 93624898900



Crazy Horse que acompanham regularmente Neil Young desde 1968 e as expectativas eram elevadas por um lado porque a última gravação com os Crazy Horse tinha sido o excelente "Psychedelic Pill" de 2012 por outro a saída de Frank "Poncho" Sampedro (guitarra) dava entrada ao regressado Nils Lofgren (guitarra e teclados) (também longo companheiro de Bruce Springsteen na sua E Street Band), mantinham-se os eternos Billy Talbot (baixo) e Ralph Molina (bateria).

"Colorado" sendo melhor que os dois registos anteriores fica mesmo assim aquém das expectativas, ficamos com um disco entre as 3 e 4 estrelas, releve-se temas como "Milky Way", "Rainbow of Colors", refira-se o longo "She Showed Me Love" não fossem os seus escusados últimos 6 minutos. No menos interessante registe-se "I Do" e "Shut It Down". Quando as expectativas são muito elevadas é o que acontece, esperava melhor.

"Milky Way" o tema primeiramente conhecido é o que fica para recordação do ano de 2019.




Neil Young - Milky Way

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Santana - Africa Speaks

Algumas memórias de 2019


Caso sério de popularidade através de várias gerações, ainda granjeia a simpatia das mais diversas camadas de público. Carlos Santana, à semelhança de Iggy Pop (ver Regresso ao Passado de ontem), celebrou os 50 anos do seu primeiro álbum com um novo trabalho neste caso designado "Africa Speaks". Pertencentes a géneros musicais bem distintos, são dois nomes grandes dos anos 60 que resistem ao passar dos anos e, curiosidade, têm ambos 72 anos.

Carlos Santana confunde-se com a história do grupo que tomou o seu nome Santana e que me seduziu com uma sonoridade bem inovadora que se designou de Rock Latino, longe vão os tempos de "Evil Ways", de "Samba Pa Ti", que tanto dancei, ou ainda de "Guajira", tudo nos 3 primeiros LP de Santana.
Exímio guitarrista e hábil fusionista da música latina, lembre-se que Carlos Santana é mexicano, com o Rock dominante do final dos anos 60, o seu percurso ao longo de tantas décadas tem sido ziguezagueante entre sons mais populares como "Maria, Maria" e "Corazón Espinado" (ambas de "Supernatural" de 1999), ao Jazz de fusão que tem experimentado regularmente.






"Africa Speaks" explora a música africana misturando-a com o Rock e o toque latino que ele tão bem sabe proporcionar. Sem margem para dúvidas uma boa representação dos sobreviventes dos anos 60 no ano de 2019. Recomenda-se.
Começa assim este álbum.




Santana - Africa Speaks

domingo, 5 de janeiro de 2020

Iggy Pop - Page

Algumas memórias de 2019

Tem mais de 70 anos e ainda se exibe em palco de tronco nu, quem é? quem é? Iggy Pop, claro, quem mais podia ser?
A solo só se deu a conhecer nos anos 70, mas remonta à década anterior com os seminais The Stooges a sua entrada no universo musical da música Rock. É um dos sobreviventes daquela década. Entre a primeira gravação destes percursores do Punk, ou de forma mais abrangente de um Rock pesado, e o seu último registo medeiam 50 anos. É evidente que entre "The Stooges" (1969) e "Free" (2019) as diferenças são grandes, enquanto no primeiro estamos em presença de um quarteto de Rock (voz, baixo, guitarra e bateria) a praticar um som à época "underground", bastante energético e então pouco acessível, no segundo, o som é nitidamente mais suavizado, até mesmo planante, por vezes próximo da música ambiente e do Cool Jazz, o qual não deve ser indiferente a presença do músico de Jazz Leron Thomas.




"Free", num registo mais calmo, mesmo melancólico, a mostrar que Iggy Pop tem sabido envelhecer mantendo musicalmente uma jovialidade invejável que é de assinalar. Merecia melhor sorte nas tabelas dos melhores do ano.
A proposta de audição fica em "Page", um tema escrito pelo referido Leron Thomas.




Iggy Pop - Page

sábado, 4 de janeiro de 2020

The Who - Ball and Chain

Algumas memórias de 2019

Pete Townshend tem actualmente 74 anos e abraçou o mundo da música em 1962 ao juntar-se ao grupo Detours onde já se encontravam John Entwistle e Roger Daltrey.
Roger Daltrey tem actualmente 75 anos iniciando-se em 1959 também no dito grupo Detours.

Pete Townhend e Roger Daltrey são os dois sobreviventes do grupo The Who, formados em 1964 a partir dos Detours. Da formação clássica, original dos The Who já faleceram John Entwistle (1944-2002) e Keith Moon o carismático baterista (1946-1978).

The Who é um histórico grupo de Rock, ligado nos anos 60 à subcultura Mod dos subúrbios de Londres (veja-se o filme "Quadrophenia" de 1979), serão sempre lembrados pela sua obra maior "Tommy" a redefinir as fronteiras da música Rock. Na década de 70 foram progressivamente perdendo importância até à morte do seu baterista em 1978, fico sempre com a ideia que teria sido a altura ideal para terminarem pois aquilo que produziram posteriormente deixou de me impressionar, valha o lembrar, em concerto, os êxitos antigos.


https://en.wikipedia.org/



2019, passados 13 anos de "Endless Wire", The Who voltam às gravações originais com o álbum designado somente "Who" com 14 novas canções que pouco ou nada acrescentam a quem, como eu, ficou preso ao que eles nos deixaram nos anos 60 e início da década de 70. Faça-se justiça à voz de Roger Daltrey, não estava à espera que se aguentasse tão bem, foi uma surpresa.

Para ouvir "Ball and Chain" a primeira edição em Single extraída do álbum.




The Who - Ball and Chain

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Leonard Cohen - Thanks For The Dance

Algumas memórias de 2019


Leonard Cohen deixou-nos em 2016 e quase em simultâneo foi editado "You Want It Darker", praticamente um  testamento musical, um disco bastante sombrio na discografia deste cantor, poeta canadiano que desde os anos 60 fez parte destacado das minhas preferências musicais.
É verdade que os últimos testemunhos que nos deixou não tinham, para mim, o encanto, a revelação, a surpresa que os primeiros discos tiveram e que retenho na lista restrita de eleitos de sempre da música popular, mas face aos caminhos que actualmente se tem verificado nos mais diversos géneros musicais, do Rock'n'Roll ao Hip-Hop, qualquer disco de Leonard Cohen destaca-se necessariamente.


https://www.amazon.com/


"Thanks For The Dance", disco póstumo de Leonard Cohen, não pode encontrar-se entre o melhor da sua discografia. Pese todos  os cuidados de produção que o seu filho Adam Cohen emprestou a este trabalho e de todos os elogios que tenho lido na imprensa especializada, "Thanks For The Dance" não deixa de me saber a pouco, não fossem as 9 canções nele contidas esboços gravados por Leonard Cohen aquando de "You Want It Darker".

Para audição segue "Thanks For The Dance", o último raio de sol que Leonard Cohen nos deixou para iluminar as nossas vidas.




Leonard Cohen - Thanks For The Dance

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Bruce Springsteen - Hitch Hikin'

Algumas memórias de 2019

Parece que foi ontem, mas Bruce Springsteen já tem 70 anos! Sim, parecem recentes os acordes de "Blinded by the Light" do primeiro registo de Bruce Springsteen do longínquo ano de 1973, onde eram já patentes todas as qualidades do "último" rocker americano, ou se não se quiser recuar tanto, do portentoso "The River" do álbum duplo com o mesmo ano decorria o ano de 1980.

E se nem sempre manteve o nível de "Born To Run" (1975) ou de "Nebraska" (1982), este num registo mais Folk do que Rock, a verdade é que soube sempre manter uma integridade de que poucos se podem gabar.

"Western Stars" não atinge o nível dos álbuns acima referidos, é muito menos roqueiro e remete-nos mais para o Pop e o Country dos anos 60 e 70 o que não é propriamente negativo, pelo contrário é uma abordagem que Bruce Springsteen faz com competência a merecer as críticas mais favoráveis.


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A revista Blitz ao considerar "Western Stars" o 2º melhor álbum do ano afirma:
"...no seu décimo nono álbum, Bruce Springsteen pensou em Burt Bacharach, Glen Campbell e Jimmy Webb. Pensou na Pop da Califórnia do Sul e naquela vez em que, de coração partido, atravessou o país para começar uma nova vida. Pensou no tempo em que, como explica no filme-concerto recentemente estreado, as autoestradas e o automóvel eram uma metáfora de crescimento e liberdade. E, com uma orquestra e uma pequena banda, fez um álbum-milagre, de pequenas cartas de amor aos protagonistas de cada canção que, na forma como falham e tentam e falham melhor, são ele mesmo."

Sem dúvida um disco a ficar como marca do ano de 2019.




Bruce Springsteen - Hitch Hikin'