terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Clifford T. Ward - Gaye

De entre os bons programas de divulgação musical que a nossa rádio tinha antes de Abril de 74 havia um que ficará para a memória de todos os que seguiam atentamente a produção musical dessa época. Não só a música anglo-saxónica nas suas mais variadas formas: Pop, Rock, Folk, Rock-Folk, Rock progressivo, Country … mas também a música francesa, a melhor nova música portuguesa, a MPB, etc.

O programa dava pelo nome "Página Um", era apresentado pelo José Manuel Nunes (uma voz que nunca mais se esquece) e passava na Rádio Renascença das 19H30M às 20H30M, mais tarde até às 21H. A liberdade, o bom gosto e a variedade musical que se verificava em todo o programa talvez se devesse ao facto do programa ser na Rádio Renascença e esta não estar, talvez, sujeita a uma censura tão apertada quanto as restantes estações.

O indicativo do programa era "Page One" um tema do grupo do Porto Pop Five Music Incorporated ainda sem Miguel Graça Moura. A música começa com uma batida forte de bateria e baixo, o programa é anunciado e o indicativo termina antes da parte cantada começar (Got to be page one …).

O programa apostava na diversidade, qualidade e actualidade musical e manifestava ainda preocupações políticas e sociais (nomeadamente pelas reportagens do Adelino Gomes); ouviam-se músicas incómodas para o regime, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, José Mário Branco e José Afonso eram passagens regulares. Recordo-me em 1971 da transmissão, em directo a partir do Cinema Roma, do lançamento do 1º álbum do José Mário Branco "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades" e do 1º EP do Sérgio Godinho "Romance de um dia na estrada" e da importância que tal facto então teve.

A enumeração de grupos e músicos então divulgados é infindável, eis alguns, poucos: Crosby, Stills, Nash & Young ("Déjà Vu", "Four Way Street") e todas as suas variantes, Neil Young ("After the Gold Rush", "Harvest"), Graham Nash ("Songs For Beginners", "Wild Tales"), Stephen Stills ("I" e "II") e posteriormente no grupo Manassas, David Crosby e esse monumento que é “If I Could Only Remember My Name”. Joni Mitchell ("Blue") a voz de Rouxinol como dizia o José Manuel Nunes, Sandy Denny ("Like An Old-Fashioned Waltz"), Maggie Bell e a Claire Hamill. Jethro Tull ("Benefit"), The Moody Blues ("Question of Balance"), Genesis ("Foxtrot"), Barclay James Harvest e o inesquecível “Mockingbird”. E ainda Maxime Le Forestier (quem se lembra dele?), Serge Reggiani, Léo Ferré. E mais, muito mais, T. Rex, Janis Joplin, Eric Burdon, Cat Stevens, Ian Matthews, Plainsong, Judee Sill, Clifford T. Ward….


Edição Virgin de 1992 com as Ref:
CASCD 1066; 7876862

Agora é só recuar, neste caso, até 1973 e imaginar uma possível apresentação de, por exemplo, Clifford T. Ward (1944-2001):

Clifford T. Ward tem 28 anos é professor do ensino secundário numa pequena cidade do interior de Inglaterra e dirige o grupo de teatro da escola. Dando prioridade à sua actividade docente rejeita a fama e o vedetismo que o êxito do seu álbum “Home Thougths” alcançou. O jornal Melody Maker rasga-lhe fortes elogios e coloca “Gaye” ao nível de “Yesterday” de Paul McCartney. De seguida ouve-se “Gaye”:
 


Clifford T. Ward - Gaye

3 comentários:

  1. Está longe do Yesterday, mas é bonita, canção e voz, se bem que um pouco monótona. Soube bem re-ouvir, obrigado.

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  2. Hoje não terá a força de outros tempos, mas com os meus 16/17 anos bem que gostava deste disco e é sempre bom recordá-lo.

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