sábado, 13 de outubro de 2018

José Afonso - Os Eunucos (No Reino da Etiópia)

DISCO MÚSICA & MODA, nº 1 de Fevereiro de 1971

Continuando com a tabela de vendas de discos publicada no primeiro número do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" de 1 de Fevereiro de 1971. Hoje com a tabela dos LP mais vendidos em Portugal, ou melhor dizendo nas discotecas de Porto e Lisboa.
Constatações:
- Numa altura em que escasseavam as gravações nacionais de longa duração (LP- Long Playing), encontravam-se entre os 10 primeiros lugares 3 LP portugueses e eram nada mais nada menos que "Traz Outro Amigo Também" do José Afonso logo no primeiro lugar e ainda "Canções da Cidade Nova" do Padre Fanhais e "Cantaremos" do Adriano Correia de Oliveira, respectivamente 7º e 8º lugar. Ou seja a nova música popular portuguesa a evidenciar-se e a mostrar que era vendável mesmo em registos de longa duração.
- Os 10 LP mais vendidos correspondem a uma qualidade que é de evidenciar. Quer dizer não encontrávamos nesta listagem nenhum disco daqueles a que habitualmente se chama de comercial ou de gosto fácil. Tal leva à velha questão: se naquela altura quem tinha poder aquisitivo correspondia a uma elite mais esclarecida e de gosto mais apurado. É claro que mesmo assim lá se encontravam os Creedence Clearwater Revival com o seu Rock de  rápida adesão, mas a generalidade correspondia a padrões de qualidade e de inovação dignos de realçar, veja-se a lista na imagem.




"Traz Outro Amigo Também"  é um disco fora de série que nos trazia um José Afonso em crescendo e com uma assinalável pureza na voz e na composição. Um disco histórico a abrir portas a novos caminhos que ele e outros iriam percorrer até Abril de 1974.
Era o seguinte o texto assinado por Bernardo Santareno na contracapa do disco:
"A arte de José Afonso é um jorro de água clara, puríssima, portuguesa sem mácula. Realmente é a “pureza” a nota maior desta arte: Pureza de voz, pureza no poema, pureza na música. Neste disco, um dos mais ricos quanto a valores poéticos, é ela que domina: Trova antiga purificada, folclore limpo de excrescências, balada de combate em que a justiça vai de bandeira. E o ouvinte fica tonificado, «limpo», cheio de graça, com mais vigor para a luta. No chiqueiro velho e saudosista, insignificativo e feio da música ligeira do nosso país, José Afonso surgiu como um renovador: De riso claro e leal, com punho duro de diamante, terno e gentil sem amaneiramentos. Limpou crostas, desatou amarras, descobriu ramos verdes e ocultos, abriu janelas na parede bolorenta do fatalismo lusíada. E como esta arte pura e viril habitava já, nebulosamente, nos anseios da Juventude que tanto pechisbeque musical mórbido e paupérrimo a traz nauseada, José Afonso conseguiu rapidamente uma enorme audiência. Ele é hoje o mais autêntico trovador do povo português, nesta hora que todos vivemos. Ninguém melhor que ele transmite os seus desesperos e raivas, as suas aspirações de amor, de paz, de justiça, de verdade. Por isto, todos o amam. E o amor do povo, dos jovens, de todos aqueles que ainda não estão definitivamente contaminados, esclerosados, é, tenho a certeza a recompensa e a glória de José Afonso. Nem tudo está podre no reino da Dinamarca."




José Afonso - Os Eunucos (No Reino da Etiópia)

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