domingo, 30 de abril de 2017

The Doors - Roadhouse Blues

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                              


Continuamos então com mais alguns textos de "O Roque e a Amiga" e respectiva música:
"Roque mergulhou a cabeça nas mãos. Depois, perplexo perante tal afirmação, perguntou:
- Com que então, agora, sou... mentiroso?
A amiga estalou a língua.
- É pior do que isso, Roque: você é um mau mentiroso.
- Roque avançou, de braços estendidos:
- Não diga isso! Você faz de mim um retrato péssimo.
- Pelo contrário - contrapôs a amiga, retomando o tricot. - Estou até a ser bastante benevolente.
Roque tentou abraçá-la.
- Oh fofa...
- Não me fofe e não me manipule, que isso não muda a minha opinião a seu respeito.
Roque cruzou oss braços.
- Sendo assim, a única coisa que me surpreende, é você ainda estar nesta casa.
A amiga riu baixinho.
- Não se espante. Misture um pouco de elevado sentido do dever (que eu tenho), outro tanto de masoquismo (que também tenho) e, sobretudo, uma boa dose de não estar disposta a fazer-lhe a vontade.
- Qual vontade?
- Já lhe disse. E para seu governo, sempre lhe digo que quando vim fiz uma jura... que vou cumprir.
- Uma jura? - surpreendeu-se Roque. - Como assim, uma jura?
- Exactamente. E é mais ou menos isto: se alguém, um dia, tiver que sair, é o Roque quem irá para a rua."

Ouve-se "Roadhouse Blues" dos The Doors.

"Roadhouse Blues" faixa de abertura do excelente álbum do grupo norte-americano The Doors, "Morrison Hotel", de 1970. Este tema tem a colaboração de Lonnie Mack no baixo e John Sebastian na harmónica.




The Doors - Roadhouse Blues

pão com manteiga 2

Do programa radiofónico dos anos 80 "pão com manteiga" foram editados 2 livros. Este é o segundo,
Bernardo Brito e Cunha, Carlos Cruz, Eduarda Ferreira, Joaquim Furtado, José Duarte, José Fanha e Mário Zambujal foram os seus autores.







Textos deliciosos que nos deram (dão) horas de prazer do melhor humor que então se fazia em Portugal. Como por exemplo:
"- Se a gasolina vai subir para mais de cinquenta escudos o litro, como é que se pode andar de automóvel?
- Eu posso.
- Podes como?
- Nas descidas."

"- Se a gasolina vai subir para mais de cinquenta escudos o litro, como é que se pode andar de automóvel?
- Eu posso.
- Podes? Mas como?
- À boleia"

"- Se a gasolina vai subir para mais de cinquenta escudos o litro, como é que se pode andar de automóvel?
- Eu posso.
- Podes? Mas como?
- Aí é que está: não como."


É deste livro que vamos buscar mais alguns textos, e respectivas músicas, de "O Roque e a Amiga" que vão preencher os próximos Regresso ao Passado.

sábado, 29 de abril de 2017

Bette Midler - Friends

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Continuamos com os bem humorados textos de "O Roque e a Amiga" que integrava o programa "pão com manteiga" nos anos 80 da nossa rádio.
"- Você desculpe - começou a amiga -, mas há meses que a Suzi veio da América: e nem sinal da mesa nem das cadeiras.
Roque pôs-se a brincar com o anel.
- Ela já procurou nos caixotes que tem ali em casa. Mas você save como são estas coisas da mala diplomática...
- Não, não sei - cortou a amiga- - A única coisa que sei, é que a mesa e as cadeiras já estão pagas. E não estão cá em casa. Também só você é que se lembrava de mandar vir uma mesa e meia dúzia de cadeiras da América.
Roque acariciou o lóbulo da orelha e contraiu meia boca num sorriso conciliador:
- Quem já esperou este tempo, pode esperar um bocadinho mais. Os caixotes grandes ainda estão na embaixada: é natural que as coisas estejam lá dentro.
- Pois a mim ninguém me tira da cabeça que ela gastou o dinheiro e que não comprou nem mesa nem cadeiras. Mas olhe que a mim ninguém me fez o ninho atrás da orelha.
Roque sorriu de novo e, inocente, perguntou:
- E à frente, fazem?"


Segue-se Bette Midler com a canção "Friends".
"Friends" fazia parte do primeiro registo "The Divine Miss M" da cantora e actriz Bette Midler editado em 1972.




Bette Midler - Friends

sexta-feira, 28 de abril de 2017

John Sebastian - She's a Lady

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Nos anos 80 o programa de rádio "pão com manteiga" revolucionou a forma de fazer humor em Portugal. Ainda hoje são nítidas as influências dos actuais humoristas na escrita divulgada naquele programa. "O Roque e a Amiga" era uma das rubricas do programa que temos vindo a recordar conjuntamente com a música seleccionada para o final do texto. Eis mais um:
"A amiga aplicava cuidada e abundantemente o plix quando Roque entrou  na casa de banho, se encostou a ela, lhe pôs as mãos nas ancas e perguntou:
- Para que é isso?
- É para os cabelos brancos não ficarem tão brancos - e dando um jeito com a escova, acrescentou: - Para ficarem brancos, sim: mas brancos como só os bronze têm. Para dar um toque de classe, fofo.
E depois, com um sorriso a toda a largura do espelho, rematou:
- Porque a circunstância de eu viver consigo, não impede, de maneira nenhuma, que seja uma lady."

A audição ia para John Sebastian com "She's a Lady".

John Sebastian, mais conhecido como elemento fundador dos The Lovin' Spoonful, começa em 1968 carreira a solo com a edição precisamente do Single "She's a Lady" que seria posteriormente incluído no primeiro LP "John B. Sebastian" em 1970.




John Sebastian - She's a Lady

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Linda Ronstadt - How Do I Make You

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Bem humorado e cheio de ironia o programa radiofónico "pão com manteiga" foi inovador na já longínqua década de 80. Dele fazia parte a rubrica "O Rock e a Amiga" com os seus desconcertantes diálogos, aqui vai mais um:
"Roque olhou-a, franzindo o sobrolho.
- Ora essa!
- É como lhe digo. Veja lá se você levantava problemas quando havia aqule estravalio todo por causa da americana...
- Estravalio? - perguntou Roque quando a campainha tocou.
- Falai no mau... - disse agoirenta a amiga. - Vai lá você, ou quer assistir a uma cena e vou lá eu?
- Eu vou, eu vou... - respondeu Roque apaziguador.
Regressou instantes depois, com um envelope na mau.
- Um telegrama. Para si.
- Para mim? - espantou-se a amiga, começando a abri-lo. E um sorriso abriu-se-lhe no rosto.
- Quer ouvir? - perguntou ela. E começou a ler, sempre sorrindo:
VOLTO PARA A SEMANA STOP AVARIA NAS MÁQUINAS STOP CORAÇÃO A FUNCIONAR COMO SEMPRE NANDO.
Pousou o telegrama e espalhou o olhar distante para lá dos limites da janela. Depois suspirou e acrescentou:
- A isto é que eu chamo uma máquina, Roque."

Segue-se Linda Rondstadt com a canção "How Do I Make You".

"How Do I Make You" é uma canção do álbum "Mad Love" editado em 1980 por Linda Ronstadt, cantora de particular sucesso nos anos 70, onde a sonoridade "New Wave" é notória a lembrar os Blondie ou ainda os The Nack que então dominavam os sons Pop.




Linda Ronstadt - How Do I Make You

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Rui Veloso - No Domingo Fui às Antas

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  

Mais uma das muitas histórias bem humoradas de "O Roque e a Amiga", fazia parte do programa "pão com manteiga" que temos vindo a recordar:
"A mãe de Roque marcou-lhe encontro no café da esquina. E começou:
- Preciso de falar contigo. Muito a sério.
Roque olhou-a, meio franzido e perguntou:
- O que é que se passa agora?
A mãe pousou a mala, acendeu um cigarro e disse:
- Tu sempre foste assim, tal e qual como o teu pai. Não dás por nada do que se passa à tua volta: mas consta aí no bairro...
Roque insistiu, já cansado.
- Vamos ao assunto, Margarida. O que é que consta por aí?
- Meu querido filho: eu não sei onde é que tu andas com a cabeça, mas olha que os vizinhos já falam.
- Mas já falam de quê?
- Neste bairro sabe-se tudo, nem é preciso perguntar. E já andam para aí a dizer umas coisas, que aqueles dois - fez um gesto vago com a cabeça - estão sempre sozinhos lá e, casa, e não sei que mais.
- Oh mamã, eu conheço o Fernando desde miúdo. De resto - Roque aclarou a voz -, sou um filho de Campo de Ourique e já falei com os dois.
A mãe encostou-se na cadeira e deu uma passa.
- Que alívio! É um peso que me tiras de cima! Tu já viste bem se o meu Roque era atraiçoado?"

E a canção era "No Domingo Fui às Antas" do Rui Veloso. Era mais um tema do álbum "Ar de Rock" de 1980.




Rui Veloso - No Domingo Fui às Antas

terça-feira, 25 de abril de 2017

Rui Veloso - Chico Fininho

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Pois, então, continuamos com a recordação dos textos da rubrica "O Roque e a Amiga", era o programa de rádio "pão com manteiga" e estávamos na década de 80:
"Fernando entrou em casa, um ramo de flores na e um embrulhinho na outra.
- Umas rosinhas, umas rosinhas que ao pé de ti não são nada.
A amiga suspirou.
- Já te disse para te deixares disso.
- Que mal é que tem? E trouxe-te uma prenda.
A amiga limpou as mãos ao avental, começou a abrir o embrulho e perguntou:
- O que é?
- Um cadeado magnético.
- Um cadeado magnético? - repetiu a amiga. - e para que é que eu quero um cadeado, Fernando?
Ele aproximou-se dela.
- Mas que pergunta! Para fecharmos os nossos corações...
- Quantas vezes é que eu terei de dizer...
- Não digas nada! Não digas nada! Abandonemo-nos antes ao fogo desta paixão!
A amiga afastou-o.
- Estiveste a beber.
- Nem uma gota. Juro: nem uma gota. Mas não posso guardar mais este sentimento dentro de mim.
- E tu achas que eu era capaz disso? Eu? Eu, que sou doida pelo Roque?"

A música era "Chico Fininho" do Rui Veloso.
"Chico Fininho" foi um grande sucesso do Rock português e pertencia ao álbum inicial de Rui Veloso, "Ar de Rock", editado em 1980.




Rui Veloso - Chico Fininho

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Bob Dylan - Solid Rock

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Nos idos anos 80 um programa distinguia-se dos outros, era o "pão com manteiga" e passava na Rádio Comercial. Inovador na forma de fazer humor, os textos eram pequenas delícias de se ouvir, como por exemplo:
" - Vamos de férias?
- Vamos ...
- E para onde?...
- Para um sítio bom.
- Tu tens dinheiro?
- Eu não. E tu?
- Também não.
- Então... não olhamos a despesas."

Ou então os textos de "O Roque e a Amiga", aqui vai mais um:
"A amiga sentia-se, de certo modo, fascinada pelo assédio do Fernando. No fundo, os seus sentimentos dividiam-se entre o interesse que ele lhe demonstrava e um certo medo de que Roque viesse a descobrir. Aproveitando uma noite em que Fernando estava de serviço a bordo, a amiga decidiu experimentar Roque.
- Você não acha que o Fernando é capaz de se aborrecer cá em casa?
-Qual quê! Vocês dão-se tão bem! - respondeu Roque sem levantar os olhos da cassette.
A amiga sentiu um ligeiro «frisson».
- Claro... Pois damos - gaguejou ela. - Mas não é a mesma coisa, não acha?
Roque enrolou a cassette.
-Ele arranja-se! - e rindo: - Então o Fernando!...
- Mas não seria bom apresentar-lhe umas pessoas? Afinal de contas, ele não conhece aqui ninguém...
- Não deve ser preciso: ele safa-se. De resto, a quem é que eu o podia apresentar?
A amiga não deixou passar a oportunidade:
- Ora, Roque: à americana."

Segue-se Bob Dylan com "Solid Rock".

"Solid Rock" uma faixa do álbum "Saved" de 1980.



Bob Dylan - Solid Rock

domingo, 23 de abril de 2017

Suzi Quatro - She's in Love With You

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Mais um irresistível “O Roque e a Amiga” do programa “pão com manteiga", aí vai:
“A amiga, que já tinha preparado um vermute e secado as lágrimas, foi apanhada de surpresa com o regresso de Roque.
E ele insistiu:
- Eu perguntei se não me ias pedir desculpa.
Ela olhava-o, atónita, o copo de vermute a meio caminho da boca.
- Era o que faltava! Esta é uma oportunidade única de me ver livre de si. Bebeu um golinho, para ganhar coragem.
-Não, não peço desculpa – disse firme.
Roque atirou-se para cima do sofá.
- Está O. K.: eu fico na mesma. Não sou homem para guardar ressentimentos.
- Porque é que não vai ter com a sua amiga americana?
Roque, olhou as unhas:
- Já fui.
A amiga sorriu, vitoriosa:
- Não me diga que ela o pôs fora…
- Qual quê! Ela tem é a casa cheia.
A amiga admirou-se:
- Cheia? Ela está sempre sozinha!
- Mas agora tem lá gente – disse ele. – Além da Suzi, quatro.” 

Segue-se Suzi Quatro e “She’s in Love With You”.

Susan Kay Quatrocchio, mais conhecida por Suzi Quatro, roqueira norte-americana com particular popularidade na década de 70.




Suzi Quatro - She's In Love With You

sábado, 22 de abril de 2017

Rui Veloso - Rapariguinha do Shopping

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Nunca é demais o regresso ao “pão com manteiga” e aos textos de “O Roque e a Amiga”, o bom velho rock das cassetes:
“Roque lançou as mãos à cabeça.
- Era só o que me faltava ouvir: «o bom, velho rock»! Isso é coisa que se dizia nos anos 60!
A amiga encolheu os ombros.
- Não se pode falar consigo.
- Pode. Pode! Mas se me vêm dizer que eu estou velho, não me parece que seja de ficar aos pulos de alegria.
- Mas ó Roque…
- Ainda não acabei. Tudo isso porque eu tenho quatro cabelos brancos. Ora, quatro cabelos brancos nunca fizeram ninguém velho.
- Mas ó Roque…
- Ainda não acabei. Quatro cabelos brancos e querem-me convencer que estou velho! Esta também não está má, não senhor.
- Mas ó Roque…
- Calma, deixe-me acabar. Quatro cabelos brancos e estou chéché, já não sou capaz de desmanchar uma cassette como deve ser – e acrescentou, vaidoso: - Dão-me até uma certa graça…
A amiga levantou a voz.
- ‘Pere aí. Eu não disse nada disso: eu só disse que você precisava de descansar. E já que você foi buscar o assunto, tenho que fazer justiça: em matéria de cassettes, o meu Roque ainda é tão bom como os melhores.”

Segue-se a audição de Rui Veloso e a “Rapariginha do Shopping”.

“Rapariginha do Shopping” era a faixa de abertura do primeiro álbum de Rui Veloso, “Ar do Rock”, decorria o ido ano de 1980.




Rui Veloso - Rapariguinha do Shopping

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Sonny Boy Williamson - Don´t Send Me No Flowers

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  



Mais um episódio de "O Roque e a Amiga", era o programa de rádio "pão com manteiga" e ouvia-se ao Domingo de manhã na década de 80:
"A amiga gritou:
- Ponha aí a música mais baixo, que a gente tem de conversar.
- Não pode esperar um bocadinho?
- Não, não posso. Já esperei demais.
- Bom... Se tem de ser... Vamos lá ouvir.
Roque sentou-se, e a amiga começou.
- Não sei se você já reparou que eu estou a ficar surda.
- Se é por isso, compra-se um aparelho.
- Pouco gozo, que eu estou a falar a sério.
- Também eu: e olhe que não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir.
A amiga, calmamente, explicou:
- Eu só quero é que você perceba que a minha surdez é motivada pela música que você ouve constantemente aos berros.
- Não pode ser. Não pode ser! Se não, estávamos os dois surdos.
- É exactamente por isso: você não está surdo, porque lhe falta sensibilidade, já tem calo no ouvido. Agora eu, que sou uma pessoa de requintes, gosto de músicas com pés e cabeça, compreende?
- Nunca dei por isso.
- Mas vai passar a dar: a partir de agora, eu também quero as minhas musiquinhas.
Roque riu.
- E o que são as suas musiquinhas?
- Coisinhas calmas e de qualidade: uns clássicos, umas orquestras e assim um ou outro cantor de que eu goste.
- Sim senhor. Então escolha lá o disco.
- Quero ouvir a Maria Botânica.
Roque consultou o ficheiro.
- Maria Botânica, não tenho: mas posso-lhe arranjar alguma coisa com flores."


Segundo o livro em apreço o tema que se ouve é "Don't Bring Me Flowers" de Brian Auger, que julgo tratar-se de "Don't Send Me No Flowers" gravado pelo músico de Blues Sonny Boy Williamson em 1965 em sessão de estúdio com Brian Auger & The Trinity, Joe Harriott, Alan Skidmore e Jimmy Page, com primeira edição em 1968 (outra hipótese poderá ser "You Don't Bring Me Flowers" de Neil Diamond em 1977, ou a versão de Barbara Streisand em 1978 ou ainda o dueto dos dois para a mesma canção, no mesmo ano).
A referência a Brian Auger leva-me  para "Don't Send Me No Flowers".




Sonny Boy Williamson - Don´t Send Me No Flowers

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Larry Williams - Slow Down

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Mais uma passagem pelos textos de “pão com manteiga” e, em particular da rubrica “O Roque e a amiga”, ora aqui vai mais um:
“Roque abespinhou-se.
- Isso é, portanto, um aviso. Quer dizer que um dia destes estou sujeito a que me dê uma coisa.
- Não comece a dar às coisas que eu digo um significado que elas não têm.
Roque pousou a chave de parafusos.
- Não, não; parece-me tudo bastante claro. Eu estou a ficar velho e preciso de começar a tomar atenção àquilo que faço.
A amiga irritou-se.
- E lá está você! Se eu lhe disse aquilo, era apenas para você se poupar, para não andar para aí como um louco.
- Exactamente: como já não tenho idade para essas coisas. A seguir há-de arranjar maneira de me tirar os cigarros e depois …
- Não lhe vou tirar cigarros nenhuns. E você está a distorcer o que eu disse.
Roque fez um ar espantado.
- Ah estou? Eu estava aqui calmamente a desmanchar uma cassette, de repente vêm-me dizer que estou velho e, como se não bastasse, ainda sou acusado de distorcer o discurso alheio.
A amiga chegou-se meiga
 - Não é nada disso… Eu só estava a pensar no seu bem – e acrescentou:
- E mesmo que fosse verdade? Que importância tinha se você estivesse… estivesse a ficar com uma certa idade?
Roque insurgiu-se:
- Claro que tinha importância!
- Não tinha nenhuma, fofo: você seria sempre o bom, velho Roque.”

E passa “Slow Down” de Larry Williams.
“Slow Down” é uma canção de 1958 do relativamente pouco conhecido cantor Larry Williams (1935-1980). “Slow Down” seria também gravado pelos The Beatles em 1964.




Larry Williams - Slow Down

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Carlos Paredes - Danças Portuguesas Nº1

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  



Uma nova forma de humor preenchia os Domingos de manhã no início dos anos 80. Era o programa de rádio “pão com manteiga” que nos divertia com brincadeiras com a língua portuguesa, como esta:
“Grave é uma palavra grave. Esdrúxula é uma palavra esdrúxula. Já o que é grave é que aguda é uma palavra grave!”

Ou então com “O Roque e a Amiga”, aqui vai mais um:
“Em cima do escadote, Roque montava uma lâmpada fluorescente na cozinha. Em baixo, de braços cruzados e olhos fitos no tecto, a amiga seguia as operações, abanando, negativa, a cabeça. E, pouco confiante no que via, começou:
- Faltaria a um dos meus mais sagrados deveres se, neste momento difícil, não erguesse a minha voz para lhe chamar a atenção para o facto de me parecer que a catástrofe está eminente…
Roque riu, em cima do escadote, e falou de alto:
- Qual quê! Está firme como o rochedo de Gibraltar!
- Então ‘tá bem: eu só estou a avisar.
Roque apertou o último parafuso, desceu do escadote e, voltando-se sorridente para a amiga, perguntou:
- Vai uma apostinha
Carregou no interruptor e a lâmpada estatelou-se no chão.
A amiga foi buscar a vassoura e começou a apanhar os vidros espalhados por toda a cozinha. E olhando-o, danada, atirou-lhe:
- Tinha que ser: eu já estava à espera disto! Você não serve para estas coisas… Nunca ouviu dizer que quem tem unhas é que toca guitarra, Roque?”

E ouve-se Carlos Paredes e o tema “Danças Portuguesas Nº 1”.

“Danças Portuguesas Nº 1” aparece no álbum de 1972 “Carlos Paredes/Artur Paredes”.




Carlos Paredes - Danças Portuguesas Nº1

terça-feira, 18 de abril de 2017

Janis Joplin - Mercedes Benz

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Do programa “pão com manteiga” do início dos anos 80, aqui vai mais uma rubrica de “O Roque e a Amiga”:
“A amiga pousou os cestos das compras na cozinha, voltou-se para Roque, levantou os óculos para a testa e fez notar:
- Tenho a impressão que você não sabe (porque anda muito enganado a meu respeito) que um dia destes acerto de-fi-ni-ti-va-men-te as minhas contas com essa lambisgóia dessa americana.
Roque olhou uma nódoa de café na t-shirt.
- Não vejo razão para isso: é uma excelente pessoa, o marido simpatiquíssimo…
- Desculpe: um contrabandista é o que ele é. Mas deixe-me dizer-lhe isto: enquanto eu estiver nesta casa, gostaria que houvesse um mínimo de respeito.
- Ora essa! – Roque levantou a cabeça, ferido nas suas intenções. – Respeito é coisa que não falta.
E atirou com a beata para o vaso da árvore da borracha.
- Ai não? Então como é que você chama ao facto de estar sempre metido lá em casa, sobretudo quando o marido não está… 
- Isso não é bem assim – corrigiu Roque. – Eu só lá vou quando me convidam.
A amiga cruzou os braços.
- E o que é que você tinha que ir lá cheirar hoje e com aquela alegria toda, que se ouviam as gargalhadas na escada?
- Eu só lá fui confirmar um ditado popular: a kitchenette da vizinha é sempre maior que a minha.”

Segue Janis Joplin com o tema “Mercedes Benz”.
“Mercedes Benz” gravado a 1 de Outubro de 1970, 3 dias antes de Janis Joplin falecer, pertencia ao álbum póstumo “Pearl” de 1971.




Janis Joplin - Mercedes Benz

segunda-feira, 17 de abril de 2017

The Beatles - Sie Liebt Dich

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Continuando a reprodução dos textos de “O Roque e a Amiga”.

Um Regresso ao Passado simples e eficaz:
“A amiga mexia lentamente o café. E, repentinamente, lembrou-se:
- É verdade, Roque: como é que vai o seu complexo agrícola?
Roque parou a chávena a meio caminho da boca e disse:
- Não sei o que é isso.
A amiga, bem-disposta, insistia:
-Ora! Não sabe você outra coisa. Que tal foi a safra?
Roque procurava conter-se e não responder como tinha vontade. Deu um golinho no café, e repetiu:
- Não sei o que é isso. Nem percebo que conversa é essa.
A amiga bebeu o resto do café, fez-lhe uma festa na t-shirt e disse:
- Claro que sabe. Estou a perguntar pelas beterrabas. Mas eu ponho a questão doutra maneira: que tal vai a sua cultura, Roque?”

E passa The Beatles com “Sie Liebt Dich”.
“Sie Lieb Dich” é a versão em alemão de “She Loves You” (1963) editada no ano seguinte.




The Beatles - Sie Liebt Dich

domingo, 16 de abril de 2017

Sérgio Godinho - Cuidado com as imitações

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


E continuamos a matar saudades com mais um “O Roque e a Amiga”, era o programa de rádio dos anos 80 "pão com manteiga":
“A Amiga atirou com o jornalinho e, abismada, exclamou:
- Não acredito! Não é possível!
A cabecinha do Roque emergir entre as cabeças do gravador e perguntou:
- O quê?
Isto – respondeu a amiga, apontando o jornal.
Roque pousou o ferro de soldar e, mordiscando um pouco de solda, insistiu: - Mas o quê?
- Isto – repetiu a amiga. – Mas também lhe digo que é uma brincadeirazita de muito mau gosto.
- Mas o quê?! – Perguntou Roquinho à beira da impaciência.
- A história de um Roque que até bate na mulher. O que vale é que não pode ser você.
- E então porquê? – Espantou-se ele.
- Elementar, meu caro Roque – condescendeu a amiga. Olhe, primeiro, porque este não tem americana; e depois, porque Roque só há um: o desta sua amiguinha e mais nenhum.”

Segue-se Sérgio Godinho e “Cuidado com as Imitações”.
“Cuidado com as imitações” é um tema do álbum “Campolide” de Sérgio Godinho, estávamos no ano de 1979.




Sérgio Godinho - Cuidado com as imitações

sábado, 15 de abril de 2017

The Eagles - Take It Easy

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  



Mais um momento para matar saudades do programa “pão com manteiga” e de “O Roque e a Amiga”, claro:
“Roque procurava, de gatas, debaixo da secretária, revelando entre dentes e pela linguagem mais descontrolada os sentimentos mais sórdidos.
A amiga, ao fim de algum tempo, não pôde deixar de intervir e perguntou:
- Mas o que é que você anda para aí a fazer de gatas?
Roque sublimou a sua linguagem e respondeu, cheio de aprumo:
- Falta-me um parafuso.
A amiga encostou-se à secretária e disse calmamente, olhando o verniz das unhas:
- Eu sei, Roque. Mas olhe que já não o tinha quando eu o conheci.”

E ouve-se “Take It Easy” dos The Eagles.
“Take It Easy” é o primeiro êxito do reconhecido grupo de country-rock norte-americano The Eagles decorria o ano de 1972.




The Eagles - Take It Easy

sexta-feira, 14 de abril de 2017

George Thorogood - Move It On Over

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Continuemos com os textos de “O Roque e a Amiga”, nunca são demais.
Era o programa de rádio “pão com manteiga”:
“O vizinho de cima, já de idade, subia a escada com dificuldade. Ao chegar ao patamar, deu com a amiga que, com ar acabado, metia a chave à porta.
O vizinho respirou fundo, tirou o chapéu e cumprimentou afável:
-Bom-dia, minha senhora. Tudo bem, em sua casa?
A amiga fez que sim, com a cabeça.
- Desculpe eu perguntar, mas como não tenho ouvido a música aos gritos, pensei que alguém estivesse doente…
- Não, não – cortou a amiga. – O roque é que não está cá.
- Ah! Trabalho, não? 
A amiga pôs os olhos no chão. E passado um instante, apontando com a cabeça a porta do lado, murmurou com a voz embargada:
- Não… A americana fugiu com ele…
O vizinho avançou um passo, consolador:
- Não fique assim, não vale a pena. Afinal de contas, podia ser pior…
- Pior? – Espantou-se a amiga.
- Claro – disse o vizinho sorrindo cinicamente. – Ela podia trazê-lo de volta.”

E ouve-se “Move It On Over”, o rock americano de George Thorogood.

“Move It On Over”, ou a história de um homem que, chegando tarde a casa encontra a fechadura da porta mudada e assim é obrigado a dormir na casota do cão, é um tema composto em 1947 por Hank Williams.
Um tema country aqui numa versão roqueira de George Thorogood decorria o ano de 1978.




George Thorogood - Move It On Over

quinta-feira, 13 de abril de 2017

John Lennon - Rip It Up

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


“O Roque e a amiga” era um dos segmentos que compunha o saudoso programa “pão com manteiga”.
Textos escritos por Bernardo Brito e Cunha e lidos pelo Carlos Cruz, fiquemos com mais um:
“Roque meteu a chave à porta e, ouvindo acordes de um tango, franziu o sobrolho, interrogativo.
A amiga, aparecendo à porta da cozinha secando uma última lágrima, deu de caras com Roque que, sorrindo, lhe oferecia um ramo de cravos. Vendo-a descomposta, Roque perguntou, apaziguador:
- Mas então o que é isso?
A mãe surgiu por trás da amiga, protectora. Roque avançou rápido, beijou-a prodigamente e perguntou afável:
- Então, minha querida sogra, por cá?
- Não me beije – deitou-lhe a sogra, tarde demais. – Você é um monstro!
- Eu? – Surpreendeu-se Roque, voltando-se, inocente, para a amiga.
- É, Roque – a amiga hesitou. – Sabe… você às vezes excede um bocadinho a minha escala… 
Roque abraçou-a pela cintura e perguntou, quase meigo:
- Não é por causa da americana, pois não?
A amiga sorriu ao de leve.
- Não Roque – e acrescentou:  Estou tão contente por você ter voltado!
A amiga beijou-o longamente e a mãe insurgiu-se:
- Mas então… tanto barulho para nada?
A amiga voltou-se para a mãe e, piscando-lhe o olho, murmurou:
- É que o Roque mãe… O Roque é diferente: o Roque é outra música.”

E ouve-se “Rip It Up” de John Lennon.
“Rip It Up” é uma canção, de 1956, de Little Richard, aqui integrada no meddley “Rip It Up/Ready Teddy” e interpretado por John Lennon. Faz parte do álbum “Rock’n’Roll” de 1975.




John Lennon - Rip It Up_Ready Teddy

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Sailor - A Gass of Champagne

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Continuamos com estes bem humorados textos de "O Roque e a Amiga", parte integrante do programa da rádio dos anos 80 "pão com manteiga". Aqui vai mais um:
"A amiga entrou em casa, esbaforida. Encheu um cálice de Porto e. vindo sentar-se junto de Roque, que alinhava as  cabeças do gravador, perguntou:
- Sentiu a minha falta?
Roque olhou-a sobressaltado, como se acordasse e respondeu:
-Claro! Onde é que está a minha chave de parafusos, aquela pequenina?
- Se é só por isso que você sente a minha falta, mais valia não ter vindo.
Bebeu p resto de Porto, ligou a telefonia e, indo buscar o aspirador, começou a limpar o corredor. Passado um pouco, gritou para Roque:
- Fui esta tarde ao psicanalista.
- Ah sim? - desinteressou-se Roque?
- E sabe o que ele me disse?
Roque lixou com cuidado a cabeça antes de responder:
- Não faço ideia.
Que eu devo ter um complexo de Electra - desligou o aspirador e veio encostar-se ao umbral da porta do escritório. E insistiu:
- Você acha que eu tenho complexo de Electra?
Roque agradeceu mentalmente o ruído que desaparecera e respondeu:
- Acho que sim: de Electra-doméstica."


E ouve-se "A Glass of Champagne" dos Sailor. A canção, de 1975, a mais conhecida do grupo Pop britânico de pouco sucesso Sailor aqui a soar aos Roxy Music.




Sailor - A Gass of Champagne

terça-feira, 11 de abril de 2017

Fats Domino - Ain't That a Shame

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Mais um Regresso ao Passado com os deliciosos textos de “O Roque e a Amiga” do programa dos anos 80 “pão com manteiga”.
Aqui vai mais um:
“ – Roque! – gritou a amiga.
- Que foi?
– Perguntou Roque, continuando a martelar o salto da bota.
- Chegue cá, ’tá bem?
Roque olhou o salto da bota, experimentou a sua solidez e, ao pé-coxinho, arrastou-se até à sala.
- Que há? A amiga, sentada no sofá, tinha à sua frente um saco cheio de meadas de lã.
- Vou fazer um pull-over para lhe oferecer no dia dos anos.
- Eu já não faço anos – resmungou Roque.
- Ora, deixe-se disso: entre nós não são precisas essas coisas. O que eu queria, era que você me ajudasse a dobar a lã.
Roque mexeu os dedos do pé descalço.
- Mas eu tenho ali umas cassettes…
- As cassettes não são para os teus anos e podem esperar dez minutos – declarou, peremptória, a amiga. - Mas é que eu não sei dobar lã.
- Qualquer pessoa sabe, porque não tem nada que saber.
Roque olhou tristemente a lã. Pegou-lhe e declarou:
- Não consigo descobrir o fio à meada.
- Está aqui a ponta, Roque. Eu agora seguro a meada assim – disse a amiga, executando – e você vai fazendo um novelo.
- Ná, não sou capaz. E tenho ali umas cassettes… 
- Claro que é capaz – disse a amiga sem pachorra.
– Faça como eu lhe digo, Roque: enrole.”

E ouve-se Fats Domino e o seu “Ain’t That a Shame”.
“Ain’t That a Shame “ é uma canção gravada em 1955 por Fats Domino (1928-), conhecido pianista de Blues e Rock’n’Roll.




Fats Domino - Ain't That a Shame

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Cat Stevens - Here Comes My Wife

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Mais um Regresso ao Passado com o programa “pão com manteiga” dos idos anos 80, mais um texto de “O Roque e a amiga” com a respectiva música:
“Roque limpava um disco quando a amiga, sem tirar os olhos da televisão, lhe disse:
- Você está ver isto, Roque? Um bígamo com cinco mulheres foi hoje a tribunal e pediu a absolvição.
Roque deitou mais água destilada na flanela e perguntou:
- E deram-lha, naturalmente?
- Claro que não, Roque! Onde é que você tem a cabeça? Um homem casado, com filhos, e com mais quatro mulheres! O que é que ele esperava?
Roque encolheu os ombros e não disse nada.
- Não me diga que você não acha que a família deve ser preservada…
Roque olhou as espiras em contraluz e começou:
- Para falar com toda a franqueza, eu acho que ele devia ter as suas razões e, vistas bem as coisas, cinco mulheres não é tanto assim. Eu próprio …
A amiga interrompeu rapidamente:
- Não estou interessada em ouvir detalhes da sua vida passada, Roque. Faça o favor de me poupar a isso.
Roque pousou a flanela, guardou o disco, olhou a amiga com ar cansado e disse:
- Descobri agora mesmo que não é preciso ser-se bígamo para ter uma mulher a mais.”

E ouve-se “Here Comes My Wife” um tema de Cat Stevens editado em Single em 1968.




Cat Stevens - Here Comes My Wife

domingo, 9 de abril de 2017

Bette Midler - Mr. Rockefeller

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Eis o primeiro texto de "O Roque e a Amiga" que surge no livro:

"A amiga chegou da rua, fechou a porta com o pé e foi pousar os sacos na cozinha. Depois, chegando ao pé de Roque, que limpava com um algodão a cabeça do gravador, perguntou:
- Você sabe quanto custa uma couve?4Roque voltou-se, admirou o repolho e confessou a sua ignorância.
- Pois pode ficar a saber que custou um dinheirão!
Roque insistia no seu desconhecimento:
- E então?
- Então, Roque, parece que você não vive neste mundo. Nunca ouviu falar de inflação? - Roque fazia que sim, com a cabeça. - Roque, fico com cabelos brancos a explicar-lhe estas coisas.
Roque insistia:
- E então?
- Então, preciso de mais dinheiro, Roque. Será que você não percebe?
Roque percebeu. E voltando-se de novo para o gravador, ainda rosnou:
- Eu não me chamo Roque Feller!"

Seguiu-se "Mr. Rockefeller" da cantora Bette Midler.

Bette Midler cantora e actriz norte-americana, musicalmente destacaram-se os primeiros LP dos anos 70  e o filme "The Rose", de 1979, onde desempenha o papel de uma estrela de Rock.

"Mr. Rockefelle" pertence ao 3º LP "Songs for the New Depression" de 1976.




Bette Midler - Mr. Rockefeller

sábado, 8 de abril de 2017

Led Zeppelin - Rock and Roll

pão com manteiga - O Roque e a Amiga                                                                                  


Quer antes, quer depois, do 25 de Abril tivemos excelentes programas de rádio (bem não me posso pronunciar sobre os últimos anos, pois, infelizmente, pouca rádio tenho ouvido, mas pelas amostras julgo que já não é como era).

Nos primeiros anos da década de 80 um dos melhores programas era “pão com manteiga” de Carlos Cruz, José Duarte, Mário Zambujal e Bernardo Brito e Cunha (o BBC) e passava ao Domingos de manhã na Rádio Comercial. Com uma fórmula até então inédita foram os percursores de uma nova maneira de fazer humor que veio a fazer escola.

Uma das rubricas do programa era “O Roque e a amiga” escrita pelo BBC e é o motivo deste e dos próximos Regresso ao Passado. De seguida um dos textos de “O Roque e a amiga” e respectiva música:
 “A amiga pulou da cama, fresca, matinal, ainda cheia de orvalho e espreguiçou-se longamente em frente do espelho.
Deu o primeiro sorriso do dia a Roque, que a espreitava pelo canto do olho enquanto acendia a beata que apagara cuidadosamente na noite anterior.
A amiga voltou a olhar o espelho, sempre sorrindo e prendeu o cabelo com dois ganchos. Depois, saltou para a balança e o sorriso apagou-se.
- Que foi? – Perguntou Roque.
- Dois quilos a mais… – esclarece a amiga.
Roque deu uma pequena gargalhada.
- E você ri-se! – Enfureceu-se a amiga.
E encostando-se à cama perguntou:
- Onde é que está a graça, Roque?
Nova gargalhadinha:
- É que, por este andar, ainda passo a ser conhecido pelo Roque da pesada …” 

E passa de seguida “Rock and Roll” (uma das 8 faixas que compõem o aclamado 4º álbum do grupo Led Zeppelin, editado em 1971).




Led Zeppelin - Rock And Roll

pão com manteiga

Foi programa de rádio nos anos 80 e depois teve edição em livro, aliás 2 livros com textos nele lidos, era o "pão com manteiga". Os seus autores eram Carlos Cruz, José Duarte, Mário Zambujal, Bernardo Brito e Cunha Eduarda Ferreira e Orlando Neves. Com textos únicos de um humor nunca visto (ouvido) na rádio de então, vamos recordar, com as respectivas músicas, os trechos referentes à rubrica "O Roque e a Amiga".




Parte dos textos foram mais tarde publicados em livro sendo o primeiro atrevo-me a adiantar uma edição de 1987 (contrariamente ao que se encontra na net que refere o ano de 1980 - este foi o ano em que o programa começou), fazendo fé no final do Prefácio assinado por Carlos Cruz : "No ar, quinta, Feira de Março de 1987". Custou 200$00 ou seja 1€.

Algumas frases demonstrativas do humor  utilizado:

"Cem papas na língua é peso demais para a língua"

"Se, diariamente, lavar as mãos em ácido sulfúrico depressa perde o vício de roer as unhas"

"Depois de muitas diligências, inventou-se o comboio"

"A ginástica é óptima para as crianças. Cansa-as"

"Grave é uma palavra grave. Esdrúxula é uma palavra esdrúxula. Já o que é grave é que aguda é uma palavra grave!"


sexta-feira, 7 de abril de 2017

Nico - Chelsea Girls

Os anos 60 foram um verdadeiro viveiro, onde proliferaram em quantidade e qualidade as mais diferenciadas propostas musicais, muitas delas verdadeiramente inovadoras em relação ao que era dado ouvir até ao momento. Na história da música popular, a década de 60 é a que faz maior diferença entre o que se ouvia no seu início e no seu fim.

Hoje a recordação vai para Nico (1938-1988).
Nico, alemã de nascimento, é ainda muito nova que se inicia como modelo em Berlim. Aos 15 anos já está em Ibiza, ilha a que ficará para sempre ligada, mas é em Paris que continua a sua carreira de modelo e onde ganha notoriedade. Em 1959 participa no filme “La Dolce Vita” de Fellini. Em 1962 conhece o actor francês Alain Delon de quem virá a ter um filho.
Após ter travado conhecimento em 1964 com Brian Jones dos The Rolling Stones, surge a sua primeira gravação musical: “I´m Not Saying”, uma canção de Gordon Lightfoot com Jimmy Page na guitarra.
Entre Nova-Iorque e Paris, conhece Bob Dylan que a apresenta a Andy Warhol e a introduz no movimento underground Nova-Iorquino. Andy Warhol impõe-na como cantora no primeiro álbum dos Velvet Underground, e “Velvet Underground & Nico” ficará como o mais ignorado e o mais importante álbum da história do Rock. O grupo, que teria (e tem) uma importância fundamental na música moderna dos nossos dias,  era formado por John Cale, Lou Reed, Sterling Morrison, Maureen Tucker e a não desejada Nico, voz principal em "Femme Fatale", "All Tomorrow's Parties" e "I'll Be Your Mirror". A assinatura de Lou Reed ou Reed/Cale marca o vanguardismo de todas as composições. A voz forte, calma, arrastada, monocórdica de Nico, suaviza a agressividade patente ao longo de boa parte do álbum.




Filma com Paul Morrisey, toca com Tim Hardin, Tim Buckley e Jackson Browne, este então um jovem com 17 anos com quem chega a viver. Conhece, influencia e é influenciada por Jim Morrison e Leonard Cohen. Tem um caso com Iggy Pop que conhece quando John Cale produzia o primeiro álbum dos The Stooges.




Ainda na década de 60 grava os seus três primeiros e fundamentais álbuns. Com temas de Jackson Browne, Bob Dylan, Tim Hardin, Lou Reed e John Cale grava, em 1967, o primeiro registo de nome “Chelsea Girls”. É um disco de difícil definição, algures no folk de vanguarda, mas não é claro o seu enquadramento, era mais um dos caminhos que se abria à enorme diversidade e originalidade que então se vivia na música popular.
A escolha vai para o tema, título do álbum, “Chelsea Girls” de Lou Reed/Sterling Morrison.




Nico - Chelsea Girls

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Neil Young - Cowgirl In The Sand

(Um Regresso ao Passado mais longo que o habitual, mas merecido pois de Neil Young se trata)

Remontam a 1963 as primeiras gravações que Neil Young efectuou então com o seu primeiro grupo The Squires, mas é nos anos 1966/67 que Neil Young mostra as suas capacidades de compositor, no então excelente grupo Buffalo Springfield, e que tiveram alguma notoriedade.
Recordo-me de ouvir no final da década, sem na altura identificar o autor, temas como “Expecting to Fly”, “Broken Arrow” ou ainda “Burned”.
Comecemos por recordar “Expecting to Fly”, com uma construção atrevida, fora dos padrões tradicionais para a época, simplesmente maravilhoso.



Em 1969 dá início a uma carreia a solo que se prolonga até à actualidade com mais de 30 álbuns originais de estúdio, grava com enorme regularidade e normalmente presenteia-nos com discos de 4, 5 estrelas. Principalmente quando se centra nas áreas onde ele desenvolve o seu melhor: no Folk, no Rock (quando se faz acompanhar pelos Crazy Horses) e no country. Por vezes entra por áreas que não são claramente as suas e, regra geral, menos bem: no hard-rock (“Re-ac-tor” – 1981), no futurismo electrónico (“Trans” – 1982), no experimentalismo (“Le Noise” – 2010). Em entrevista à revista francesa "rock&folk" de Outubro de 1982, à pergunta sobre a necessidade de experimentar novas formas musicais, ele responde:
“ J’en ai besoin. Peut-être que les autres pensent le contraire, mais c’est ainsi. Si on n’expérimente pas, c’est la mort.” 

Como que se alimenta nas suas experiências para voltar revigorado ao Folk-Rock. As minhas primeiras recordações de Neil Young vão para a eterna “Cowgirl in the Sand” do 2º álbum “Everybody know this is nowhere” decorria o ano de 1969. Das inúmeras versões que Neil Young tem feito de “Cowgirl in the Sand”, longas, curtas, eléctricas ou acústicas, aqui vão 2 extremos.

“Cowgirl in the Sand”, 19 minutos eléctricos de Neil Young (71 anos!!) com The Promised of the Real, em 2016.




“Cowgirl in the Sand”, 4 minutos acústicos de Neil Young, em 2007.



No original, não são 19, nem 4, são 10 belos minutos a não perder.




Neil Young - Cowgirl In The Sand

quarta-feira, 5 de abril de 2017

The Moody Blues - House Of Four Doors

Bom! De tempos a tempos, temos que regressar aos The Moody Blues. Aos bons velhos The Moody Blues.

Já os revisitámos várias vezes no conjunto dos primeiros e melhores álbuns do grupo e ainda num Single nunca editado em álbum ("Fly Me High" de 1967) assim como bela canção de 2003. Agora é a vez de voltar ao maravilhoso “In Search of the Lost Chord”, era o 2º álbum (ignorando “The Magnificent Moodies” de 1965) e decorria o ano de 1968. “House Of Four Doors” é o tema eleito para recordar este magnífico álbum. O melhor de 1968, de acordo com o programa “Em Órbita” já aqui tantas vezes citado, e que a ele se referia do seguinte modo:
"O requinte máximo de uma encenação musical para disco. A afirmação categórica de um grupo que legou em 1968 uma experiência única em música popular. «In search Of The Lost Chord», é um libelo contra o mau gosto, uma impugnação ao que é caduco, cabotino e fácil. Um desafio de continuidade … Um repto à imaginação criadora de cada um.” 






Quanto ao tema “House Of Four Doors”, é uma breve viagem pela história da música, na primeira porta que se abre é a música medieval (viola acústica/flauta), na segunda, a música barroca (cravo/violoncelo), na terceira, a música clássica (mellotron/piano) e finalmente na quarta a música moderna que abria caminho para o tema seguinte “A Legend Of A Mind” em referência a Timothy Leary e ao mundo do LSD.

Como dizia Tony Clarke (maestro no primeiro álbum “Days of Future Passed”), na capa interior de “In Search of the Lost Chord”, a propósito de neste álbum todos os sons serem tocados na totalidade pelos elementos dos The Moody Blues:
 “… they will be the smallest symphony orchestra in the word.” 

O melhor mesmo seria ouvir o disco todo, para quem não puder, aqui fica “House Of Four Doors”.




Moody Blues - House of Four Doors

terça-feira, 4 de abril de 2017

Sandy Denny - Who Knows Where The Time Goes

Alexandra Elene MacLean Denny (1947-1978), ficou conhecida por Sandy Denny.

Muito cedo aprendeu a tocar piano e viola e em meados dos anos 60 estudava no Kingston Art College, então também frequentado por Jimmy Page (Led Zeppelin), Eric Clapton e John Renbourn (Pentangle). Começa a tocar, e a ser notada, em pubs londrinos onde cantava canções de Bob Dylan, Tom Paxton e Pete Seeger e no início de 1967, a convite de Alex Campbell, efectua as primeiras gravações de estúdio. “Alex Campbell & Friends” e “Sandy & Johnny” são o resultado, mais tarde compilado no álbum “The Original Sandy Denny”. Na capa podia-se ler o seguinte texto do então produtor Marcel Rodd:
“…uma voz genial, capaz de, sem esforço, produzir arpejos, trémolos e escalas como se estivesse a afinar um instrumento sobre o qual iria exercer um domínio absoluto (…). Mal me tinha apercebido que tinha transportado para o nosso estúdio uma das maiores cantoras com que este país seria abençoado.”

Entretanto Dave Cousins (dos The Strawbs) ouviu-a cantar no “The Troubadour” e recorda assim a noite:
“Fui lá na noite dos cantores numa terça-feira e, de repente, lá estava a melhor voz que eu alguma vez tinha ouvido. (…) Eu não sei o que se passou comigo, fui até ela logo de seguida, apresentei-me e convidei-a a integrar The Strawbs. Para minha surpresa ela disse que sim…” 

É assim que ainda em 1967, é gravado “All Our Own Work”, mais tarde intitulado “Sandy Denny And The Strawbs”. A súbita saída de Sandy Denny para os Fairport Convention levaria a que este disco ficasse inédito até 1973 (auge da popularidade de Sandy e dos The Strawbs).




Sandy, então muito jovem, é o destaque maior, mas em algumas faixas denuncia ainda, reconheçamos, uma voz ainda não totalmente amadurecida. O realce vai directo para a única faixa assinada por ela, a magistral “Who Knows Where The Time Goes” que ficaria como a imagem de marca de Sandy Denny (uma cópia de “Who Knows Where The Time Goes” chegaria, no outro lado do atlântico, às mãos de Judy Collins, e ainda em 1968 Judy faz a sua versão de “Who Knows Where The Time Goes” e dá-lhe o título ao álbum desse mesmo ano). Mas a melhor versão e primeiramente conhecida de Sandy Denny é a gravada em 1969 com os Fairport Convention. A esta canção havemos de voltar, para já fiquemos então com a primeira versão de “Who Knows Where The Time Goes”, estávamos ainda em 1967.




Sandy Denny - Who Knows Where The Time Goes

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Deep Purple - Third Movement - Vivace - Presto

A década de 60 foi do ponto de vista musical muito abonada.

Teve também um desenvolvimento muito peculiar sendo o início e o fim da década radicalmente diferentes. Em particular na segunda metade verificaram-se movimentos musicais que pouco antes seriam impensáveis, entre eles a fusão do Rock com a música Clássica, muito em virtude da formação musical que alguns músicos evidenciavam.
De entre as várias experiências o destaque hoje vai para os Deep Purple que em 1969 gravaram ao vivo o “Concerto for Group and Orchestra “ no Royal Albert Hall com a Royal Plilarmonic Orchestra. O Concerto escrito por John Lord (1941-2012), teclista do grupo, é composto por 3 movimentos, sendo o vídeo seguinte correspondente ao final do “Third Movement:Vivace-Presto”.





Este registo seria alvo de acérrimas críticas, os defensores clamando pelo vanguardismo que o Rock atingia, longe do primarismo do início da década, outros como Jorge Lima Barreto que na edição de Julho de 1971 do jornal “a memória do elefante” escrevia:
“A fusão pop-música clássica é-nos tendenciosamente apresentada como uma forma erudita.” e “John Lord, dentro da sociedade de consumo, satisfaz a ansiedade pequeno-burguesa da erudição. Para quê ouvir Bach, Beethoven ou Ravel se existe John Lord; se nessas monótonas orquestras não há nada pop? (pergunta o menino-psicadélico-mediocrizado).”
A cada um o seu juízo.

Agora o “encore” do concerto com a repetição da parte final do mesmo 3º movimento (o mais bem conseguido na fórmula Rock-Clássico).




Deep Purple - Encore - Third Movement - Vivace - Presto (Part)

domingo, 2 de abril de 2017

The Beatles - Revolution 1

Ainda na década de 60 mais um conjunto de canções sem nenhum elo de ligação ( a não ser serem da mesma época, e já é muito), simplesmente porque às duas por três, me vêm à memória e dou-me a cantarolar algumas delas.
E para começar mais um Regresso ao Passado com The Beatles.

Contrariamente a muitos dos grupos Pop-Rock, onde os primeiros álbuns são os mais interessantes e depois vivem, em decrescendo, espremendo a mesma fórmula até à exaustão, na discografia dos The Beatles é nítida, a contínua evolução musical, sendo a segunda metade, pós-1966, claramente superior à primeira.
Durante muitos anos “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” foi o meu álbum preferido. De mim e de quase todo o mundo. Aliás, as críticas vão, praticamente todas, no sentido de considerá-lo o melhor disco dos The Beatles e de sempre. No entanto, talvez pela “saturação”, outros registos dos The Beatles têm feito deslocar a minha preferência, distinguindo-se, actualmente, o duplo-álbum “branco” de 1968. A cada audição, a contínua satisfação de novas descobertas, na variadíssima palete sonora que o álbum contém (do Folk ao pré-Punk, do Rock à Música Concreta). E a sensação de audição “pela primeira vez” acontece como em mais nenhum álbum deles. Experimente-se ouvir “Piggies”, “Rocky Raccoon”, “Mother Nature’s Son”, “Long, Long, Long” ou ainda “Revolution 9/Good Night” e ver se não tenho razão. O único ponto negro é o escusado “Ob-La-Di, Ob-La-Da” mas enfim “no melhor pano cai a nódoa”.



Depois do “Verão do Amor” de 1967, a “Primavera Revolucionária” de Maio de 1968 leva John Lennon a escrever a sua “revolution”, assim:

“You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world
You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world
But when you talk about destruction
Don't you know you can count me out” 


É o início de “Revolution 1” que agora podemos ouvir.




The Beatles - Revolution 1