terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Roger Sarbib - Nosso Concerto

Conhecíamos os irmãos André e Jean Sarbib (nascidos no Porto) actualmente reconhecidos músicos de Jazz, o primeiro cá em Portugal, o segundo a viver em Nova Iorque. Não conhecia o Roger Sarbib (1906-1993) pai de André e de Jean.

A informação sobre Roger Sarbib é muito escassa pelo que me socorro quase exclusivamente da “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX”. Ficamos assim a saber que Roger Sarbib nasceu na Argélia, fez os seus estudos musicais em Paris. Na década de 30 “acompanhou ao piano alguns dos mais consagrados cantores da música ligeira francesa, entre os quais Charles Trenet, Tino Rissi, Maurice Chevalier e Edith Piaf.”

“Com a entrada das tropas alemãs em Paris (1940) deslocou-se para Espanha…” e “Fixou-se no Porto em 1945…”, “Até 1963 tocou e dirigiu um conjunto que actuava em bailes e festas…”, “… em 1963 fixou-se na Madeira…”. Ainda, de acordo com a mesma fonte, “As suas composições e arranjos reflectem um apurado sentido melódico e um especial cuidado na conjugação da melodia e dos contracantos com o discurso harmónico.” 

Quando a música moderna despontava em Portugal, alguns estrangeiros a viver cá, Roger Sarbib, mas também Thilo Krasmann, Walter Behrend, Shegundo Galarza, eram preponderantes em ritmos bem dançantes, Bolero, Fox, Twist ou Slow Rock como “Nosso Concerto” o tema escolhido do primeiro EP de Roger Sarbib de 1961.




O original “Il nostro concerto”, é do pianista e cantor italiano Umberto Bindi (1932-2002) de quem podemos ver o vídeo.




Agora “Nosso Concerto” por Roger Sarbib, estamos no ano de 1961.




Roger Sarbib - Nosso Concerto

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Duo Ouro Negro - Cuando Calienta el Sol

Retorno ao início dos anos 60 para recordarmos mais algumas canções de interpretes portugueses que marcaram uma época e que nos ficaram na memória. Começamos com o Duo Ouro Negro.


No início chamavam-se somente Ouro Negro e tiveram o seu começo de carreira em Angola onde se estrearam em público em 1957. Ainda antes do final da década actuam em Lisboa e no Porto. Em 1961 tinham já 3 EP gravados o que seria o princípio de um legado de cerca de uma centena de registos entre o formato Single, EP e LP. De regresso a Angola em 1961, o duo transforma-se em trio, retornando a duo, Duo Ouro Negro, definitivamente em 1963. Neste período gravam mais 5 EP com temas fundamentalmente baseados no folclore angolano. Depois foi o êxito que se sabe com espectáculos nos 4 cantos do mundo, tendo destaque neste começo de internacionalização o “Olympia” de Paris em 1965 e em 1966 a “Salle Garnier” da Ópera de Monte Carlo.

Mas, para já, não nos adiantemos no tempo, fiquemos ainda na fase primeira do Duo Ouro Negro ou melhor Ouro Negro em trio, depois de já termos recordado o primeiro EP com “Muxima”, vamos para o último desta fase (era já o 8º EP) gravado em 1962 com “Cuando Calienta el Sol”.






O EP “Cuando Calienta el Sol”, com o acompanhamento de Thilo’s Combo, contrariamente a todos os anteriores de forte influência do folclore angolano, aposta em sucessos internacionais como “Cuando Caliente el Sol”, “Cavaleiros do Céu” (versão de “(Ghost) Riders in the Sky”) e “Non, je ne regrette rien” de Edith Piaf, provavelmente já a pensar numa internacionalização então eminente.

E é assim que recordamos de novo o Duo Ouro Negro, agora, com a versão de “Cuando Caliente el Sol”, canção então muito popular e que muito se ouvia, nomeadamente, no original dos cubanos radicados no México, Hermanos Rigual.




Duo Ouro Negro - Cuando Calienta el Sol

domingo, 29 de janeiro de 2017

Nuno Rodrigues - Versos

Algumas memórias de 2016

Na música popular portuguesa, o Fado continuou a dominar o ano de 2016. Se, nesta área, já não assistimos a nada de verdadeiramente inovador no novo Fado que este milénio nos trouxe, continua a ser dominador e a afirmar-se no mercado nacional.

Nesta área destacam-se:

Ricardo Ribeiro - Hoje É Assim, Amanhã Não Sei
Gisela João - Nua
Cristina Branco - Menina

Faltaram Camané e Ana Moura ainda a viver dos sucessos de 2015

Vindos do Fado, mas cada vez mais longe dele, tivemos António Zambujo com "Até Pensei que Fosse Minha" em tributo a Chico Buarque e Carminho com "Carminho Canta Tom Jobim" em tributo a Tom Jobim.

No Pop Rock destacaram-se Capitão Fausto com "Têm os Dia Contados", cada vez mais reconhecidos e para muitos o melhor disco português do ano, Samuel Úria com "Carga de Ombro", já com uma vasta discografia mas ainda não suficientemente divulgado, em sonoridades mais afastadas Rodrigo Leão em parceria com o australiano Scott Matthew continua uma sólida carreira a solo que começou com "Ave Mundi Luminar" em 1993.

Menos divulgados mas nem por isso menos importantes dois discos de 2016 que gostamos particularmente, de Old Jerusalem, o portuense Francisco Silva que foi buscar o seu nome artístico a uma canção do seu mentor Will Oldham (Bonnie Prince Billy) no tempo dos Palace Music, assina mais um álbum intimista de nome "A Rose is a Rose is a Rose is a Rose" a demonstrar uma evolução segura e consistente.





Finalmente o disco que terá sido em 2016 mais ignorado, "Pérolas d'Alma" de Nuno Rodrigues. Aos 67 anos Nuno Rodrigues (ex-Musica Novarum, ex-Banda do Casaco) assina o primeiro disco a solo musicando a poesia de Florbela Espanca. Um disco de rara beleza, cuidadosamente trabalhado a colocá-lo, claramente, entre o melhor que 2016 nos deixou.






Nuno Rodrigues - Versos

sábado, 28 de janeiro de 2017

Fotheringay - Nothing More

Algumas memórias de 2016

Nunca fomos particular adeptos de colectâneas e mesmo de muitas gravações ao vivo que nos pareciam ter um carácter excessivamente comercial, correspondendo muitas das vezes a situações de menor criatividade dos seus autores  e assim preencherem espaços temporais que doutra forma seriam difíceis de o fazer. Não acrescentavam pois nada de novo ao que já era conhecido até então.

É claro que houve sempre excepções, em particular nos discos ao vivo, que permitiam por vezes captar de forma genuína a prestação dos músicos sem as ajudas de estúdio. Lembramo-nos, por exemplo, de discos como "Absolutely Live" dos The Doors, "Four Way Streets" dos Crosby, Stills, Nash & Young ou "It's Too Late To Stop Now" de Van Morrison, para ficarmos somente nos mais antigos.
Mais recentemente começaram a tornar-se usuais a edição de gravações, guardadas ou descobertas. que vêm complementar a discografia original, por vezes já terminada, de grupos e músicos que fizeram as delícias da nossa juventude.

O ano de 2016 foi fértil em edições de arquivo, eis algumas que se recomendam.

Pink Floyd - The Early Years 1965-1972
Em duas versões, duplo CD e caixa de 32 discos. Oportunidade de conhecer melhor o fase mais interessante deste histórico grupo.

Van Morrison - ...It's Too Late To Stop Now...Volumes II, III, IV & DVD
Depois do maravilhoso duplo ao vivo "It´s Too Late Too Stop Know" saído em 1974 com gravações de 1973 em Los Angeles, Santa Monica e Londres, eis uma expansão desses concertos com um conjunto de gravações completamente inéditas.
Volume II - gravado ao vivo no Troubadour, Los Angeles, a 23 de Maio de 1973
Volume III - gravado ao vivo em Santa Monica Civic, Califórnia, a 29 de Junho de 1973
Volume IV - gravado ao vivo no Rainbow, Londres, a 23 e 24 de Julho de 1973
DVD - gravado ao vivo no Rainbow, Londres, a 23 e 24 de Julho de 1973

Uma pequena maravilha para os fãs de Van Morrison.

Sandy Denny - I've Always Kept A Unicorn
Quando se pensava que os arquivos de Sandy Denny estavam todos esmifrados, eis que somos surpreendidos pelo acústico duplo CD "I´ve Always Kept A Unicorn". Como diz o folheto que acompanha esta edição "O melhor álbum que Sandy Denny nunca fez".

Sandy Denny a solo, com The Strawbs, com os Fairport Convention, com os Fotheringay e com The Bunch, 40 canções superiormente interpretadas por Sandy Denny quer sejam demos, versões ao vivo, ou a solo só com viola ou piano. Sandy Denny despida de acompanhamento, sem necessidade de acompanhamento. Uma edição a mostrar porque é que Sandy Denny foi a maior cantora da sua geração.

Fotheringay - Nothing More
Ainda Sandy Denny. Fotheringay foi o grupo, de curta duração, formado em 1970 por Sandy Denny tendo na época sido editado o álbum "Fotheringay" uma referência obrigatória do melhor Folk-Rock de sempre.
Em 2008 foi editado "Fotheringay 2" aquele que deveria ter sido o 2º álbum do grupo mas que não se chegou a concretizar, Sandy Denny tinha iniciado carreira a solo.





"Nothing More" é composto por 3 CD e um DVD a saber:
Disco 1 - O álbum original de 1970 mais 6 faixas bónus
Disco 2 - O álbum original de 2008 mais 6 faixas bónus
Disco 3 - Faixas 1-9 gravadas ao vivo a 28 de Junho de 1970 em Roterdão, Holanda. Faixas 10-16 gravadas na BBC, Londres em 1970
Disco 4 - DVD com 4 faixas gravadas ao vivo para a TV, no Beat Club em Breman, Alemanha, a 28 de Novembro de 1970.

Ficamos para audição com o tema título desta colectânea "Nothing More", a canção de Sandy Denny que abria o álbum de 1970, agora na versão ao vivo em Roterdão que aparece no disco 3.




Fotheringay - Nothing More

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

PJ Harvey - The Community of Hope

Algumas memórias de 2016


Sem conhecermos, bem longe disso, toda a melhor música popular feita nos nossos dias, mesmo assim arriscamos um conjunto de discos de 2016 que vale a pena ouvir, não se dando com certeza o tempo por perdido.

Entre os novos consagrados não deixamos de destacar mais uma vez o belo disco que é "The Waiting Room", o 11º registo dos britânicos Tindersticks que já vão com 25 anos de idade. É, sem dúvida, um dos disco do ano.
Eis mais alguns a merecerem, de alguma forma, uma audição atenta:

Tortoise - The Catastrophist
Meilyr Jones - 2013
Kevin Morby - Singing Saw
Sturgill Simpson - A Sailor's Guide to Earth
Andrew Bird - Are You Serious
Ryley Walker - Golden Sings That Have Been Sung
Angel Olsen - My Woman
PJ Harvey - The Hope Six Demolition Project


Porque PJ Harvey nos marcou na sua passagem pelo Primavera Sound, destacamos este novo "The Hope Six Demolition Project", o nono, entre os melhores que o Rock alternativo nos deixou em 2016.



"The Community of Hope", a faixa de abertura, é a que fica para audição.




PJ Harvey - The Community of Hope

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Van Morrison - Too Late

Algumas memórias de 2016

Ainda o ano de 2016. Da geração de 60 já referimos os testemunhos finais de David Bowie e Leonard Cohen, ficam agora mais algumas achegas para alguns dos que nos encantaram na juventude e que de alguma forma confirmaram ou desiludiram as expectativas sempre altas que em relação a eles temos.
Marcaram presença, entre as nossas preferências, John Cale, Neil Young, Van Morrison, Paul Simon, mas também The Rolling Stones e Van der Graff Generator, a maior desilusão vai para Neil Young.

Não esteve mal com "Earth" o duplo CD ao vivo com os Promise of the Real, mas terminou o ano mal com o álbum a solo "Peace Trail", um disco feito à pressa onde as ideias musicais parecem não ter tido tempo para amadurecer, ficou um disco desenxabido, semi-acústico, semi-eléctrico, uma harmónica distorcida, resquícios electrónicos dos anos 80, vai directo para os discos menos conseguidos de Neil Young.




O destaque maior vai para Van Morrison. Com uma produção mais espaçada, o último disco de originais datava de 2012 com "Born To Sing: No Plan B" (passando por cima do álbum duetos de 2015), Van Morrison assina em "Keep Me Singing" um conjunto de 13 novas e refrescantes canções. Van Morrison já não inova, nem precisa, mas de uma forma descontraída e delicada continua a levar-nos para o seu irresistível universo onde o Rock, o Jazz, o Pop e o Blues se cruzam de forma única.

Altura para ouvir "Too Late".




Van Morrison - Too Late

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Shirley Collins - Death and the Lady

Algumas memórias de 2016

O ano de 2016 vai ficar marcado pelo desaparecimento de David Bowie e Leonard Cohen, duas figuras maiores da música popular dos últimos 50 anos. Mas também, para além de Prince e George Michael, e ignorados pelos media, pela morte de Paul Kantner (dos Jefferson Airplane de boa memória), de Alan Vega (pioneiro nos Suicide do movimento Punk nos Estados Unidos), de Glenn Frey (elemento dos conhecidos The Eagles), Leon Russel (“A Song For You” de 1970, uma pequena maravilha), Keith Emerson e Greg Lake (respetivamente dos The Nice e King Crimson e juntos nos Emerson, Lake and Palmer), George Martin (produtor dos The Beatles, ou melhor o 5º Beatle), Toots Thielemans (o belga que levou a harmónica ao Jazz), Gato Barbieri (saxofonista argentino de Jazz), Paul Bley (pianista de Jazz com particular destaque nos anos 60 e 70) e noutras músicas Pierre Boulez (compositor de vanguarda).

David Bowie e Leonard Cohen, deixaram-nos respectivamente “Blackstar” e “You Want It Darker” a facilmente figurarem entre os melhores do ano. Também os Tindersticks com “The Waiting Room” assinaram excelente disco a colocá-lo entre os melhores de Rock alternativo.

No entanto, o meu destaque vai para o álbum “Lodestar” de Shirley Collins, a obra do ano de 2016. Shirley Collins foi uma das mais importantes cantoras Folk dos anos 60 e 70, co-responsável pelo revivalismo da música tradicional que então se verificou.
Para além de discografia a solo, destacam-se as gravações com a irmã (Shirley and Dolly Collins), com The Albion Band e ainda com Davy Graham. Era de 1978 a sua última gravação, altura em que na sequência da separação de Ashley Hutchings (Fairport Convention, Steeleye Span, The Albion Band) e de acordo com afirmação dela: “My voice got damaged, my ego got damaged, and my heart and everything, and I stopped being able to sing” (www.theguardian.com).





Foram necessários 38 anos para voltar às gravações e, agora, aos 81 anos prenda-nos com “Lodestar”.

É da música Folk que nos chegam as melhores propostas, depois das irmãs Unthanks em 2015, o ano de 2016 é de Shirley Collins. Como amostra segue “Death and the Lady”.



Shirley Collins - Death and the Lady

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Paul Bley - Opus 1

Algumas memórias de 2016

Terminamos estas passagens por músicos que nos deixaram em 2016 com o músico de Jazz Paul Bley.
De origem canadiana Paul Bley vai no final da década de 40 para os Estados Unidos, relaciona-se com Oscar Peterson, Charlie Parker, Lester Young, Don Cherry, Ornette Coleman, Charlie Haden entre muitos outros. Deu nome a Carla Borg que passou a Carla Bley, a famosa pianista e compositora de Free-Jazz actualmente com 80 anos.




É de 1953 o primeiro registo a solo "Introducing Paul Bley" com o acompanhamento, nada mais nada menos que  Charles Mingus, no baixo, e Art Blakey na bateria. O tema inicial era uma composição de Paul Bley "Opus 1" que agora recordamos.




Paul Bley - Opus 1

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Gato Barbieri - In Search Of The Mystery/Michell

Algumas memórias de 2016


Gato Barbieri é mais um nome ligado ao fatídico ano de 2016. Falecido a 2 de Abril do ano passado, tinha, então, 83 anos de idade.

"Gato Barbieri, saxofonista argentino, começou com a requinta (clarinete) nas orquestras de milonga, antes de impor a sua sonoridade inimitável no sax tenor em contextos variados, do free ao latin jazz. Lírico e vociferante, andou lado a lado com a vanguarda dos anos 60 (Don Cherry, Carla Bley, Charlie Haden) antes de se tornar o tenor das alcovas e boites tropicais...", é assim que no livro "Os Grandes Criadores de Jazz" se encontra a caracterização de Gato Barbieri.

Nos anos 60 esteve ligado ao que de mais de vanguarda se fazia no Jazz, de Coltrane a Charlie Haden, nos anos 70 foi-se progressivamente aproximando de sonoridades latinas e composição para música de cinema ("O Último Tango em Paris", por exemplo).





É nesta fase inicial com Gato Barbieri a desbravar os caminhos do Free-Jazz que ficamos, recordamo-lo no seu primeiro LP a solo gravado em 1967 de nome "In Search Of The Mystery". Na face A temos "In Search Of The Mystery/Michelle" e no face B "Obession nº 2/Cinemateque". Lembramos os primeiros 7 minutos do lado A.




Gato Barbieri - In Search Of The Mystery/Michell

domingo, 22 de janeiro de 2017

Toots Thielemans - East Of The Sun

Algumas memórias de 2016

Aos 94 anos faleceu no ano passado Toots Thielemans.

Toots Thielemans foi um músico de Jazz, de nacionalidade belga, que se tornou particularmente conhecido como harmonicista. É no Jazz, onde o habitual é encontrar metais, percussões, teclados e cordas, que Toots Thielemans se vai fazer notar ao tocar harmónica.

Em "Os Grandes Criadores de Jazz", referindo-se a Toots Thielemans, pode-se ler:
"O harmonicista transforma o mais infantil dos instrumentos numa espécie de órgão-trompete através do qual a harmonia moderna pode «respirar» verdadeiramente."


Retirado do livro "Os Grandes Criadores do Jazz"

Depois da 2ª Guerra Mundial descobre o Be-Bop, no final da década de 40 toca em Paris com Sidney Bechet, Charlie Parker, Miles Davis e Max Roach, em 1952 muda-se para os Estados Unidos onde toca com os consagrados do Jazz, nomeadamente com Charlie Parker no famoso "Birdland".

Do mesmo livro, citando o próprio Toots Thielemans em entrevista a um dos autores do livro em 1980:
"O Jazz é como um duche... Há notas que escorrem e há outras que colam, que se agarram à pele."

Para recordar a música de Toots Thielemans, e não perder nenhuma nota, vamos ao álbum "Man Bites Harmonica!", editado em 1958, e recuperamos o tema de abertura "East Of The Sun".




Toots Thielemans - East Of The Sun

sábado, 21 de janeiro de 2017

Alan Vega - Jukebox Babe

Algumas memórias de 2016

Alan Vega foi mais um dos que faleceu no ano passado e que os media pouca atenção deram. Teve alguma polémica a sua idade real, pelo facto de aparentar ser mais novo, no entanto, tudo parece apontar que terá nascido em 1938 tendo falecido com 78 anos.

Em termos musicais ter-se-á iniciado no começo dos anos 70 com o duo Suicide que iria ter um papel relevante no movimento Punk nos Estados Unidos. O primeiro álbum dos Suicide data precisamente no ano mais relevante do movimento, ou seja 1977. Praticaram um Rock minimalista e experimental, com o primeiro álbum a lembrar os futuros Jesus and Mary Chain. O duo manter-se-ia de forma intermitente até à sua morte.





A carreira a solo verifica-se em 1980, já com 42 anos de idade, sendo este álbum homónimo que vamos recordar. A ele vamos buscar a faixa inicial "Jukebox Babe" numa sonoridade pós Punk e muita influência dos primórdios do Rock'n'Roll.




Alan Vega - Jukebox Babe

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Greg Lake - I Believe In Father Christmas

Algumas memórias de 2016

Mais uma figura do Rock progressivo que faleceu em 2016, depois de Keith Emerson foi Greg Lake.

Greg Lake deixou-nos a 7 de Dezembro passado com 69 anos de idade. Foi co-fundador com Robert Fripp dos famosos King Crimson tendo com eles gravado os dois primeiros seminais álbuns "In The Court Of Crimson King" e "In The Wake Of Poseidon" respectivamente em 1969 e 1970.
Ainda em 1970 é formado trio Emerson, Lake and Palmer onde se destaca como baixista, cantor e também compositor, é dele o popular tema "Lucky Man" que fechava o primeiro e melhor registo do grupo. A década de 70 foi feita de sucessivos LP nos Emerson, Lake and Palmer com progressivo decréscimo que o Rock progressivo sofreu ao longo da década.

O início da década de 80 é marcado com dois discos a solo de menor interesse e projectos diversificados, tour com os Asia, formação dos Emerson, Lake and Powell, regresso já nos anos 90 aos Emerson, Lake and Palmer. Neste século forma Greg Lake Band, faz concertos a solo, com Keith Emerson e mais uma vez Emerson, Lake and Palmer. Revivalismo de tempos passados mas nada de novo.

Na memória fica-nos a linda e inconfundível voz de Greg Lake em temas como "Epitaph, "I Talk To The Wind", "Lucky Man", "From The Beginning" ou "Take A Pebble". Vem ainda a propósito a voz de Greg Lake a cantar "Death Is Live" no final de "Pictures At An Exhibition".





Para recordação de Greg Lake ficamos com a primeira gravação em nome próprio, um Single de 1975 de nome "I Believe In Father Christmas".




Greg Lake - I Believe In Father Christmas

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Keith Emerson - Hello Sailor

Algumas memórias de 2016

2016 viu partir dois músicos que fizeram parte do trio Emerson, Lake and Palmer que teve particular êxito no início dos anos 70.

Primeiro foi Keith Emerson a 11 de Março, depois Greg Lake a 7 de Dezembro. Por cá, se não fosse a Net, os seus desaparecimentos teriam passado despercebidos. Hoje, lembramos Keith Emerson, amanhã, Greg Lake.

Keith Emerson (1944-2016) foi um virtuoso dos teclados, tendo sido notado em 1967 quando do lançamento do primeiro álbum dos The Nice que incluía a versão de "America" de Leonard Bernstein. Com The Nice está a génese do que viria a ficar conhecido por Rock Progressivo. Transpõe para o Rock compositores clássicos como Sibelius, Back e Tchaikovsky.

Mas é em 1970 ao formar o trio Emerson, Lake & Palmer, que vai conhecer o êxito e respectiva popularidade. O ponto mais alto foi precisamente, daquele ano, o 1º LP, do qual já tivemos oportunidade de recordar "Lucky Man". Daí em diante em trajectória descendente e pouco inspirada, mas de crescente popularidade, continuou a adaptar os clássicos , de Béla Bartók a Mussorgsky.




Com gravações a solo a partir de 1981 e futuros regressos aos The Nice e ELP, assim se prolongou a carreira de um dos mais prestigiados teclistas do Rock progressivo. Recordamo-lo no 1º LP a solo "Honky" e a faixa inicial "Hello Sailor".




Keith Emerson - Hello Sailor

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Leon Russel - A Song for You

Algumas memórias de 2016

Leon Russel foi mais uma figura do mundo do Rock, e suas variantes Blues-Rock, Folk-Rock, que nos deixou no ano de 2016.

Para além de destacado músico de estúdio, teve uma carreira a solo de particular interesse sobretudo na década de 70, tendo os seu discos de então tido o devido sucesso fundamentalmente nos Estados Unidos.
Participou na famosa tournée "Mad Dogs & Englishmen" de Joe Cocker e para ele compôs o êxito que foi "Delta Lady". A sua primeira gravação a solo data de 1970 e é o álbum homónimo que continha "A Song for You" que há muitos, muitos anos já não ouvíamos. Neste álbum participaram uma galeria surpreendente de notáveis, eis alguns: Klaus Voormann, Mick Jagger, George Harrison, Ringo Starr, Charlie Watts, Bill Wyman, Eric Clapton, Steve Winwood.




Leon Russel partiu a 13 de Novembro de 2016. Deixou-nos, entre muitas outras memórias, "A Song for You", uma das suas canções que mais versões teve. Uma bela recordação.




Leon Russel - A Song for You

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Paul Kantner - Let's Go Together

Algumas memórias de 2016

2016 viu desaparecer, da vida que não da música, dois sobreviventes da década de 60, primeiro David Bowie, depois Leonard Cohen, os dois a merecerem figurar entre o que de melhor o ano de 2016 nos deixou. Dois trabalhos, respectivamente, "" e "You Want It Dark" dos quais já aqui fizemos, a seu tempo, eco.
Outros nos deixaram no ano passado sem que a comunicação social, excepção para Prince e ainda George Michael, tenha feito a devida recordação. Eis alguns que partiram, para além dos já citados:

Paul Kantner (1941-2016)
Alan Vega (1938-2016)
Gleen Frey (1948-2016)
Leon Russel (1942-2016)
Keith Emerson (1944-2016)
Greg Lake (1947-2016)
Toots Thielemans (1922-2016)
Gato Barbieri (1932-2016)
Paul Bley (1932-2016)

Recordamos hoje Paul Kantner.

Paul Kantner ficará para a história como elemento fundador dos pioneiros do Rock psicadélico Jefferson Airplane. Foi nos Jefferson Airplane que Paul Kantner ficou conhecido tendo participado nos 7 álbuns de estúdio que realizaram entre 1966 e 1972 (também está presente no último álbum gravado pelo grupo no retorno de 1989). Fez parte de todas as formações dos sucedâneos dos Jefferson Airplane, os menos interessantes Jefferson Starship, entre 1974 e 2016.




Em 1970, com os Jefferson Airplane em desagregação, Paul Kantner grava, sob a designação de "Paul Kantner and the Jefferson Starship", o álbum conceptual "Blows Against the Empire". Nesta formação faziam parte, para além dos companheiros dos Jefferson Airplane repectivamente Peter Kaukonen, Jack Casady e Grace Slick, os conhecidos Jerry Garcia (Grateful Dead) e ainda David Crosby e Graham Nash (Crosby, Stills, Nash & Young).
Um conjunto de músicos de luxo para os ouvir agora em "Let's Go Together".




Paul Kantner - Let's Go Together

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Anar Band - Fantasma

Jorge Lima Barreto, enquanto músico, estreou-se em gravações, em 1976, em duo com o Rui Reininho, duo que tomou a designação de Anar Band e estará entre as primeiras gravações de música improvisada feita em Portugal.

Na capa do disco pode-se ler:
"O disco Anar Band é uma afirmação estética no panorama da música de vanguarda.
Resulta de nova tecnologia instrumental e duma visão metamusical das diversas linguagens da actualidade. Os instrumentos: sintetizador e guitarra eléctrica. Ornamentos percussivos, piano e piano preparado."




Na Face A (Jazz-Off) os temas "Aquaman", "Plasticman", "Batman" e "Superman", no lado B (Free-Li-Mo) os temas "Fantasma", "Sandokan", "Mandrake" e "Tarzan". Como mostra ficamos com "Fantasma" o início do lado B, ainda no mesmo texto:
"Em "Fantasma" delineam-se improvisações exclusivamente electrónicas, sendo o re-recording a exploração de sonoridade estriadas que se justapõem às massas lisas do solo."

(Se a memória não atraiçoa, assistimos a concerto do duo Anar Band no Teatro Gil Vicente em Coimbra, provavelmente em 1977, mas não conseguimos confirmar)



Anar Band - Fantasma

Jorge Lima Barreto

Boa parte dos artigos de Jazz publicados pela revista "Vida Mundial" e que aqui recuperámos eram assinados por Jorge Lima Barreto.
Jorge Lima Barreto (1949-2011), licenciado em História da Arte e dois doutoramentos com as teses "Música & Mass Media" e "Estética da comunicação e música pós moderna", foi para além de professor, musicólogo, músico, crítico e escritor. Recordamos, nos primeiros anos da década de 70, os seus polémicos artigos não só na revista "Vida Mundial" como no jornal "Expresso", no "mundo da canção" e em "A Memória do Elefante".

Também nos deixou um conjunto de livros dedicados ao Jazz. Lembro dois:

1 - "jazz-off" publicado pela Livraria Paisagem, Editora, no Porto em 1973. Na contra-capa pode-se ler:
"A cultura dominante impôs mundos separados, levou as artes à exaustão e continua explorando esse limite. O jazz pode garantir a sua semiosis (processo de criação) uma rotura com este estado de coisas porque é proveniente duma cultura diferente e dominada. Conjunto de signos estético-culturais (uma arte) o jazz é síntese de várias semânticas musicais, é um folclore planetário. A crítica cabe fazer emergir esses aspectos transformadores, liberta então da ideologia capitalista. Esta crítica de jazz não é apenas uma crítica ao jazz é também uma crítica à crítica do jazz (entendida esta como  divulgação paranóica de mercadoria e espectáculo). A verdadeira crítica de jazz começa numa permanente auto-crítica e culmina na revolução da qual o jazz é uma realidade implícita." - J. L. B.



2 - "Grande Música Negra" publicado por edições RÉS limitada, no Porto em 1975.

Começava Jorge Lima Barreto com "ANUNCIAÇÃO":
"Esta pequena antologia representa uma selecção de textos/retratos por mim editados antes de 1974 em revistas elitárias (como Vida Mundial), populares (como Mundo da Canção) ou «underground» (como Memória do Elefante e & Etc), sujeitos a revisões e actualizações mínimas.
Publicações essas que se perdiam na dispersão caótica que caracteriza toda a literatura de revistas e que podem assim ser unitariamente recuperadas pelos amadores de jazz em Portugal.
Como tal cada ensaio, crónica ou história é independente e sem qualquer relação.
Um acaso: uma crítica. Um achado: uma biografia. Uma sedução: um disco. Uma aventura: um tópico literário. Uma galeria de retratos. Textos, todos eles, marginais: cortados pela censura pidesca; ocultados pelos divulgadores fascistas e/ou burgueses; perdidos na imensidão da escrita de combate.
Reveladores, na totalidade, duma música de escravos; grandes figuras do jazz são os seus heróis."






domingo, 15 de janeiro de 2017

Duke Ellington - Prelude to a Kiss

A revista "Vida Mundial" e a música popular


A 9, 10 e 11 de Novembro de 1973 realizou-se o 3º Festival de Jazz de Cascais, onde, mais uma vez, a lista de consagrados do mundo do Jazz e do Blues era uma realidade. Por lá passaram, entre outros, Woody Herman, Duke Ellington, Sarah Vaughan, Young Giants Of Jazz, Roland Kirk, e BB King.
Sarah Vaughan e Young Giants Of Jazz retidos em Milão devido ao mau tempo, falharam o 2º dia do festival, actuando, no entanto, na segunda-feira seguinte em data extra.

""Jazz" em Cascais: De Ellington a B. B.King" era o título do artigo saído no nº 1797, da revista "Vida Mundial", de 16 de Dezembro de 1973 que nos fazia o relato daqueles dias de festival. O destaque maior ia para Duke Ellington.






Duke Ellington (1899-1974) actuou em Cascais poucos meses antes de falecer e de acordo com o artigo da "Vida Mundial", apresentava-o:"Um corpo cambaleante, passos procurados, cabelos longos brancos-pretos sob uma camisola azul", foi assim que uma multidão de 7 mil pessoas o viu em cascais, "Mais de meio século a tocar: Duke Kennedy Ellington, 74 anos, umas 2 mil composições gravadas."

"Prelude to a Kiss" é uma balada composta por Duke Ellington no remoto ano de 1938 e que agora recordamos na versão gravada, em quarteto, no álbum "Duke's Big 4" em 1973.



Duke Ellington - Prelude to a Kiss

sábado, 14 de janeiro de 2017

Elvin Jones - My Ship

A revista "Vida Mundial" e a música popular

O 2º Festival de Jazz de Cascais volta a ter, num país tão pobre, mas ávido, no consumo deste género musical, um cartaz de luxo. Phil Woods, Cannonball Adderley, Dave Brubeck, Jean-Luc Ponty, Elvin Jones, Jimmy Smith  e os portugueses Status são algumas das presenças naquele festival que ocorreu nos dias 11 e 12 de Novembro de 1972.





Desse festival dá Jorge Lima Barreto conta em artigo publicado na revista "Vida Mundial" nº 1750 de 22 de Dezembro daquele ano.
Sob o título "Museologia e "Avant-Garde"?" Jorge Lima Barreto discorre sobre aquele festival alinhando na crítica daqueles que acusavam o Festival de Jazz de Cascais de uma selecção musical "condicionada por pressões do imperialismo discográfico internacional" e defendendo uma maior aposta em "músicos de "jazz" de vanguarda".





As críticas negativas eram muitas, desde os portugueses Status, "o fiasco da ignorância, a defecação da insolência", a Dave Brubeck, ""jazz"-mostruário, "jazz"-mortuário", a Cannonball Adderley, "horribile visu, miserabile auditu", a Phil Woods "O agrupamento foi, consequentemente, incoerente, falho de unidade, aparentemente sólido na sonoridade inconfundível", a Jimmy Smith, "O sistema orgânico dum conjunto deste tipo é simplesmente lamentável".
Pela positiva, estava Jean-Luc Ponty, "Extremamente rico e imaginativo, o "jazz" deste trio evidenciou-se no certame", e Elvis Jones, "O grupo de Elvin Jones foi o conjunto cuja semântica jazzística melhor se encontrou definida".





Recuperamos Elvin Jones (1927-2004), que alguns meses antes de estar presente em Cascais grava ao vivo "Live at the Lighthouse", na Califórnia, duplo LP que seria editado em 1973. Elvin Jones - bateria, em quarteto com Steve Grossman - saxofones, Dave Liebman - saxofones e flauta e Gene Perla - baixo para ouvir "My Ship" um original de Ira Gershwin e Kurt Weill de 1941.




Elvin Jones - My Ship

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

José Afonso - A Morte Saiu À Rua

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Um total de 6 páginas era o espaço ocupado por longa entrevista que a revista "Vida Mundial" fez a José Afonso e que foi publicada no nº 1749 de 15 de Dezembro de 1972.

Começava assim o artigo sob o título  "Só Quero Ter O Meu Tamanho Real":
"Por um lado aceito que eu, para as pessoas, represento determinadas coisas. Portanto, para essas pessoas, sou uma realidade que não recuso. Por outro lado, em termos de apreciação, creio que nem aquilo que eu nem aquilo que as cantigas são se pode enquadrar numa bitola tão exigente como aquela que as pessoas me atribuem, nem eu, como cidadão, sou aquilo que me atribuem. Os mitos têm duas realidades. O mito é, normalmente, uma pessoa. E é aquilo que esta presenta na imagem popular. Portanto, há duas realidades. Eu, como pessoa, tenho determinado tamanho; eu, para os outros, tenho outro tamanho, que não é o meu tamanho real; e, para os outros, ainda sou aquele indivíduo cujo mito que é preciso destruir."




Esta entrevista decorreu após a polémica participação de José Afonso no VII Festival Internacional da Canção Popular, no Rio de Janeiro, um festival de canções a eliminar e onde José Afonso, que abriu o festival, não foi bem recebido com a sua "A Morte Sai à Rua". O mesmo aconteceu a Paulo de Carvalho com "Maria, Vida Fria", assim com a George Moustaki, Astor Piazzzola, Richard Harris, todos desclassificados (a vitória foi, já agora, para David Clayton-Thomas, em interregno dos Blood, Sweat and Tears, com "Nobody Calls Me Prophet") .









Céptico em relação à música portuguesa, "A música portuguesa, possivelmente, até não existe", existe sim a música comercial "de duvidoso gosto" e a música tradicional está praticamente inacessível, "está compilada por Jacometti" e nas "zonas mais subdesenvolvidas".
Na sua modéstia não destacava a importância da sua própria contribuição na defesa e desenvolvimento da melhor música popular portuguesa.
Mais um excelente contributo dava com "Eu Vou Ser Como A Toupeira", acabado de gravar entre 6 e 13 de Novembro, e nele estava "A Morte Saiu À Rua". Um momento inesquecível de José Afonso.




José Afonso - A Morte Saiu À Rua

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Georges Brassens - Mourir Pour Des Idées

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Entre 1952 e 1976 Georges Brassens gravou 14 álbuns de originais. Já o recordámos num artigo da revista "Vida Mundial" de 1969. Novo artigo, na mesma revista em 1972, novo pretexto para voltarmos a Georges Brassens. Em 1972 Brassens tem 50 anos e 20 de carreira, o artigo "Brassens, Ano XX" é publicado no nº 1741 de 20 de Outubro daquele ano.
Os 2 artigos medeiam a edição de 2 LP de Georges Brassens, "Misogynie à Part" e "Fernande" respectivamente o 12º e 13º da sua discografia. É também o regresso de Brassens à sala de espectáculos "Bobino":
"Georges Brassens renova, com o público do "Bobino", neste mês de Outubro, uma tradição interrompida em 1969, por razão de saúde..."




Deste álbum a escolha recai sobre "Mourir Pour Des Idées", um dos temas mais politizados de Georges Brassens, "Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente..." ou a recusa de qualquer fanatismo.




Georges Brassens - Mourir Pour Des Idées

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Charles Mingus - The Shoes of the Fisherman's Wife Are Some Jive Ass Slippers

A revista "Vida Mundial" e a música popular

Mais um artigo sobre Jazz da revista "Vida Mundial", mais um artigo de Jorge Lima Barreto. Estamos no ano de 1972, é o nº 1734 de 1 de Setembro e o artigo intitula-se "A Esquizoanálise no "jazz"". É mais uma abordagem polémica do seu autor, fazendo o contraponto da psicanálise dominante, repressiva e edipiana, com a esquizoanálise concreta, anti-repressiva, revolucionária.

"A esquizoanálise tem um único objetivo, que a máquina revolucionária, a máquina artística, a máquina analítica se tornem peças e engrenagens umas das outras” – Deleuze.

Diz Jorge Lima Barreto:
"E afinal o "jazz" não é (e tem sido) uma criação artística esquizofrénica? ...;
não é uma transmissão sonora concreta (opostamente à imaginária da música ocidental); ...;
não tem sido significante, material (e tenho apontado estes elementos constitutivos em artigos meus anteriores) ao invés de todas as ideologias metafísicas da música gastronómica?"





"Os grandes homens do "jazz", tidos como subprodutos humanos da máquina da castração, são, afinal, máquinas de desejo e, como tal, libertadoras."

"Ao dizer-se que Charles Mingus é esquizo, não se pretende enquadrá-lo no âmbito da doença mental, na alienação, quer-se significar que o contrabaixista faz parte de uma produção social da realidade, contra a exploração da qual luta (a mais-valia) e pela qual sofre os estigmas da atitude repressiva dos agentes perversos do capital."


Há quem defenda que a liberdade de improvisação que caracteriza o Jazz nasceu de situações de esquizofrenia. No Jazz encontram-se figuras que foram consideradas, para caracterizar situações de estados de consciência alterados, como Charlie Parker, de esquizofrenia experimental. Em relação a Charles Mingus são bem conhecidas as suas repentinas mudanças de humor que o levaram a ser conhecido como "The Angry Man of Jazz".

De Charles Mingus (1922-1979) recordamos do álbum "Let My Children Hear Music", precisamente do ano de 1972, a faixa de abertura "The Shoes of The Fisherman's Wife Are Some Jive Ass Slippers".



Charles Mingus - The Shoes of the Fisherman's Wife Are Some Jive Ass Slippers

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Sun Ra - Images

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Jorge Lima Barreto continua, em 1972, a escrever os seus artigos na revista "Vida Mundial" dando a conhecer as suas posições sobre o Jazz, uma música, por cá, mal tratada ou simplesmente ignorada.

No nº 1729 de 28 de Julho de 1972 assina mais um texto intitulado "Semiologia do Jazz" onde  reflecte e nos dá a sua visão sobre o Jazz, uma música que "... se esquematiza ou ordena segundo as leis não codificáveis pela musicologia ocidental, mas se reporta a estruturas culturais que estão no inconsciente dos negros, que subjugam em as absoluto as formas tradicionais de escrita e crítica musicais."







Depois de considerar Don Cherry e Sun Ra entre os "grandes" ("...os grandes como, como Penderecky ou Berio ou Stockausen, partilham em absoluto com homens do "jazz" tais como Don Cherry, Michel Portal, Sun Ra ou Gunter Humpel...") termina considerando que "O "jazz" não é uma ideologia mas sim uma acção libertadora".

Para audição a proposta é para Sun Ra (1914-1993), músico americano de Jazz, multifacetado, que nos deixou uma longa obra e novos caminhos para o Jazz que ele tanto explorou. Como amostra, do LP gravado em 1972, editado no ano seguinte, "Space Is The Place", a música "espacial" de Sun Ra com "Images".



Sun Ra - Images

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Cecil Taylor - Air

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Continuamos com alguns textos publicados pela revista "Vida Mundial". Estamos no ano de 1972, ano em que o Jazz, a partir de textos de Jorge Lima Barreto, teve particular divulgação naquela revista.
Vamos ao nº 1723 de 16 de Junho onde encontramos o artigo dedicado ao pianista Cecil Taylor intitulado "Cecil Taylor - O Libertador do «Jazz»".








Cecil Taylor era, ao que parece, um dos preferidos de Jorge Lima Barreto:
"O «jazz» é, em Taylor, um campo livre de tentativas múltiplas e desordenadas, a diversidade emocional, a fantasia anárquica da criação sonora."

Destacava-lhe então quatros discos, o primeiro referido é "The World Of Cecil Taylor", de 1960, onde Jorge Lima Barreto sublinha "A rapidez da improvisação, a acumulação caótica de signos monkianos, uma precipitação de frases hiper-«swingantes»." A faixa de abertura "Air" segue para audição (Cecil Taylor, piano; Buell Neidlinger, baixo; Denis Charles, bateria; Archie Shepp, saxofone).




Cecil Taylor - Air

domingo, 8 de janeiro de 2017

Bossa Jazz 3 - Outra Vez

A revista "Vida Mundial" e a música popular


Intitulado ""Jazz" em Portugal", Jorge Lima Barreto assina, no nº 1717, de 5 de Maio de 1972, da revista "Vida Mundial" mais um artigo dedicado ao Jazz, neste caso ao estado do Jazz no nosso país.
Pese a realização e o o êxito que no ano anterior tinha constituído o 1º Festival de Jazz de Cascais, a situação da música Jazz em Portugal era, naquela época, podemos dizer muito insípida.

O polémico Jorge Lima Barreto sabia disso e não perde oportunidade para criticar a situação.
Quer em relação aos divulgadores , acusando estes (Raul Calado, Luís Villas-Boas, Manuel Jorge Veloso, José Duarte) de "elitistas" e burgueses, quer em relação aos músicos que pretensamente faziam música Jazz ou próximo dela.
Ao grupo Bridge diz que "...foi um dos maiores "bluffs" da última temporada", Rao Kyao "... é das personalidades mais decepcionantes do "jazz""  (depois de passagem pela música de fusão Rock-Jazz grava o 1º LP de Jazz "Malpertuis" em 1976) e continua "O saxofonista Rui Cardoso poderia fazer algo de positivo caso se profissionalizasse no "jazz", o que não faz por razões económicas." (Rui Cardoso foi membro do Hot Clube de Portugal, teve alguma notoriedade nos anos 70 no grupo Rock Sindicato e na colaboração com músicos da área da música popular, Júlio Pereira, José Mário Branco, José Jorge Letria).






No lado das esperanças está ele próprio: "No Porto organizei a Anar Jazz Group que tem intenções estritamente dadaístas e desmistificadoras do pseudo-"jazz" nacional." (sob a designação Anar Band gravaria um disco experimental em 1977), está o contrabaixista Jean Sarbib que "... sofreu uma visível evolução e um prometedor vislumbramento do "jazz"." (Jean Sarbib, o músico português a ter maior destaque no mundo do Jazz, depois de colaborações, no final dos anos 60, início de 70, na área do Pop-Rock nacional, envereda por carreira internacional onde se destacam as colaborações com Archie Shepp, Cecil Taylor e Dexter Gordon) e ainda o pianista Marcos Resende "... sem dúvida a maior esperança do nosso "jazz"."

A escassez de gravações de Jazz em Portugal naqueles tempos leva-nos novamente ao grupo Bossa Jazz 3, formado por Marcos Resende, e ao EP de 1967 onde constava o tema "Outra Vez"




Bossa Jazz 3 - Outra Vez