terça-feira, 31 de maio de 2016

Alberto Ribeiro - Canção do Cigano


Terá sido com "Rock Around the Clock" de Bill Haley and the Comets, no filme “Sementes de Violência”, estreado em Portugal em Novembro de 1955, que, por cá se ouviu, pela primeira vez o Rock’n’Roll. Seria pois através do cinema que os sons atrevidos do então emergente Rock’n’Roll veria a luz do dia no nosso país. Outros filmes se seguiram, a saber: “O Ritmo do Século” (Rock Around the Clock) com Bill Haley and the Comets em Outubro de 1956 (já eu tinha nascido, entretanto) e ainda “Uma Rapariga com Sorte” (The Girl Can't Help It), em Março de 1957, com Fats Domino, The Platters, Little Richard, Gene Vincent e Eddie Cochran.

Shegundo Galarza e o Conjunto Jorge Machado gravam em 1956, respectivamente, “Rock And Roll - Ritmo Sobre Teclas” e “Rock 'N' Roll Rag” a marcar os primórdios do Rock’n’Roll num país onde dominavam os bons costumes defendidos pelo regime fascista.
Na rádio e imprensa escrita seriam raros, ou não eram de todo abordados, estes novos ritmos que nasciam no outro lado do Atlântico. Daí a minha curiosidade ao encontrar na revista “Vértice” nº 165 de Junho de 1957 a transcrição de um artigo intitulado « Rock’n Roll e estética» publicado no suplemento Artes Plásticas, do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro em 17 de Fevereiro daquele ano. Na origem do artigo estava “O acto do Juiz de Menores proibindo o Rock'n Roll”. Aqui Rock’n’Roll considerado como dança que no dizer do autor “tem de ser defendida, contra medidas e proibições arbitrárias”. E em sua defesa referia:
“Se há exemplo de dança decente, ele está no Rock’n Roll. Os pares ficam separados e quando se toca na dama é para enviá-la a maior distância. Nada de sexo, nessa dança leccionada por professores de educação física. Comparem-na com o agarramento dos blues, sambas e boleros, tão do agrado dos ambientes à meia luz. E voltem a liberar, nos salões, essa dança da moda, entre os jovens de 15 anos e os adultos da mesma idade..., dança cujo nome brasileiro deveria ser — propomos — «suadouro».”
E ainda:
“Estamos com a juventude, ao lado dessa manifestação de exuberância atlética, verdadeira aula de educação física, que erradamente foi considerada imprópria para menores“.
E termina:
“Que o ilustríssimo e meritíssimo senhor Juiz de Menores proíba as guerras e a miséria, pois o Rock'n Roll poderá ser dançado até nas escolas maternais. Nele, não reside o perigo.”





 Por cá na ausência de Rock’n’Roll, em 1957 ouvia-se, por exemplo, Alberto Ribeiro (1920-2000); “uma voz excepcional e um reportório invulgar” lia-se na contra-capa do EP «Alberto Ribeiro Canta…» de 1957, “voz de belo timbre, com um volume e uma extensão que raramente se encontram, foi o melhor intérprete de canções de inspirada feição romântica e que, apesar de já não constituírem novidade para o público, continuam a bater todos os êxitos de popularidade”.

Sem o perigoso e «suadouro» do Rock’n’Roll ficamos com o romântico Alberto Ribeiro e a cantiga “Canção do Cigano”.



Alberto Ribeiro - Canção do Cigano

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