quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Petrus Castrus – Mestre

Entre Novembro de 1972 e Abril de 1973 é gravado o disco escolhido para hoje, o álbum "Mestre" do grupo português de Rock Petrus Castrus

Gravado nos prestigiados Estúdios Strawberry, no Castelo de Hérouville, em França por onde passaram nomes como Elton John, os Pink Floyd e outros do mundo Rock e onde o nosso José Mário Branco se encontrava a gravar "Margem de Certa Maneira" tendo dado uma perninha neste álbum, hoje, considerado um marco histórico do Rock progressivo português. Particularmente interessante o facto de terem optado por cantar em português e da escolha de textos serem de inegável qualidade: Ary dos Santos, Alexandre O'Neill, Sophia de Mello Andresen, Fernando Pessoa entre outros.




Na contra-capa o seguinte texto assinado pelo crítico Tito Lívio:

"PETRUS CASTRUS: PALAVRAS PARA UM CONJUNTO

Petrus Castrus. Marasmo trazia consigo um som novo, uma desusada e escorreita construção musical numa "nova" canção que desde logo deu lugar prioritário à letra sobre a música, patente no género que "Zip-Zip" viria então a popularizar - a "balada".

Para além da tentativa de construção de um "rock" sinfónico, de ideias bem estruturadas e executadas, caso raro entre nós, país com uma nula cultura musical de base. Petrus Castrus salientava-se pela originalidade das letras desde o surrealismo de Tudo isto e tudo mais e Marasmo até ao absurdo colhido do dia-a-dia que não recuava perante a destruição feroz - Familiada ou o calão chocante para uma língua ainda demasiado apegada a uma realidade filtrada através de um realismo poético bem cuidado e trabalhado. Assim se continuava, ao nível das letras, uma tradição satírica iniciada pela extinta Filarmónica Fraude.

MESTRE vem revelar, como obra de fôlego que um álbum representa, a confirmação de um conjunto que consegue uma unidade musical e poética dignas de registo.

Se as influências musicais se enraízam nuns Emerson Lake and Palmer, Yes, Procol Harum e Pink Floyd, podendo-se ainda detectar um trabalho de piano com base no mais recente Paul McCartney, as letras mergulham directamente na realidade que nos cerca e alimenta, desde a alegoria - "História do Azul do Mar" - e a análise dos mitos nacionais - "Pátria Amada" - até à interrogação directa - "Tiahuanaco" - à constatação de um estado de facto - "Mestre" - e à palavra de alguns dos mais representativos poetas da língua portuguesa: Bocage, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Ary dos Santos, Manuel Bandeira e Alexandre O'Neill.

Disco que revela um trabalho consciente, lúcido e intencional patente numa instrumentação significativa e frequentemente crítica, Mestre vem demonstrar, de uma forma cabal, as qualidades de um grupo de quem muito haverá a esperar, em trabalhos futuros, no seio de uma música e canção portuguesas que se querem urgentemente "novas" e adultas no seu duplo aspecto músico-poético."

"Mestre" é sem dúvida um bom disco. Uma simbiose bem desenvolvida de belos textos, alguns bem críticos da sociedade portuguesa, e um rock mais complexo do que era habitual nos conjuntos portugueses de então.

Fica a faixa de abertura, precisamente "Mestre".





Petrus Castrus – Mestre

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