Numa sucessão de álbuns que fariam história entre o melhor que se produziu no Portugal anterior ao 25 de Abril José Afonso colocava-se, em 1973, definitivamente como a figura mais importante da nossa música popular, o que ainda hoje se mantem verdadeiro.
José Afonso expoente máximo da canção popular portuguesa tem em 1973 com "Venham Mais Cinco" o seu melhor trabalho de sempre, ultrapassando, para meu gosto, o consagrado "Cantigas de Maio" de 1971. Gravado em Paris, conta novamente com a colaboração de José Mário Branco, responsável pelos arranjos e direcção musical.
Encontrava-me já em Coimbra, no 1º ano da Faculdade, tinha eu 17 anos quando o álbum foi publicado e rapidamente fiquei surpreso com este disco. Ultrapassava em tudo o que eu conhecia da produção nacional e rivalizava facilmente com os sons mais modernos que nos chegavam do Pop-Rock anglo-saxónico.
Edição Movieplay em CD de 1987 |
"Venham Mais Cinco" era (é) um delírio para os sentidos, desde as letras complexas e perturbadoras a nos fazer interrogar sobre o seu sentido: "A formiga no carreiro / vinha em sentido contrário / Caiu ao Tejo / ao pé de um septuagenário" ou ainda "Nefretite não tinha papeira / Tuthankamon apetite / Já minha avó me dizia / Olha que a sopa arrefece", até aos arranjos inauditos e singulares que cada composição revelava.
O tema título mantêm a tradição de cantiga popular de mais fácil adesão e seria o último hino de José Afonso a pressagiar a revolução: "Não me obriguem / A vir para a rua / Gritar", já composições como "Rio Largo de Profundis", "Nefretite Não Tinha Papeira" "A Formiga no Carreiro" alinhavam na busca de novas sonoridades apresentando uma modernidade que ombreava com o melhor Folk-Rock internacional.José Afonso - A Formiga no Carreiro
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