Nova passagem por um grupo da Holanda, sinal que em 1970 o Pop-rock
ultrapassava as fronteiras dominantes do Reino Unido e Estados Unidos, e que a
revista "mundo da canção" divulgava na sua edição nº 12 de Novembro de 1970. Infelizmente a qualidade
não era a melhor, se ontem eram os
Ekseption, hoje é a vez dos
Tee Set.
Tee Set
que a memória cola a "Ma Belle Amie", única canção a alcançar sucesso
significativo, estarão já esquecidos para quem naqueles tempos os ouviu e, na
verdade, nada se perde de importante. Não fosse estas minhas passagens pela
revista "mundo da canção" e pelo certo que não teria motivo de os recordar.
Assim, conseguem ser razão para mais uma passagem, "If You Believe in Love"
foi a canção que se seguiu a "Ma Belle Amie" mas sem qualquer repercussão
digna de nota. A letra vinha publicada neste nº 12 da revista "mundo da canção", estávamos no ano de 1970.
Quando a megalomania se apoderou do Pop-Rock surgiram grupos que começaram a
introduzir na sua música influências da música clássica ou mesmo fazendo
versões Pop de temas clássicos bem conhecidos. E, como em tudo, houve quem o
fizesse bem e fosse mesmo inovador nesse conceito mais progressivo da música
Rock (The Nice, por exemplo) e quem ficasse pelo aproveitamento fácil e mais
comercial, por exemplo os Ekseption, era pelo menos esta a minha percepção.
Os Ekseption foram uma banda holandesa tornada conhecida no final dos anos 60
pela adaptação de clássicos ao Rock, quem se lembra de "The Fifth" (Beethoven)
ou "Air" (Bach). Foi esta a faceta mais divulgada do grupo. Nalguns discos, no
entanto, diminuíam a carga clássica e incluíam canções originais numa amálgama
que, hoje, ainda parece menos interessante, diria mesmo algo piroso. Era o que
acontecia no 2º LP, "Beggar Julia's Time Trip" de 1970 onde misturava a
pretensiosa abordagem clássica, quer com temas próprios quer com adaptações de
Bach e Tchaikovsky, com temas Pop-Rock.
Era com a letra da canção "Julia" que a revista "mundo da canção" se estreava
na divulgação deste grupo oriundo da Holanda. Ekseption um grupo perdido no
tempo e com poucos motivos de se recuperar.
Continuo a folhear as páginas do nº 12 da revista "mundo da canção" que foi
publicada a 15 de Novembro de 1970. Foi, parece, há uma eternidade, tinha eu
14 anos, num instante passaram mais 50.
É com um certo gozo que recordo as páginas desta revista que eu regularmente
comprava, lá tinha eu que pedir 3$50 ao meu pai, era quanto ela custava
(menos de 2 cêntimos na moeda actual). Este nº 12 com o José Afonso na capa
foi um dos nºs que resistiu bem ao tempo e que me acompanha precisamente há 50
anos!
Em 1970 Aretha Franklin (1942-2018) era já uma artista mais que consagrada,
admirada não só pelos amantes da música negra, Soul e Rhythm'n'Blues, como
pela juventude internacional rendida ao Pop-Rock. Para isso terá contribuído a
sua incursão pelo universo Pop interpretando canções de proeminentes nomes do
Rock. Por exemplo no álbum " This Girl's in Love with You" (1970) incluía
temas de John Lennon/Paul McCartney (The Beatles) e Robbie Robertson (The Band). Mas era nas suas origens Soul que, julgo eu, ela se sentia melhor e
editaria também em 1970 um outro LP, "Spirit In the Dark", bem melhor que o
anterior.
A abrir o álbum encontrava-se a canção "Don't Play That Song", um original, de
1962, na voz de Ben E. King, aqui numa bem conseguida interpretação da grande
Aretha Franklin.
Sim, em páginas consecutivas da revista "mundo da canção", no seu nº 12,
encontramos as letras de "The Windmills of Your Mind" na versão de José Feliciano e os Black Sabbath com "Paranoid".
Com raízes nos finais dos anos 60 o Heavy Metal teve no Hard Rock (ou Heavy
Rock) de grupos como Led Zeppelin, Deep Purple ou The Who, o seu ponto de
partida. Guitarras distorcidas, uma batida repetitiva, um aumento
significativo do volume sonoro e vocalizações progressivamente guturais vieram
instituir o Heavy Metal de que os Black Sabbath foram um dos iniciadores.
Sob o comando de Ozzy Osborne (que mantem carreira a solo, sendo deste ano o
último registo "Ordinary Man") os Black Sabbath instalaram-se nos corredores
do sucesso em 1970 com a publicação de dois LP, "Black Sabbath" e "Paranoid",
bem recebidos pela crítica daquele tempo em particular o segundo que continha
temas muito fortes como "Paranoid", "War Pigs"ou "Iron Man". Hoje, pérolas
para os amantes do género.
Pessoalmente nunca me disseram muito e agora muito menos. Mas, claro que
recordá-los dá sempre uma sensação positiva, mais não seja recordar a nossa
adolescência.
A maior fatia deste nº 12 da revista "mundo da canção" ia para a música
Pop-Rock anglo-americana, a maior parte canções recentes, uma boa parte
delas audíveis na nossa rádio FM de então.
Quanto à qualidade tínhamos de tudo, desde canções de inegável valor a outras
do mais primário comercialismo. Por elas vamos passar nos próximos dias, fica
o principal juízo para quem as ouvir, quem as conhecer ou não, e para quem se
deixar levar por um saudosismo que inevitavelmente algumas vão trazer.
Algures no meio de tudo isto fica a recordação de hoje, José Feliciano e a sua
interpretação de The Windmills of Your Mind".
José Feliciano, então conhecido pela sua capacidade de "usurpação" de canções
já com êxito obtido, tinha como principal qualidade as suas capacidades
interpretativas conseguindo, por vezes muito bem, transformar os originais em
canções que pareciam suas.
"The Windmills of Your Mind" era, em 1969 quando José Feliciano a gravou, uma canção de
êxito consagrado fazendo parte da banda sonora do filme "The Thomas Crown
Affair" sendo a música de Michel Legrand.
O sucesso maior foi na versão de Dusty Springfield que primeiro a gravou após
o sucesso do filme, é a minha preferida. Já agora, também em 1969, o nosso
Fernando Tordo a gravou e editou em Single, lembro-me da sua passagem na
rádio.
No estilo inconfundível de José Feliciano, segue "The Windmills of Your Mind".
Mais um nome incontornável da canção francesa que tinha como certo lugar nas
páginas da revista "mundo da canção", Serge Reggiani. E assim tenho
aproveitado para recordar este actor e cantor da canção francesa de origem
italiana.
Serge Reggiani (1922-2004), primeiro foi actor, depois, a partir de 1964,
também como cantautor tornando-se um dos mais aclamados intérpretes da
"chanson" francesa. Começa por gravar canções de Boris Vian. Em 1966 Barbara,
com quem vai manter relação amorosa até 1968, propõe-lhe que faça as primeiras
partes dos seus espectáculos.
Em 1970, já cantor consagrado grava o 3º LP, conhecido pelo nome da primeira
canção "Je Voudrais Pas Crever", onde consta "Gabrille".
"Gabrielle" é sobre o caso verídico de Gabrielle Russier, professora de letras
que tem uma relação amorosa com um aluno seu de 16 ano. Um caso que terminou
com o suicídio de Gabrielle em 1969 após complicados processos
judiciais. Também Charles Aznavour gravou a grande canção "Mourir
d'aimer" inspirada no mesmo caso.
A letra de "Gabrielle" constava no nº 12 da revista "mundo da canção" e é a
proposta de audição para hoje.
Presença regular nas páginas da revista "mundo da canção" Georges Moustaki ocupa um lugar especial na canção francesa e é um dos meus
preferidos.
Georges Moustaki (1934-2013), egípcio de nascença, filho de pais gregos, parte
novo para França, torna-se cidadão francês e aí vive até morrer. Ficará
para sempre lembrado como um dos maiores compositores, cantores franceses que
nos deixou canções inesquecíveis quer por ele interpretadas quer por outros
cantores franceses, de Edith Piaf a Juliette Gréco.
Com várias gravações, sobretudo Singles e EP, ao longo da década de 60 é
somente em 1969 que se torna internacionalmente conhecido com o sucesso de "Le
Métèque". Logo após a revolução de 25 de Abril de 1974 actua em Lisboa onde
interpreta "Portugal", adaptação da canção "Fado Tropical" de Chico Buarque, a
última passagem por cá foi em 2008 tendo actuado em Lisboa e Porto.
Cantou vários temas em Português entre os quais "Joseph", em português "José"
com letra de Nara Leão. Era esta a letra reproduzida no nº 12 de Novembro de
1970 da revista "mundo da canção" que continuo a recordar.
Portugal, Espanha, agora a presença da música francesa neste nº 12 da revista
"mundo da canção". São várias as referências e nada melhor que começar pela
Françoise Hardy.
Actualmente Françoise Hardy, com 76 anos, está afastada das gravações depois de
diagnosticado um cancro na faringe cujo tratamento lhe provocou a perda de
audição num ouvido. Assim dificilmente teremos novas canções daquela que na
minha meninice me habituei a ouvir e a ver como ídolo da juventude de então.
Em 1970 já não tinha esse estatuto, o Pop-Rock Anglo-Americano tinha sido
esmagador e a música francesa e italiana já não tinham a relevância que
tiveram no início da década de 60. Mesmo assim Françoise Hardy continuava a
gozar de grande prestigio, mesmo no meio artístico internacional, de Miles Davis aos Rolling Stones, e em grande actividade discográfica.
Do álbum "Soleil", a canção que lhe dá o título é a escolhida pela revista
"mundo da canção" ao reproduzir a letra. "Soleil" é a versão francesa de
"Sunshine" original da cantora Pop francesa Sandy Albert, e melhor para o meu
gosto.
Como gostava da voz de Joan Manuel Serrat! Desde que em 1968, tinha eu 12
anos, ouvi "la-la-la" por ele cantada (não a versão da Massiel que ganhou o
Festival da Eurovisão com aquela canção) e também "Mis Gaviotas" que ocupava o
lado B do Single então editado, que Joan Manuel Serrat despertou a minha
curiosidade ao evidenciar uma capacidade interpretativa muito peculiar. Poucas
terão sido as canções que dele conheci pois, proibido que estava em Espanha,
provavelmente a nossa rádio também não o deveria divulgar como merecia.
Restava-me a leitura de um ou outro texto que ia conseguindo obter,
nomeadamente as que a revista "mundo da canção" publicava, mais não fosse as
letras de algumas das suas canções. Logicamente só anos mais tarde tive a
oportunidade de conhecer melhor o seu trabalho, em particular os centrados nos
anos 60 e 70.
No nº 12 de Novembro de 1970 a revista "mundo da canção" publicava mais uma
letra de uma canção de Joan Manuel Serrat, tratava-se de "He Andado Muchos
Caminos" que na devida altura não conheci.
"He Andado Muchos Caminos" fazia parte do LP "Dedicado a Antonio Machado,
poeta" do ano de 1969, o primeiro álbum após a polémica proibição de
participar no Festival da Eurovisão no ano anterior, era uma das doze canções
que compunham o disco tendo onze letra do poeta Antonio Machado (1875-1939).
Neste nº 12 da revista "mundo da canção" a presença da música portuguesa era
pouca assim como da nossa vizinha Espanha com apenas duas únicas referências. A
primeira das quais ia para a publicação da letra "Poetas Andaluces" do poeta
espanhol Rafael Alberti e que seria musicada pelo grupo Aguaviva.
Aguaviva uma verdadeira pedrada no charco na música popular espanhola, lá como
cá reprimida por uma ditadura fascista, lograram elevar a música dita popular
musicando poetas espanhóis como Federico García Lorca, León Felipe, Gabriel
Celaya.
Existiram durante a década de 70 deixando importantes discos genericamente
catalogados na área do Folk-Rock, "Poetas Andaluces", a canção, pertencente ao
primeiro LP "Cada Vez Más Cerca" (1970) e é a que vem logo à memória quando se
fala dos Aguaviva. Felizmente muito mais e bom produziram os Aguaviva, como
era a letra que constava no "mundo da canção" a ela volto.
Num texto assinado por Arnaldo Jorge Silva procura-se resumidamente dar conta
do estado da fraca qualidade da generalidade das gravações cá efectuadas. Por
um lado "... os Nacionais-Cançonetistas a fazerem disquitos para irem vender no
Canadá e nos Estados Unidos."
por outro os
"... baladeiros para venderem aos colegas das Faculdades...".
Nesta situação surge um disco ao qual
"A rádio aderiu ao bombardeamento logo que reconheceu que se tratava de uma
voz portuguesa num disco (por enquanto) ímpar." Tratava-se do Single "Canções de Manolo Diaz" interpretadas por Paulo Carvalho. São duas as canções, entretanto já disponibilizadas noutros Regresso
ao Passado, "Walk On The Grass" e "Waiting For The Bus" onde, segundo
mesmo texto, Paulo de Carvalho mostra
"...uma técnica vocal que faz dele um dos grandes do momento."
Já antes de iniciar carreira a solo, na sua passagem pelos grupos Sheiks, Banda 4 e Fluído, tinha mostrado qualidades vocais bem acima
da mediania por cá reinante. Opto por ir buscar uma canção, que ainda aqui não passei, também
interpretada em inglês com os Fluído, refiro-me ao Single "O Dia da Lua" onde
no lado B se encontrava este "The Man Is Alone".
Foram várias as referências que a revista "mundo da canção" fez a José Almada.
José Almada teve uma curta passagem pela música popular mas inegavelmente,
entre aqueles que poucas gravações deixaram, é sem dúvidas um dos melhores. Dois LP e dois EP
foi o que gravou nos distantes anos 70 que testemunham as qualidades únicas de
composição e interpretação que José Almada manifestava.
Tendo-o conhecido em 2009, altura em que tinha ensaiado um retorno às lides
musicais, dele tenho tentado fazer a divulgação possível. Comecei este
blogue em 2014 e logo no primeiro mês tive oportunidade de o lembrar,
recuperando a lindíssima "Oh Pastor Que Choras". Também as páginas de que hoje
me socorro da revista "mundo da canção" nº 12 de Novembro de 1970 não
esperaram pelo dia de hoje e logo em 2015 fiz eco do texto de Tito Lívio que
agora retomo. Eram a propósito do 1º EP, "Mendigos" que incluía as seguintes
canções todas de sua autoria: "Hóspede", "Vento Suão", "Anda Madraço" e
"Mendigo" (no singular).
Noutra página vinha ainda publicada a letra de "Mendigo".
Com aquela voz tão peculiar que José Almada utilizava volto a este "Mendigo",
para outra ocasião fica "Mendigo II".
Já agora, como seria bom ver reeditados os seus trabalhos mais longínquos, o
nosso património ficaria mais rico com a manutenção da melhor música por cá
praticada num período tão intenso, em múltiplos aspectos, da nossa história.
Não há duas sem três. Aqui vai terceira passagem consecutiva por José Afonso.
Vou então percorrer a revista nº 12 do "mundo da canção" de Novembro de 1970.
Começo com a música portuguesa. Na capa, já vimos ontem aparecia José Afonso e
recordei "Canção do Desterro" cujo letra aparecia algures, desenquadrada, no
interior da revista. Mas não se ficava por aqui a abordagem que a revista
fazia a José Afonso, mais duas letras eram transcritas e um texto de Bernardo
Santareno eram publicados a propósito da recente edição do LP " Traz Outro
Amigo Também".
O texto de Bernardo Santareno, escritor oposicionista ao regime de Salazar,
encontrava-se no interior da capa dupla do álbum e começava assim:
"A arte de José Afonso é um jorro de água clara, puríssima, portuguesa sem
mácula. Realmente é a “pureza” a nota maior desta arte: Pureza de voz,
pureza no poema, pureza na música. Neste disco, um dos mais ricos quanto a
valores poéticos, é ela que domina: Trova antiga purificada, folclore limpo
de excrescências, balada de combate em que a justiça vai de bandeira. E o
ouvinte fica tonificado, «limpo», cheio de graça, com mais vigor para a
luta."
As duas letras publicadas eram respectivamente "Canto Moço" (já em tempos aqui
disponibilizada) e "Maria Faia", pelo que é esta última que fica para
recordação.
"Maria Faia" é um tradicional da Beira-Baixa, aqui no voz única e
inconfundível de José Afonso, para recordar sempre!
Volto à revista "mundo da canção" agora para recordar o seu nº 12 publicado a
15 de Novembro de 1970, ou seja completava um ano de publicações mensais a
revista que ajudou a divulgar alguma da melhor música de cariz popular que por
cá se fazia, bem como não podia ficar indiferente à avalanche de produção que
nos chegava do exterior. Centrada na publicação de letras, algumas de canções
então bem populares, também textos de inegável interesse se encontravam como,
neste número, a análise a "Self-Portrait" que era o álbum mais recente de Bob Dylan.
Na capa pela primeira vez uma foto de José Afonso, facto que só voltaria a
acontecer já depois da revolução de 25 de Abril de 1974, no interior várias
letras do LP "Traz Outro Amigo Também".
Se ontem lembrei "A Formiga no Carreiro" a propósito do LP "Venham Mais Cinco"
de 1973, hoje recuo a 1970 para audição de "Canção do Desterro".
Numa sucessão de álbuns que fariam história entre o melhor que se
produziu no Portugal anterior ao 25 de Abril José Afonso colocava-se, em 1973,
definitivamente como a figura mais importante da nossa música popular, o que
ainda hoje se mantem verdadeiro.
José Afonso expoente máximo da canção popular portuguesa tem em 1973 com
"Venham Mais Cinco" o seu melhor trabalho de sempre, ultrapassando, para meu
gosto, o consagrado "Cantigas de Maio" de 1971. Gravado em Paris, conta
novamente com a colaboração de José Mário Branco, responsável pelos arranjos e
direcção musical.
Encontrava-me já em Coimbra, no 1º ano da Faculdade, tinha eu 17 anos quando o
álbum foi publicado e rapidamente fiquei surpreso com este disco. Ultrapassava
em tudo o que eu conhecia da produção nacional e rivalizava facilmente com os
sons mais modernos que nos chegavam do Pop-Rock anglo-saxónico.
Edição Movieplay em CD de 1987
"Venham Mais Cinco" era (é) um delírio para os sentidos, desde as letras
complexas e perturbadoras a nos fazer interrogar sobre o seu sentido:
"A formiga no carreiro / vinha em sentido contrário / Caiu ao Tejo / ao pé
de um septuagenário"
ou ainda
"Nefretite não tinha papeira / Tuthankamon apetite / Já minha avó me dizia
/ Olha que a sopa arrefece", até aos arranjos inauditos e singulares que cada composição revelava.
O tema título mantêm a tradição de cantiga popular de mais fácil adesão e
seria o último hino de José Afonso a pressagiar a revolução:
"Não me obriguem / A vir para a rua / Gritar", já composições como "Rio
Largo de Profundis", "Nefretite Não Tinha Papeira" "A Formiga no Carreiro"
alinhavam na busca de novas sonoridades apresentando uma modernidade que
ombreava com o melhor Folk-Rock internacional.
Em 1973 Luís Cília era um cantor, por cá, pouco conhecido. Encontrava-se
exilado em França desde 1964 e os seus discos eram lá publicados, só depois do
25 de Abril de 1974 é que com o seu regresso os seus discos começaram a ter
edição portuguesa.
"Luís Cília foi o primeiro cantor de intervenção que no exílio denunciou a
guerra colonial e a falta de liberdade em Portugal. Gravando
ininterruptamente a partir de 1964, realizou uma atividade musical, tanto
discográfica como no que concerne à realização de recitais, tendo-se
profissionalizado em 1967. Mas para além disso, Luís Cília, durante vários
anos dedica-se ao estudo de harmonia e composição, o que é algo invulgar no
universo dos cantores de intervenção. Esta formação musical fez de Luís
Cília um dos mais respeitados compositores da atualidade, procurado pelas
mais importantes instituições, nomeadamente desde que, nos anos 80, optou
pela composição pura, o que aconteceu também, devido às muitas
solicitações.
Embora com algumas dificuldades com as autoridades francesas, como Luís
Cilia referiu, a situação era completamente diferente da existente em
Portugal, o que permitia, nos temas musicados" e interpretados por Luís
Cília, usar uma linguagem directa e mais politizada, sem subterfúgios e
entrelinhas como acontecia com José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e
outros cantores de intervenção, que em Portugal tinham de fazer face à
censura imposta pelo regime. Luís Cília iniciou assim uma forma de cantar,
por vezes designada por canção política, que fez escola em Portugal, e teve
muitos seguidores no nosso país, entre eles José Jorge Letria."
Em 1973 publica mais um LP, "Contra a Ideia da Violência a Violência da
Ideia", que cá só seria editado depois do 25 de Abril. Mais um de qualidade
inquestionável e que leva a não entender como é que até hoje não foi ainda
efectuada na integra a reedição da sua obra.
Deste LP escolho a faixa de abertura "Pátria Lugar de Exilio" com letra de
Daniel Filipe.
Chego agora às últimas três escolhas que fiz relativamente à música de
cariz popular que por cá se fez no ano de 1973 e a primeira vai para um cantor
que me é bem querido, pois vivendo ele em Ovar, a minha terra Natal,
habituei-me, desde que ele começou a efectuar gravações, a ouvi-lo em casa dos
meus pais, fosse na rádio, em disco ou alguma passagem rara pela televisão,
falo do Manuel Freire.
Depois de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Luís Cília e antes do
aparecimento de José Mário Branco e Sérgio Godinho, Manuel Freire foi um nome
que se impôs na música popular de intervenção, em particular em 1969 (no
programa televisivo "Zip-Zip")/1970 com a eterna "Pedra Filosofal" a tirar, e
bem, partido do belíssimo poema de António Gedeão. Mas já antes tinha ganho
notoriedade com canções como "Livre":
"Não há machado que corte a raiz ao pensamento / não há morte para o vento
não há morte" ou "Eles":
"Ei-los que partem / novos e velhos / buscando a sorte / noutras paragens /
noutras aragens / entre outros povos / ei-los que partem / velhos e
novos".
https://www.discogs.com/
1973 vê editado mais um EP com as seguintes canções: "Abaixo o D. Quixote",
"Pequenos Deuses Caseiros", "Menina Bexigosa" e " Ouvindo Beethoven".
Com letra de José Gomes Ferreira e música de Manuel Freire proponho a audição
de "Abaixo o D. Quixote".
Representante do que melhor se fez em termos de música de intervenção,
encontra-se José Jorge Letria.
Fez parte da geração surgida no final da década de 60 que tiveram a sua
importância e deram o seu contributo na exploração de novas formas
musicais de conteúdo vincadamente político de crítica social e de oposição ao
regime fascista ainda vigente. Actividade intensa tiveram e de alguma forma
contribuíram para a queda daquele hediondo regime.
Fernando Assis Pacheco, jornalista e escritor, assinava um pequeno texto na
contra-capa de um Single de 1972 com " Tango dos Pequenos Burgueses" e
"Páre, Escute e Olhe" onde se podia ler:
"Por haver uma velha música portuguesa, moribunda, assez ruim, com a qual
não precisamos de gastar cera, é que há uma nova, uma outra e diferente
música a fazer-se todos os dias de muitas maneiras. O José Jorge Letria está
implicado no movimento desde que sacou pela primeira vez a viola e saiu para
a rua."
1973, os ecos do álbum "Até ao Pescoço" ainda andavam no ar e José Jorge Letria aventura-se a gravar um disco ao vivo (inédito até então a gravação ao
vivo de concertos da área da música popular) o que acontece a 12 de Novembro
daquele ano.
Num disco menor face à qualidade evidenciada em "Até ao Pescoço", escolho a
satírica "Farsa Nupcial" em linha com o que conhecíamos de António Macedo.
Infelizmente a produção discográfica de António Macedo (1946-1999) foi
curta, resumindo-se a meia-dúzia de discos de curta duração, quase todos na
década de 70. É verdade que a sua voz não era deslumbrante, o álcool e o
tabaco teriam o seu contributo, e no contexto da época um tanto estranha, mas
o importante era o todo das composições por ele compostas. Eu gostava, em
particular das que então eram mais conhecidas, "Erguer A Voz E Cantar" e
"Casamento da Menina Manuela".
"canta verdades de maneira simples", dizia em título um artigo de 1972 na
revista "R&T" (Radio e Televisão) que começava assim:
"«É mesmo assim» - dizem as pessoas, quando ouvem as canções do António
Macedo. A simplicidade das letras é a sua característica principal. Letras
que entram pelo ouvido e são apreendidas duma forma imediata. No entanto,
simplicidade não se confunde com facilidade. António Macedo não faz
concessões no respeitante ao conteúdo. E a mim parece-me que quem insiste
sobre o «conteúdo» luta, na realidade, por uma determinada cultura, por uma
determinada cultura, por uma determinada concepção do Mundo contra outras
culturas e outras concepções do Mundo.
É que «conteúdo» e «forma», além de um significado «estético», possuem
também um significado «histórico».
As canções de António Macedo têm esse significado histórico porque traduzem
o momento presente de um determinado tipo de sociedade. O «Casamento da
Menina Manuela» exemplifica esta afirmação. De facto, tropeçamos todos os
dias com meninas Manuelas, e o retrato de António Macedo registado no poema
é de tal forma evidente que as pessoas depressa identificam a tal menina
Manuela."
Em 1973 temos nova Single de António Macedo com os canções "Só Te Peço Que Não
Pares" e "Canção" (esta última com letra de Eugénio de Andrade).
Não teve, que me lembre, o impacto do disco anterior, mas nem por isso menos
interessante, prova-o "Só Te Peço Que Não Pares".
Continuo a recordar o ano de 1973 no que concerne à produção
discográfica nacional. A música mais ligeira já teve aqui o seu lugar, o
Pop-Rock e o Fado também, para o final um conjunto de artista da chamada
Música Popular Portuguesa que então vivia um período de grande actividade,
José Barata Moura é mais um nome que nos foi dado a conhecer no célebre
programa televisivo "Zip-Zip" em 1969, na sequência do qual efectua as
primeiras gravações. Gravações essas que iriam ter basicamente duas vertentes, a da música popular, integrando o movimento dos baladeiros então no auge, e a
música infantil tão popularizada com o "Fungagá da Bicharada".
Em 1973 edita um LP que, pelo que apurei, teve duas edições com capas
diferentes, respectivamente pelas editoras "Zip-Zip" e "Orfeu". É o disco que
contém a bem conhecida "Vamos Brincar à Caridadezinha" e que já tive
oportunidade de recordar. Do mesmo disco, hoje é a vez de "Intelectualite" que
também se conseguia ouvir em alguns programas na nossa rádio.
"Em 1966 faz parte do grupo «Teias», que nesse ano ganhou o concurso
de música no Coliseu do Porto. Envereda depois pela música popular «...com
uma musicalidade mais minhota, mais marcante em termos dos ritmos, uma
expressão mais seca e mais dura». Mas no ano seguinte, em ruptura com a
moral vigente e ao tomar a opção de não participar na guerra colonial, acaba
por se exilar.", parte do texto dedicado a Tino Flores que se pode encontrar em "Canto de
Intervenção 1960-1974" de Eduardo M. Raposo.
Em Paris vai radicalizar o seu discurso e aproximar-se de organizações
marxistas-leninistas exiladas. Cantor de combate e resistência efectuou a
gravação de 3 EP: "Viva a Revolução" (1970), "O Povo é Invencível" (1972) e "O
Povo em Armas Esmagará a Burguesia" (1973).
É a este último que hoje volto, trata-se de um disco pequeno mas duplo que
contém quatro composições bem radicais: "Quem Não Teme o Mar Não Teme os
Patrões", "Viva a Liberdade", "Ó Senhora Guida Veja a Sua Vida" e "O Meu Amigo
Está Preso".
Música simples e rude a revelar um período negro da nossa história. Segue "Ó Senhora Guida Veja a Sua Vida".
Em muito poucos anos Carlos Alberto Moniz teve uma participação intensa
na música popular portuguesa.
Em 1973 era já uma figura bem conhecida da nossa canção popular
multiplicando-se em diversas participações. Desde a sua estreia na televisão,
em 1969, no programa "Zip-Zip", foram várias as suas prestações, em nome
próprio com a publicação de dois EP e um Single, como arranjador no LP
"Cantaremos" (1970) de Adriano Correia de Oliveira, como instrumentista em "Eu
Vou Ser como a Toupeira" (1972) de José Afonso, como participante no Festival
da Canção da RTP, primeiro em 1971 integrado nos EFE 5 depois em 1973 com os
Improviso. Entretanto forma o duo com a Maria do Amparo, com quem viria a
casar, e a gravar um sem número de discos.
Logo em 1973 são publicados, pelo menos quatro EP (segundo discogs.com), com
temas do folclore açoriano, canções do festival da Figueira da Foz 1973 e
ainda de cariz popular.
O EP "3 Novas & 3 Velhas" contem quatro canções, que são: "3 Novas & 3
Velhas" - José Jorge Letria e Carlos Moniz, "As Noivas de Bilros" - José Afonso, "Romance Feudal" - José Jorge Letria e "Sete Fadas" - António Quadros
e José Afonso.
Para ouvir fica "As Noivas de Bilros" com letra e música de José Afonso.
Carlos Moniz/Maria do Amparo – As Noivas de Bilros
Proveniente de uma família aristocrática Hermano da Câmara é um monge
beneditino e também cantor de fado, aliás na família encontram-se vários
intérpretes ligados ao fado: Vicente da Câmara e Nuno da Câmara Pereira
encontram-se entre os mais conhecidos.
Frei Hermano da Câmara assim ficou conhecido este cantor ou monge ou melhor
monge cantor. A sua primeira edição discográfica data ainda dos anos 50 do
século passado, é em 1961 que ingressa no Mosteiro de Singeverga em Santo
Tirso publicando então o "Fado da Despedida":
"Ser fadista foi meu sonho, Mas não foi este o meu fado, Deus traçou-me
outro caminho, Cheio de amor e carinho, Fez-me andar para outro lado"
cantava ele.
https://www.discogs.com/
Mas a música não mais o largou e foram várias as suas gravações e aparições em
público em divulgação da sua menagem religiosa. No ano que agora recordo,
1973, publica o álbum "Bruma Azul do Desejado" que conta com a colaboração do
Quarteto 1111, numa aproximação do Fado e canto religioso ao Pop
nacional.
Ainda no Fado, mas num registo bem diferente, não posso deixar de,
relativamente ao ano de 1973, lembrar Carlos do Carmo.
Carlos do Carmo, nome maior do nosso Fado que não se limitou a continuar o
Fado tradicional mas que procurar sempre de alguma forma renová-lo e explorar
novos caminhos que culminariam em 1977 com a edição de um trabalho tão
singular como foi "Um Homem na Cidade".
Uma carreira também ela singular que se prolonga até hoje, já com 80 anos, e
que teve sucessivo reconhecimento internacional com a atribuição, em 2014, com
a atribuição do Grammy Latino de Carreira.
Também ele sofreu influências do Pop-Rock internacional e não resistiu à
música dos The Beatles que se tinha imposto mundialmente na década de 60. É
assim que foi possível ouvi-lo a interpretar canções como "Eleanor Rigby" e
"Something".
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Esta última foi mesmo publicada em Single em 1973 tendo no lado B uma versão
de "Love Story" de Francis Lai. São de Carlos do Carmo as palavras que constam
na contra-capa:
"Duas canções em inglês. E porque não?... O nosso ponto de encontro foi
sempre o Fado, é certo. Mas, depois de algumas actuações no estrangeiro
concluí facilmente que tenho que fazer uma pequena incursão por idiomas
estrangeiros. Pelo inglês, por exemplo.
E, desta feita, por duas razões: por se tratar de duas canções que adoro e
porque a gravação a nível internacional exige que os artistas portugueses se
façam entender fora do mundo português.
Para esta «estreia difícil» escolhi duas canções que considero fora de
série: a que ilustra «Love Story» de Francis Lai e cuja versão portuguesa me
não agradava. Cantá-la em inglês foi, portanto, intuitivo. A outra, é de um
homem que a voz autorizada de Leonard Berstein diz ser «um dos maiores
músicos do nosso século»: George Harrison, o mais talentoso dos Beatles.
Chama-se «Something» e é já um êxito mundial.
Aos que me têm acompanhado devotamente e a quem devo tanto daquilo que sou,
desejo que não tenham uma decepção. No fundo, sempre que conta para eles,
tento pagar uma pequena parte da dívida que com eles contraí. With Love".
Depois de passagem pelo Pop-Rock, tendo feito parte dos Chinchilas,
Carlos Bastos fixa-se, no final dos anos 60 no Fado. Os primeiros registos são
uma mistura de Fado e Balada até surgir em 1973 o único disco que dele
recordava e que é o objecto do Regresso ao Passado de hoje.
Tratava-se de um Single com as canções "Manuel Poliglota" de sua autoria e
"Hey Jude", a sobejamente conhecida canção dos The Beatles adaptada ao nosso
Fado tendo arranjos de António Chainho. À primeira audição parece tratar-se de
uma brincadeira e motiva mesmo algum sorriso, mas não a interpretação, penso eu,
não seria pura diversão sem esconder, no entanto, o gozo que difundia. Aliás
experiencia que seria prolongada 20 anos mais tarde com o trabalho de longa
duração "All That Fado".
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A ideia que tenho, das minhas impressões de juventude quando este disco saiu,
é que não achei piada nenhuma a esta intromissão do Fado na área do Rock,
agora penso que foi pena não ter sido melhor aproveitada esta aproximação do
Fado às novas sonoridades do Pop-Rock internacional, não em versões de êxitos
internacionais, como foi o caso, mas sim na exploração de caminhos próprios,
novos de que o Fado tanto necessitava.
Agora ouçam e, pelo menos, divirtam-se com este "Hey Jude" à portuguesa.
(noutro registo é de referir também Carlos do Carmo que na mesma altura interpretava canções dos The Beatles como "Something" e "Eleanor Rigby")
Entre Novembro de 1972 e Abril de 1973 é gravado o disco escolhido para hoje,
o álbum "Mestre" do grupo português de Rock Petrus Castrus.
Gravado nos prestigiados Estúdios Strawberry, no Castelo de Hérouville, em
França por onde passaram nomes como Elton John, os Pink Floyd e outros do
mundo Rock e onde o nosso José Mário Branco se encontrava a gravar "Margem de
Certa Maneira" tendo dado uma perninha neste álbum, hoje, considerado um marco
histórico do Rock progressivo português. Particularmente interessante o facto
de terem optado por cantar em português e da escolha de textos serem de
inegável qualidade: Ary dos Santos, Alexandre O'Neill, Sophia de Mello
Andresen, Fernando Pessoa entre outros.
Na contra-capa o seguinte texto assinado pelo crítico Tito Lívio:
"PETRUS CASTRUS: PALAVRAS PARA UM CONJUNTO
Petrus Castrus. Marasmo trazia consigo um som novo, uma desusada e
escorreita construção musical numa "nova" canção que desde logo deu lugar
prioritário à letra sobre a música, patente no género que "Zip-Zip" viria
então a popularizar - a "balada".
Para além da tentativa de construção de um "rock" sinfónico, de ideias bem
estruturadas e executadas, caso raro entre nós, país com uma nula cultura
musical de base. Petrus Castrus salientava-se pela originalidade das letras
desde o surrealismo de Tudo isto e tudo mais e Marasmo até ao
absurdo colhido do dia-a-dia que não recuava perante a destruição feroz -
Familiada ou o calão chocante para uma língua ainda demasiado apegada
a uma realidade filtrada através de um realismo poético bem cuidado e
trabalhado. Assim se continuava, ao nível das letras, uma tradição satírica
iniciada pela extinta Filarmónica Fraude.
MESTRE vem revelar, como obra de fôlego que um álbum representa, a
confirmação de um conjunto que consegue uma unidade musical e poética dignas
de registo.
Se as influências musicais se enraízam nuns Emerson Lake and Palmer, Yes,
Procol Harum e Pink Floyd, podendo-se ainda detectar um trabalho de piano
com base no mais recente Paul McCartney, as letras mergulham directamente na
realidade que nos cerca e alimenta, desde a alegoria - "História do Azul do
Mar" - e a análise dos mitos nacionais - "Pátria Amada" - até à interrogação
directa - "Tiahuanaco" - à constatação de um estado de facto - "Mestre" - e
à palavra de alguns dos mais representativos poetas da língua portuguesa:
Bocage, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Ary dos Santos, Manuel
Bandeira e Alexandre O'Neill.
Disco que revela um trabalho consciente, lúcido e intencional patente numa
instrumentação significativa e frequentemente crítica, Mestre vem
demonstrar, de uma forma cabal, as qualidades de um grupo de quem muito
haverá a esperar, em trabalhos futuros, no seio de uma música e canção
portuguesas que se querem urgentemente "novas" e adultas no seu duplo
aspecto músico-poético."
"Mestre" é sem dúvida um bom disco. Uma simbiose bem desenvolvida de belos
textos, alguns bem críticos da sociedade portuguesa, e um rock mais complexo
do que era habitual nos conjuntos portugueses de então.
Heavy Rock, Rock Progressivo, o que lhe queiram chamar, tem no grupo
Xarhanga um dos principais representantes daquelas importadas sonoridades.
Terão sido mesmo percursores no nosso país de sons que a minha geração tinha
tomado contacto com grupos estrangeiros, que se conseguiam ouvir em alguns
programas de rádio ou através de discos importados, de que são exemplo os Deep Purple, Atomic Rooster, King Crimson ou os Uriah Heep.
Integraram o grupo Xarhanga dois músicos, Carlos Cavalheiro e Júlio Pereira,
que teriam posteriormente carreira a solo, bem longe do Heavy-Rock que o grupo
praticava. O primeiro com a passagem pelo Festival da Canção da RTP de 1975
onde defendeu "A Boca do Lobo", o segundo com uma longa prestação, que se
prolonga até aos nossos dias, ao serviço da melhor música de tradição popular
que por cá se praticou.
Mas, voltando aos Xarhanga que tiveram uma curta duração, estes deixaram
publicados, no ano de 1973, dois Singles considerados hoje clássicos e
percursores do género em Portugal.
No primeiro constam os temas "Acid Nightmare" e "Wish Me Luck". Ouça-se agora
o primeiro como testemunho do nascente Heavy-Rock em Portugal.
Das cinzas dos Pop Five Music Incorporated iria surgir um novo grupo em
Portugal no ano de 1972, Smoog assim se chamavam.
Influências do Hard-Rock e do Rock Progressivo eram as que mais se faziam
sentir naquela época nos grupos de Rock nacionais. O Ié-Ié e o Pop-Rock
dos anos 60 estavam definitivamente afastados e as novas formações de Rock
absorviam o que ouviam de grupos estrangeiros que exploravam novas sonoridades
e que se aventuravam na utilização de novos instrumentos como o Moog
(instrumento electrónico que tomou o nome do seu inventor e que teve
particular importância em grupos de Rock como os Yes e os Emerson, Lake and Palmer).
Em Portugal, Miguel Graça e Moura, teclista dos citados Pop Five Music Incorporated, foi um dos primeiros, senão o primeiro, a usá-lo por cá e a
designação da sua nova formação após o fim dos Pop Five... contém mesmo a
palavra Moog, foram os Smoog.
De duração curta (1972-1974), experimentando diferentes formações, os Smoog
tinham em Miguel Graça Moura, nos teclados o seu líder.
Gravaram um único
Single onde se procurava evidenciar as potencialidades que o Moog
disponibilizava. Dois temas, "Smoogin'" e "What's Going On", compunham o disco
onde na contra-capa Miguel Graça Moura manifestava, um tanto pretenciosamente,
as razões dos Smoog:
"Smoog - Os objectivos: um novo som (a electrónica e os teclados), um
estilo original, a criação própria; intencionalidade na concepção formal, no
tratamento sonoro, na exploração (jazzística) dos temas.
Smoog - As fontes: o aproveitamento do virtuosismo técnico ao serviço da
imaginação criadora; a utilização de temas e processos de composição
clássicos; a pesquisa de novos timbres.
Smoog - As intenções: a emoção estética na vivência da ambiência sonora; a
música pela música."
"Smoogin'" a ocupar o lado A, a lembrar-me por vezes os Santana, segue para
recordação.
É sabido que os primeiros anos da década de 70 foram para José Cid de
grande produtividade. O que não significa que tudo o que fez correspondesse à
qualidade que vínhamos habituados do Quarteto 1111. Assim é possível encontrar
na discografia daqueles anos um pouco de tudo, deste o excelente primeiro LP a
solo de 1971 ao comercialismo menos interessante das gravações nos Green
Windows. Pelo meio, para além da colaboração intensa nas gravações de outros
artistas (ex: José Cheta, Tonicha), gravações em nome próprio de decrescente
qualidade.
Em 1973 Portugal não estava imune ao Rock mais pesado que provinha do Reino
Unido e dos Estados Unidos da América e as suas influências não se fizeram
esperar nos grupos de Rock portugueses mas também em José Cid. É assim que em
1973 edita o Single com as canções "Cantiga Portuguesa" no lado A e "Doce e
Fácil Reino do Blá, Blá, Blá". É nesta última que podemos ouvir José Cid a
aderir aos sons mais roqueiros e de menor interesse face às suas gravações
anteriores.
Confesso que não gostei desta incursão de José Cid pelo Hard-Rock talvez para
agradar a outros públicos, no mesmo ano é publicado um outro Single com "Olá
Vampiro Bom" e "Dragão", canções que vinham do 1º LP de 1971. Tomara que se
tivesse mantido neste registo.
Os Mini-Pop duraram cerca de 10 anos tendo as suas gravações publicadas
em discos de pequena duração (EP e Singles) sido editadas entre os anos de
1971 e 1974.
Como já referi, em Regresso ao Passado anterior, Mini-Pop era uma formação de
pouco mais que crianças oriunda do Porto que se constitui como grupo ainda no
final dos anos 60 e que se tornaram bem conhecidos durante os primeiros anos
da década seguinte não só pelos discos gravados como pelos concertos que
efectuaram pelo país. Destaco as seguintes aparições dos Mini-Pop:
- Em 1971 apresentaram-se no Festival de Vilar de Mouros onde foram muito bem
recebidos. Lá interpretaram "Friends" de Elton John com este lá por perto.
- Em 1972 fizeram, no Cinema Monumental em Lisboa, a primeira parte do grupo
inglês de Jazz-Rock If (alguém me sabe dizer quem fez a primeira parte do
concerto dos If no Coliseu do Porto e que eu assisti?).
- E em 1973 participaram no Festival da Canção da RTP onde evidentemente
ganharam outra notoriedade.
Esta participação fez-se através da canção "Menina de Luto", canção Pop pouco
conseguida em relação às restantes participantes o que lhes valeu um
sétimo lugar entre nove concorrentes. Também, em relação à discografia já
editada, verificava-se que se portavam melhor quando interpretavam em inglês
canções de êxito internacional.