sábado, 20 de maio de 2017

José Mário Branco - As Canseiras Desta Vida

Textos sobre música na revista "Vértice"




Mais um extenso artigo de Fernando Lopes Graça publicado na revista "Vértice". Estamos em Fevereiro de 1955 no nº 137 da revista "Vértice", onde encontramos este longo e muito interessante artigo de Fernando Lopes Graça com o título "A música portuguesa nas suas relações com a cultura nacional".




Afirmava Fernando Lopes Graça:
“Uma das fatalidades da música portuguesa foi nunca ter ela encontrado, nos três ou quatro momentos históricos em que a nossa cultura estremeceu na clara ou obscura consciência da sua missão nacional, a personalidade ou as personalidades que, no seu domínio próprio, encarnassem os ideais ou tendências da hora.”

No “nosso” Renascimento “não encontrou músicos criadores à sua altura”. “Vem o Romantismo”  e em Portugal “manda a verdade reconhecer que o movimento não teve consequências musicais de maior.”

Ainda no séc. XIX, Se o Romantismo nos não descobriu, nos não afirmou musicalmente, seria lícito esperá-lo do movimento intelectual conhecido por «Geração de 70», com o seu ideal de cultura que, de certo modo, àquele se opunha?”. Concluía, referindo-se ao compositor português Augusto Machado em contraponto às obras deixadas pelos escritores da «geração de 70», “Poderão as óperas de Machado aspirar ao mesmo privilégio junto dos portugueses que escutam música? Decerto que não, visto que são praticamente desconhecidas.”






E “Entrados no nosso século, depara-se-nos o importante, se bem que efémero e, sob o ponto de vista ideológico, algo confuso movimento da Renascença Portuguesa. Se, com todas as diferenças que os separam, a ele podemos referir vultos da envergadura de Raul Brandão, Teixeira de Pascoaes, Raul Proença, Mário Beirão, António Sérgio ou Jaime Cortezão, cuja obra é indubitàvelmente de notável projecção na nossa cultura contemporânea, o certo é que, no campo da música, não topamos figura alguma que com a sua arte tenha dado corpo aos ideais ou doutrinas dos escritores de A Águia.”

Terminando: “Do que temos vindo a expor conclui-se que, sem pôr em causa o valor absoluto ou relativo das figuras representativas da nossa história musical, esta parece nunca ter atingido uma significação nacional paralela aos grandes momentos da nossa cultura.”





Face a tal panorama de descrédito em relação à música feita em Portugal ao longo dos tempos, acabei a pensar no José MárioBranco, na sua música, no pós Abril de 74 e nas palavras de Fernando Lopes Graça ao acusar a nossa música de não alcançar um significado nacional paralelo aos grandes momentos da nossa cultura…

Não sei o que é que Fernando Lopes Graça (uma das influências de JMB) pensaria do José Mário Branco, mas para mim é, inequivocamente, um marco singular na música popular portuguesa do último meio século e acredito que a sua música será ouvida e estudada por muitas gerações futuras quando a este período da nossa história se dedicarem, estou certo.

Agora, para ouvir, “As Canseiras Desta Vida”, José Mário Branco em 1978.




José Mário Branco - As Canseiras Desta Vida

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