Mais um longo artigo de Fernando Lopes Graça, desta vez a propósito da "Palestra realizada na Academia de Amadores de Música, para apresentação do Coro do Grupo Dramático Lisbonense". É no nº 69 de Maio de 1949 da revista "Vértice" que é publicado o texto intitulado "Valor estético, pedagógico e patriótico da canção popular portuguesa".
Depois de considerar que os intelectuais portugueses "pouco ou nada" conhecem do povo, que o fado não é a canção nacional (contrariamente ao que se pensava lá fora) e que a canção portuguesa não se reduzia "ao tipo da Caninha verde, do Vira, do Passarinho trigueiro, ou da Tia Anica de Loulé", a sua opinião sobre a canção popular portuguesa foi-se alterando, em particular depois de tomar conhecimento com a música popular da Beira-baixa e do Alentejo, o que o levaram "... gradualmente à convicção de que a canção popular portuguesa não é apenas o solidó de que eu escarnecia não sem razão, mas que, nos seus melhores espécimes, ela é capaz de se elevar a alturas em que nada tem que ficar a dever às suas parceiras de outros países justamente afamados pela riqueza do seu folclore."
Constata ainda que:
"Em Portugal canta-se pouco e o que se canta é, em geral, de um nível que deixa bastante a desejar: as atrozes banalidades revisteiras, o atroz fadinho, as atrozes canções e «cançonecas» de proveniência mais ou menos americana cantadas pelas nossas mais ou menos americanizadas «vedetas» da Rádio — tudo produtos de uma sub-arte que impudicamente se rotula de popular e que só serve para perverter o gosto de uns, entreter de uma maneira bem pouco elevada os ócios de outros e criar nos espíritos desprevenidos um falso conceito do que seja uma arte verdadeiramente popular."
e preconiza:
"a recolha sistemática por especialistas competentes da nossa música popular e sua consequente publicação." e ainda "a criação, por todo o país e especialmente nas regiões musicalmente mais ricas, de centros de investigação e estudo do folclore, aos quais seriam comunicados pelos interessados nesta matéria, a maior parte das vezes simples mas prestantes curiosos, todos os espécimes recolhidos da música popular, que seriam em seguida estudados, catalogados e arquivados segundo as normas científicas em uso nos numerosos institutos similares do estrangeiro."
Para audição a escolha desta vez recai sobre a canção popular da Beira-Baixa "Senhora do Amparo", que descobri algures na net e que não consegui identificar o seu intérprete, e que vinha igualmente publicada na revista "Vértice" na sequência do artigo.
Fernando Lopes Graça - Senhora do Amparo
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