sábado, 27 de maio de 2017

Big Bill Broonzy - Hollerin' the Blues

Textos sobre música na revista "Vértice"


“Citação do Sr. Berry, no Parlamento da Virgínia, em 1832: «Tanto quanto estava nas nossas possibilidades, fechámos todos os caminhos pelos quais a luz pudesse entrar nos seus (dos escravos) espíritos. Se pudéssemos extinguir a capacidade de ver a luz, o nosso trabalho seria completo; estariam então ao nível das bases do campo, e nós ficaríamos em segurança! Não tenho a certeza de que não o faríamos se pudéssemos encontrar o processo, e isto em nome da necessidade.»”

É ainda do singular artigo intitulado “Sobre a pré-história do Jazz” assinado por A. J. Moura Marques na revista "Vértice" Nº 274-275 de Julho-Agosto de 1966 que se trata.



“A um estado alienatório, produzido à escala social e de classe, mercê de factores económicos, políticos e raciais, há que contrapor-se uma reacção; desde o grito de revolta declaradamente revolucionário à pura e queda aceitação desses condicionalismos vão mil gradientes possíveis mas só um natural e objectivamente consequente: aquele que se fundamenta na realidade, no complexo político vigente, nas condições mentais a que, neste caso o Negro americano, se encontrava sujeito e, por fim, nas reais possibilidades psicológicas que usufruía e de que dependem, «in extremis», quaisquer movimentos de evasão.”

E assim continuava a sua explanação sobre o “ambiente social” e respectivo “potencial expressivo”, “Deste modo, nesta situação condicionada pela escravatura, pela aculturalidade consequente, o Negro americano estava condenado, irremediavelmente, ao trabalho forçado e, como aconteceu, a criar música. Torna-se inegável que as suas primeiras criações musicais tinham em vista duas finalidades principais: em primeiro lugar, fazer esquecer a agressividade do trabalho forçado; por outro lado, servir de meio de comunicação entre escravos, durante as horas de labor e sempre que se tornava necessário a expedição duma mensagem de maneira incompreensível para o patrão.”

Quanto à maneira de entoar da música negra: “… todo o processo vocal negro, desde o continente africano até aos blues …, manifesta acentuadamente o seu carácter sincopado, através do uso de modulações estranhas, complicadas contorções melódicas, quebras de voz e, sobrenadando tudo isto, um «blue feeling» indefinível que caracteriza desde sempre a sonoridade específica do Negro americano.” 
“Os «cries» e «hollers», que podemos traduzir por chamamentos entoados, são a primeira e mais simples criação musical negro-americana onde tais processos podem ser já completamente detectados. Um dos exemplos mais típicos de tal forma de entoar encontra-se na canção «Hollerin’ the blues» de Big Bill Broonzy, presente numa gravação em disco aquando da sua morte.”


Big Bill Broonzy (1893-1958) cantor negro de blues gravou mais de 200 canções e foi uma das figuras marcantes no desenvolvimento do Folk/Blues do século XX. Ficamos com uma versão longa e excelente de “Hollerin’ the Blues” gravado em 1957 por Big Bill Broonzy.




Big Bill Broonzy - Hollerin' the Blues

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