Volto a "September Song". Já a lembrei na belíssima versão de Bryan Ferry,
mas há mais que devem ser devidamente consideradas.
Lembro que esta canção foi composta por Kurt Veill (1900-1950) a pensar na sua
esposa a cantora Lotte Lenya (1898-1981) tendo sido objecto de muitas
interpretações. O original é cantada por Walter Huston em 1938 e a própria
Lotte Lenya gravou-a em 1958. Também Bing Crosby e Frank Sinatra a cantaram e
mais recentemente destaco as versões de Bryan Ferry (1999) que já recordei e a
de hoje, uma versão improvável, ou talvez não, de Lou Reed.
"Lost in the Stars: The Music of Kurt Weill" foi um álbum tributo a Kurt
Veill editado em 1985 onde surge a versão de Lou Reed para "September Song".
https://www.discogs.com/
De início estranha-se, mas, aos poucos e poucos, esquecendo outras versões e
focando-se no universo musical de Lou Reed, "September Song", ganha nova vida
e a ela aderimos com facilidade.
Não muito distante, no tempo, do Regresso ao Passado de ontem, recorde-se
Fiona Apple com "Pale September" (1996), encontra-se Marianne Faithfull com
"Flaming September" editado no ano anterior e incluído no álbum "A Secret
Life".
A Marianne Faithfull de "As Tears Go By" (1965) já estava muito distante e a
sua voz também já não tinha nada a ver, era frágil e melodiosa nos anos 60 e
tornou-se áspera e grave logo nos anos 70, quer por problemas de saúde na
garganta quer pelo consumo excessivo de drogas. O que é certo é que mesmo
assim as suas melhores gravações datam do final dos anos 70 e década de 80
onde destaco os álbuns "Broken English" (1979) e "Strange Weather" (1987).
Entre cinema, TV e a música, mais ou menos bem recebida, se tem desenvolvido a
sua carreira, recentemente esteve hospitalizada com COVID-19 e já este ano foi
editado o seu último trabalho, "She Walks in Beauty", em colaboração entre
outros com Warren Ellis, Brian Eno, e Nick Cave, onde declama poesia de
autores ingleses do século XIX.
https://www.discogs.com/
Para "A Secret Life" Marianne Faithfull teve a colaboração de Angelo Badalamenti cuja sonoridade etérea e algo misteriosa nem sempre resulta bem
neste disco. A excepção vai para "Flaming September" onde a combinação entre
os dois melhor resulta.
Quando em 1996 Fiona Apple editou o seu 1º álbum, "Tidal", e apesar da
recepção que teve, julgo que estaria longe de imaginar que em 2020 o seu mais
recente trabalho, "Fetch the Bolt Cutters", estaria no topo de várias listas
de melhores álbuns do ano e mais ainda que receberia uma chamada telefónica de
Bob Dylan a convidá-la para participar no álbum "Rough and Rowdy Ways" que
também sairia no mesmo ano.
Fiona Apple tem vindo a revelar-se uma agradável surpresa em áreas próximo do
Jazz e no Pop experimental com potencial de desenvolvimento mas
simultaneamente menos comerciais. É no seu disco de estreia,"Tidal", não tinha
Fiona Apple ainda 20 anos, que encontro o tema de hoje "Pale September".
https://www.discogs.com/
Ao ouvir "Tidal", lembrei-me de uma outra grande artista, Laura Nyro
(1947-1997), que há muito tempo não ouço. Recuperações a fazer... Para já é
com "Pale September" que ficamos.
"Pale September, I wore the time like a dress that year
The autumn days swung soft around me, like cotton on my skin..."
A discografia de James Taylor nos anos 70 deu-lhe um estatuto que perdurou
através dos tempos até aos nossos dias. Tivesse ficado por aí e e a sua
importância na música popular norte-americana permaneceria intacta. No entanto
tal poderá ser injusto face à totalidade da sua obra discografia, que apesar
de não ter tido o impacto que a daquela década teve, tem tido manifestos
pontos de interesse, ouça-se, por exemplo "October Road" (2002), "Before This
World" (2015) ou o mais recente "American Standard" (2020).
Para este tema "Os Meses do Ano em Canção" recuei a "October Road", onde
surge logo a abrir o álbum a canção "September Grass".
https://www.discogs.com/
Agora que o Sol começa a deitar-se mais cedo aproveitem este bem relaxante
"September Grass", é James Taylor a fazer-nos lembrar outros tempos bem mais
distantes.
Para estes últimos dias de Setembro volto ao tema "Os Meses do Ano em Canção"
e não podia começar melhor, começo com Van Morrison e a sua "September Night".
Entre os sobreviventes da década de 60, Van Morrison terá sido um dos que melhor
atravessou os anos 80. Foi com mestria que, naqueles anos dados a outras
sonoridades onde militavam os Joy Division/New Order, Durutti Column, Young
Marble Giants,The Specials, Joe Jackson, Dexys Midnight Runners, The Fall, U2,
Echo and the Bunnymen, The Jam, Psychedelic Furs, Talking Heads, The
Pretenders para citar os mais influentes, Van Morrison editou nada mais que 8
álbuns, alguns dos quais verdadeiramente imprescindíveis.
Edição em vinil portuguesa de 1983 com a ref:811 140-1
"Inarticulate Speech of the Heart", com influências diversas, que vão da
música Celta ao Jazz, foi publicado em 1983 e é ainda hoje um prazer absoluto
a sua audição, note-se o ambiente criado que convida à descontração e à
meditação. Não tivesse 4 faixas somente instrumentais, o que julgo ser inédito
na sua discografia, a ajudar na criação de uma atmosfera bem relaxante. Entre
elas encontra-se "September Night" que agora proponho para uma destas últimas
noite de Setembro.
Chego, hoje, ao fim das passagens que tenho vindo a fazer de recuperação do nº
2, editado em Maio de 1971, do jornal "a memória do elefante". Espero num
futuro próximo continuar a divulgar alguns dos nºs que possuo deste jornal tão
vanguardista que se publicou a partir do Porto de 1971 a 1974.
E o último artigo toma o nome "o movimento pop e a música da west coast"
assinado pelo então jovem Octávio Augusto da Fonseca Silva que terá sido o
melhor trabalho apresentado sobre o título em questão.
The Beatles e Bob Dylan como agitadores maiores de uma geração em
"...rotura com esquemas estafados que já não permitiam criações ou
inovações, indesejáveis por chocarem com o sistema estabelecido", o movimento Hippie de São Francisco e a adopção
"... por um retorno às raízes. Voltam para uma forma de vida primitiva e
natural", marcos decisivos na elaboração de novos sons produzidos pelos jovens músicos de
então. Para o articulista
"A música da West Coast é pois uma tentativa de renovar a linguagem do
rock, por uma recusa das imagens reais e dos sentimentos convencionais que,
por terem caído na rotina, perderam toda a sinceridade."
Do manancial de grupos surgidos na West Coast a partir de 1967 são escolhidos
três grupo representativos desse movimento, The Doors, Jefferson Airplane e
Big Brother and the Holding Company qualquer um deles já abordados nestes meus
Regresso ao Passado.
De um tempo em que ainda se pensava que a música podia mudar o mundo, escolho
os Jefferson Airplane no seu 5º trabalho de estúdio, "Volunteers", e ainda com
a formação clássica (antes da saída de Marty Balin e Spencer Dryden)
fica a faixa de abertura "We Can Be Together".
Para hoje o 5º e último LP que vinha analisado na página "álbuns" do 2º número
do jornal "a memória do elefante", estávamos no mês de Maio de 1971. Trata-se
do álbum "USA Union" de John Mayall publicado no ano anterior. Mais um
excelente trabalho que este jornal ajudava a conhecer, do qual já conhecia
algumas faixas pela sua divulgação também na nossa rádio e de que eu tanto
gostava pela originalidade com que se me apresentava.
Um disco que lamento não o ter adquirido a seu devido tempo, mas eu era muito
novo, a oferta era grande e as possibilidades de compra resumiam-se às minhas poucas vindas ao Porto com o meu pai e era ele que pagava, evidentemente.
Um grande disco de John Mayall aqui numa formação pouco ortodoxa, sem bateria,
mas com a presença, a grande novidade nesta formação, exemplar de Don
"Sugar Cane" Harris no violino.
Para Rui Lima Jorge
""USA Union" é um «voltar atrás» que significa aqui progresso, porque é um
retorno à pureza das fontes, esquecido um ritmo comercialista e sem
imaginação."
"Crying" é um grande tema e é um dos que mais ouvi deste álbum. A ele
regresso, espero que seja uma boa recordação para alguns ou uma excitante
novidade para outros e que os levem a conhecer a obra ímpar deste músico inglês
de Blues actualmente com 87 anos.
4º álbum da série de cinco que eram apresentados no jornal "a memória do elefante" no seu nº 2 de Maio de 1971, era "Tea For the Tillerman" e o seu
autor Cat Stevens.
"Tea For the Tillerman" era o 4º LP de Cat Stevens e foi aquele que o
catapultou, justamente, para uma década de grande sucesso. Um disco repleto de
belas canções que tiveram, a maior parte delas, uma grande divulgação e se
tornaram bem conhecidas. Diria que é um trabalho onde a qualidade e
comercialidade se encontram, como aliás foi apanágio de uma parte bem
interessante da produção dos anos 60 e 70.
E agora o texto que vinha publicado no jornal "a memória do elefante" em Maio
de 1971, tempos em que muitas estrelas Pop tinham uma carreira efémera,
cingidas a dois ou três êxitos, e que depois não mais se ouvia falar. Seria
isso que levou José Sottomayor a manifestar-se surpreso quanto à longevidade
da carreira de Cat Stevens iniciada somente em 1965 (note-se que ainda hoje
permanece no activo) ao começar o artigo assim:
"De uma perenidade deveras notável este Cat Stevens que, tendo surgido em
65-66 durante a viragem musical inglesa, ainda hoje é um dos nomes mais
significativos dessa mesma música."
"Where Do The Children Play?" era o tema que abria este saudoso álbum. Vamos
matar saudades...
Para hoje um disco e um grupo que a seu tempo não conheci. Affinity é nome e também a designação do álbum.
Na página do jornal "a memória do elefante" nº 2, que tenho vindo a recordar,
onde constava a crítica a 5 álbuns recém chegados ao mercado nacional (suponho
eu) encontrava-se esse grupo inglês que dava pelo nome de Affinity.
"Affinity", o álbum, foi o único editado por este grupo de Jazz-Rock no tempo
em que existiu, ou seja entre 1968 e 1972.
Como bem refere o articulista Luís de Melo, as afinidades deste grupo vão
directas para Brian Auger, Julie Driscoll and The Trinity onde Lynton
Naiff, nos teclados, cola a Brian Auger e Linda Hoyle, na voz, a Julie
Driscoll e a música apresenta a maior aproximação ao Jazz-Rock daqueles
tempos. A sonoridade era efectivamente marcada, quer num caso quer no outro,
pelo órgão e a voz feminina.
Se Brian Auger, Julie Driscoll and The Trinity tinham a sua versão de
"Season of the Witch" de Donovan com mais de 7 minutos, os Affinity não lhes
ficava atrás e interpretavam "All Along the Watchtower" de Bob Dylan nos seus
mais de 11 minutos, eram mesmo grandes as afinidades.
Se eu gostava de "Songs of Love and Hate" de Leonard Cohen, que dizer de
"Fotheringay" do grupo homónimo formado pela Sandy Denny após a sua saída dos
Fairport Convention? Simplesmente adorava-o! Um disco a todos os títulos
notável!
José Sottomayor assinava o texto que sobre este álbum vinha publicado, em Maio
de 1971, no jornal "a memória do elefante", no seu 2º número e sobre
considerava ser
"... uma gravação pouco vendável, embora audível, e com o melhor agrado,
por um número restrito de pessoas."
A dúvida de José Sottomayor "... se ao ouvir «FOTHERINGAY» se procura Sandy
Denny, ou ainda, se ela mesma utiliza um cenário chamado «FOTHERINGAY»..." vai
de encontro ao dilema da própria Sandy Denny:
"any band she was in was always going to be perceived as her project, and
she was torn between wanting to be (or feeling she could be) a solo artist
and craving the anonymity of just being part of a group."
pode-se ler na biografia de Sandy Denny,"I've Always Kept a Unicorn" de Mick
Houghton publicada em 2015.
Seja como for "Fotheringay" é um grande álbum de um conjunto de músicos
excelentes: Trevor Lucas, Jerry Donahue, Gerry Conway e Pat Donalson para além
da própria Sandy Denny que compôs 5 das 9 composições do disco original. "The
Pond and the Stream" era uma delas.
E aqui fica mais um anúncio que vinha publicado no nº 2 do jornal "a memória do elefante" com edição a Maio de 1971, desta vez trata-se de publicidade à
Casa Ruvina, casa histórica de venda de instrumentos musicais, sita no Porto,
a ocupar uma página com o nome "Casa Ruvina" repetida em diferentes tipos de
letra e tamanho e terminado com uma simples frase: "Cobrindo todo o espectro
das preferências musicais".
Adiante para a página onde eram analisados 5 álbuns então postos à venda
(julgo eu). Dois dos quais adquiri nessa altura e ainda os possuo em excelente
estado de conservação, o primeiro dos quais era "Songs of Love and Hate" de
Leonard Cohen.
Em 1971 Leonard Cohen publicava o seu 3º LP e se bem que já conhecesse os dois
primeiros álbuns via um amigo mais velho que os tinha, este era o primeiro que
tinha a oportunidade dele ter conhecimento desde a sua edição, pelo que a ele
fiquei sempre muito ligado. Era um disco mais elaborado onde as orquestrações de Paul Buckmaster vinham acentuar todo o dramatismo e lirismo que os discos
anteriores já manifestavam.
Quem podia ficar indiferente a "Famous Blue Raincoat", "Joan of Arc",
"Avalanche" ou a este "Last Year's Man" que para Fernando Semedo, autor do
texto, era "... sem dúvida o melhor trecho dos disco - melodia subtilmente cinzelada,
nostálgica, romântica."
Um disco intemporal da melhor música popular até hoje produzida, é "Songs of
Love and Hate" e para hoje "Last Year's Man".
As páginas centrais do nº2 do jornal "a memória do elefante" eram ocupadas com
publicidade, um único anúncio à Levi's e onde podia encontrar, no Porto, a
dita marca. Qual o jovem que naquele tempo não ansiava por ter um par de
calças da marca Levi´s?
E para hoje um artigo intitulado simplesmente "Jethro Tull" sobre o trabalho
então mais recente do grupo, o álbum "Aqualung", posto à venda, segundo o
texto e referido repetidamente, a 20 de Abril de 1971.
O artigo começa por salientar o crescente domínio de Ian Anderson no grupo
"...os Jethro Tull são Ian Anderson e Ian Anderson é os Jethro Tull.",
facto que, acrescento eu, se tornaria cada vez mais evidente até aos dias de
hoje.
"Aqualung" era o 4º álbum do grupo e foi aquele que trouxe aos Jethro Tull maior
notoriedade internacional. Composto por duas partes "Aqualung" que
"trata do elemento humano e do espírito" e "My God"
"sobre Deus e a religião", o álbum seria um dos mais bem conseguidos e
uma verdadeira imagem de marca da sonoridade inovadora, entre o Folk e o Rock
Progressivo, do grupo.
E assim se faz o meu 5º regresso a este álbum, desta vez com a 3ª faixa,
"Cheap Day Return", somente com 1m21s, o suficiente, espero eu, para, se por
ventura alguém não conhecer ainda este disco, o procurar rapidamente e se
deliciar com este obra maior do Rock dos anos 70.
Melanie, Melanie Safka, só me trás boas recordações, pena é que sejam
relativas a um período bem curto da sua longa carreira.
Melanie, actualmente com 74 anos é referida na wikipédia como tendo iniciado
carreira em 1967 e que se prolonga ainda pelos dias de hoje. Na realidade as
canções que melhor conheço dela confinam-se aos poucos anos de 1969, 1970 e 1971,
período em que gravou um conjunto de canções inesquecíveis e se
manifestou como um cantora extraordinária, possuidora de uma voz
verdadeiramente invulgar à qual se ficava facilmente rendido.
É sobre ela o artigo de José Sottomayor que constava no º 2 do jornal "a memória do elefante" (Maio de 1971) sob o título "a música da alma" onde são referidos os
dois álbuns editados em 1970, "Candles in the Rain" e "Leftover Wine", este
último gravado ao vivo (excepto a última faixa).
"a música da alma" é ilustrada no texto com parte da letra de "Leftover Wine",
canção que surgia nos dois álbuns citados, e que eu complemento com a sua
audição.
"...I'm gonna spend my whole life making the time rhyme And then I'm
gonna run to the people And I'll sing them a song of mine You know
I'm gonna do anything
Continuo a folhear o nº 2 do jornal "a memória do elefante" para reproduzir no
Regresso ao Passado de hoje dois artigos.
O primeiro intitulado "Rádio, Rádio... 3" assinado por Nuno Martins (será o
José Nuno Martins?) onde dá a sua visão da rádio face ao estado dela
naquela época. A polémica permanente entre o Emissor e o Receptor, o primeiro
como "estímulo" e o segundo como "resposta" ou o inverso
como se passava em programas então bem populares como "Quando o telefone
toca". O que se diria numa análise equivalente aos tempos de hoje?
O segundo intitulado "introdução à música concreta" e assinado por Pedro
Proença e onde aborda, conforme título, a música chamada Concreta. Deixo-vos
com o texto numa área onde não me sinto minimamente à vontade a tecer considerações,
somente constatações. Referem-se dois caminhos possíveis, o analítico e o
sintético, o primeiro corresponde à música Concreta, onde se parte de sons já
construídos, e o segundo à música Electrónica, onde se fabricam os sons.
Na música Concreta fala-se de nomes como Schoenberg, Schaffer, Xenanis,
Stockausen e Pierre Henry, sobre os quais terei aqui ouvido falar pela primeira
vez. De Pierre Henry (1927-2017), encontrei as "Varitions pour une porte et un
soupir", que são referidas e explanadas no texto.
Pierre Henry - Varitions pour une porte et un soupir
Sem comentários, começo com um anúncio publicado no nº 2 do jornal de crítica
musical "a memória do elefante" de Maio do ano de 1971, para quem não souber
"Confiança" era o nome do único espaço comercial que existia no Porto que se
poderia equiparar a um pequeno Centro Comercial actual.
Seguia-se uma página dedicada ao Jazz assinada pelo Jorge Lima Barreto sob o
título "Tetagrama dos pianistas de Jazz". Como o título indica o artigo, que
tinha continuidade no nº seguinte, identificava um conjunto de pianistas de
forma muito sumária dividindo-os em quatro categorias: Os Insulares, os
Free-Jazz, os Evolucionistas e a Nova Geração. Neste nº identificava alguns:
Bill Evans, Steve Khun, Martial Solal, Paul Bley e Thelonious Monk no grupo
dos Insulares, LaMont Johnson, George Duke e Joe Zawinul nos Evolucionistas.
Oportunidade para ir divulgando mais alguns nomes do Jazz, neste caso Martial
Solal.
Nascido na Argélia em 1927, e ainda vivo, Martial Solal é considerado um
pianista rigoroso e virtuoso sendo para Jorge Lima Barreto"um dos maiores técnicos do «jazz»". Nos ano 50, já em Paris toca com
músicos como Sidney Bechet, Stan Getz e Don Byas, escreve peças de Jazz e
Clássica e ainda música para filmes ("À Bout de Souffle"
de Jean-Luc Godard), toca frequentemente em trio, com bateria e
contrabaixo ou dois contra-baixos como é caso no tema "Accalmie" do álbum "Sans
Tambour Ni Trompette" de 1970.
" A música popular e a juventude anglo-americana" é o artigo que se segue
nesta passagem que estou a fazer pelo nº 2 do jornal "a memória do elefante"
publicado no mês de Maio do ano de 1971, já lá vão mais de 50 anos. Um texto
que para os mais velhos, mais de 60 diria, não traz nada de significativamente
novo mas que poderá ter o seu interesse para jovens desconhecedores da
realidade social e musical dos anos 60 do século passado e que procuram
informação de tempos tão importantes e dos quais ainda hoje sobrevivem muitas das
suas influências.
É verdade, naqueles anos a "instituição família", que impunha códigos de
conduta "espirituais e intelectuais rígidos", era dominante e a juventude dela
se procurou emancipar. O choque geracional foi tremendo entre o "tradicional
autoritarismo" e a busca de novos valores que teve na música uma das principais manifestações.
O artigo destaca em Inglaterra The Beatles e a importância que tiveram não só
musicalmente mas também socialmente, a "revolução no vestuário", a "libertação
sexual" a criação de "uma maneira própria de viver", nos Estados Unidos a
referência maior vai para Bob Dylan, "o chefe espiritual do movimento «pop»
inicial". E nada ficou como dantes quer na importância que a música popular
passou a ter, quer em termos sociais, nomeadamente nos usos e costumes dos
jovens e não só.
Em 1971 a música de Bob Dylan já estava longe daquela que o tinham tornado
mundialmente conhecido, era "New Morning" e "If Not For You" que se ouvia, mas
o que tinha marcado a geração de 60 eram canções como "The Times They Are
a-Changin'" e "Blowin' in the Wind". Esta última, de 1963, agora se
recorda.
1969 foi um ano particularmente importante para a música popular portuguesa,
abundavam os cantores de baladas, os chamados baladeiros, cuja simplicidade
musical ilustrava textos ditos de "intervenção", tendo como objectivo
principal a passagem de uma "mensagem". Para o efeito teve especial
importância o programa televisivo "Zip-Zip" ao qual já dei a seu tempo a
devida atenção.
A fraqueza musical e muitas vezes das próprias letras era muitas vezes bem
notória e já nesse tempo se tinha essa percepção, não fora, por exemplo, a
paródia feita por Raul Solnado (ver em
https://www.youtube.com/watch?v=xegPr--521M) no próprio "Zip-Zip" ao movimento
baladeiro.
O jornal "a memória do elefante" no seu nº 2 de Maio de 1971 assim o recorda:
"... os baladistas pegam na viola aprendem três tons e cantam." Mas ia
mais longe ao considerar que tal movimento baladeiro promovia
"... todo o reaccionarismo fardado de transgressor e todo o
revolucionarismo primário, inócuo, fruste, afinal reaccionário, com o
sistematicamente e já insignificante «canto para comunicar...», bem radical esta visão ao ponto de serem
"... já aceites e tolerados, sem qualquer ofensa ao status quo, que
acabavam por prolongar."
Este artigo intitulado "projecto de monumento a Rui Pato" era do ano de 1971,
mas anterior à edição dos discos de José Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho, saídos no final do ano, esses sim revolucionários do nosso panorama
musical.
Entretanto, diz o mesmo artigo, seriam
"afinal os pioneiros do movimento, os seus cultores e arautos mais
inteligentes e inquietos (e inquietantes), a aperceber-se do beco sem saída
a que conduzia uma música amusical, o poema divorciado da música, «poema com
suporte musical» em vez do «complexo música-poema»", referia-se a José Afonso e Adriano Correia de Oliveira. O objectivo do
artigo era sublinhar a importância que Rui Pato teve na colaboração em
discos daqueles dois proeminentes músicos. Relembro a participação em álbuns como "Baladas e Canções" (1964), "Cantares do Andarilho" (1968) e "Contos
Velhos, Rumos Novos" (1969) de José Afonso (falhou o álbum "Traz Outro Amigo
Também" (1970) tendo sido impedido de se deslocar pela PIDE a Londres onde foi
gravado) e em "O Canto e as Armas" (1969) e "Cantaremos" (1970) de
Adriano Correia de Oliveira.
"Ele é a primeira inteligência musical posta ao serviço da balada" é dito e acrescentado
"Com os arranjos e a execução de Rui Pato em Cantaremos, a balada sai do
seu grau zero."
Deste álbum recordo "Lágrima de Preta", poema de António Gedeão, música de
José Niza, arranjos e acompanhamento de Rui Pato, a voz de Adriano Correia de Oliveira ou como "servir as palavras servindo a música".
É de Maio de 1971 o primeiro jornal "a memória do elefante" que adquiri, era o
nº 2 e trazia na capa uma foto a preto e branco de Mick Jagger.
"a memória do elefante" (1971-1974) era um jornal contra a corrente,
revolucionário na análise e na crítica, rompendo com todos os cânones
existentes, quem dera que hoje existisse um equivalente para os tempos
actuais. Crítica mordaz e ferindo o unanimismo corrente na escrita em geral e
na crítica musical em particular. E no desenho do jornal, até a publicidade
era altamente inovadora e apelativa, também a ela não se ficava indiferente,
era impossível passar despercebida e dela irei dando nota à medida que nos
próximos dias for folheando este nº 2.
Para começar temos The Rolling Stones. Um autocarro a afundar-se e um diálogo
entre um polícia, um intelectual, um playboy e um músico.
Um polícia preocupado com a filha de 17 anos que,
"vai ouvi-las quando chegar a casa", gosta dos The Rolling Stones de
"Honky-Tonk Woman" que "recria o mundo proibido do bordel".
Um intelectual, para quem
"Os Stones representam a liberdade física, o desejo burguês realizado na
sua plenitude."
Um playboy que dá vivas aos The Rolling Stones"Que furor, que realização - a isso chamo eu mudar o mundo. E a maneira
como eles iam vestidos? Fantástico."
E um músico que considera que
"A força esmagadora dos recursos psicadélicos prepara os Rolling Stones
para um novo rumo: a música de vanguarda".
Ou tão só uma banda de Rock que rivalizou nos anos 60 com The Beatles e que se
eternizou para além do que era então pensável para um grupo de
Rock'n'Roll.
A revista do Expresso de 3 de Setembro de 2021 trazia na capa uma imagem com
as figuras de José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco e tinha como
título "A Revolução da Música Portuguesa Foi Há Cinquenta Anos" e claro fez-me
recuar a esse ano extraordinário que foi 1971. E lembrei-me que, cingindo-me
exclusivamente ao panorama nacional, a revolução operada naquele ano por
aqueles três cantautores também se tinha feito sentir na imprensa escrita de crítica musical.
Ela já tinha começado em finais de 1969 com o aparecimento da revista "mundo da canção", mas 1971 viu surgir dois novos jornais totalmente dedicados ao
fenómeno musical em geral e da música popular em particular, eram eles "DISCO
MÚSICA & MODA", publicação quinzenal iniciada em Fevereiro daquele ano, e
que tenho vindo regularmente a recuperar (neste momento já se encontram neste
meu blogue os primeiros 7 números) e o jornal "a memória do elefante" ao qual
já fiz algumas referência mas que agora me proponho fazer com maior
assiduidade.
Em 1971 tinha 14 anos e lembro-me bem do impacto que estes jornais tiveram nas
minhas preferências musicais. No que diz respeito a "a memória do elefante"
lembro-me da estranheza dos textos, alguns dos quais não entendia (mesmo
agora, terei ainda algumas dificuldades...), mas também das propostas que
divulgava, do Jazz à música erudita, abrindo assim horizontes que não ficavam
confinados ao Pop-Rock mais comercial dominante da rádio.
Era na "Casa Reis", em Ovar, que comprava "a memória do elefante" e ou lá não
chegaram todos os nºs ou eram tão poucos que esgotavam rapidamente, o que é
certo é que não tenho, infelizmente, todos os 14 nºs que foram editados entre
1971 e 1974.
Em Fevereiro de 1971 é publicado um nº experimental e o nº 1 surge em Abril do
mesmo ano com o custo de 3$00 e considerava-se um jornal de "Música popular,
jazz, clássica e rádio". Não possuindo estes dois nºs eis as respectivas capas
que fui encontrar no sítio https://ephemerajpp.com/ (Ephemera -
Biblioteca e arquivo de José Pacheco Pereira).
https://ephemerajpp.com/
Prosseguindo as minhas buscas encontrei o blogue de Mário Gonçalves, "O Livro
de Areia" - https://olivrodaareia.blogspot.com/, onde consta um texto por
ele escrito, para o nº 1 de "a memória do elefante", sobre Leonard Cohen e
onde pelos visto não se revê no tipo de linguagem utilizado aos 20 anos. De
qualquer forma aqui fica e que serve de pretexto para voltar a Leonard Cohen.
https://olivrodaareia.blogspot.com/
Quando o texto foi publicado, Leonard Cohen ainda só tinha dois LP editados,
ou melhor o terceiro ainda cá não tinha chegado e numa coisa Mário Gonçalves
tinha razão:
"escutar Leonard Cohen é um constante deleite, um constante descobrir de
uma obra que, fundamentada em apenas dois álbuns, promete vir a ser das mais
importantes da música do nosso tempo."
Aqui fica mais uma bela canção de Leonard Cohen, "You Know Who I Am",
pertencia a "Songs From a Room" de 1969.
Última passagem pelas escolhas de Miguel Esteves Cardoso para o ano de 1974 de
acordo com o texto "O Ovo e o Novo - (Uma) Discografia duma Década de Rock:
1970-1980". E para o fim deixei a "minha" Sandy Denny com o seu álbum "Like an
Old Fashioned Waltz".
"Like an Old Fashioned Waltz" era o terceiro de quatro álbuns a solo que
editou entre 1971 e 1977 e talvez o mais controverso entre os seus
admiradores. Por um lado uma Sandy Denny mais versátil à procura de um
reconhecimento de um público mais alargado, que nunca conseguiu, levando-a a
realizar um disco com arranjos mais arrojados e a incluir dois temas standards
de Jazz fruto de memórias de infância, os mais tradicionalistas e conhecedores
das suas potencialidades prefeririam um disco mais intimista e despojado.
Para agradar a todos existe uma edição em duplo CD, Deluxe Edition coma ref:
370 028-8 de 2012, onde se podem encontrar todas as faixas do álbum original
(excepto "Carnival") em versões sem os arranjos orquestrais
Edição Carthage com a ref: CGLP 4425, em vinil, de 1986
De qualquer forma é um disco admirável e relativamente pouco conhecido,
como aliás a generalidade da sua obra, "At the End of the Day" é mais uma
preciosidade a descobrir. No dizer da própria Sandy Denny:
"Anyone who has ever been away from home for a log time, and has felt a
little homesick, will understand the sentiment behind this song. I wrote it
on the plane journey home, after an extensive tour of the United States."
Joni Mitchell continua, em 1974, a desenvolver uma carreira que seria a todos
os títulos invejável. Álbum após álbum surpreendia-nos, primeiro com um Folk
mais "simples" e uma voz invulgar, depois uma progressiva diversificação
instrumental (viola, piano, dulcimer... orquestra) tornaram-na uma das mais
respeitadas cantoras norte-americanos. Naqueles anos, e do outro lado do
Atlântico estava no topo das minhas preferências a par de Leonard Cohen e Neil Young (por coincidência, os três canadienses).
Joni Mitchell talvez de todos a que melhor atravessou toda a década de 70.
Miguel Esteves Cardoso escrevia:
"Joni Mitchell ilustra com perfeição inquietante o fenómeno raro duma
evolução criativa que inova sem ruptura, que experimenta sem inconsciência e
que abre novois caminhos sem ser à custa do encerramento de outros."
Quanto a "Court and Spark", o sexto álbum de originais, assim continua:
"Qualquer ligação com os seus três primeiros álbuns é praticamente
impossível de descobrir, em termos de arranjos ou de pureza acústica."
e mais à frente:
""Court and Spark" representa uma ousadia recompensada. A partir daqui Joni
Mitchell irá abandonando gradualmente os confins do Rock e as fórmulas Pop,
satisfeita com os resultados, mas insatisfeita com a relatividade da
meta".
Edição em vinil, alemã, com as ref: AS 53 002, (7E-1001), K 53 002
"Court and Spark" está entre os álbuns de maior sucesso de Joni Mitchell, era
nele que apareciam faixas como "Help Me" e "Free Man In Paris". Ora ouçam esta
última, uma pequena delicia tão gostosa de se ouvir.
E para o fim três trabalhos que se encontram entre as escolhas de Miguel
Esteves Cardoso para o ano de 1974 e que são os meus preferidos. Começo com
Richard and Linda Thompson e o álbum "I Want to See the Bright Lights
Tonight".
Depois da saída dos Fairport Convention no início de 1971, Richard Thompson
teve alguns anos discretos mas bem activos tendo participado em alguns álbuns
importantes de outros artistas como Sandy Denny, Ian Matthews (os dois
ex-Fairport Convention), John Martyn e os irmãos Waterson e ainda gravado o
primeiro falhado e hoje bem recuperado 1º LP a solo "Henry the Human Fly"
(1972).
Em 1969 tinha conhecido Linda Peters com quem viria a casar em 1972. Ligação
que, enquanto durou, resultou musicalmente em seis álbuns antológicos do
melhor Folk-Rock britânico.
O primeiro álbum, "I Want to See the Bright Lights Tonight", assinado Richard and Linda Thompson data de 1974 leva Miguel Esteves Cardoso a considerá-lo
"O álbum do ano" com a atribuição de cinco estrelas. Diz ainda que se
está na presença de
"... retrato amargo e revoltado da sociedade tecnológica que leva o idioma
folk inglês ao ponto de ruptura, pondo em causa as suas premissas de
inocência e de naturalismo com uma força só anteriormente vista em Sandy
Denny. A superfície da música é tosca, as harmonias vocais honestamente
discordantes e todas as letras subvertem os temas e as fórmulas tão queridas
a uma tradição adormecida. "I Want to See The Bright Lights Tonight" esgota
a ideologia romântica do princípio da década, enterrando-a com um brado,
chorando-a com um canto."
Edição USA, 1983, com a ref: CGLP 4407
Sem margem para dúvidas, um grande disco donde saíram canções tão
representativas como a faixa título, "The Calvary Cross", "Withered and
Died", "Down Where the Drunkards Roll" ou ainda "The Great Valerio".
Agora, deliciem-se com "I Want to See the Bright Lights Tonight":
Meet me at the station don't be late I need to spend some money and it
just won't wait Take me to the dance and hold me tight
I want to see the bright lights tonight
Richard and Linda Thompson - I Want to See the Bright Lights Tonight
Bob Dylan é um caso à parte em toda a história da música popular. Quase 60
anos de gravações e cerca de 40 álbuns de estúdio editados e Bob Dylan continua
a ser uma referência para sucessivas gerações encontrando nele uma fonte de
inspiração certa. É também certo que nem toda a sua discografia é, digamos,
indispensável, mas também é verdade que não se consegue, desde os anos 60,
atravessar uma década sem a ele nos referirmos, a de 70 não é excepção.
Para Miguel Esteves Cardoso
"Bob Dylan entrou mal na década, com o terrível "Self-portrait" (70), o
medíocre "New Morning" (70) e uma banda sonora muito insonsa em "Pat
Garrett" (73)." Considerava mesmo que
"Chegaria ao fim da década sem um único grande álbum, embora "Blood on the
Tracks", "Desire" e "Slow Train Coming", tenham momentos de grande
inspiração."
Em 1974 publica "Planet Waves" e, atribuindo-lhe três estrelas, a ele se refere
assim:
""Planet Waves", embora contenha duas ou três cancões decentes, não
satisfaz. ("Forever Young" será a única com a estrutura das suas composições
de 60)."
https://www.discogs.com/
"Fovere Young" é na realidade uma grande canção na senda do melhor que Bob Dylan criou, existindo em "Planet Waves" duas versões, uma a fechar o lado A e
outra a abrir o lado B. Manifestamente é a primeira que ficou nos nossos
ouvidos.
Segunda passagem por Leo Kottke, o mesmo motivo: as escolhas de Miguel Esteves
Cardoso, neste caso do ano de 1974 e o álbum "Ice Water" ao qual concede três
estrelas.
Leo Kottke dotado tocador de guitarra acústica nunca conheceu o
estrelato, a sua música assenta numa amálgama de estilos da música tradicional
norte-americana bem retratada, apresentando uma discografia bem regular nas
décadas de 70,80 e 90.
https://www.discogs.com/
A música de "Ice Water" tem o seu quê de melancólica e reflexiva, sendo muito
bem tocada e bem cuidada nos seus arranjos. Não sendo o seu melhor trabalho é
de agradável audição, como, por exemplo, esta "Pamela Brown" com o seu toque
Country tão encantador. Um bom momento de relaxamento, ora ouça-se.
Os primórdios do Country-rock encontram-se nos anos 60 em formações como The Byrds, Buffalo Springfield e The Flying Burrito Brothers. Gram Parsons
(1946-1973) que passou precisamente pelos The Byrds (1968) e The Flying Burrito Brothers (1969–1970) foi um dos seus impulsionadores e uma das
principais referências daquele gênero musical. Posteriormente desenvolve
carreira a solo que teve na jovem Emmylou Harris parceira quer em
concertos quer nos dois álbuns que entretanto realizou.
"Grievous Angel", o segundo LP, foi gravado em 1973 e editado postumamente já
em 1974. Miguel Esteves Cardoso referia-se-lhe assim:
"Gram Parsons deixa um deslumbrante testemunho do seu talento para casar a
sua alegria tranquila com uma singela tristeza sentimental em "Grievous
Angel"." e atribui-lhe cinco estrelas destacando-se assim num ano menos
abundante em discos de alta qualidade.
Edição em CD de 1990 c/ a ref: 7599-26108-2 com os dois LP "GP"
e "Grievous Angel"
"Love Hurts" é uma canção gravada pela primeira vez pelos The Everly Brothers
em 1960 e que teve várias versões de significativo êxito como a dos Nazareth
em 1974, mas, para mim, sem a riqueza da que consta no álbum "Grievous Angel" em dueto com a Emmylou Harris.
Pese Ry Cooder não ser um nome dos mais sonantes da música popular, não sendo
os seus discos objecto de grande divulgação, não impediu que Miguel Esteves
Cardoso o considera-se, em 1980, como um dos "sobreviventes" da década
de 70 colocando-o de acordo com a regularidade e qualidade apresentada numa
"Segunda constelação" ao lado de nomes como Neil Young, Lou Reed e Van Morrison (a "Primeira constelação" estava reservada a Joni Mitchell,
Leonard Cohen, David Bowie e Bob Marley).
Ry Cooder, mais conhecido pela música do filme "Paris, Texas" (1985) e
colaboração no projecto "Buena Vista Social Club" (1997), em 1974 editava o
seu 4º álbum de nome "Paradise and Lunch" e encontra-se entre as escolha de
Miguel Esteves Cardoso atribuindo-lhe generosamente quatro estrelas. Sobre ele
diria:
"Ry Cooder dá-nos um álbum equilibrado, simples e profundamente
enraízado."
Edição alemã com as refs: 244 260; 2179-2
"Released in May of 1974, Paradise And Lunch showcases the diverse range of
musical styles that distinguish Ry Cooder as one of the most versatile and
eclectic artists in pop history. Vintage R&B selections mix with
traditional blues, gospel and ministrel-era gems on an album that is both an
homage to, and an innovative reworking of, American roots music", consta nas notas da edição em CD que possuo.
Fica-se logo cativado com a faixa de abertura, um tradicional de nome "Tamp'
Em Up Solid" bem representativa do género Americana do qual Ry Cooder é um dos
seus melhores intérpretes.
Para Miguel Esteves Cardoso aqueles que melhor atravessaram a década de 70
estavam divididos entre "instável/experimental" e "estável/tradicional", entre
os primeiros encontravam-se, por exemplo, David Bowie e Joni Mitchell, nos
segundos, por exemplo, Leonard Cohen e Neil Young.
Mas, como Miguel Esteves Cardoso sublinha, a diferença é sobretudo de
"enfase e exibição" pois "ambos mudam" embora considere que
"os primeiros exibem dramaticamente as suas decisões, enquanto os segundos
ou as escondem ou não as exibem". Uns e outros, afinal aqueles que melhor passaram pelos anos 70, e não só
digo eu, estão, pela sua criatividade e inovação, entre os melhores
representantes da música Rock. E como qualquer outra arte sujeita à
"persistência através dos tempos" não sendo pois justo
"considerar o Rock como uma arte popular menor, inteiramente governada
pelos caprichos da moda", para concluir que
"As verdadeiras canções, as de Marley, de Cohen, de Mitchell, as de Dylan e
de Neil Young, estarão connosco durante muito tempo, como a música "folk" do
século 24."
1ª edição em CD de 2003 com a ref: 9362-48497-2
Neil Young, com o álbum "On The Beach" encontrava-se entre as escolhas de
Miguel Esteves Cardoso para o ano de 1974 tendo atribuído quatro estrelas.
Actualmente, diria pouco para um dos melhores trabalhos que Neil Young
realizou até hoje.
"On The Beach" continua a exploração de sonoridades nas fronteiras do
Folk-Rock com matizes bluesy poucos comuns na sua discografia, veja-se a
designação de alguns temas, "Vampire Blues", "Revolution Blues"
e "Ambulance Blues". Ainda na senda dos álbuns "Harvest" e "After the
Gold Rush" estava este magnífico "See the Sky About to Rain".