Em 1973 The Moody Blues aproximavam-se do fim ou melhor da interrupção de
actividade que se verificaria entre 1974 e 1977. Melhor seria que não tivessem
regressado, ou pelo menos que tivessem ficado pelos concertos sem gravações,
pois não mais igualaram o período de 1967 a 1972. O grupo evidenciava algum
cansaço e a criatividade de composição já não era o mesmo, de qualquer modo os
7 álbuns gravados neste período são claramente recomendáveis, sendo o último
"Seventh Sojourn" (1972) o menos interessante, não tinha a magia dos discos
anteriores. Menos conceptual, mais conjunto de canções sem interligação,
algumas menos inspiradas e os arranjos das canções mais convencionais do que
aqueles a que nos tinham habituado, mesmo assim pontos altos para "New
Horizons", "For My Lady" e "When You're a Free Man" esta última a
despedida de Mike Pinder do grupo.
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Em 1973 é publicado o Single com "I'm Just A Singer (In a Rock and Roll
Band)", a última canção do álbum e por sinal a que eu menos apreciava. Era
a que mais se afastava do som clássico dos The Moody Blues e os aproximava
de um qualquer grupo de Rock, talvez fosse essa a intenção..., infelizmente.
Passou a ser uma canção frequentemente utilizada ao vivo e que animava
facilmente o público.
The Moody Blues - I'm Just A Singer (In a Rock and Roll Band)
Ou na revista "mundo da canção" ou no jornal "DISCO MÚSICA & MODA" ou
nestas "canções que se ouviam" em determinado ano, não há forma de escapar a
Stevie Wonder e ainda bem, pois, a sua qualidade era inegável e as suas
canções bem representativas da sua capacidade de escrita e interpretação nos
mais diversos estilos. Os anos 70 são, sem dúvida, o seus anos dourados. Em
1973, com somente 23 anos, estava a sua já longa carreira alicerçada em 15
álbuns e encontrava-se na sua fase mais criativa. Lembro-me bem da edição de
álbuns como "Talking Book" (1972) e "Innervisions" (1973), dos elogios da
crítica especializada e da sua divulgação na nossa rádio.
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De "Talking Book" o que mais se ouvia era "Superstition" e "You Are The
Sunshine Of My Life" que em Portugal tiveram edição no mesmo Single, com
"Superstition" no lado A e "You Are The Sunshine Of My Life" no lado B embora
a capa indiciasse o contrário. Nos EUA tiveram edições separadas com esta
última a ser editada somente em 1973. Regozijemo-nos com "You Are The Sunshine
Of My Life"!
Foi já com mais de 30 anos de idade que Roberta Flack se profissionalizou no
mundo da música no final dos anos 60. Começou por gravar um álbum de nome
"First Take" (1969) que só seria notado em 1972 com a descoberta da
canção "The First Time Ever I Saw Your Face" que fazia parte da banda
sonora do filme "Destinos nas Trevas" de Clint Eastwood do ano anterior.
Antes de chegar a 1973 gravou ainda mais três álbuns onde constavam versões de
algumas canções bem conhecidas como "Just Like a Woman" (Bob Dylan), "Bridge
Over Troubled Water" (Simon and Garfunkel), "Will You Still Love Me
Tomorrow" e "You've Got a Friend" (Carole King), "To Love Somebody" (Bee Gees), "You've Lost That Lovin' Feelin'" (The Righteous Brothers). Até
chegarmos a "Killing Me Softly", o álbum e a canção também editada em Single.
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Antes da audição de "Killing Me Softly", uma referência à polémica origem
desta canção. A canção composta por Charles Fox e Norman Gimbel teve uma
primeira versão, sem sucesso, na voz bem bonita, diga-se, de Lori Lieberman em
1972. A polémica encontra-se no contributo que a própria Lori Lieberman terá
dado na escrita da letra segundo ela inspirada num concerto que assistiu de
Don McLean e que Norman Gimbel procurou contrariar.
Polémicas à parte, "Killing Me Softly" uma grande canção aqui na voz de Roberta Flack.
As minhas expectativas em relação a Paul McCartney após o términos dos The Beatles em 1970 eram muito grandes. Expectativas que foram esmorecendo com o
avançar dos anos. A solo ou com os Wings nunca mais chegava o grande disco que
tanto ansiava e fui progressivamente deixando de seguir com pormenor os álbuns
que iam sendo publicados. Aqui e acolá aparecia uma canção interessante mas
não um álbum de grande fôlego apesar de continuar bastante produtivo.
Começou a década de 70 em nome próprio mas rapidamente forma os Wings com os
quais grava até ao final da década. Em 1973 vai para o 4º LP pós-Beatles, o 2º
com os Wings, designado "Red Rose Speedway" e era mais um disco a não passar
da mediania, nem a capa se salvou. Dele se destacou e foi editada em Single a
canção "My Love" com alguns resquícios do Paul McCartney dos anos 60 a manter
a chama viva e a esperança que algo de melhor viesse a ser produzido.
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"My Love" foi mesma única canção de "Red Rose Speedway" que me recordo de
ouvir em 1973. Altura de a ouvir mais uma vez.
O manancial de música popular das últimas 6 décadas é impressionante. Estados
Unidos da América e Reino Unido lideram a produção que teve inicialmente na
juventude o seu principal destino. Proliferaram e proliferam um sem número de
nomes que por muito ambicioso e disponibilidade eu tivesse era impossível
abranger de uma forma razoável. Mesmo que afunilasse o critério de qualidade,
mesmo assim seria uma tarefa faraónica impossível de levar a bom porto.
De qualquer forma aqui vou dando o meu pequeníssimo contributo na recordação
de temas musicais que de alguma maneira passaram pela minha vida, algumas de
qualidade inegável outras nem por isso, algumas esquecidas de todo, outras
(re)descobertas recentes, outras estão no limbo mal as começo a ouvir
lembro-me logo da música por vezes sem necessidade de qualquer pesquisa
adicional para a contextualizar. "Reelin' In The Years" dos Steely Dan
encontra-se nesta última situação ficando-me só a dúvida do ano a que
pertencia mas rapidamente resolvida pois tinha sido no ano em que fiz as malas
para ir estudar para Coimbra.
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Os Steely Dan são um grupo norte-americano dos anos 70 cuja música se
caracterizava por uma mistura bem feita de Pop-Rock, umas pitadas jazzísticas
e, por vezes, um toque latino que tornava os seus discos agradáveis de se
ouvirem. Lembro-me que a primeira confusão que tive, rapidamente desfeita pois
o estilo musical era bem distinto, foi o nome pois confundia com os Steeleye Span doutras paragens e doutras músicas.
O primeiro LP surgiu em 1972 de nome "Can't Buy a Thrill" que continha temas
irresistíveis como "Do It Again", "Dirty Work" e a canção de hoje "Reelin' In
The Years" publicada em Single em 1973.
Como já devem ter dado conta os meus Regresso ao Passado têm privilegiado, até
hoje, sobretudo o final do anos 60 e início dos anos 70 onde se encontram uma
boa parte das minhas recordações que aqui tenho partilhado. Não que esteja preso a
esses anos pois, sempre que me apetecer, seja qual for o motivo, qualquer ano
é bem vindo, a prova está nos anos que se encontram referenciados sob a
designação "Anos e Décadas" que vão de 1929 a 2019.
Os mais atentos ou curiosos poderão ter dado conta que tenho feito uma (lenta)
evolução no tempo, primeiro centrada na segunda metade dos anos 60 depois em
1970, 1971 e depois 1972. Está na altura de dar mais um pequeno passo e
centrar-me no ano de 1973 do qual ainda tenho relativamente poucas passagens.
Para isso utilizo o tema "Canções que se ouviam no ano de 1973" e que as fui
buscar à memória mas também às listas de Top daquele ano e que
correspondem a canções que se ouviam sobretudo na rádio. Assim sendo é natural
que surjam canções que foram editadas anteriormente, sobretudo 1972 e que de
alguma forma se tornaram mais populares em 1973.
Quem leu os meus Regresso ao
Passado dedicados a Elton John ficou com a ideia que o meu interesse por Elton John se limitou ao curto período de 1970 e 1971, onde efectivamente, continuo
a afirmar, se encontra o melhor deste autor. Por mais alguns anos continuei a
ouvir os discos novos que ele prolificamente ia editando, mas progressivamente
me fui afastando. O conceituado "Honky Chateau" (1972) não me encheu as medidas
o mesmo acontecendo em 1973 com "Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player" e
"Goodbye Yellow Brick Road".
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Para hoje fico-me em "Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player" fenómeno de
popularidade com "Daniel" e "Crocodile Rock" precisamente as faixas que eu
menos gostava deste disco que ainda me atraía em canções como "Blues for
Baby and Me" e "Have Mercy on the Criminal", quedando-se o restante pela
mediania.
Independentemente dos gostos aqui fica "Crocodile Rock", primeiramente editada
em 1972, mas que muito se ouviu em 1973.
Termino este nº 5 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" como comecei ou seja com
os Jethro Tull. A contra-capa era ocupada por inteiro com os Jethro Tull, uma
foto de Ian Anderson e a afirmação dele "A única coisa que temos em comum é a
nossa música" a fazer o título do artigo. Nele Ian Anderson reconhecia a
importância da edição de Singles
"...onde nada pode falhar: tudo tem de ser planeado com exactidão absoluta,
de tal modo que se possa dizer tudo o que se pretende em 3 minutos
apenas...", o que é curioso quando os seus trabalhos de maior sucesso viriam a ser álbuns
conceptuais como "Aqualung", "Thick as a Brick" e "Passion Play".
Mais uma vez parece haver um desfasamento temporal entre o artigo original e a
sua publicação em Abril de 1971 no nosso jornal "DISCO MÚSICA & MODA",
senão vejamos: as únicas composições referidas são "Sweet Dream" e "Living In
The Past" ambas publicadas em Single em 1969. Em termos de álbuns há somente
uma referência a "Stand Up" (1969) pelo que arrisco que nem "Benefit" (1970)
teria sido gravado. Para mais é dito que
"...Martin Barre, o viola, que substituiu Mick Abrahms há quase um
ano..." ou seja, se, é sabido, Martin Barre ingressou nos Jethro Tull em
Dezembro de 1968 muito provavelmente este texto foi escrito ainda em 1969 o
que confirma a suspeita.
De qualquer modo o que interessa é que os mais interessados têm aqui um texto
antigo que para muitos será desconhecido e eu tenho um pretexto para voltar
aos Jethro Tull, aos Jethro Tull de 1971 que com "Aqualung" ganhavam novas
audiências.
Os elogios não faltaram, por exemplo, a revista "DISC & MUSIC ECHO"
escrevia a 20 de Março de 1971
"Good Heavens, now Ian Anderson wants us to think" e
"Jethro Tull's new album Aqualung must be their best yet. It reaches new
standards in every department".
De um disco controverso na abordagem da temática religiosa na segunda parte,
escolho "Wondr'ing Aloud" uma pequena canção de amor da primeira parte. No
dizer de Ian Anderson: "'WANDERING ALOUD' is a bit of personal nonsense, it's a love song. It's
difficult to write love songs if you write songs a lot; love is a separate,
personal thing. But this is the most satisfying thing I've made a record of.
It's well played and sung quite well. It's a pretty song."
"Música Nova", "Música Velha" eis a luta que no início dos anos 70 se travava
em Portugal e que o jornal "DISCO MÚSICA & MODA" faz eco no seu nº 5 em
Abril de 1971 com um artigo sob o título de "Outra «Alvorada» para a «Música
Nova»".
«Alvorada» era uma etiqueta musical pertença da editora Rádio Triunfo que à
data deste artigo operava mudança na sua alinha editorial para isso contratou
Carlos Portugal com o intuito de renovar a sua política de gravação apostando
em jovens de talento que então surgiam em contraponto com artistas mais velhos
ligados à música ligeira mais conservadora.
"Que se prensem discos de boa música, de bons intérpretes e de bons
compositores é um dos maiores desejos de quem se deseja libertar, pelo
esquecimento, das negras brumas musicais do passado."
lia-se neste artigo, onde se referiam as gravações já efectuadas com Luís Romão e o duo Elas.
O primeiro Single de Luís Romão, com produção de Carlos Portugal e Direcção
musical de Pedro Osório, seria editado em 1971 encontrando-se o seguinte texto
na contra-capa:
"Eis o primeiro disco de Luís Romão. Eis, concretizado, o esforço e o trabalho de quatro meses; mas, também, eis,
em Single, o entusiasmo duma equipa crente, deste o primeiro instante, nas
excepcionais possibilidades deste novo artista. Eis, finalmente, nas simples
espiras dum disco, mais uma vez demonstrada a linha que sempre norteou esta
editora: possibilitar a revelação de novos valores. Cabe, agora, ao público e à crítica apreciar e julgar a voz e o poder
interpretativo de Luís Romão. Por nós ficamos com a certeza de termos divulgado um jovem que irá enriquecer
com a sua voz e a sua música o panorama artístico português. Luís Romão nasceu em Évora, em 1948. Estudou em Coimbra onde colaborou em vários Conjuntos de estudantes; aí
conheceu Carlos Portugal e juntos actuaram em várias festas estudantis. Veio,
mais tarde, para Lisboa prosseguir os estudos. Pertenceu desde a sua fundação, ao Conjunto Fluído como guitarra solo. Em traços muito largos esta é a "história" de Luís Romão.
No caminho do êxito os primeiros passos começam agora..."
"Cavalgando meu País" é a canção título deste Single que infelizmente não se
encontrava entre o mais inovador e consistente da «Música Nova" que então se
anunciava.
"Os Elementos Constitutivos do Jazz" é o título de um conjunto de artigos que
o jornal "DISCO MÚSICA & MODA" publicou nas suas páginas. Os dois
primeiros foram dedicados ao "ritmo" e ao "swing", e já se encontram neste
blogue, neste terceiro o tema é "tratamento da matéria sonora" e constava no
nº 5 daquele jornal.
Trata-se de um aspecto facilmente reconhecido, pois segundo o artigo "A uma primeira (e breve) audição, qualquer indivíduo, por mais afastado que
se encontre das lides musicais, pode verificar que a sonoridade do trompete
de Louis Amstrong (ou de Miles Davis) é completamente diversa da sonoridade
exigida nas escolas onde se ensina a música «erudita» europeia; e ainda que
a de Louis é, por sua vez, bastante diferente da de Miles."
As razões desta forma original de "tratamento da matéria sonora" e
desenvolvida de seguida em três pontos; muito melhor do que eu tentar falar
deles sugere-se a sua leitura.
A única referência a músicos de Jazz é aquela que acima transcrevi, escolho
Miles Davis pela
"... sua maneira muito especial de encarar o tratamento da matéria
sonora".
Ontem John Coltrane hoje Miles Davis, coincidência ou não, duas figuras
incontestadas do melhor Jazz produzido que foram das primeira que aprendi a
gostar.
Recuo a 1959, para aquele que muitos consideram o melhor disco de Jazz de
sempre, "Kind of Blue". Em "So What", a faixa escolhida, o sexteto de gravação
foi o seguinte:
Miles Davis - Trompete Julian "Cannonball" Adderley – Saxofone Alto Paul
Chambers - Baixo James Cobb - Bateria John Coltrane - Saxofone Tenor
John Coltrane foi um dos primeiros músicos de Jazz que aprendi a apreciar, não
sei como, nem onde, nem quando mas muito provavelmente nos primeiros anos da
década de 70, provavelmente ouvindo-o no "Cinco minutos de Jazz" e nalgum
disco de algum amigo quando estudante na Universidade de Coimbra e também,
isso de certeza, através da leitura de artigos sobre ele. Um deles foi este
pequeno texto, que serve de pretexto para o Regresso ao Passado de hoje, e
que vinha publicado no nº 5 do jornal quinzenal, cuja leitura devorava de fio
a pavio, "DISCO MÚSICA & MODA" sob o título "John Coltrane saxofonista
dominante dos anos 60". Estávamos no ano de 1971 e a divulgação da música Jazz
era muito escassa no nosso país, era um género musical amaldiçoado pelo regime
político vigente e as oportunidades de a ouvir diminutas, felizmente o
panorama começou a mudar precisamente em 1971 com a realização em
Novembro do 1º Festival Internacional de Jazz de Cascais.
John Coltrane (1926-1967) encontra-se entre os maiores músicos da história do
Jazz e tinha o dom de extrair
"... do saxofone soprano uma poderosa força encantatória" de acordo
com o artigo em causa.
Faleceu em 1967 com somente 40 anos vítima de cancro, valha a quantidade
enorme de gravações que nos deixou que permitem ainda a edição de novos álbuns
tantos anos passados da sua morte.
Um dos primeiros trabalhos que me lembro de ter ouvido foi o álbum "A Love
Supreme", de 1964, com o famoso quarteto de que faziam parte McCoy Tyner, piano,
Jimmy Garrison, baixo e Elvin Jones na bateria, aqui John Coltrane toca
saxofone-tenor.
Composto de quatro partes fica a primeira "Acknowledgement".
Na mesma página do artigo sobre The Four Seasons que ontem recuperei, o
jornal "DISCO MÚSICA & MODA" publica um artigo sobre os King Crimson
intitulado "King Crimson: A sua música é «Liberdade Organizada»" e que é o
motivo do Regresso ao Passado de hoje.
Algo de estranho tem este artigo que não era assinado, quase de certeza com
origem na colaboração que o jornal tinha com o "New Musical Express" ou o
"Melody Maker", começava assim:
"No curto espaço de seis meses os King Crimson arrebataram a Inglaterra.
Formando o conjunto em Janeiro de 1970, fizeram a sua apresentação em Abril
e, com o LP «In the Court of the Crimson King», classificaram-se
destacadamente nas tabelas de vendas."
Ora bem, é sabido que os King Crimson se formaram em finais de 1968 e que o
primeiro concerto foi em Junho de 1969 no concerto gratuito dos The Rolling Stones no Hyde Park, por sua vez o LP "In The Court Of The Crimson King" foi
publicado ainda em 1969, pelo que está completamente errada a apresentação que
aqui é feita do grupo. Por outro lado, ao longo de todo o texto, entrevista a
Robert Fripp incluída, só é referido o 1º LP, ora tendo este artigo sido
publicado em Abril de 1971 quando os King Crimson já tinham editados 3 álbuns,
tal só será possível se estivermos na presença de um artigo antigo
provavelmente anterior a Março de 1970, pois Robert Fripp referindo-se ao
próximo álbum diz "... que esperamos gravar no mês de Março." É sabido
que o 2º LP, "In The Wake Of Poseidon", foi concluído em Abril de 1970
pelo que está em sintonia com a afirmação de Robert Fripp.
Discrepâncias à parte, note-se a vontade de Robert Fripp de não ceder à
tentação do comercialismo face ao bem recebido "In The Court Of The Crimson
King", dizia ele:
"Se, o que estamos a fazer é apreciado por um grande número de pessoas,
isso não significa que o nosso nível vá descer. Se nada houver em contrário,
continuaremos em ritmo ascendente."
A afirmação de Robert Fripp como líder incontestado do projecto King Crimson
foi imediata e as alterações na constituição do grupo logo se fizeram sentir,
Ian McDonald e Michael Giles foram os primeiros a sair (McDonald & Giles
em 1971), logo em 1969 e depois em 1970 com a saída de Greg Lake (para fazer parte do
trio de Rock Progressivo Emerson, Lake and Palmer). Foram pois formações quase
ocasionais que gravaram o 2º e 3º LP.
Em "Lizard" podemos encontrar músicos como Mell Collins, Keith Tippett, Jon
Anderson dos Yes e Tony Levon e foi, em meu entender, um pouco inferior aos
dois primeiros, é um disco sombrio com vocalizações estranhas de Gordon
Haskell e um fraseado muito jazzístico.
Em 1971 grupos como The Four Seasons estavam completamente fora de moda e por
isso não me chamou especial atenção.
O grupo constituiu-se em 1960 tendo como figura central Frankie Valli,
mantendo-se ainda hoje com 86 anos como o único elemento da formação original
(verifico em https://frankievallifourseasons.com/ que continua com concertos
marcados já para 2021 quer nos Estados Unidos quer no Reino Unido), a sua
relevância levou a que muitas vezes, desde os anos 70, aparecessem como
Frankie Valli and the Four Seasons.
Provavelmente foi o primeiro texto que li sobre The Four Seasons aquele que
vinha publicado no nº 5 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" publicado em Abril
de 1971, intitulado "Os Seasons reaparecem" a propósito do regresso do grupo a
Inglaterra após um interregno de 7 anos e no qual se queixavam das suas
canções mais recentes não serem suficientemente promovidas no Reino Unido.
Com razão ou sem ela, parece-me contudo que o espaço para o género musical
que mantinham, um Pop vocal com grandes harmonias, não se enquadraria de todo
nas sonoridades mais ritmadas e pesadas que então prevaleciam.
Do primeiro LP "Sherry & 11 Others" de 1962 recorda-se "Big Girls
Don't Cry".
Tinha eu 13, 14 anos e gostava dos Ten Years After. Sim, apreciava aquela
mistura electrizante de Rock e Blues e não resistia aos solos de Alvin Lee,
então conhecido pela sua rapidez na execução da guitarra. Fiquei rendido com
"Ssssh", o 3º LP, corria o ano de 1970 e ainda neste ano a "Cricklewood Green"
onde constava a tal "Love Like a Man", uma das canções de maior êxito do
grupo.
O jornal "DISCO MÚSICA & MODA" no seu nº 5 de Abril de 1971 trazia um
artigo, a ocupar uma página, sobre os Ten Years After onde passava em resumo o
passado do grupo, desde que se encontraram
"... numa estação de autocarros segundo diz a lenda" até ao álbum
"Watt", o 5º e então mais recente da discografia do grupo, onde
"A força do grupo parece estar um tudo nada enfraquecida."
Efectivamente, "Watt", entalado entre os bem sucedidos "Cricklewood Green" e
"A Space In Time", denotava alguma falta de inspiração e passou-me
despercebido. O meu interesse pelos Ten Years After diminuiu drasticamente e a
meio da década terminavam para regressarem já nos anos 80 com a mesma
formação.
Cinco décadas passadas recupero "I'm Coming On" a faixa de abertura de "Watt".
Quando este nº do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" foi publicado em 1971 Elton John encontrava-se no auge da sua produção discográfica. Já tinham sido editados os
dois álbuns que eu mais gosto da sua longa discografia, respectivamente "Elton
John" e "Tumbleweed Connection", a banda sonora de "Friends" tinha acabado de
ser editada, assim como o excelente, ao vivo, "17-11-70" e o ano não
terminaria sem ouvir-mos "Madman Across the Water", já agora foi o ano em que
Elton John actuou em Portugal no Festival de Vilar de Mouros.
Pouco conhecido era Bernie Taupin que ainda hoje se mantém como letrista das
canções de Elton John, era pois oportuno o artigo que vinha publicado no nº 5
de "DISCO MÚSICA & MODA" bem intitulado "Bernie Taupin - a outra metade de
Elton John". Quis o acaso que ambos respondessem, em 1967, ao mesmo anúncio da
Liberty Records no jornal "Melody Maker" e que daí resultasse uma longa
parceria que durante alguns anos me encantou e que foi tão marcante na minha
juventude.
Para hoje escolhi o tema "Seasons" que pertencia à banda sonora do
filme "Friends", história de amor de dois adolescentes. O álbum
contava com a ajuda preciosa de Paul Buckmaster nos arranjos de orquestra. "Seasons", no cruzamento das prestações de Elton John, Paul Buckmaster e do insubstituível Bernie Taupin.
For our world, the circle turns again Throughout the year we've seen the seasons change It's meant a lot to me to start anew Oh the winter's cold but I'm so warm with you Out there there's not a sound to be heard And the seasons seem to sleep upon their words
Hoje as páginas centrais, 8 e 9, e ainda parte da 10, do jornal "DISCO MÚSICA
& MODA" nº 5, tudo com um único artigo sobre um concerto dos Rolling Stones,
intitulava-se "Londres, Roundhouse a outra face do mundo que não temos", um
subtítulo dizia "Rolling Stones num dia para esquecer" o que nos dá logo o tom
da apreciação que vai ser feita. Concerto realizado a 14 de Março de 1971.
Texto longo que se perde nos preliminares, quanto ao concerto propriamente
dito parece que só Mick Jagger e Keith Richard foram de agrado do crítico já
que segundo Jorge Beckmann
"No palco, só Jagger parece existir." assistindo-se a
"... uma imobilidade quase total de Bill Wyman, Mick Taylor e de Charlie
Watts."
Este último, "...desprovido de imaginação..." quanto aos outros dois
"... pode dizer.se que se limitaram a cumprir a sua obrigação."
Excesso de exigência ou simplesmente a correcta observação de um grupo que com
o passar dos anos foi ganhando unanimismo junto da crítica especializada.
Este concerto fez parte do "UK Tour 1971" constituído somente por 10 datas,
sendo a primeira turné que fizeram no Reino Unido desde 1966, excepção para o
concerto gratuito no Hyde Park em 1969 dois dias após a morte de Brian
Jones, um dos fundadores dos Rolling Stones.
O tema inicial foi "Jumpin' Jack Flash" usual na abertura dos concertos, o
mesmo tinha acontecido meses antes em Nova Iorque, no Madison Square Garden, e
que fez parte do álbum ao vivo "Get Yer Ya-Ya's Out!" de 1970.
As páginas 6 e 7 do nº 5 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" são ocupadas por
um artigo assinado por Rui Paulo da Cruz relativo ao Festival da Casa da
Imprensa de 1971 realizado no Coliseu a 23 de Março, anunciado como "Festival
Música Nova" e que se serviu de entrega dos prémios da música ligeira pela
Casa da Imprensa. De acordo com o artigo apurei que os seguintes artistas
passaram por aquele espectáculo:
Eclético quanto baste apresentava algumas das melhores propostas da música
ligeira e do Pop-Rock nacional. Motivos mais que suficientes para um grande
espectáculo, mas, de acordo com o articulista,
"... espectáculo terminado e balanços conscientemente feitos, qualquer
espírito mais frio e atento terá compreendido este festival como um zero
absoluto para a música nova."
Uma das razões terá sido a qualidade sonora com "...as vozes dos intérpretes... totalmente ofuscadas pela violência das
aparelhagens de amplificação." Ai a qualidade do som! era sempre uma barreira tão difícil de
ultrapassar.
Destacou-se José Jorge Letria"... o autor e intérprete que apareceu a trilhar um caminho mais
certo.", e o unanimismo em torno de José Afonso,
"Mal ouviu citar o seu nome, a plateia levantou-se. Em pé. aplaudiu a
chegada do novo ídolo.".
Tanto quanto consegui apurar foram premiados neste evento o Thilo Krassmann
pelo seu contributo na valorização da música ligeira portuguesa, os
cantores Teresa Paula Brito e Paulo de Carvalho, o instrumentista Vítor
Santos, José Afonso pelo álbum "Traz Outro Amigo Também" e o Prémio Especial
foi para Rui Mingas"...pela divulgação do folclore da sua terra."
Provavelmente José Afonso estaria proibido de cantar pois "À notícia de que José Afonso não cantaria, o público reagiu numa negativa
vigorosa e fez exigência ruidosa de que qualquer coisa soltasse a
garganta do «mestre». «Canto Moço» foi o que José Afonso cantou para a
assembleia vibrante e por uma das raras vezes unânime."
Assinado por Nuno Vasco, "Brasil de Hoje" consta na página 5 do nº 5 de "DISCO
MÚSICA & MODA", jornal quinzenal de divulgação musical e não só virado
para a juventude então ávida de novidades da música popular, não só a por cá
praticada como sobretudo da anglo-saxónica. Neste caso em concreto é da música
brasileira que se trata, país que se encontrava desde 1964 sob ditadura
militar que se iria prolongar até 1985 e que obrigou alguns dos seus melhores
autores ao exílio.
Entre as pequenas notícias que este texto continha, a primeira era sobre
"Gilberto Gil cotado em Londres como músico de respeito". Esteve em exílio de
1969 a 1971, tendo-se então, conjuntamente com Caetano Veloso, dado a conhecer ao mundo, teve a "sorte" de participar no Festival da Ilha de Wight em 1970 e
de no ano seguinte gravar um LP, o quarto. Dizia o artigo, referindo-se a
concerto dado no British Council em Londres:
"Cotado no meio profissional inglês como um músico de respeito, Gilberto
Gil apresentou em Londres as músicas do seu primeiro LP inglês, a sair em
breve, naquela capital e, depois, no Brasil."
Deste álbum escolho "Can't Find My Way Home", uma canção de Steve Winwood do
álbum único dos Blind Faith de 1969. Excelente esta interpretação de Gilberto Gil a deixar muitas saudades.
Continuando a folhear este nº do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" deparo-me na
página 5 e parte da 6 com artigo dedicado a Robert Wyatt, nome à época pouco
conhecido isoladamente, e que em tempos já a ele me tinha referido. O artigo
dava pelo nome "Lamento grande parte do que fiz - confessa Robert Wyatt",
recorde-se: Robert Wyatt foi um eminente baterista, fundador do grupo Soft Machine, aqueles que, para meu gosto, melhor fizeram a fusão do Rock com o
Jazz, depois de 1970 iniciou brilhante carreira a solo, acentuada após o
acidente de 1973 que o deixou paraplégico.
O título do artigo dá uma importância a uma frase dele que na realidade não
tem (o artigo original de 2 de Janeiro do jornal britânico "Melody Maker" era
sem dúvida mais apropriado, sendo "Inside the mind of a Machine"). pelo
contrário, logo no início do artigo fica-se a saber que
"O ano de 1970 foi fecundo para Robert Wyatt" e que
"... ascendeu a um lugar de baterista de excepção na música britânica dos
nossos dias".
No ano de 1970 para além das gravações do 4º álbum, "Fourth", dos Soft Machine, esteve nos projectos Keith Tippett Centipede e Symbiosis e
ainda colaborou com o seu ex-colega de grupo Kevin Ayers.
Para ilustração deste Regresso ao Passado recorro ao álbum dos Soft Machine
que continuavam na senda da melhor aproximação que o Rock fazia ao Jazz, no outro lado do Atlântico passava-se o inverso com as aproximações que o Jazz fazia ao Rock tendo Miles Davis à cabeça com "Bitches Brew".
Robert Wyatt, na bateria, está soberbo
atribuindo grande coesão à complexa sonoridade do grupo.
Chuck Berry (1926-2017) foi um cantor norte-americano e foi um dos pioneiros
do Rock'n'Roll. Teve nos anos 50 a sua maior relevância com temas
como "Maybellene", "Roll Over Beethoven", "School
Day", "Rock and Roll Music" e "Sweet
Little Sixteen" que ficaram para sempre como marcas do Rock'n'Roll então
nascente. Algumas das suas canções foram objecto de novas interpretações por
grupos tão significativas da década de 60 como The Beatles e Rolling Stones.
Pese a sua progressiva diminuição de importância e influência na cena musical,
deixando de gravar a partir de 1979, continuou a actuar em público até à sua
morte em 2017 e a ser uma referência para muitos músicos de Rock.
"Chuck Berry e a sua influência decisiva nos anos 50" é o título do artigo que
ocupava toda a página 3 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" no seu nº 5 de
Abril de 1971. Começa por citar Johnny Winter quando este afirmou que
"Chuck Berry, era o «Jimmy Hendrix dos anos 50»", considerando logo de
seguida que
"...a associação de Berry a Hendrix parece um tanto forçada. De facto, é
bastante difícil apartar dois artistas tão diferentes", para de seguida referir a influência que teve nos grupos ingleses dos anos
60:
"Os Beatles, os Rolling Stones... e os Animals foram três dos agrupamentos
que reconheceram a sua fidelidade inicial a Berry." Quanto ao presente (1971) lia-se no artigo:
"Actualmente, ninguém pode girar um disco de Chuck Berry, com 15 nos, sem
ficar convencido de que a música popular teve aí a sua origem. Mas deve-se
também que concordar que ela se aperfeiçoou entretanto."
Aquando da publicação deste artigo, o último disco de Chuck Berry era o álbum
"Back Home" donde foi extraído o Single com "Tulane" que, muito provavelmente,
nem cheguei a ouvir. Teria que esperar por 1972 com o seu "My
Ding-a-Ling", o seu último sucesso.
Ora ouça-se "Tulane", era assim que Chuck Berry soava em 1970.
Última passagem pela página 2 deste nº do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" de
1 de Abril de 1971 onde constava diversas tabelas de vendas daquela altura.
Faltava referir a tabela dos Singles nos Estados Unidos, um mix com as vendas na
Grã-Bretanha e teríamos uma excelente colecção de canções que se ouviam no ano
de 1971.
Fico-me logo pelo nº 1, Tom Jones com a sua "She's a Lady" canção que fazia
parte do álbum homónimo editado também em 1971. Do vozeirão do galês Tom Jones, que tanto ouvi na minha meninice, não é fácil esquecer e quem for dos
meus tempos certamente que se lembrará, por exemplo, de "Delilah", "Green,
Green Grass of Home" e "I'm Coming Home".
"She's a Lady" seria um dos seus últimos sucessos deste período, teríamos de
esperar pelo final dos anos 90 para ouvir falar de novo de Tom Jones com a
versão de "Burning Down The House" dos Talking Heads.
Ainda a página 2 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" na sua edição nº 5 de
Abril de 1971. Em causa as várias classificações de vendas, entre as quais o
Top 10 de Singles da Grã-Bretanha tendo como fonte o jornal Melody Maker. Em
1º lugar encontrava-se "Hot Love" dos T. Rex, canção de grande sucesso que os
deu a conhecer em Portugal, pelo menos comigo foi com esta canção que os
conheci. Algures neste blogue é possível encontrá-la, assim como as seguintes:
"Another Day" de Paul McCartney e "Rose Garden" de Lynn Anderson. Salto "Baby
Jump" dos horríveis Mungo Jerry e paro no 5º lugar, "It's Impossible" de Perry
Como.
O improvável Perry Como surgia em 1970 nas listas dos mais vendidos com a
canção "It´s Impossible", versão da canção "Somos Novios" (1968) do mexicano
Armando Manzareno.
Digo improvável porque Perry Como (1912-2001), que tinha sido considerado o
"crooner" do ano de 1943, pertencia a um estilo musical que em 1971 poder-se-ia dizer ultrapassado face ao Pop e Rock então dominantes. As suas
primeiras gravações datam mesmo da década de 30 e portanto é de relevar que em
1971 ainda conseguisse andar pelos Top de vendas.
"It´s Impossible" é uma belíssima canção que deixa saudades deste tipo de
canto, para mais na voz calma e tranquila que Perry Como possuía.
Mantenho a página 2 do nº 5 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" com as tabelas
de vendas de álbuns e Singles. Hoje é a vez dos Singles mais vendidos em
Portugal que mantinha níveis interessantes de qualidade, eram claramente
outros tempos. Dos 6 primeiros já, de alguma forma, os recordei e podem
facilmente encontrar neste blogue, é ao 7º que surge uma canção ainda aqui não recordada e por isso o motivo da escolha, "Have You Ever Seen The Rain" dos
Creedence Clearwater Revival.
Depois do tão bem recebido "Cosmos´s Factory" (1970), os super produtivos CCR
realizam ainda no mesmo ano um novo álbum de nome "Pendulum" e apesar de não
ter o fulgor do anterior ainda cativou muitos dos seguidores do grupo. Para
mim, que tive sempre uma relação dúbia com a música do grupo, quando ouvia
gostava mas não ia a correr comprar os discos, foi dos registos que menos ouvi,
embora como se vê na lista de álbuns se mantivesse em 1º lugar na preferência
de compras dos portugueses.
Mas, mantinha algum do encanto que seduzia a juventude, nomeadamente com o
tema de hoje "Have You Ever Seen The Rain" ou ainda "Hey Tonight".
O som agradável de "Have You Ever Seen The Rain", um dos últimos sucessos do
grupo, o fim estava próximo.
Creedence Clearwater Revival - Have You Ever Seen The Rain
A página 2 do jornal "DISCO MÚSICA & MODA" publicava o habitual "TOP 20"
com os discos mais vendidos em Portugal, Grã-Bretanha e Estados Unidos. E, em
particular na lista de álbuns referentes às vendas nas maiores discotecas de
Lisboa e Porto, espante-se com a qualidade dos LP mais vendidos, quase todos a
merecerem, ainda hoje, fazer parte de numa boa discoteca. Reparem "Led
Zeppelin III" e "Abraxas" respectivamente em 2º e 3º e note-se as novas
entradas "Fotheringay", espante-se!, directamente para 4º lugar, logo seguido
do triplo de George Harrison, "All Things Must Pass", o álbum ao vivo de Jimi Hendrix, "Band of Gypsys", e ainda o duplo "Woodstock", o disco com escolhas
feitas do histórico Festival com o mesmo nome. Já agora de referir ainda o 1º
e melhor álbum dos Emerson, Lake and Palmer.
Muito por onde escolher! Moeda ao ar e quis a sorte que opta-se por Jimi Hendrix.
Quatro anos (1967-1970) bastaram para que o epíteto de "Melhor guitarrista
Rock" lhe fosse atribuído e ainda hoje lhe assente devidamente. Naquele curto
período deixou-nos três álbuns de estúdio e ainda um álbum ao vivo gravado a 1
de Janeiro de 1970 no Fillmore East em Nova Iorque e editado naquele
ano.
"Band of Gypsys" é pois um álbum ao vivo, o primeiro sem o seu grupo original
The Jimi Hendrix Experience. Igualmente um trio, agora com Billy Cox no baixo
e Buddy Miles na bateria, o álbum contém elementos de Funk e Hard Rock e por
vezes fica a sensação de o grupo estar em jamming ou seja a "curtir" enquanto
desenvolvem os temas. Seria o último álbum editado com Jimi Hendrix vivo, pois
viria a falecer a 18 de Setembro.
Por cá o álbum provavelmente só apareceu à venda no ano seguinte com esta
entrada directa para o 6º lugar dos mais vendidos. Recordo "Power To Love".
De regresso ao jornal "DISCO MÚSICA & MODA", jornal quinzenal de divulgação
musical, e alguma moda, publicado em Portugal no ano de 1971. Começo hoje com o nº 5 editado a 1 de Abril e cuja capa se reproduz de seguida.
Os destaques iam para duas fotografias, uma de Ian Anderson, flautista e líder
dos Jethro Tull, e Robert Wyatt, baterista e elemento fundador dos Soft Machine, no interior os respectivos desenvolvimentos.
Ainda uma caixa com os títulos "O Festival da Casa da Música" e "Rolling
Stones em Queda" também a desenvolver no interior, a eles havemos de chegar.
À data da edição deste nº de "DISCO MÚSICA & MODA" estava prestes a rebentar o
álbum "Aqualung" dos Jethro Tull, era o 4º e ficou para a história como
uma referência do grupo e do Rock Progressivo do início dos anos 70, Ian Anderson impunha-se como líder incontestado do grupo. No entanto os Jethro Tull já eram bem conhecidos, assim como as excentricidades de Ian Anderson em
palco, não fosse o Festival da Ilha de Wight no de Verão de 1970.
Para lembrar mais uma vez os Jethro Tull recorro de "Stand Up", um álbum
pleno de sincretismo a demonstrar a enorme versatilidade de Ian Anderson, "For A Thosusand
Mothers" é a escolha de hoje.
Ontem estávamos em 6 de Março de 1967, hoje damos um pulo até 8 de
Setembro de 1974. Ontem lembramos os primórdios do prematuramente desaparecido
Tim Buckley, hoje os tempos difíceis de Robert Wyatt após ter ficado
paraplégico. Os dois nomes importantes da música popular, o primeiro do
Folk-Rock norte-americano, o segundo do Rock experimental britânico.
Robert Wyatt elemento fundador dos seminais Soft Machine com quem gravaria os
primeiro 4 álbuns entre 1968 e 1971, neste mesmo ano forma os Matching Mole
publicando dois álbuns no ano de 1972 e terminam neste mesmo ano. Entretanto
tinha já dado início a carreira a solo com o experimental "The End of an Ear"
(1970).
1973 é o ano do acidente, embriagado cai de uma janela de um 4º andar, que
levaria a ficar paralisado da cintura para baixo. 1974 vê o seu regresso com
um álbum, hoje em dia, considerado por muitos como o seu melhor e um dos
melhores de sempre da música popular, "Rock Bottom".
E chegamos a 8 de Setembro de 1974 ao Theatre Royal Drury Lane, em Londres,
onde se realizou o concerto de Robert Wyatt & Friends, o único, até hoje,
por ele realizado. Entre os elementos que o acompanharam neste concerto
encontravam-se nomes como Mike Oldfield, Nick Mason, Fred Frith, Julie
Tippetts (Julie Driscoll), Hugh Hopper entre outros, em suma, uma
constelação de estrelas.
Pese o estado em que se encontravam as gravações que correspondem às faixas 11
a 14 que levou conforme informação da contra-capa
"...the second set is cobbled together from scraps of incomplete monitor
mixes etc, and can only be described as a damage limitation exercise"
esta edição de 2005 está mais que justificada. Atrevo-me mesmo a escolher
"Instant Pussy", a faixa 11, bem reveladora das sonoridades que Robert Wyatt
então praticava.
E assim termino, e bem, este primeiro conjunto de canções subordinado ao tema "Raridades".
Nestas minhas "raridades" dou hoje um salto até ao dia 6 de Março de 1967.
Nessa data Tim Buckley tinha já editado, com somente 19 anos, o seu primeiro
LP, "Tim Buckley", onde já se encontravam todas as suas surpreendentes
qualidades vocais e de composição.
Izzy Young (1928-2019) era dono de uma loja de livros e discos de Folk em
Greenwich Village, em Nova Iorque chamada Folklore Center e por lá passaram
muitos nomes conhecidos do mundo Folk dos anos 60, entre eles Bob Dylan,
Peter, Paul and Mary, Joni Mitchell e Tim Buckley.
Um dia de Fevereiro de 1967 Tim Bukley entrou na loja e travou conhecimento
com Izzy Young que rapidamente o convida a actuar na loja o que aconteceu a 6
de Março de 1967.
"I explan to him that there is no loge, no microphone, no lighting and he
smiles broadly. I don't tell him what to sing, or how to sing, or dress. He
talks with people that come to the concert, he stands by the window, looking
out the street, and I walk up to him, we turn to the audience, about 35
strong, and I introduce him." revela Izzy Young em 6 de Abril de 2009 e consta no livreto que
acompanha o CD que contém 16 canções que Tim Buckley então cantou. O
próprio Izzy Young gravou o concerto, diz ele ironicamente:
"Am I a producer? Yes! I pressed the record button."
Em 2009 aparece então em CD “Tim Buckley - Live At The Folklore Center, NYC ~
March 6, 1967”, para os puristas do som será para esquecer, para os amantes de
Tim Buckley uma oportunidade única de fechar os olhos e ouvir durante quase
uma hora o melhor de Tim Buckley, então com 20 anos, sem qualquer produção de
estúdio. “I never asked to be your mountain”, “Phantasmagoria in two”,
“Dolphins”, ”No man can find the war” ou “Carnival Song” só mais tarde
gravadas em estúdio podem ser já aqui ouvidas em todo o seu fulgor. E ainda 6
canções que não consigo encontrar na discografia original e não só, uma
raridade portanto.
Voz, guitarra, sem qualquer produção, gravado num loja em 1967, só o génio de
Tim Buckley me convenceria, eis "If The Rain Comes".
Em 1967 dois grupos pontificavam no movimento "underground" londrino, os Pink Floyd e os Soft Machine. Ontem ao recordar os Pink Floyd destaquei a
importância de Syd Barrett que seria excluído do grupo em 1968. Hoje recordo
Kevin Ayers que igualmente abandonaria os Soft Machine em 1968 gravando com
eles somente o primeiro álbum. Parecenças entre duas figuras importantes do
Pop mais vanguardista da época, Syd Barrett e Kevin Ayers.
Durante a gravação de "Joy of a Toy" (1969), o primeiro álbum a solo de Kevin Ayers, Syd Barrett terá marcado presença, ou melhor terá colaborado na
gravação da canção "Singing A Song In The Morning", na realidade posterior ao
álbum e editada em Single no início de 1970.
A história vem relatada na edição em CD de "Joy of a Toy" de 2003, onde surgem
3 versões da canção, a saber:
11 - Religious Experience (Singing A Song in the Morning) - 4:33 (28th
November 1969 featuring Syd Barrett, Take 9 - Previously unreleased)
14 - Religious Experience (Singing A Song in the Morning) - 2:47 (Recorded and
Mixed 18th December, Take 103 - Previously unreleased)
16 - Singing A Song in the Morning - 2:54 (A-Side of single Harvest ~HAR 5011
Released April 13th 1970)
Consta então no livreto que Kevin Ayers compôs "Singing A Song in the
Morning" e pedido o contributo de Syd Barrett para a sua gravação, "An avid enthusiast of Syd Barrett, the wayward ex-Pink Floyd genius, Ayers
felt Syd's contribution could enhance his latest composition. On the way to
Abbey Road studios, Kevin called into Barrett's flat and requested his
presence on the session. And so it was on November 9th 1969 Kevin Ayers and
Syd Barrett worked on the first version of Religious Experience."
Mais adiante,
"Take 9 proved to be the master take and overdubs were undertaken onto the
eight-track master. A finished mix, long since lost from the archives, was
cut onto several acetate discs and taken away by various parties of
evaluation. After some consideration it was felt that Syd Barrett's
psychedelic guitar contribution was too uncommercial, the track overlong and
the decision was made to re-record Religious Experience."
Terá sido das sessões de 17 de Dezembro de 1969, que terão saído as faixas 14
e 16, esta última editada em Single, rebatizada de "Singing a Song in the
Morning".
Quero fazer fé que esta informação está correcta porque numa pesquisa
efectuada na net encontrei um tal David Parker, estudioso da obra de Syd Barrett, afirmando que tal é impossível e remetendo a possibilidade de ser na
faixa 14 que Syd Barrett toca guitarra. A ser verdade seria um grande descuido
desta edição de "Joy of a Toy". Alguém tem alguma informação sobre esta
questão?
No início da faixa parece ouvir-se "Syd do that thing" o que me faz manter
confiança nesta edição, segue a faixa 11.
Kevin Ayers – Religious Experience (Singing A Song in the Morning)