mundo da canção nº 7 de Junho de 1970
"Na recta final dos anos 60, quando o mundo ardia na fogueira ideológica de uma juventude global que recusava as normas de antanho e elegia os Beatles como os donos dos novos hinos, cinco futuros homens cruzaram-se em Tomar e criaram a Filarmónica Fraude no país orgulhosamente só. O futuro haveria de lhes trazer vidas muito diversas: um tornar-se-ia engenheiro, outro musicólogo, outro ainda professor de educação física, outro escritor de livros, produtor musical e autor de letras de tantas canções que todos aprendemos, enquanto o quinto elemento seguiria pelo mundo fazendo o que o mundo lhe pedia.
Mas por breves instantes, em 1969, ano de pegadas na Lua, outra Epopeia foi desenhada num estúdio de Lisboa e feita disco que o futuro haveria de reclamar. E cá estamos.", texto da 1ª badana do livro "E Tudo Acabou em 69" que conta a história e as histórias da Filarmónica Fraude.
Efectivamente, o acontecimento musical, em Portugal, no ano de 1969, foi sem dúvida a Filarmónica Fraude. Um álbum, "Epopeia", e 2 EP constituíram a curta discografia que nos deixaram e que à qual, de tempos a tempos, eu recorro, seja qual for o pretexto.
Desta vez é o nº 7 da revista "mundo da canção" onde vinha publicada mais uma letra do histórico álbum "Epopeia", a dos nossos descobrimentos, o primeiro disco conceptual gravado por estas bandas.
"Só Marinheiros e Escravos Se Afundam Com a Nau", era a letra de uma das canções deste trabalho que se destacava pela ousadia musical, Pop, Rock, música popular com as melhores influências estrangeiras de então, de Bob Dylan aos Jethro Tull, e literária apostando a Filarmónica Fraude "... numa paródia de inteligente frontalidade na qual uma série de comentários, sátiras e críticas ao Portugal marcelista corriam na forma de evocação da epopeia dos descobrimentos e do Portugal de mil e seiscentos." (em "E Tudo Acabou em 69").
Ainda na mesma fonte lê-se sobre a canção de hoje: "A palavra «revolução» marca presença em «Só Marinheiros e Escravos Se Afundam Com a Nau», tema em que se canta que «para esquecerem a fome, vão lembrando as glórias passadas em Portugal», uma alusão a um estado da nação que, extraordinária e estranhamente, não fez disparar os apertados alarmes da censura."
Filarmónica Fraude - Só Marinheiros e Escravos Se Afundam Com a Nau
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