Na década de 60 eram raros os concertos de música pop em Portugal.
Os poucos que houve foram quase todos em Lisboa. Por cá passaram: Francoise Hardy, Sylvie Vartan (também no Coliseu do Porto), Charles Aznavour, Richard Anthony, France Gall, Rita Pavone, Sandie Shaw (também no Porto), Dalida; no pop-rock The Searchers, The Animals e Cliff Richard and the Shadows todos em 1965 e em 1968 o George Fame.
A 8 de Dezembro de 1965 o jornal Diário de Notícias escrevia "um aviso: não tragam os Beatles! Será o fim do Monumental - teatro e cinema - a avaliar pelo delírio que ontem provocaram The Animals. (...) Gritos estridentes, ininterruptos, agudos, lancinantes, um uivo sincopado de yé-yé, definindo quase um sentimento de dor" (não foi necessário trazerem The Beatles para acabarem com o Monumental, acrescentamos).
Para os cantores e conjuntos portugueses estava reservado fazerem a primeira parte dos espectáculos de algum artista estrangeiro ou a participação em Concursos que então começavam a proliferar.
Ora vejamos:
- Concurso Radiofónico “Os Caloiros da Canção”. Os vencedores, Os Conchas e o Daniel Bacelar tiveram o privilégio de gravar a meias em 1960 o que é considerado o primeiro disco de Ié-Ié português.
- Concurso “Rei do Twist”. Realizado em Setembro de 1963 no Teatro Monumental com a vitória para Victor Gomes e os Gatos Negros.
- Concurso de Conjuntos Portugueses do tipo dos Shadows. Realizado no mesmo mês de Setembro de 1963, saiu vencedor o Conjunto Mistério com direito à gravação de um disco e viagem a Londres para conhecer o conjunto The Shadows.
- Festival Rock e Twist. Realizado em Setembro de 1963 no Cinema Águia d’Ouro no Porto. O destaque vai para o Armindo do Rock.
“Por fim, quando chegou a vez de Armindo do Rock, toda a multidão que enchia o «Águia d’Ouro» pôs-se de pé, galvanizada por duas canções que ele cantou fora de cena. «Depois – escreve o «Jornal de Notícias» - mostrou-se aos olhos dos seus adeptos e foi o delírio». A polícia teve que intervir para acalmar os ânimos, suspendendo o espectáculo com «o palco cheio» e o teatro «em ebulição»", dizia a revista Plateia.
- Festival de Ritmos Modernos. Realizado em Janeiro de 1964 no Teatro Monumental.
"O Festival foi o mais completo sucesso em termos de rock and roll, com a assistência a gritar, dançar, e aplaudir-nos vibrantemente. O grande erro foi o Vasco Morgado (talvez para fazer a vontade à Censura) ter tentado misturar cançonetistas tradicionais com intérpretes de rock.
Pela nossa parte, tudo bem, porque éramos colegas e amigos dos tradicional-cançonetistas, mas certo público jovem, cansado da música que lhe era impingida pelas instâncias oficiais, estava ali para soltar o grito do Ipiranga, contra o antigo regime em termos de preferências musicais. Em consequência, decidiu pura e simplesmente recusar-se a ouvir esses intérpretes, vaiando-os e até lançando objectos para o palco.” Relato de Zeca do Rock ao blog Ié-Ié.
- 1º Grande Festival de Shake Rock'n'Roll. Realizado em Abril de 1965 no Cinema Águia d'Ouro, no Porto, com a participação de Armindo do Rock, Tony Araújo e o Conjunto Os Galãs.
- Concurso de Ié-Ié. Final realizada em Abril de 1966 no Teatro Monumental com a vitória do conjunto Os Claves de Lisboa.
E fiquemos pelo ano de 1966. Foi neste ano que se realizou o primeiro concerto (ou será melhor dizer espectáculo?) de um conjunto português. Foi no Teatro Monumental e o protagonista deste facto histórico foi o Conjunto Académico João Paulo já então consagrado com a edição de vários EP. Deste concerto saiu o primeiro LP português de música pop e logo registado ao vivo. Ao vivo, não terá sido na totalidade, pois, pelos vistos, algumas faixas foram gravadas em estúdio com adição posterior dos aplausos. De qualquer forma é um disco histórico e nunca foi editado em CD.
O tema de abertura do LP é “Jezebel” a mostrar bem a dinâmica que o conjunto evidenciava e agora, vamos lá ouvir "Jezebel" e toca a bater palmas.
Conjunto Académico João Paulo - Jezebel
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