Apesar de esmagadoramente dominantes, não só de música Pop e Rock eram feitos os sons que se ouviam em Portugal nos anos 60/70. Pese a pouca divulgação, outras sonoridades, procuravam teimosamente o seu espaço e a respectiva divulgação.
O Jazz, tirando o Hot Club em Lisboa desde o final dos anos 40, era praticamente nulo em todo o país, conjuntos de Jazz nem vê-los, gravações feitas por cá quase nenhumas. Tirando 2 ou 3 gravações dos anos 50/60, é preciso esperar por 1972 para vermos a gravação de um álbum ao vivo em Portugal, refiro-me a “Estilhaços” do saxofonista Steve Lacy gravado em 29/02/1972 para comemorar o 6º aniversário do programa “Cinco minutos de Jazz” do José Duarte (o concerto deu em directo na rádio!!! E eu ouvi-o, que sons esquisitos!). Tem, portanto, mais de 40 anos esta gravação histórica.
Na capa interior do disco em vinil Raúl Bernado, em inglês no original, escrevia:
“O concerto que teve lugar em 29 de fevereiro no Cinema Monumental é, acreditamos, a primeira gravação feita pelo novo Quinteto de Steve Lacy. A característica mais óbvia da música é, certamente, a extraordinária naturalidade com o qual ela flui, apesar da aparente complexidade.”
E terminava:
“Num país onde são raros os concertos de Jazz, particularmente deste tipo, foi muito estimulante ouvir uma criança dizer «eu gostei», ou um adulto, que estava a ouvir Jazz pela primeira vez «eu não consegui entender, mas gostei». Uma verdade simples, para uma música simples que é o Jazz: em primeiro lugar, gostar, amá-la... depois, compreendê-la, estudá-la.”
Foi já deitado, com os meus pais provavelmente a mandar-me pôr o rádio mais baixo, que ouvi o concerto e que tomei conhecimento destas sonoridades praticamente desconhecidas no contexto da época. O disco em vinil custou-me 200 Esc, ou seja 1€.
Para ouvir segue o primeiro tema “Stations”, ouçam com atenção e deixem-se envolver por estes estranhos sons. Na época era necessário sintonizar a Rádio Renascença no programa a “23ª hora” e esperar pela rubrica “Cinco minutos de Jazz”, às 11h30m da noite, para se ouvir Jazz, agora está à distância de um clique.
Steve Lacy - Stations
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