Não sei se já o disse, mas no início dos anos 70 tinha um fraquinho pelo grupo
de Rock Progressivo de nome Yes.
O primeiro álbum que me lembro de ter ouvido foi "The Yes Album", de 1971, que
logo adquiri pois correspondia a algo que nunca antes tinha ouvido, era tudo
novo desde a voz de Jon Anderson à sonoridade criada pelos restantes músicos,
a saber nesta altura, Chris Squire (1948-2015), Steve
Howe, Tony Kaye e Bill Bruford.
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Mas antes já os Yes tinham gravado 2 LP, o homónimo álbum de 1969 e "Time and
Word", dois discos ainda com Peter Banks no lugar que viria a ser de
Steve Howe, dois discos que não tiveram o sucesso que "The Yes Album" viria a
ter e ainda em busco de um som que a entrada de Steve Howe viria ajudar a
definir.
Para recordar os primórdios dos Yes fica o teme título "Time and a Word".
Isto da catalogação dos músicos e grupos em determinado género tem que se lhe
diga. Muitas das vezes nem sequer os imagino em determinado género, mas o
rótulo indica-os como tal. Vale o que vale e vale pouco, o que efectivamente
interessa é a real qualidade, novidade e criatividade que apresentam.
Lembro-me dos Traffic que aparecem nas listagens do Rock Progressivo e que eu,
quando me lembro deles, associo mais ao Folk-Rock e ao Jazz-Rock.
Adiante, que, como disse, o importante é a obra que nos deixaram e a dos
Traffic não é de menosprezar. Com uma formação centrada em Steve Winwood, Dave Mason , Jim Capaldi (1944-2005) e Chris Wood
(1944-1983), também por lá passaram músicos como Ric Grech (1945-1990),
ex-Family e ex-Blind Faith, e Rebop Kwaku Baah (1944-1983).
Referência ILPM 9116, edição de 1987 do Reino Unido, faz parte da série: Island Life Collection
"John Barleycorn Must Die" marca o ano de 1970, é o quarto álbum do grupo e é
um dos meus preferidos.
Deste álbum a canção que mais se ouvia era "Empty Pages" que já se encontra
disponível para audição noutro Regresso ao Passado, para hoje sugiro, a
escolha não é fácil pois este trabalho é muito homogéneo, "Glad" a faixa de
abertura composta por Steve Winwood.
O Rock dito progressivo teve experiências bem radicais no final dos anos 60,
início da década de 70. Em particular as que procuraram a fusão do Rock com a
música Clássica. Os exemplos mais evidentes são a dos The Moody Blues, em
1967, com "Days of Future Passed", os Procol Harum com "Procol Harum Live: In
Concert with the Edmonton Symphony Orchestra" editado em 1972 mas gravado ao
vivo no ano anterior, os Deep Purple com "Concerto for Group and Orchestra" em
1969 e talvez menos conhecido os Pink Floyd com a peça "Atom Heart Mother" que
ocupava o lado A do álbum com o mesmo nome gravado com a EMI Pops Orchestra em
1970.
Por ventura menos conhecida é a proposta de hoje, o grupo dá pelo nome The Nice, um grupo vanguardista inglês, que existiu de 1967 a 1970 e onde
pontificava a figura de Keith Emerson mais conhecido pelos históricos Emerson, Lake and Palmer e o álbum é predominantemente ao vivo tendo o nome de "Five
Bridges". O disco foi editado em 1970 já após do fim do grupo e as gravações
ao vivo foram realizadas em Croydon em 1969.
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The Nice foram a expressão maior do Rock Progressivo no final da década de 60,
aqui numa experiência sinfónica com o suporte The Sinfonia Of London, onde são
interpretados temas de Sibelius, Tchaikovsky, e a suite "Five Bridges" da
autoria de Keith Emerson e Lee Jackson que ocupava todo o lado A.
Foram muitos os discos de Rock Progressivo que se editaram no ano de 1970, era
um género recém-nascido, em pleno crescimento e pleno de potencialidades que
permitiu a muitos grupos afirmarem-se com características muito próprias e
facilmente identificáveis. Fosse pela vocalização, pelos instrumentos
utilizados ou (e) pelo estilo de composição, mal se ouvia um disco novo
rapidamente se reconhecia de que grupo se tratava. É o exemplo de hoje com os
Procol Harum cuja voz de Gary Brooker (1945-2022) e o estilo de composição
entre o barroco e o Rock Psicadélico os colocavam entre os grupos que eu mais
apreciava no seio do Rock progressivo.
Em particular os primeiros discos do grupo que tão grandes canções nos
deixaram de "A Whiter Shade of Pale" e "Homburg" à obra prima que
foi "Salty Dog" (álbum e canção), sem esquecer por exemplo "In Held 'Twas
in I" ou "Whaling Stories".
"Home" é o quarto LP do grupo e foi editado em 1970. Um disco um pouco
inferior aos anteriores, pelo menos para meu gosto, talvez à procura de acerto
após a saída de Matthew Fisher, organista dos Procol Harum desde a sua
formação.
"Dead Man's Dream", um tema relativamente desconhecido do grupo é uma das
minhas preferências deste álbum, é a proposta que fica para audição.
Constituíram-se em meados dos anos 60 e tiveram o seu melhor período na
década de 70 onde se encontram os seus mais significativos trabalhos, são os
Barclay James Harvest, mais um grupo inglês de Rock Progressivo.
Aos mais atentos não passaram despercebidos os primeiros trabalhos do grupo
onde se destacava a canção "Mocking Bird" do segundo álbum "Once Again"
(1971), isto antes de ganharem maior notoriedade com discos como "Time
Honoured Ghosts" (1975) e o auge da popularidade com o álbum ao vivo "Berlin
(A Concert For The People)" de 1982, mas gravado em 1980, junto ao muro que
então separava as duas Alemanhas.
Quanto ao ano de 1970 que é o que agora me interessa os Barclay James Harvest publicaram o primeiro LP de nome homónimo e diga-se passou quase
despercebido, pelo menos eu não me recordo de todo pelo que tive de ouvir
agora. Os anos passaram mas não trouxeram valor acrescentado a este
disco
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De "Taking Some Time On", que foi editada em Single, não gostei, seguiu-se
"Mother Dear" que me deu algum alento para continuar, assim como com "The Sun
Will Never Shine" e lá fui ouvindo sem grande entusiasmo o resto do álbum.
E no final tinha os sons de "When The World Was Woken" no ouvido pelo que fica
como exemplo dos primórdios dos Barclay James Harvest.
Um dos projectos musicais mais interessantes da minha juventude e que também
abordaram o Rock Progressivo, embora não fossem menos atraentes quando
estiveram mais próximos do Blues-Rock e do Folk-Rock, foram os Jethro Tull.
Por cá os Jethro Tull não era um grupo muito conhecido, pelo menos nos
primeiros anos (1968-1970) em que publicaram três bem inovadores álbuns e onde
a figura de Ian Anderson se foi tornando dominante no grupo, a divulgação
maior veio no início dos anos 70 com disco com "Aqualung", "Thick as a Brick"
e "Passion Play".
No ano de 1970, que estou a recordar, os Jethro Tull editam "Benefit", o seu
terceiro trabalho e no qual constavam temas com riff bem poderosos como então
estava em moda no Rock de características mais progressivas.
Edição em vinil da Chrysalis, ref:ILPS 9123, de 1970
importada do Reino Unido
De um tempo em que as novidades musicais proliferavam de dia para dia, quer em
quantidade quer em diversidade eis o tema de abertura "With You There to
Help Me".
Uma das minhas preferências na área do Rock Progressivo ia para os
King Crimson, um dos grupos pioneiros do género que tive oportunidade de ver uma única
vez em 1980 no Estádio de Belém em Lisboa.
Um dos que melhor navegaram nas águas do dito Rock Progressivo e talvez os
únicos que o conseguiram com a devida qualidade até aos nossos dias, facto que
se deverá ao seu líder
Robert Fripp
e à qualidade dos músicos de que se rodeou ao longo de quase seis décadas com
algumas interrupções pelo meio.
Depois do surpreendente "In the Court of the Crimson King" (1969), somos
prendados, no ano de 1970, com mais dois álbuns bem representativos das
sonoridades que o grupo então explorava, "In the Wake of Poseidon" e "Lizard".
Edição em CD de 2000 com a referência CDVKC2 da editora
Virgin
À época gostava mais do primeiro que do segundo, talvez a sentir a falta da
voz de
Greg Lake
entretanto saído para integrar um dos super grupos de maior sucesso, os
Emerson, Lake and Palmer. Por isso volto a "In the Wake of Poseidon" para sugerir para audição o tema
título. Mais um belo tema que o Rock Progressivo nos deixou.
Depois dos
Soft Machine
faz todo o sentido continuar com os
Caravan
nesta senda que estou a efectuar pelo Rock Progressivo no ano de 1970. Tal
como os
Soft Machine
são oriundos de Canterbury e a sua música insere-se na mesma "Canterbury
Scene", aliás os dois grupos tiveram origem em músicos que faziam parte dos
Wilde Flowers ou seja as raízes foram as mesmas.
Constituíram-se em 1968 e em 1970 publicam o seu segundo LP, "If I Could Do It
All Over Again, I'd Do It All Over You", aquele que eu conheci melhor.
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Se o tema título foi o mais divulgado, tendo sido editado em Single, a
proposta de audição vai, no entanto, para o tema longo "With An Ear To The
Ground You Can Make It" bem condizent
com os sons mais experimentais que os
grupos de Rock Progressivo exploravam naqueles tempos. Aí vai.
Caravan - With An Ear To The Ground You Can Make It
Os Soft Machine foram um dos grupos mais importantes do Rock Progressivo do
Reino Unido. Formados em Canterbury em 1966 foram o centro musical do que
ficou conhecido como "Canterbury Scene", conjunto de músicos que privilegiaram
O Rock Progressivo, o improviso e o Rock de fusão com o Jazz.
Talvez o grupo que melhor aproximação fez do Rock ao Jazz. Os anos de ouro dos
Soft Machine foram de 1968 a 1971, antes da saída de Robert Wyatt, período em
que gravaram quatro álbuns seminais bem distintos do que a maior parte dos
grupos faziam, mesmos os da área do Rock Progressivo.
"Third" era o terceiro álbum do grupo e foi publicado em 1970. Quatro faixas,
cada uma a ocupar cada lado do álbum duplo que era, no tempo do vinil.
Com mais de dezanove minutos segue "Moon In June", da autoria de Robert Wyatt,
uma das minhas preferidas do grupo.
Daevid Allen (1938-2015) foi um músico de origem australiana que ficou
conhecido por fazer parte da formação inicial de grupos como os Soft Machine e
Gong, ambos com origens no ano de 1967. Dois grupos conectados com o Rock
Progressivo, os dois com presença discográfica no ano de 1970.
Impedido de regressar a Inglaterra após digressão na Europa com os Soft Machine, então no seu início e ainda sem qualquer gravação efectuada, Daevid
Allen fica em Paris onde forma os Gong. O primeiro LP, de nome "Magick
Brotrher", só vai surgir em 1970 apresentando uma sonoridade muito psicadélica
com laivos jazzísticos bem notórios.
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Deste estranho álbum bem demonstrativo dos caminhos que o Rock explorava
escolho o tema "Gong Song".
Aqui continuo eu na senda de álbuns, de 1970, do chamado Rock Progressivo.
Depois do desvio que fiz aos Estados Unidos para ouvir Frank Zappa, eis de
volta às Ilhas Britânicas, onde o Rock Progressivo nasceu e melhor se deu. E
continuo com um grupo que também ele editou dois álbuns em 1970, o grupo é Van der Graaf Generator e os álbuns são: "The Least We Can Do Is Wave to Each
Other" e "H to He, Who Am the Only One".
A sonoridade do grupo é única, original e bem identificável não só pela voz do
seu líder Peter Hammil mas também, em particular, pela singularidade dos
sopros a cargo de David Jackson. Menos populares que os seus congéneres da
época, talvez com uma música menos comercial com temas, regra geral longos,
que oscilavam entre belas baladas e tema complexos e muito bem elaborados.
Edição do Reino Unido em vinil com a ref: CHC 5 de 1982
A escolha de hoje vai para o LP "The Least We Can Do Is Wave to Each Other"
sobre o qual disse o próprio Peter Hammil:
"Don't listen when you're hustling, because it won't get in your head.
Don't listen when you're angry, because you'll smash something. Don't listen
when you're depressed, because you'll get more so. Don't listen with any
preoccupations, because you'll blow it. And if you're a perpetually angry,
depressed hustler with set ideas, don't bother, it wasn't meant for you in
the first place".
Sem pressas, sem zangas, sem depressão, com nenhuma preocupação a proposta de
audição vai para "Refugees".
Disse no anterior Regresso ao Passado que o Rock Progressivo foi um movimento
musical surgido na segunda metade dos anos 60 fundamentalmente britânico. E
assim foi, os melhores grupos do género surgiram nas ilhas britânicas. No
entanto, alargando a definição de Rock Progressivo, já de si bastante
abrangente, podemos encontrar, nomeadamente nos Estados Unidos, grupos que de
alguma forma podemos referenciá-los nesta categoria.
Por exemplo The Mothers of Invention. Formados a meio da década de 60, neles
pontificava Frank Zappa (1940-1993), figura excêntrica e multifacetada
da cena underground norte-americana, desenvolveram um projeto musical cuja
sonoridade demonstrava as mais variadas influências, do Rock à distante música
Concreta.
O ano de 1970 foi particularmente fértil. The Mothers of Invention publicam
dois álbuns, "Burnt Weeny Sandwich" e "Weasels Ripped My Flesh" e Frank Zappa
"Chunga's Revenge".
"Chunga's Revenge" seguia-se ao excelente "Hot Rats" (1969), o primeiro que
conheci de Frank Zappa, dele escolhi a faixa longa "The Nancy & Mary
Music" com a sua profusão de géneros.
Começo hoje uma nova etiqueta "O Rock Progressivo nos anos 70". Sabemos que o
Rock Progressivo teve origem nos anos 60 o que aliás já destaquei com etiqueta
idêntica, "O Rock Progressivo nos anos 60", mas é na década de 70 que vai
alcançar o seu esplendor, mas também o seu declínio.
Já sabemos também que as fronteiras do Rock Progressivo não são possíveis de
definir com exatidão, contemplando em si vários sub-géneros, pelo procurarei
ser o mais abrangente possível de acordo com as minhas memórias e também o meu
gosto. Começo com edições do ano de 1970
A escolha, para começar esta selecção, vai para o grupo inglês Family,
recorde-se que a música Rock progressiva foi essencialmente um movimento
musical inglês, centrado na figura de Roger Chapman.
No ano em questão, 1970, já tinham dois LP editados: "Music in a Doll's House"
(1968) e "Family Entertainment" (1969), e publicam, neste ano mais dois LP
respectivamente "A Song for Me" e "Anyway", discos que ,confesso não me lembro
de então os ouvir. A minha primeira recordação dos Family vai para o
Single "In My Own Time" já em 1971 sendo o maior sucesso que o grupo
conheceu.
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Do álbum "A Song for Me" escolho o longo tema título numa mistura de sons
vanguardistas dados pelo violino de John Weider e um Rock pesado em
florescimento naquele tempo.
Uma carreira centrada no Blues-Rock, de que foi um grande executante, mas com
derivas por vezes menos interessantes, ouça-se o último "Happy Xmas" (2018).
Logo ao primeiro álbum a solo, como que a querer soltar-se do seu passado,
podem-se notar abordagens mais Pop para meu gosto menos interessantes. Um
disco mais leve e descontraído, mas mesmo assim genericamente bem recebido
pela crítica.
Nele constava o tema "After Midnight" que, pela projeção que teve, normalmente
se associa a
Eric Clapton, é na realidade de
J.J. Cale
(1938-2014), de quem, aliás, sofreu forte influência tendo inclusive chegado a
gravar um álbum em conjunto, "The Road To Escondido" em 2006.
A letra vinha publicada na revista "mundo da canção" nº 16, e é com a proposta de audição de "After Midnight" que concluo a
revisão de mais este nº da revista.
The Moody Blues, o meu grupo de eleição da juventude. Muito cedo, nos meus 14,
15 anos comecei a adquirir os primeiros LP dos The Moody Blues o que foi
relativamente fácil pois quem mos comprava era o meu pai e ele também passu a
admirá-los depois de lhe dar a ouvir "Days Of Futured Passed". Depois foi "In
Search Of The Lost Chord" e ainda "On The Threshold Of A Dream" que cimentaram
a apreciação que ambos fazíamos daquele grupo britânico que tinha rompido com
as canções Pop de 2, 3 minutos e abria caminhos de ligação à música clássica
com obras conceptuais de longa duração.
"To Our Children's Children's Children" adquiri-o bem mais tarde, pois
entretanto é publicado "A Question of Balance" que me apressei a comprar.
Neste álbum as mudanças são significativas e pode-se agora detectar, embora
continue a gostar muito deste álbum, o início do declínio do grupo. O som
complexo e a estrutura conceptual das canções é abandonado sendo assim mais
facilmente reproduzido em palco mas perdendo, assim, alguma magia dos trabalhos
anteriores.
Neste álbum de 1970 sobressaiam as canções "Question" de Justin Hayward, voz
principal e guitarrista, e "Melancholy Man" de Mike Pinder, teclista e
principal responsável pela sonoridade vanguardista do grupo
Neste nº 16 da revista "mundo da canção" era a letra de "And The Tide Rushes
In" que vinha publicada, um tema de Ray Thomas (1941-2018), voz, flauta e
pandeireta. Uma grande canção!
O património que The Beatles nos deixou é enorme. Uma década e treze álbuns
foram suficientes para alterar o panorama musical da música dita popular, há
um antes e depois The Beatles. Mesmo na sua discografia as diferenças são
enormes entre 1963, ouça-se "Please Please Me", e 1970, ouça-se "Let It Be"
que nem é o álbum mais importante do grupo. Bem, o mais importante é aquele
que cada um quiser, mas arrisco-me a afirmar que a maioria faria uma escolha
entre o que foi publicado entre 1966 e 1969.
É deste período o duplo álbum "White Album" (1968) que com o passar dos anos
foi ganhando, pelo menos em mim, uma importância cada vez maior pela riqueza e
constantes descobertas que novas audições provocam.
"Blackbird" e "Julia" eram duas canções deste álbum cujas letras constavam no
nº 16 da revista "mundo da canção", estávamos já em Março de 1971, a realidade
musical era já outra (como as alterações eram tão rápidas) mas a qualidade e o
interesse estava, e está ainda hoje, garantido.
"Julia" escrita e interpretada exclusivamente por John Lennon mas creditada
Lennon-McCartney como era habitual é uma canção dedicada a sua mãe Julia
falecida em 1958. E o Regresso ao Passado de hoje termina bem, termina com
"Julia".
1970 foi um grande ano para a música popular, são inúmeros os álbuns,
curiosidade: é o ano mais representado na minha discoteca, que merecem fazer
parte de qualquer colecção básica da música popular dos últimos 60 anos. Ontem
apresentei a lista dos melhores na consideração do programa de rádio "Em Órbita", referência na divulgação da melhor música que então se praticava.
"Bridge Over Troubled Water" era o álbum escolhido para ocupar o 1º lugar, o
que na altura achei indiscutível. Com o passar dos anos foi um trabalho que
foi, para mim, perdendo algum fulgor e o álbum foi ficando na prateleira com
raras audições (muito mais frequentes são as audições do bem menos conhecido
"Fotheringay").
Adiante, "Bridge Over Troubled Water", do duo norte-americano Simon and Garfunkel, é um marco na história da música popular
e quando o ouço a nostalgia e a lágrima no canto do olho fazem a sua aparição
em canções como o tema título e ainda em "The Boxer" e "The Only Living
Boy in New York".
Num tom bem mais Pop e descontraído encontrava-se "Cecilia" cuja pauta era
publicada na revista "mundo da canção", nº 16 de Março de 1971. Pretexto para
a ela voltar e a nostalgia também.
Na página 17 estavam as 15 melhores canções do ano de 1970 segundo o programa
de rádio "Em Órbita" e somente na página 24 se encontram os 15 melhores álbuns
relativos ao mesmo ano e de acordo com o mesmo programa. Vinham assim
publicados, no nº 16 da revista "mundo da canção", os textos lidos no referido
programa de rádio aquando da divulgação dos mesmos. Momentos inesquecíveis
para mim que acompanhei com entusiasmo as transmissões efectuadas em duas
noites consecutivas, se a memória não me falha.
Agora, é ler estes textos e recordar ou descobrir estes 15 discos que fazem
parte das minhas recordações dos meus 14 anos. E, já agora, pasme-se com a
qualidade dos trabalhos escolhidos e note-se a falta de tantos outros que
poderiam constar nesta lista, lembro-me de "Moondance" de Van Morrison, "
After the Gold Rush" de Neil Young, "Lola Versus Powerman and the Moneygoround
Part One" pelos The Kinks, " Workingman’s Dead" dos Grateful Dead,
"Abraxas" dos Santana, etc., etc., etc..
E agora a dificuldade na escolha para a audição de hoje. Bem, vamos por ordem,
como "Bridge Over Toubled Water" e "Fotheringay" já os divulguei
suficientemente, quedo-me pelo 3º Lugar onde se encontra "Chicago II" o 2º
duplo álbum do grupo norte-americano Chicago que rompeu com todas as
fronteiras do Pop-Rock. Lê-se:
"O duplo álbum da Chicago foi talvez a mais coerente proposta em álbum
conhecida no ano transacto.
Difícil se torna isolar qualquer dos seus trechos sem se ir lesar, duma
forma mais ou menos violenta, o todo-geral em que este trabalho se
impõe.
O duplo álbum da Chicago, é a oportuna desmistificação do argumento que se
opõe, duma maneira não informada, aos mais representativos resultados da
música não erudita de hoje."
Segue "Poem For The People", esperando que desperte o interesse da audição
completa com "... que este trabalho se impõe".
The Doors, o grupo meu preferido da minha juventude. Cinco anos, de 1967 a
1971, foram suficientes para deixarem para sempre uma marca única na história
do Rock, não só pela discografia deixada, seis álbuns de estúdio
imprescindíveis, como pela influência que teve em muitos nomes bem conhecidos
como Echo & The Bunnymen, Iggy Pop, Patti Smith e Nick Cave.
A imaginativa música dos The Doors tinha uma forte base de Blues-Rock
enriquecida com todas as matizes que o psicadelismo então dominante
introduziu. Acrescente-se a qualidade dos músicos que compunham o grupo e a
figura tornada mítica do seu líder, o carismático Jim Morrison, e temos em
síntese a melhor música praticada naqueles anos.
A letra publicada no nº 16 da revista "mundo da canção" é "Runnin' Blues" que
pertencia ao 4º trabalho de estúdio publicado em 1969, o álbum "Soft Parade".
"Soft Parade" foi o disco menos "alinhado" do grupo em parte pela contribuição
que o guitarrista Robby Kriege teve na composição e pela introdução de
metais e arranjos de orquestra. Um disco que tem sido revisto, para melhor, ao
longo dos anos mas que continua a ser considerado o menos interessante do
grupo, ou não fosse o menor empenho de Jim Morrison neste trabalho.
Os primeiros anos após a separação do grupo The Beatles em 1970 foram
interessantes de seguir. Isto pelas expectativas elevadas que se tinha
relativamente às carreiras a solo dos quatro músicos que compunham The Beatles. A maior ia directamente para Paul McCartney e a menor para Ringo Starr o menos dotado em composição e com uma voz pouco interessante. John Lennon e George Harrison ficavam algures a meio, mas a curiosidade era enorme.
Passados estes anos todos, a minha memória diz que Paul McCartney não realizou
o grande álbum que se esperava, que John Lennon confirmou os seus dotes
musicais e George Harrison o que mais surpreendeu, talvez pelo menor
protagonismo que tinha tido face à dupla Lennon/McCartney que assinavam a
maior parte das músicas do grupo de Liverpool.
John Lennon teve o seu ponto alto com o álbum "Imagine" (1971) mas já no ano
anterior tinha tido excelente prestação com a sua Plastic Ono Band. A faixa de
abertura de "John Lennon/Plastic Ono Band" era "Mother" cuja letra vinha
reproduzida no nº 16 da revista "mundo da canção", estávamos em Março de 1971.
Em 1971 The Beatles já não existiam, a sua última publicação datava do ano
anterior com o álbum "Let It Be". Portanto a sua falta ainda não se fazia
sentir, para mais os quatro elementos elementos dedicavam-se às respectivas
carreiras a solo com edição de múltiplos trabalhos que faziam acreditar que as
partes ultrapassavam o todo. Sol de pouca dura, no final da década eram uma
sombra do que já tinham sido.
George Harrison foi o mais exuberante dos quatro com a publicação do triplo
álbum "All Things Must Pass" que o meu pai me ofereceu naquela ano. O melhor
que George Harrison nos deixou.
Neste nº 16 da revista "mundo da canção" era publicada a letra de "Isn't It a
Pity", uma das grandes canções deste trabalho. "Isn't It a Pity" tinha duas
versões, uma primeira que já publiquei, com mais de 7 minutos, que foi a mais
conhecida e uma segunda interpretação, mais curta, que contava na face quatro
do álbum. Tinha a particularidade de contar com o seu amigo Eric Clapton na
guitarra, é com esta que ficamos para audição.