A Música Popular Portuguesa anterior ao 25 de Abril de 1974
António Bernardino (1941-1996) foi um cantor português. Fez parte do movimento de renovação do chamado fado de Coimbra.
De acordo com a "Enciclopédia da Música Em Portugal no Século XX", "Em 1964 gravou o seu primeiro fonograma.", sendo que "Uma boa parte dos fonogramas que gravou, de pequena tiragem e incluindo canções com textos de carácter político, tornaram-se edições raras."
O disco que possuo é o LP "Flores para Coimbra" de 1970 com António Bernardino - voz, António Portugal - guitarra portuguesa, Francisco Martins - guitarra portuguesa e Luís Filipe - viola.
Na contra-capa em texto assinado pelo professor Orlando de Carvalho lia-se:
"Quando se fizer a história dos anos 60 portugueses, há-de sentir-se a presença da juventude de Coimbra, lúcida e inconformista, a servir de aguilhão e uma rotina nacional, dividida e decrépita, mesmo nas zonas mais pretensamente inovadoras. Rebeldia inteligente e actuante, sem esquecer as raízes do passado, no que possuem de autêntico, e sem se perder nas águas de uma adolescência estranhamente senil, como é timbre de certa burguesia que, desconhecendo-se a si mesma, compra, a troco de uma violência gestual, a paz de espírito que não busca na acção. Também na música e na poesia a mensagem de Coimbra se repercute com força, como o provam as criações de José Afonso e as interpretações de Adriano e do último Luís Góis. No entanto, seria injusto não distinguir o papel pioneiro e, de certo modo, mais genuíno, da guitarra de António Portugal - essa dureza dúctil e fremente que ele impunha já ao Coimbra quintet, recriando as velhas melodias com um metal mais incisivo e mais rouco, e que hoje, já claramente ideológica (e entregue, finalmente à sua própria lição), não receia o fulgor e a eloquência do discurso. E a poesia de Manuel Alegre (Praça da Canção, O Canto e as Armas), epopeia da saudade e do exílio em que o fecundo nervo camoneano se timbra de um clarão de certeza e de força que ilumina de esperança as derradeiras gerações. É essa voz consciente e amarga que hoje se oferece neste FLORES PARA COIMBRA, sem esquecer o original contributo que, sobre o poema de Manuel Alegre, nos dá a música de Joaquim Fernandes (sinal de um eco não fortuito ou fictício que, para lá do círculo propriamente estudantil, suscitou toda uma crise de crescimento). E sem esquecer a limpidez das criações e interpretações de Francisco Martins - um troubadour inteligente e subtilmente lírico -, ou a viola desse arquitecto de sons (as ogivas sonoras de Duarte Costa) que se chama discretamente Luís Filipe. E em tudo o acento de António Bernardino, grave e profundo, carregando o peso desta criação colectiva com uma emoção que não exclui a consciência e um virtuosismo formal que não exclui a persuasão."
Noutro Regresso ao Passado recordei "Cantiga Para os Que Partem", desta vez fica para audição a belíssima "Canção com Lágrimas". Trata-se de uma canção com poema de Manuel Alegre musicada por Adriano Correia de Oliveira e também por este gravada em 1968.
António Bernardino – Canção com Lágrimas
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