sábado, 20 de agosto de 2016

Deniz Cintra - Balada dos Homens e Mulheres Sentados

A Propósito do Programa televisivo Zip-Zip - 1969


O programa de televisão "Zip-Zip" ocorrido em 1969 foi de tal maneira importante, no que diz respeito à divulgação da chamada música de intervenção que os cantores que por lá passaram ficaram mesmo conhecidos por "cantores Zip".

Em "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX" lê-se:
"A importância do Zip-Zip para a música em Portugal no séc. xx reside no facto de este programa ter sido um dos principais veículos de divulgação de muitos cantores de intervenção (além de ter contribuído para o estabelecimento de uma rede de contactos entre eles), que de outro modo não dispunham de canais de divulgação do seu trabalho perante audiências mais alargadas."

Um desses cantores foi Deniz Cintra (1951-1990), participa em Julho no "Zip-Zip" e em Agosto grava o primeiro EP que só será editado no ano seguinte.




Pelo interesse, reproduzimos o texto da contra-capa escrito por Nuno Portas  (adaptação de um depoimento publicado em "A Mosca", em 13 de Setembro de 1969):
"“A balada, prenúncio de uma nova geração, não tem tido as mesmas condições de expressão de outras espécies de música dita ligeira mais ou menos comercial quer pelo desconforto temático que introduz, quer pela perturbação que poderia introduzir, quando atingida dimensão popular, nos interesses organizados da indústria e no clima passivo dos espectáculos musicais. Por este motivo interessa discuti-la – não na base das duas intenções mas antes nas potencialidades de comunicação-participação, ou de outro modo, na força que contenha ou possa desenvolver para a criação de um espaço cultural de gente nova acordada - em ritmo-comum. Daí a dívida que temos pelo arranque dado por um José Afonso ou um Adriano Correia de Oliveira.
O impacto sobre a sociedade ou sobre a cultura virá dela ser expressão não já de ideias mas de formas de vida que estão sendo, ou querem ser, vividas e por isso mesmo podem ser gritadas como alternativas aos modelos da sociedade estabelecida. Algo que está muito para além da maior ou menor coragem das "letras" (perspectiva ainda do literato) para assumir a inovação rítmica, a forma de cantar, as regras dos meios de comunicação de massa e, até, o seu consumo voraz. 
Dylan, Baez, Gil ou deste lado os Beatles, são chefes de fila, ou melhor, interpretes privilegiados de movimentos culturais avassaladores que estão abalando relações sociais e valores tradicionais e encontram numa poesia-outra, uma música-outra, uma arma de solidariedade de que já ousa viver outros valores mas tem de o dizer (cantar) para que possa continuar junta e a criar outras formas de viver. Na nova canção (balada será termo demasiado particular de um género demasiado revivalista) o intérprete é a chave do elemento significante ao mesmo nível das palavras e do tema musical. A sua forma de cantar é já em si mesma parte decisiva da mensagem: a que nos permite perceber a autenticidade, o inconfundível. Por isso senti na força irresistível vocal do Deniz Cintra, quando o ouvi ao vivo, potencialidades para romper com a relativa passividade, talvez de ilustradores de poema, que me parece dominar na actual fase desta forma de comunicação, a que atribui uma importância cultural própria para além de uma intenção de alargamento do consumo da poesia-escrita que me parece bem secundária e mesmo esteticamente equívoca. O suporte poético usado (cantado) na nova canção não pode senão sofrer nela uma metamorfose, não pode senão ser traído, em nome de outra vontade e de outra forma e de outro tempo de comunicar. É a incessante re-descoberta da comunicação colectiva, feliz, que a todos importa.” 

De Deniz Cintra, que chegou a actuar com Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, José Almada, este último não tendo chegado a participar no "Zip-Zip" (pois entretanto o programa acabou), recuperamos "Balada dos Homens e Mulheres Sentados".



Deniz Cintra - Balada dos Homens e Mulheres Sentados

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