A revista de divulgação musical "mundo da canção" teve início de publicação em Dezembro de1969, terminando em Julho de 1985 com o nº 67 e da sua importância já muito se escreveu.
No meu caso foi o primeiro contacto escrito que tive com a música que lá ia conseguindo ouvir em programas de rádio como a "Página Um", o "Em Órbita", o "Espaço 3P" ou a "23ª Hora". Neste caso recupero o nº 9 da revista publicada em Agosto de 1970.
A capa era dedicada aos "The Beatles", no interior destacavam-se os artigos sobre os Jethro Tull, The Kinks, Joan Manuel Serrat, Teresa Paula Brito e letras, muitas letras de canções como era usual.
Entre elas lá estava o "Amor Novo" de Luíz Rego que então se ouvia na rádio.
Há mais de 40 anos que não ouvia a canção "Amor Novo" de um cantor de nome Luíz Rego.
Emigrado em França desde o início dos anos 60, de forma a evitar o serviço militar obrigatório, por lá forma o grupo Les Problèmes (mais tarde Les Charlots) que serve de suporte ao popular cantor Antoine. Em 1970 a nossa rádio passa "Amor Novo" como uma uma lufada de ar fresco no panorama musical português. E de certa forma até era. Por um lado distante da crescente presença de uma sonoridade baladeira, por outro longe do saturado cançonetismo vigente, apresenta uma frescura musical cheia de influências da música Pop francesa e inglesa.
Foi pois com prazer que voltei a ouvir este "Amor Novo". Para quem já conhecia espero que desfrute com satisfação este Regresso ao Passado, para os outros aqui fica a descoberta de uma canção quase ignorada.
Há quem considere "Amor Novo" no topo da melhor música popular portuguesa, não irei tão longe, mas também não deve ser votada ao esquecimento como parece estar. Recuperemos, então, "Amor Novo".
Luíz Rego - Amor Novo
"... Viver é saber da vida O mesmo que sabe o mar Vai-se uma onda perdida Outra onda a enrolar ..."
Crosby, Stills & Nash já vão em 45 anos de
colaboração. Foram (são) um dos grupos a granjear uma simpatia generalizada.
Formaram-se em 1969 mas qualquer um deles possuía já créditos firmados noutros
grupos. David Crosby tinha terminado uma relação atribulada nos míticos Byrds,
Stephen Stills estava liberto após a desintegração dos excelentes Buffalo Springfield e Graham Nash provinha dos muito populares The Hollies.
A discografia de Crosby, Stills & Nash, enquanto trio, é pequena,
registando-se somente 5 álbuns de estúdio em mais de 4 décadas. No entanto a
produção discográfica dos seus elementos é muito maior tendo em conta a
produção a solo, em duo, ou em quarteto (com Neil Young, também proveniente dos
desavindos Buffalo Springfield e já com carreira a solo) nos Crosby, Stills,
Nash & Young.
O primeiro e homónimo álbum "Crosby, Stills & Nash" (1969) tornou-se uma
referência obrigatória na história da música popular. Recordo-me da admiração
com que então tomei conhecimento de alguns dos temas mais difundidos. As superlativas
harmonias vocais, os arranjos predominantemente acústicos (numa altura de
crescente electrificação) produziram temas de uma imponência quase religiosa,
estávamos perante algo definitivamente novo.
O álbum começava com um tema de Stephen Stills, “Suite:
Judy Blues Eyes”, sendo Judy a cantora Judy Collins antiga namorada de Stephen Stills.
Excelente!
"Em Órbita”, o então programa do RCP, considera Crosby, Stills & Nash o
melhor álbum de 1969 e faz a leitura do seguinte texto:
“Um conjunto de três personalidades que marcou de forma decisiva todo o
processo sonoro do Em Órbita de 1969. Temas que reflectindo as origens diversas
dos seus criadores, constituem exemplos acabados da melhor música popular de
sempre.
Notável o perfeito ajustamento da forma de inserção das líricas nas linhas
melódicas desenvolvidas, atributo que lhes confere uma das suas mais marcantes
características.
Crosby, Sills & Nash, são os responsáveis pelo melhor álbum de 1969.”
Para audição, “Guinnevere”, beleza em estado puro.
CSN - Guinnevere
(“Guinevere” aparece em
“The Complete Bitches Brew Sessions” de Miles Davis, de 1970, numa surpreendente
versão de 21 minutos)
Porque li hoje no Expresso que no dia 25 de Novembro passaram 40 anos sobre a morte de Nick Drake.
Porque não me lembro da primeira vez que ouvi Nick Drake. Seria no programa de rádio "Em Órbita" que eu ouvia regularmente? muito provavelmente.
Porque a sua música é relativamente pouco conhecida. Porque a sua música é de rara beleza. Porque nunca é demais recordá-lo, aqui fica a primeira passagem por Nick Drake. Começamos com a primeira canção, "Time Has told Me", do primeiro álbum "Five Leaves Left" decorria o ano de 1969.
No melhor do Pop-Rock britânico estão The Kinks. Gravaram mais de 2
dezenas de álbuns sendo o período mais bem conseguido o que vai de 1966 a 1978.
Não fora The Beatles terem existido e The Kinks seriam hoje lembrados como são
aqueles.
The Kinks, dos irmãos Ray e Dave Davies, fizeram discos de superior bom
gosto. Alguns deles álbuns conceptuais (Ópera-Rock como alguns lhe chamariam,
numa designação pouco feliz) como “Arthur (Or the Decline and Fall of the
British Empire)” de 1969 e de onde escolhemos a faixa início do lado B
“Shangri-La”. “Shangri-la” está no role das "grandes canções quase esquecidas”
pelo que hoje justamente é recuperada.
Começamos com uma emocionante e impressionante interpretação de “Shangri-La”,
por Ray Davies, em 2007 no concerto Electric Proms da BBC.
Ray Davies, actualmente com 70 anos, mantém-se no activo e recomenda-se.
Assim esperemos que continue pois a sempre adiada reunião dos The Kinks parece
cada vez mais impossível face à longa desavença dos irmãos Davies.
Para todos em busca do seu Shangri-La segue, com a mesma emoção de 1969,
o original “Shangri-La” um hino à música e à vida.
The Kinks - Shangri-La
Now that
you've found your paradise
This is your kingdom to command
You can go outside and polish your car
Or sit by the fire in your Shangri-la
Here's your reward for working so hard
Gone on the lavatories in the back yard
Gone all the days when you dreamed of that car
You just want to sit in your shangri-la
Put on your slippers and sit by the fire
You've reached your top and you just can't get any higher
You're in your place and you know where you are
In your Shangri-la
Sit back in your old rocking chair
You need not worry, you need not care
You can't go anywhere
Shangri-la
The little man who gets the train
Has got a mortgage hanging over his head
But he's too scared to complain
'Cause he's conditioned that way
Time goes by and he pays off his debts
Got a TV set and a radio
For seven Shillings a week
Shangri-la
All the houses on the street have got a name
'Cause all the houses in the street they look the same
Same chimney pots, same little cars, same window panes
The neighbors call to tell you things that you should know
They say their lines, they drink their tea, and then they go
They tell your business in another Shangri-la
The gas bills and the water rates, and payments on the car
Too scared to think about how insecure you are
Life ain't so happy in your little Shangri-la
Shangri-la
Peter Green é um nome a merecer a melhor evidência.
Façamos alguma luz sobre ele:
Juntamente com Eric Clapton fez parte dos BluesBreakers de John Mayall em 1966/67.
Guitarrista/vocalista e membro fundador dos Fleetwood Mac. Esteve no grupo no seu melhor período ou seja 1967-1970.
"Black Magic Woman" tão celebrada pelos Santana
não é um original de Carlos Santana, mas sim de Peter Green.
Exímio guitarrista de blues (um dos melhor guitarrista
de blues branco) com uma longa carreira mantém-se ainda em actividade.
De entre as muitas músicas que compôs (algumas de
rara beleza) o interesse, por agora, vai para “Man of the world” que eu já não ouvia vai para mais de 40 anos.
Aqui está uma óptima recordação, mais uma do
nostálgico ano de 1969.
É hora de recuperar Peter Green com os Fleetwood Mac e “Man of the world”, no grupo das mais bonitas músicas dos anos 60.
Já passámos pelas harmonias dos The Platters e
dos The Coasters, continuemos, dentro da mesma linha, ou seja com uma forte
acentuação melódica em detrimento do ritmo, com mais um grupo negro do mesmo
período: The Drifters.
The Drifters conjunto vocal negro teve nas sua
formação, até aos nossos dias, mais de 60 elementos. Aquela que aqui trago é já
a 2ª formação do grupo correspondente ao período de 1958-1960, que teve Ben E. King como vocalista principal. Nesta
passagem de Ben E. King pelos The Drifters, estes atingiram grande popularidade
com êxitos como “There Goes My Baby”, “Dance With Me”, This Magic Moments” e “Save
The Last Dance For Me”. Mas o seu maior êxito estava ainda para vir quando encetou em
1960 carreira a solo e com produção de Phil Spector, gravou primeiro “Spanish Harlem” e depois, em
1961, o conhecido “Stand By Me”.
Quanto aos The Drifters continuariam com novos
sucessos dos quais se destacaria o conhecido “On Broadway” em 1963 ou ainda “Under
The Broadwalk” em 1964. Para audição recuamos a 1959 e ao primeiro êxito dos
The Drifters com Ben E. King, a já referida “There Goes My Baby” . A eliminação
da agressividade do Rhytm’n’Blues estava consumada, no lugar da guitarra
tínhamos agora violinos, algumas réstias ainda se mantinham na vocalização
áspera de Ben E. King.
O cruzamento, nos EUA, nos anos 50, de várias
correntes musicais, nomeadamente a Pop Music, consumida maioritariamente pela
população branca, e o Rhythm’n’Blues, maioritariamente pela negra, levou ao
aparecimento de novas sonoridades e permitir aos artistas negros uma maior
aceitação e penetração no mercado branco. Se The Platters são um bom exemplo
dessa integração, outros houve a ter, na época, grande sucesso. The Coasters e
The Drifters de Ben E. King ultrapassaram barreiras e atingiram os Top das
listas de Pop Music e Rhythm’n’Blues.
The Coasters, formados em 1955, mantêm-se até à
actualidade mas com uma formação completamente diferente da original. O seu
período de ouro vai até ao início dos anos 60 com sucessivos êxitos nas tabelas
de Rhythm’n’Blues e também da música Pop.
“Yakety Yak”, de 1958, atingiu o Nº 1 nas duas
tabelas referidas, era o Rock’n’Roll.
Dos vários êxitos dos The Coasters (“Searchin’”,
”Young Bood”, ”Poison Ivy”, …) não resisto à primeira gravação efectuada pelo
grupo, em 1956, de nome “Down in Mexico” e tão bem recuperada por Quentin
Tarantino no filme “Death Proof” (À Prova de Morte) de 2007.
Aqui vão The Coasters e “Down in Mexico”,irresistível!
Os sons dos The Platters são-me familiares, desde muito
pequeno, através do EP: “The Platters – Part III”. Trata-se de uma edição Sueca
de 1957 e contêm 4 faixas: “Take Me In Your Arms”, “You Can't Depend On Me”, “Temptation” e “I Don't Know
Why”.
Recorde-se a canção mais conhecida “Take Me In Your Arms” deste EP.
Se, na década de 50, se verificou uma
apropriação, diria adulteração, por parte dos músico brancos - Paul Anka, Pat Boone –
das sonoridades negras do Rhythm’n’Blues e do Gospel, os próprios músicos
negros fizeram uma aproximação, através de letras mais aceitáveis e vocalizações
mais suaves e harmoniosas, ao gosto do mercado branco. Veja-se os
exemplos de Nat ‘King’ Cole e The Platters para citar os mais conhecidos.
The Platters, com as suas harmonias vocais,
conseguiram um êxito estrondoso com sucessos atrás de sucessos.
The Platters, catalogados entre o Rhythm’n’Blues,
o Soul e o Rock’n’Roll, perduram até aos nossos dias mas com uma formação
totalmente diferente da original, esta só se manteve na integra nos anos 50. É este
o período mais produtivo do grupo com o primeiro grande êxito, “Only You", a surgir em 1955.
Outros se lhe
seguiram como: “The Great Pretender”, “My Prayer”, “Take Me In Your Arms” e “Smoke
Gets In Your Eyes”.
Para terminar recupero o que penso ser o
primeiro Single do grupo, decorria o ano de 1954, “I'll Cry When You're Gone”. Outros tempos!
“All I Have to Do Is Dream” é um êxito bem
conhecido dos The Everly Brothers de 1958. Por cá um duo de nome OsDiamantes teve a ideia de fazer 1966 uma versão a que chamou “O Telefone”. Desconhecia
semelhante conjunto e também não consegui informação relevante sobre os mesmos.
Pouco interessa. O que importa é que esta versão é um verdadeiro “Tesourinho
Deprimente”. Isto não é um sonho, é um pesadelo! Ouçam, então, a música em
anexo e “vejam” o que estes rapazes fizeram de “All I Have to Do Is Dream” e, já agora, o que pensavam do telefone.
The Everly Brothers foram um duo com enorme popularidade,
principalmente nos anos 50, e, recorde-se, com êxitos, como “Bye-Bye Love”, “Wake
up Little Sue” e este “All I Have to Do
Is Dream”. Muitos foram os que fizeram versões de temas dos The Everly Brothers, de Simon & Garfunkel a Bonnie Prince Billy e Dawn McCarthy no excelente álbum de 2013 “What
Brothers Sang”.
Depois
de recordar The Everly Brothers no concerto de reunião em 1983 no Royall Albert
Hall resta-nos a tal versão de Os Diamantes, o tal “Telefone”, ui!
Depois de Os Blusões Negros … Tira-se “Blusões” e
acrescenta-se “Diamantes” e aí temos o Conjunto Diamantes Negros.
Mais ritmo Ié-Ié.
Mais um EP gravado.
Mais versões de músicas de alguma forma populares.
O Conjunto Diamantes Negros, formados em 1963
sofreram as influências habituais da época, The Shadows, The Beatles, The Rolling Stones, as mais evidentes. Gravaram um único EP editado em 1966 e
passados estes anos todos ainda tocam ocasionalmente.
Em 2008, face à dificuldade de então encontrar as músicas desse
EP, foram os próprios a disponibilizar-me os respectivos ficheiros. Disco
gravado à pressa e imposição de última hora para cantar em português,
resultaram num disco, infelizmente fraco, muito fraco. Os próprios o reconhecem
ao dizerem-me ” … Embora os Diamantes sejam muito críticos em relação à
qualidade do dito…”.
Dois “Hully
Gully”, um “Fado” e um “Shake” compõem o EP. A escolha vai para o “Shake” “Quero-te
sempre a meu lado”, versão em português da canção dos The Beatles “I don’t want
to spoil the party” do álbum “Beatles for Sale”. O resultado é o que se vai ver
(ouvir) a começar pela letra: “Quero-te sempre a meu lado meu amor, só
tu podes consolar a minha dor, amor volta pra mim …”
Fiz todo o meu ensino secundário no ENSE
(Externato Nossa Senhora da Esperança), nos 2 últimos anos já Liceu Nacional de
Ovar.
As imagens que se reproduzem referem-se
ao convite para um Baile de Finalista, não conseguindo eu identificar, ao certo, o
ano, atrevo-me a adiantar 1967 ou 1968. Teria portanto 11, 12 anos e muito
provavelmente terei estado no dito baile que foi abrilhantado, como se dizia na
época, pelos conjuntos Dragões (de S. João da Madeira) e Blusões Negros (do
Porto).
Terá sido ao som destes conjuntos que dei os primeiros
passos de dança?
De notar o preçário:
Senhoras – XL
Cavalheiros – L
Estudantes – XXX
Mesa – LXX
(Em escudos:40, 50, 30 e 70, respectivamente, em Euros:
20, 25, 15 e 35 … cêntimos)
Depois de Os Demónios Negros… Tira-se "Demónios”
e acrescenta-se “Blusões” e aí temos Blusões Negros.
Mais um conjunto do Porto.
Mais ritmo Ié-Ié.
Mais um EP gravado.
Mais versões de músicas muito populares.
Um banho de ritmo Ié-Ié e aí está pronta a servir:
“Tequilla”.
O original, dos anos 50, é dos norte-americanos The
Champs e pode ser lembrado no vídeo seguinte.
Na contra-capa do EP a apresentação do grupo:
Estes são os famosos ‘BLUSÕES NEGROS’. Formados
há acerca de quatro anos só agora conseguiram gravar o seu primeiro disco
apoiados pela etiqueta ‘RAPSÓDIA’. As suas guitarras em ritmo IÉ IÉ revivem
musicalmente sucessos do passado e êxitos do presente”, que maravilha!, “sucessos do passado e êxitos do
presente”.
Um “Slow”, uma Valsa, um
Tango e o “Shake” “Tequilla” compõem este EP de 1966.“Les Blousons Noirs” foi uma subcultura jovem
surgida em França nos final dos anos 50, sob influência americana e do Rock’n’Roll
então emergente, rapidamente se alastrou a outros países. Provavelmente foi
aqui que os nossos Blusões Negros foram buscar a designação e inspiração para a capa do EP.
Em dose suave ficamos com esta “Tequilla” gravada
em 1966 pelos portuenses Blusões Negros.
Na primeira metade dos anos 60, no nosso canto à
beira-mar plantado, proliferaram os grupos Ié-Ié. Viviam musicalmente à sombra
dos The Shadows e posteriormente dos The Beatles. The Shadows projectavam a
imagem de meninos bem comportados (todos vestidos de igual) com melodias muito
cuidadas e arranjos bem feitos. A Shadowmania invadiu o país e a maior parte
dos conjuntos que lhes seguiam as pisadas eram tecnicamente débeis e
musicalmente pouco inspirados, ou plagiavam descaradamente ou agarravam-se a
estafados tradicionais.
Com influências dos The Shadows e The Beatles, Os
Demónios Negros foram um dos muitos conjuntos que pululavam pelo país. Oriundos
da Madeira não podiam deixar de tocar “O bailinho da Madeira”, mas também o bem
conhecido “Coimbra” que agora sugiro.
O conhecido Luis Jardim, então muito novo, fazia
parte de Os Demónios Negros onde tocava viola ritmo.
Há já alguns anos recuperou-os
e podem ser vistos no vídeo seguinte, nos anos 60 e em 2007.
Quanto a “Coimbra” (um “Twist” conforme consta na contra-capa
do EP), foi editada em 1965 e trata-se de uma versão que foi muito
popular e frequentemente ouvida em qualquer Domingo à tarde dançante.
Com certeza
a trazer boas recordações.
"To Our Children's Children's Children" foi o quarto álbum de
originais dos The Moody Blues gravado em 1969 e tendo como fonte de
inspiração a chegada do homem à lua. O disco atingiu uma complexidade musical
assinalável e por isso não foi dos mais populares do grupo nomeadamente pela
dificuldade de reprodução dos temas ao vivo. O álbum fecha com o encantador
"Watching and Wating" que resgatamos da secção das boas memórias.
Um particular destaque para a enternecedora voz de
Justin Hayward tão acertada numa canção tão cheia de melancolia. De realçar
ainda o som do "mellotron" (instrumento dos anos 60, parecido com o
órgão, e que dá entre outros o som orquestral) de Mike Pinder e que tanta
influência teve na sonoridade dos The Moody Blues.
The Moody Blues - To Our Children's Children's Children
Porque é um tema imemorial e que deve ficar para
sempre, "to our children's children's children", aqui vai.
Para preservar e divulgar.
Os Jethro Tull, em 2000, eram constituídos por Ian Anderson,
Martin Barre, Doane Perry, Andrew Gidings e Jonthan Noyce. Ou seja da formação
inicial só se mantinha o líder Ian Anderson e Martin Barre vinha já de 1969.
Foi aquela formação que tive oportunidade de, muito tardiamente, ver em 6 de
Novembro de 2000, no Coliseu do Porto. É verdade! Muito tardiamente… Em 2000
procuravam com a edição (no ano anterior) de “J-Tull Dot Com” o retorno aos bons velhos tempos,
mas esses tinham definitivamente passado, veja-se o alinhamento do concerto
focado (para além de “J-Tull Dot Com”) nos anos 60 e 70. Se mesmo assim o concerto foi
memorável, como seria se tivesse sido a seu devido tempo?
Jethro Tull é o nome de um agricultor Inglês dos
séculos XVII/XVIII que inventou a semeadora mecânica. Também é a designação
tomada por uma das bandas mais interessantes que o Rock produziu.
Os Jethro Tull são a encarnação do seu líder,
cantor, flautista, Ian Anderson.
Com uma discografia de elevado valor
salientam-se os discos, das diversas formações dos Jethro Tull, entre 1968 e
1978.
Altamente criativos e de uma destacada
originalidade percorreram diversos estilos com influências do Jazz ao Folk Celta,
mas normalmente aparecem rotulados na gaveta pouco abonatória do Rock
Progressivo.
Dos muitos e bons discos que produziram, hoje o
realce vai para o magnífico 2ª LP “Stand UP” (1969) e começamos com “Nothing Is Easy”, os Jethro Tull no Festival da Ilha
de Wight em 1970.
Deste excelente LP escolhemos ainda “We Used to Know”
e uma curiosidade: cópia ou fonte de inspiração note-se as semelhanças com “Hotel
California” dos Eagles. Alguém disse: “No rock nada se cria, tudo se copia”.
Nem sempre é verdade, como é lógico, mas que, neste caso, as semelhanças são
grandes, lá isso são.
Ora, aqui vai “We used to know” dos Jethro Tull neste
retorno a 1969.
Mais memórias de Coimbra. Agora a propósito
de Van Morrison e do álbum “Astral Weeks”.Van Morrison era então, como agora, um dos meus músicos preferidos. Já dispunha
de 2 álbuns dele, "Saint Dominic's Preview" e “Hard Nose the Highway” e ouvia o recém
saído, o incrível duplo ao vivo, “It's Too Late to Stop Now” (1974). Mais uma vez o meu amigo António Oliveira é
protagonista desta história, pois foi numa deslocação que ele fez a França que
eu aproveitei para lhe pedir se me trazia o álbum “Astral Weeks”, de 1968, caso
o encontrasse.
Uma pitada de Rock, Blues, Jazz, Funk, Soul, Folk (Celtic),
o doseamento dos ingredientes fica ao sabor de cada um, e aí temos o
maior músico que a Irlanda nos deu a conhecer: Van Morrison.
50 anos de
carreira, 40 álbuns editados e um percurso invejável, Van Morrison poderá hoje
em dia já não surpreender, mas também não desilude (ou quase nunca).
Homem pouco simpático e de poucas falas, escondido
no seu chapéu e nos óculos escuros, há mais de 2 anos que aguardamos por
novidades discográficas (o último “Born to Sing: No Plan B” a ser muito bem recebido
pela crítica).
O
anterior (2009) tinha sido a recriação ao vivo do mítico álbum “Astral
Weeks” de 1968, no Top 3 dos melhores discos de sempre (não estou a exagerar).
“Astral Weeks Live at the Hollywood Bowl” foi editado
em DVD, donde recuperamos, para aguçar o apetite, “Sweet Thing”.
Na única passagem - penso eu - por Portugal em
1993, o concerto no Coliseu do Porto, ficou, infelizmente, muito aquém das
expectativas, foi tipo “um vê-se-te-avias”.
Esperemos que algum dia se possa
redimir.
Para uma audição repousada, o mesmo Van Morrison, a
mesma “Sweet Thing” mas em 1968.
A par de Muddy Waters e de B.B. King, John Lee Hooker faz parte de um conjunto de músicos de Blues que marcaram toda uma
geração e influenciaram fortemente as seguintes.
Originário de Mississipi, John Lee Hooker
(1917-2001) ficou para sempre ligado ao Blues de Chicago, recusou arranjos sofisticados
da sua música, preferindo manter, muitas vezes, a intensidade da voz e da
guitarra na mais pura expressão de bluesman.
Dos músicos que influenciou (chegando a colaborar
com alguns deles) os destaques vão de The Doors (versão de “Roadhouse Blues”
com John Lee Hooker, “Crawling King Snake” no álbum “L.A. Woman”) a Van Morrison
com quem manteve uma colaboração estreita. É reconhecida a importância que teve
nos anos 60 na cena Rock inglesa, The Rolling Stones são o melhor exemplo. É da
colaboração com o irlandês Van Morrison que recuperamos o vídeo seguinte de um
documentário por ele realizado de 1991.
O primeiro êxito de John Lee Hooker data de 1948
com “Boogie Chillun”, voz, guitarra e o ritmo marcado pelo sapateado foram suficientes para alcançar o nº 1 das
tabelas de Rhythm’n’Blues.
A música negra e branca norte-americana tinham,
na década de 50, características substancialmente diferentes. A interpenetração
destas duas culturas musicais e respectivos mercados efectuou-se a meio da década com o surgimento
do Rock´n´Roll. O mercado pop do mundo branco viu-se progressivamente
confrontado com a adesão da juventude branca aos ritmos rápidos do Rhythm’n’Blues,
a sua expansão fez-se adocicando, quer no ritmo quer nas letras da música negra,
e no lançamento de ídolos branco de mais fácil aceitação, Pat Boone, Paul Anka,
Bill Halley, Elvis Presley.
Screamin’ Jay Hawkins (1929-2000) foi um
músico negro de Rhythm’n’Blues, tendo-se destacado em poderosas vocalizaçõesconsideradas obscenas e verdadeiras
representações teatrais. Screamin’ Jay Hawkins foi mesmo “… proibido de actuar em público por indecência: entrava em palco num
caixão donde saía segurando um crâneo que fumava um cigarro e a que chamava
Henry, provocava os espectadores física e oralmente, e depois ia-se embora
envolto numa nuvem de fumo” em “POPMUSIC-ROCK” de Philippe Daufouy/Jean-Pierre Sarton.
Com carreira e discografia longas o tema pelo
qual ficaria a ser conhecido foi “I Put A Spell On You” de 1956. Das dezenas de
versões que teve a mais conhecida deverá ser a efectuada pelos CreedenceClearwater Revival para o primeiro álbum do grupo em 1968.
Agora a recuperação
de “I Put A Spell On You” pelos Creedence Clearwater Revival, em Woodstock, a 16 de Agosto de 1969.
Outros destaques vão para “Not Anymore”, “Frenzy”
ou talvez a melhor de todas “Constipation Blues”, mas não resisto a terminar
com o incontornável “I Put A Spell On You”. Excelente!
Estudava em Coimbra, em meados da
década de 70, quando adquiri o álbum “Rock On” dos The Bunch.
A história é
simples. Um colega de apartamento, o António Oliveira, amante de música como
eu, queria vender alguns álbuns que pelos vistos na altura não lhe
interessavam. Entre eles estava esta relíquia de um grupo de existência
circunstancial, The Bunch, formado pelos músicos identificados na capa, ou seja
os Fairport Convention e amigos – destaque para Sandy Denny e Richard Thompson
– para tocarem temas de Rock’n’Roll. Trata-se de uma edição espanhola da Ariola
de 1972.
Curiosidade: o disco custou-me 80$00
(0,40€), comprei ainda o “Lizard” dos King Crimson por 120$00 (0,60€), ou seja
os 2 ficaram-me por 200$00 (1€), o preço de "Lizard", ainda na etiqueta, era de 216$50.
Foram as editoras independentes, que gravavam o
Rhythm’n’Blues e que dominavam o mercado negro, as primeiras a divulgar o
Rock’n’Roll.
Los Angeles, Chicago, Memphis foram algumas das cidades a estar na
origem, nos anos 50, de muitos cantores cujo sucesso rapidamente ultrapassou as
fronteiras locais. Entraram então em acção as editoras nacionais,
predominantemente brancas, a controlar e a definir esteticamente as novas
sonoridades então emergentes.
Alguns nomes, então em voga, saídos do mundo
branco, foram da maior importância para a expansão do Rock’n’Roll pese as vidas
curtas que tiveram: Ritchie Valens (1941-1959), Gene Vincent (1935-1971), EddieCochran (1938-1960), Buddy Holly (1936-1959), são disso exemplo.
Buddy Holly com actividade musical na década de
50, só nos 2 últimos anos de vida efectuou as gravações que lhe grangearam,
então e depois, o sucesso devido. Depois de já ter gravado 2 Singles em 1956, é
em 1957, como líder dos The Crickets que a editora Brunswick (especializada em
Rhythm’n’Blues) se abre ao Rock’n’Roll e edita o sucesso que foi “That'll Be
The Day”, 1º lugar nos EUA e no Reino Unido.
A turné em 1958 pela Inglaterra teve na
assistência dois jovens que revelariam mais tarde ter sido influenciados por
Buddy Holly: Paul McCartney e Mick Jagger. As canções de Buddy Holly irão ser
alvo de várias versões, das quais agora recupero a de “That'll Be The Day”
efectuada pelo colectivo The Bunch (família Fairport Convention e amigos
interpretam temas de Rock’n’Roll) em 1972, com destaque para a voz de SandyDenny.
Em 1959 Buddy Holly faleceria de acidente de
avião (juntamente com Ritchie Valens), o dia ficaria celebrizado por Don McLean,
em 1971, ao recordá-lo em “American Pie” (the day the music died).
Álbum The "Chirping" Crickets de 1957
Agora, ficamos com Buddy Holly, ou melhor, The
Crickets com “That'll Be The Day”.
Serge Gainsbourg e Jane Birkin foram um casal incontornável da cultura
francesa das décadas de 60/70.
O casal ficaria popularizado pelo polémico e bem conhecido tema “Je
t’aime moi non plus“.
Serge Gainbourg enquanto músico percorreu variados caminhos, do Jazz
ao Rock, do Reggae ao Pop. Teve uma vida de excesso no tabaco, no álcool e nas
mulheres. Provocador nato, ficou conhecido o incidente ao vivo na televisão
francesa em 1986 com Whitney Houston quando ele para espanto de todos e
atrapalhação do locutor diz referindo-se a Whitney Houston “I want to fuck
her”. Ou ainda o clip “Lemon Incest” por ele realizado na cama com a filha, a
agora reconhecida actriz, Charlotte Gainsbourg.
Há 45 anos estávamos em 69, o ano erótico para Serge Gainsbourg . “69
Année Érotique” é precisamente o tema eleito.
Separaram-se em 1980. Serge Gainsbourg faleceu em 1991. Jane Birkin
continua activa no cinema e na canção. Em, 2012, finalmente vi Jane Birkin em
concerto na Casa da Música.
Recuemos a 1969 para ficar com Serge Gainsbourg & Jane Birkin e o seu “69
année érotique”.
Serge Gainsbourg & Jane Birkin - 69 année érotique
Faz agora 30 anos que saiu o nº 2 do jornal Blitz (agora
revista). Na capa David Bowie com chamadas para os Bauhaus e Sérgio Godinho.
Vejamos as notícias musicais de há 30 anos:
- Nas 2ª e 3ª página anunciava-se o regresso dos Dexis
Midnight Runners, o novo álbum de Jean Luc Ponty, o primeiro álbum a solo de
Mick Jagger, o novo LP de Bryan Adams e o regresso de Rui Veloso ao Rock Rendez-Vous.
- Na página 4 anuncia-se os concertos dos Heróis do Mar em
Paris. A página 5 é totalmente preenchida com Robert Wyatt sob o título “Wyatt
Finalmente”: “Animadas as hostes com a
edição de «82-84» de Robert Wyatt, cedo a raiva se elevou em furiosas
expressões perante o «assassínio» perpetrado por uma prensagem inacreditável,
que quase ensombra a beleza de um trabalho rico e ainda inédito em Portugal.”
(disto sou testemunha).
- A página 6 um trabalho de António Sérgio sobre os Bauhaus
e na página 7 o novo disco de Sérgio Godinho, “Salão de Festas”.
- “No Futuro A Simplicidade” é o artigo que ocupa as páginas
centrais dedicadas a David Bowie a propósito do álbum “Tonight”.
- As páginas 10 e 11 dedicadas respectivamente a Julian
Lennon e a Siouxsie Sioux e o seu concerto em Lisboa.
- Página 12, “Busca no Sótão” tirava o pó a Cat Stevens e
fazia a sua retrospectiva. Na página 12 Jaime Fernandes projecta a Rádio
Renascença para 1985.
- Nos discos editados em Portugal referidos na página 14
passava despercebido o álbum dos Associates, “Fourth Drawer Down”. Na página 15
ficamos a saber que1º lugar do Top de Singles em Portugal era ocupado por “I Just Called
To Say I Love You” de Stevie Wonder e nos álbuns o primeiro lugar ia para Tina
Turner com “Private Dancer”. Nos EUA o álbum mais vendido era “Purple Rain” de
Prince e na Grã Bretanha, fiel a Paul McCartney, o álbum “Give My Regards To
Broad Street”.
- A última página anunciava que Sting ia ser Frankenstein.
Era o filme “A Prometida”, no original “The Bride”
Ainda acerca do filme “Les chansons d'amour" e da sua
magnífica banda sonora para destacar o seu autor Alex Beaupain (que também
colabora noutros filmes de Christophe Honoré - ver “Dans Paris”, “La Belle
Personne”-A Bela Junie). Porque as canções de Alex Beaupain (e em particular as
da banda sonora de “Les chansons d'amour”) estão
efectivamente a um nível que acalentam a esperança do retorno da canção
francesa a um maior destaque na cena internacional.
Aqui vai então mais uma canção de Alex Beaupain, “As-tu déjà aimé?” com a
respectiva cena do filme.
Os brasileiros, particularmente atentos, rapidamente descobriram Alex Beaupain e a sua influência se fez sentir.
Zélia Duncan nascida para a música
na década de 90, com uma discografia a seguir com atenção grava em 2009 no CD
“Pelo Sabor do Gesto” duas canções de Alex Beaupain: “Boas Razões” (Des Bonnes
Raison) e “Pelo Sabor do Gesto” (As-tu déjà aimé?).
Ouçamos então Alex Beaupain pela voz da brasileira Zélia Duncan, aqui
numa versão ao vivo em 2011 de “Pelo Sabor do Gesto”.
“Aime moi moins, mais aime moi longtemps”
é a frase que nos fica no final do filme.
O CD é duplo, para além da banda sonora
do filme tem um CD bónus a não desmerecer com extra de “Comme la pluie” do
filme seguinte de Christophe Honoré “La Belle Personne” (A Bela Junie), assim
termina o CD.
Continuamos com mais uma banda sonora, esta,
muito mais recente.
Em 2009, na colecção Atalanta Filmes que o jornal
Público divulgou a um preço muito atractivo: 1,95€, foi-nos dado a conhecer
filmes (julgo que boa parte fora do circuito comercial) que surpreenderam pela
sua qualidade.
De entre eles destaco "Les chansons d'amour" que teve o César 2008 para a Melhor Banda Sonora da
"Académie des Arts e Techniques du Cinéma".
O filme, do realizador Christophe Honoré,
surpreende fundamentalmente pela sua naturalidade. Na história, um
"ménage-à-trois", na abordagem da homossexualidade, no desempenho dos
actores, nas canções de amor que percorrem todo o filme, tudo se desenrola com
uma espontaneidade absolutamente cativante. Tragédia, comédia musical, amor, o
quotidiano nas ruas de Paris.
O retorno do melhor cinema francês? Ou a
sua redescoberta depois de sucessivas décadas toldado pelas grandes produções
do cinema norte-americano?
A banda sonora e o filme são um só, são
indissociáveis. Banda sonora de 5 estrelas. Também aqui estaremos no regresso
da música francesa?
O vídeo seguinte com o "trailer" abre o
apetite.
"Les chansons d'amour", um filme de Christophe Honoré,
música e letras de Alex Beaupain (um músico a descobrir) interpretada pelos
próprios actores.
"Je n'aime que toi" é uma bela canção aqui interpretada pelo
trio amoroso inicial Louis Garrel, Ludivine Sagnier e Clotilde Hesme.
Em 1971 saiu um filme de nome "Friends" que nunca chegou
a ser por cá estreado. Filme raro, julgo mesmo que não chegou a ter, por cá,
edição em DVD. O filme é uma história de amor de adolescentes para
adolescentes (ou quem o era em 1971).
Portanto para além do puro saudosismo, o
que é que sobra deste filme? A excelente banda sonora de alguém que na época
estava no apogeu da sua carreira: Elton John. Acrescente-se os óptimos arranjos de Paul Buckmaster (responsável pelos arranjos dos primeiros
discos de Leonard Cohen) e os excelentes músicos que então acompanhavam EltonJohn e temos aqui os motivos suficientes para revisitar o filme e a música de
"Friends".
No vídeo seguinte o trailer do filme.
Precisamente em 1971 Elton John estaria por cá no Festival de
Vilar de Mouros.
No mesmo Festival, um grupo de miúdos de menos de 12 anos que
dava pelo nome de Mini-Pop (dos irmãos Barreiros, mais tarde os conhecidos
Jáfumega) fazia as delícias do público e de Elton John, interpretando nada
mais nada menos que "Friends".
Infelizmente Elton John não manteve o nível qualitativo que então
manifestava e progressivamente foi perdendo interesse à medida que ganhou em
popularidade (Daniel, Nikita, Crocodile
Rock, etc).
Com toda a emoção, como se tivéssemos 15 anos, segue para audição
"Friends" de Elton John (recomenda-se a audição de toda a banda
sonora, só disponível numa edição "Rare Masters”, que eu saiba).
Em pleno período do Ié-Ié, concretamente em 1963, formou-se em Portugal
o conjunto Os Ekos. Para muitos uma verdadeira referência do Ié-Ié. Ao vivo
privilegiavam versões dos êxitos dos The Shadows, então no auge da popularidade,
ainda por cima travaram conhecimento no Algarve com o Cliff Richard de quem
ficaram amigos.
Nesta primeira passagem por Os Ekos vamos recordar uma versão de "Hold Me"
de P.J. Proby agora com o título "Esquece", aparece no primeiro EP,
de 1965, do conjunto.
P.J. Proby cantor norte-americano cujo maior sucesso terá sido “Hold Me” em 1964.
O original, e por cá a versão “Esquece”, foram muito populares. Alguns dirão
que, quer uma quer outra, são pirosas, mas que, por vezes, sabe bem recordar
estes sons também é verdade. Portanto,
qualidade à parte, vamos reviver e não esquecer "Esquece".
Os Ekos - 1ºEP - 1965
"Agora vejo quanto errei
pensei mal de ti, pensei
eu fazer-te mal não quis
perdoa, esquece o que fiz..."
Que maravilha, o Ié-Ié de Os Ekos com “Esquece” estávamos no ano de
1965.
Na década de 60 muitos conjuntos portugueses tomaram a designação de
“Académico” (a maior parte dos conjuntos era formada por estudantes), o Conjunto Académico Orfeu foi um deles, estavam sobretudo vocacionados
para animar bailaricos e festas de finalistas.
Mais uma vez a influência dos The Shadows é omnipresente. Em 1966, embora já se
fizessem sentir outras influências, nomeadamente The Beatles, o Conjunto Académico Orfeu grava o bem
conhecido “Nivram”, um “Fox Blues” como é referenciado na contra-capa. A
utilização do xilofone a dar-lhe um agradável toque de easy-listening próprio num qualquer salão de baile.
“Nivram” anagrama de “Marvin” (Hank Marvin guitarrista dos The Shadows)?
Talvez.
Começamos pelos próprios The Shadows em concerto em 2004 (eles
formaram-se em 1958!), a interpretar o seu velho “Nivram", Hank Marvin na guitarra
solo.
E agora a versão portuguesa do Conjunto Académico Orfeu, decorria o ano
de 1966, aí está, “Nivram”! (na
contra-capa do EP o nome está “NIVRAN”).
De retorno aos anos 60 e ao Pop-Rock português.
Em 1963 realizou-se um concurso, no Teatro Monumental, em Lisboa,
organizado pelo Vasco Morgado que se chamou “O Rei do Twist”. O vencedor foi
Victor Gomes e Os Gatos Negros. Estamos na presença de mais um dos avôs do Rock
português.
"Victor Gomes, logo que terminou a sua actuação, tinha assegurado o
título de Rei do Twist, pois será difícil, seja onde for, na América ou
na França, encontrar alguém que possa interpretar muito melhor este ritmo
trepidante que caracteriza bem o dinamismo do nosso século.” no blog Ié-Ié.
E ainda (referência ao "Diário Popular"): “Esta onda (twist) que há três anos anda na Europa
e está já a desaparecer, chegou agora a Portugal (...) Filas inteiras dançavam
e a certa altura o pessoal do teatro teve de ameaçar alguns mais entusiastas de
que os mandava pôr na rua se prosseguissem na exibição. A juventude portuguesa, porém, está longe de se entregar aos divertimentos como
o fazem os franceses, os italianos ou mesmo os londrinos, que esquecem tudo e
têm causado prejuízos sérios em salas e teatros dos seus países. Os
"blusons noirs" portugueses não assustam e limitam-se a dançar e a
aclamar com palmas e gritos a vitória dos seus ídolos. No final do espectáculo, a Polícia teve de novo que intervir para evitar que a
juventude fosse para o palco dançar. Mas mesmo assim umas largas dezenas de
rapazes e raparigas "twistaram" entre clamores e aplausos, sendo
imitados nos corredores e nas coxias por "furiosos" que não se
contiveram perante os apelos dos acordes lançados no ar pelas guitarras
eléctricas e pela voz estentórica de Victor Gomes e os seus Gatos Negros, os reis
do twist de 1963.”
Em 1964 entra no filme “A Canção da Saudade” (faz o papel do Tony, o rocker)
com a actriz espanhola Soledad Miranda (para os mais curiosos: filha de
portugueses, falecida em 1970 em acidente de viação na estrada do Estoril). É
bom recordar algumas cenas do filme.
Do único EP gravado por Victor Gomes, em 1967, agora com Os Siderais não com Os
Gatos Pretos, “Juntos Outra Vez” a canção com o mesmo nome.