Para uns recordações, para outros descobertas. São notas passadas, musicais e não só...
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
Talking Heads - Psycho Killer
No final da década de 70 em pleno movimento Punk e pós-Punk e na polémica e discutível década de 80 com a New Wave, Ska, Tecno, etc. existiu uma das mais interessantes bandas da história do Rock, refiro-me aos Talking Heads cujo 1º álbum “Talking Head: 77” surgiu em pleno Punk ou seja 1977.
As canções dos Talking Heads caracterizaram-se por originais com difíceis melodias, ritmos complexos com uma forte componente Funk. David Byrne, o líder carismático da banda possuía em meu entender a melhor voz que o Rock conhecia pós Jim Morrison (acrescente-se Brian Ferry nos Roxy Music).
A discografia oficial que o grupo nos deixou foi a seguinte:
1977 – Talking Heads: 77
1978 – More Songs About Building And Food
1979 – Fear Of Music
1980 – Remain In Light
1982 – The Name Of This Band Is Talking Heads
1983 – Speaking In Tongues
1985 – Little Creatures
1986 – True Stories
1988 – Naked
Há grupos que não deviam ter acabado, os Talking Heads era um deles.
Recordo do 1º LP o tema que tornou os Talking Heads conhecidos, claro é "Psycho Killer"!
Talking Heads - Psycho Killer
As canções dos Talking Heads caracterizaram-se por originais com difíceis melodias, ritmos complexos com uma forte componente Funk. David Byrne, o líder carismático da banda possuía em meu entender a melhor voz que o Rock conhecia pós Jim Morrison (acrescente-se Brian Ferry nos Roxy Music).
A discografia oficial que o grupo nos deixou foi a seguinte:
1977 – Talking Heads: 77
1978 – More Songs About Building And Food
1979 – Fear Of Music
1980 – Remain In Light
1982 – The Name Of This Band Is Talking Heads
1983 – Speaking In Tongues
1985 – Little Creatures
1986 – True Stories
1988 – Naked
Há grupos que não deviam ter acabado, os Talking Heads era um deles.
Edição portuguesa de 1977 com as ref: SR 6036; SR 6036 NP |
Recordo do 1º LP o tema que tornou os Talking Heads conhecidos, claro é "Psycho Killer"!
Talking Heads - Psycho Killer
terça-feira, 13 de agosto de 2019
Jethro Tull - Aqualung
Em 1971 saiu o 4º álbum dos Jethro Tull de nome "Aqualung". Talvez a melhor gravação do grupo de Ian Anderson.
É um disco ímpar na discografia dos Jethro Tull, do Rock ao Folk e uma belíssima capa, e foi um dos que melhor resistiu à passagem do tempo.
Tinha na ideia que quando o adquiri tinha pedido a uma amiga de turma do liceu, mais velha, vinda dos Estados Unidos que me traduzisse a letra de "Aqualung". Vasculhei pelos caixotes que a minha mãe tinha em tempos guardado e acabei por descobrir, mas afinal não era da faixa "Aqualung" mas sim do texto escrito na capa do álbum. Assim está a tradução:
“ 1 – No começo o Homem criou Deus, e à sua imagem criou-o
2 – E o Homem deu a Deus uma série de nomes, que ele podia ser o Senhor sobre toda a terra, quando conviesse ao Homem.
3 – E no sétimo milionésimo dia o Homem descansou e inclinou-se fortemente no seu Deus e viu que ele era bom
4 – E o Homem formou Aqualung (Pulmões de água) da lama do chão e muitos compararam-no na sua generosidade
5 – E a estes poucos homens, o Homem atirou-os para o vácuo. E alguns foram queimados; e alguns foram postos de parte pela sua bondade
6 – E o Homem tornou-se o Deus que ele tinha criado e com os seus milagres governou sobre toda a terra
7 – Mas todas estas coisas vêm do passado, o Espírito que causou o homem a criar o seu Deus viveu dentro de todos os homens mesmo dentro de Aqualung
8 – E o homem não o viu
9 – Mas para o propósito dos Cristãos é melhor ele começar a ver”
Não entendo, agora, porque pedi a tradução, muito provavelmente, já no segundo ano de inglês, eu a teria feito.
Para ouvir o tema título do álbum, precisamente "Agualung". Na imagem a respectiva letra e o texto em inglês que constava na capa em vinil. A imagem é da edição em CD de 1998, ref: 7243 4 9 5401 2 5.
Jethro Tull - Aqualung
É um disco ímpar na discografia dos Jethro Tull, do Rock ao Folk e uma belíssima capa, e foi um dos que melhor resistiu à passagem do tempo.
Tinha na ideia que quando o adquiri tinha pedido a uma amiga de turma do liceu, mais velha, vinda dos Estados Unidos que me traduzisse a letra de "Aqualung". Vasculhei pelos caixotes que a minha mãe tinha em tempos guardado e acabei por descobrir, mas afinal não era da faixa "Aqualung" mas sim do texto escrito na capa do álbum. Assim está a tradução:
“ 1 – No começo o Homem criou Deus, e à sua imagem criou-o
2 – E o Homem deu a Deus uma série de nomes, que ele podia ser o Senhor sobre toda a terra, quando conviesse ao Homem.
3 – E no sétimo milionésimo dia o Homem descansou e inclinou-se fortemente no seu Deus e viu que ele era bom
4 – E o Homem formou Aqualung (Pulmões de água) da lama do chão e muitos compararam-no na sua generosidade
5 – E a estes poucos homens, o Homem atirou-os para o vácuo. E alguns foram queimados; e alguns foram postos de parte pela sua bondade
6 – E o Homem tornou-se o Deus que ele tinha criado e com os seus milagres governou sobre toda a terra
7 – Mas todas estas coisas vêm do passado, o Espírito que causou o homem a criar o seu Deus viveu dentro de todos os homens mesmo dentro de Aqualung
8 – E o homem não o viu
9 – Mas para o propósito dos Cristãos é melhor ele começar a ver”
Não entendo, agora, porque pedi a tradução, muito provavelmente, já no segundo ano de inglês, eu a teria feito.
Para ouvir o tema título do álbum, precisamente "Agualung". Na imagem a respectiva letra e o texto em inglês que constava na capa em vinil. A imagem é da edição em CD de 1998, ref: 7243 4 9 5401 2 5.
Jethro Tull - Aqualung
segunda-feira, 12 de agosto de 2019
Rufus Wainwright - Over The Rainbow
Em Dezembro de 2007 comprei o DVD de Rufus Wainwright designado “Rufus! Rufus! Rufus! does Judy! Judy! Judy!”.
Trata-se da recriação de um concerto de Judy Garland de 1961. No início o concerto soa algo estranho como que a música de Judy Garland não encaixasse na voz de Rufus, no entanto à medida que que o concerto avança Rufus como que ganha confiança, solta-se e termina em grande com um encore onde aparecem a irmã Martha Wainwright, a mãe Kate McGarrigle (essa mesmo do duo Kate & Anna McGarrigle) e ainda a filha de Judy Garland, Lorna Luft.
Revi-o recentemente e gostei ainda mais do que quando o adquiri. Ah! grande Rufus. Obrigado Rufus! Rufus! Rufus!
"Over The Rainbow" é um clássico da década de 30, interpretado por Judy Garland no filme "O Feiticeiro de Oz" e que agora recordo na voz de Rufus, Rufus Wainwright.
Rufus Wainwright - Over The Rainbow
Trata-se da recriação de um concerto de Judy Garland de 1961. No início o concerto soa algo estranho como que a música de Judy Garland não encaixasse na voz de Rufus, no entanto à medida que que o concerto avança Rufus como que ganha confiança, solta-se e termina em grande com um encore onde aparecem a irmã Martha Wainwright, a mãe Kate McGarrigle (essa mesmo do duo Kate & Anna McGarrigle) e ainda a filha de Judy Garland, Lorna Luft.
DVD, ref: 0602517516731 de 2007 |
Revi-o recentemente e gostei ainda mais do que quando o adquiri. Ah! grande Rufus. Obrigado Rufus! Rufus! Rufus!
"Over The Rainbow" é um clássico da década de 30, interpretado por Judy Garland no filme "O Feiticeiro de Oz" e que agora recordo na voz de Rufus, Rufus Wainwright.
Rufus Wainwright - Over The Rainbow
domingo, 11 de agosto de 2019
The Moody Blues - My Song
Os anos 60 foram férteis na produção de bons grupos de música nas várias variantes, Rock, Pop, Blues, Fusão, etc. de uma forma genérica na chamada música popular anglo-saxónica.
Uma das bandas de maior destaque e popularidade foram The Moody Blues.
A primeira formação dos The Moody Blues data de 1964, sendo no entanto a formação de maior êxito a que em 1967 gravaria um dos álbuns de maior importância nas novas sonoridades então emergentes. Refiro-me a ”Days of Future Passed” um disco de fusão com a música clássica gravado com The London Festival Orchestra.
O som orquestral dos The Moody Blues tinha origem fundamentalmente em Michael Pinder com a utilização do Mellotron, um instrumento de teclado surgido nos anos 60 que permitia, entre outros, a simulação de sons de orquestra. The Moody Blues foi o grupo que melhor uso deu ao Mellotron.
Infelizmente nunca actuaram em Portugal e assim nunca pude concretizar a ideia de juntar o meu e a minha filha no mesmo concerto.
Na realidade a aproximação do meu pai ao Rock deve-se em grande parte ao som “sinfónico” e melodioso dos The Moody Blues e em particular ao álbum “Days of Futured Passed”. Também a minha filha iria tomar conhecimento da música feita nos anos 60, em parte pelos primeiros álbuns dos The Moody Blues que lhe dei já em formato CD.
Eles marcam várias gerações e serão de futuro uma referência de topo na música popular da 2ª metade do século XX.
De 1967 a 1972 gravariam:
“Days of Future Passed” – 1967 – O álbum clássico.
“In Search of the Lost Chord” – 1968 – O melhor álbum.
“On the Threshold of a Dream” – 1969 – O álbum experimental.
“To Our Childrens’s Children’s Children” – 1969 – O álbum esquecido.
“A Question of Balance” – 1970 – O álbum mais comercial.
“Every Good Boy Deserves Favour” – 1971 – O álbum mais simples.
“Seventh Sojourn” – 1972 – O álbum do último fôlego.
Aqui, The Moody Blues deviam ter acabado definitivamente, em 6 anos tinham feito 7 álbuns de qualidade superior.
Até hoje gravaram ainda mais 8 álbuns de originais a saber (e esquecer):
1978 – Octave
1981 – Long Distance Voyager
1983 – The Present
1986 – The Other Side of Life
1988 – Sur la Mer
1991 – Keys of the Kingdom
1999 – Strange Times
2003 – December
Um ou outro momento interessante mas nada que iguale a primeira fase.
Continuam em actividade como trio: Justin Hayward, John Lodge e Graeme Edge. Só John Lodge é da formação inicial de 1964. Do quinteto de 1967 saíram primeiro Michael Pinder (1978) e posteriormente Ray Thomas (2002) falecido em 2018.
Do álbum de 1971 "Every Good Boy Deserves Favour” escolho a faixa final "My Song" composta por Mike Pinder. Deixemo-nos encantar por "My Song".
The Moody Blues - My Song
Uma das bandas de maior destaque e popularidade foram The Moody Blues.
A primeira formação dos The Moody Blues data de 1964, sendo no entanto a formação de maior êxito a que em 1967 gravaria um dos álbuns de maior importância nas novas sonoridades então emergentes. Refiro-me a ”Days of Future Passed” um disco de fusão com a música clássica gravado com The London Festival Orchestra.
O som orquestral dos The Moody Blues tinha origem fundamentalmente em Michael Pinder com a utilização do Mellotron, um instrumento de teclado surgido nos anos 60 que permitia, entre outros, a simulação de sons de orquestra. The Moody Blues foi o grupo que melhor uso deu ao Mellotron.
Infelizmente nunca actuaram em Portugal e assim nunca pude concretizar a ideia de juntar o meu e a minha filha no mesmo concerto.
Na realidade a aproximação do meu pai ao Rock deve-se em grande parte ao som “sinfónico” e melodioso dos The Moody Blues e em particular ao álbum “Days of Futured Passed”. Também a minha filha iria tomar conhecimento da música feita nos anos 60, em parte pelos primeiros álbuns dos The Moody Blues que lhe dei já em formato CD.
Eles marcam várias gerações e serão de futuro uma referência de topo na música popular da 2ª metade do século XX.
De 1967 a 1972 gravariam:
“Days of Future Passed” – 1967 – O álbum clássico.
“In Search of the Lost Chord” – 1968 – O melhor álbum.
“On the Threshold of a Dream” – 1969 – O álbum experimental.
“To Our Childrens’s Children’s Children” – 1969 – O álbum esquecido.
“A Question of Balance” – 1970 – O álbum mais comercial.
“Every Good Boy Deserves Favour” – 1971 – O álbum mais simples.
“Seventh Sojourn” – 1972 – O álbum do último fôlego.
Aqui, The Moody Blues deviam ter acabado definitivamente, em 6 anos tinham feito 7 álbuns de qualidade superior.
Até hoje gravaram ainda mais 8 álbuns de originais a saber (e esquecer):
1978 – Octave
1981 – Long Distance Voyager
1983 – The Present
1986 – The Other Side of Life
1988 – Sur la Mer
1991 – Keys of the Kingdom
1999 – Strange Times
2003 – December
Um ou outro momento interessante mas nada que iguale a primeira fase.
Continuam em actividade como trio: Justin Hayward, John Lodge e Graeme Edge. Só John Lodge é da formação inicial de 1964. Do quinteto de 1967 saíram primeiro Michael Pinder (1978) e posteriormente Ray Thomas (2002) falecido em 2018.
Edição portuguesa de 1971 com as ref: 2PTHS 5; 2P.THS 5 |
Do álbum de 1971 "Every Good Boy Deserves Favour” escolho a faixa final "My Song" composta por Mike Pinder. Deixemo-nos encantar por "My Song".
The Moody Blues - My Song
sábado, 10 de agosto de 2019
Brian Auger & The Trinity - Listen Here
Hoje em dia julgo que se ouve menos rádio do que na minha adolescência. Deixou-se de ouvir rádio porque ela ser mais fraca, ou ficou mais fraca por se ouvir menos? ou estou simplesmente equivocado? É certo que tudo mudou na vida, o tempo disponível é menor, a juventude e não só, todos nós, temos a Internet e os leitores de MP3.
Nem sempre foi assim, em pequeno tinha o bom hábito de ouvir rádio, os relatos de futebol, está claro, com o “transístor” na orelha, mas também programas, genericamente musicais, pois, nessa altura a programação era sobretudo musical. De entre os muito bons programas que existiram na nossa rádio desde os anos 60, há um que se destacou, pela sua qualidade, irreverência, bom gosto musical e que marcou toda uma geração, refiro-me ao programa “Em Órbita” que teve início no ano de 1965 em FM na RCP (Rádio Clube Português). A escrita deste texto baseia-se em parte na minha memória, outra parte em pesquisa feita na Internet.
Num país governado por uma ditadura, de costumes ultra conservadores, o “Em Órbita” atreveu-se, intransigentemente, a passar o que melhor se fazia na nova música popular anglo-saxónica, então considerada música depravada e de “negros”. Dos diversos apresentadores lembro-me de pelo menos o Jorge Gil, o João David Nunes e o Cândido Mota. Embora possa ter ouvido o primeiro indicativo do programa, o tema “Revenge” dos The Kinks, aquele que verdadeiramente ficou como a marca do programa foi o “Assim falava Zaratrusta” de Richard Strauss, só de o ouvir já se ficava agarrado ao programa. Lembro-me de haver duas emissões, uma das 20H às 22H, julgo eu pois criava conflito com o horário da “Página Um” da RR, e outra das 00H à 01H. A qualidade e actualidade da música passada era efectivamente um dos predicados do programa, sabe-se que temas como “God Only Knows” e “Wouldn’t It Be Nice” dos The Beach Boys foram tocados na mesma altura que foram postos à venda nos EUA e Inglaterra, coisa pouco vulgar para a época em que as novidades chegavam cá com atrasos de longos meses em relação às suas edições nos países de origem. Consta que as tripulações dos voos internacionais colaboravam na aquisição dos discos.
A primeira vez que passaram um tema de música portuguesa foi em 1967 o tema “A Lenda d’El Rei D. Sebastião” do Quarteto 1111. O facto provocou discordâncias no seio dos autores do programa tendo levado à leitura do seguinte texto que não resisto em transcrever:
"Em Órbita vai proceder hoje à transmissão de um trecho de música popular portuguesa. Porque se trata de uma medida sem precedentes neste programa, e por termos o maior respeito pela nossa própria coerência e por todos quantos nos acompanham com a sua adesão consciente e construtiva, tem pleno cabimento algumas palavras introdutórias ao trecho que vamos apresentar. Desde sempre que alguns dos mais conhecidos intérpretes e conjuntos portugueses de música ligeira que nos têm procurado, seguindo modalidades várias de aproximação no sentido de Em Órbita divulgar as suas respectivas realizações, em amostra, em disco ou em registo magnético. Em face dessas sucessivas tentativas, sempre nos recusámos em aludir, por considerarmos que a totalidade dessas realizações não justificava o nosso interesse em abrir excepções, quer por entendermos que a sua transmissão iria ocupar tempo que poderia ser preenchido com larga vantagem pela nossa música habitual, quer por considerarmos que nenhuma delas reunia as condições mínimas para poder representar qualquer coisa de semelhante a uma tentativa honesta e inédita do lançamento das bases da música popular portuguesa que todos nós em boa consciência queremos renovada por inteiro de alto a baixo.
Por várias vezes e sob diversos pretextos temos aqui exprimido alto e bom som que somente transmitiríamos qualquer modalidade de música popular portuguesa que tivesse um mínimo daqueles requisitos que poderemos condensar assim:
1 ° - Autenticidade aferida em função do ambiente e da sociedade portuguesa e da tradição folclórica do nosso país.
2° - Afastamento radical da utilização puramente oportunista de padrões internacionais e pseudo internacionais, impossíveis de transpor com verdadeira honestidade para o nosso meio.
3° - Rompimento frontal com as formas de música popular comercial mais divulgadas em Portugal e que se caracterizam pela teimosa insistência em seguir os figurinos caducos e provincianos de Aranda do Douro, San Remo ou Bênidorm.
4° -Demonstração de um poder criador e interpretativo que ultrapassasse de forma a não deixar dúvidas, apelando a uma imitação grotesca que se faz no estrangeiro, quer na forma de cópia pura e simples, quer na de adaptações apressadas, quer na utilização de uma língua, de um estilo ou de um som de importação, tudo defeituosamente assimilado.
Estes portanto os requisitos mínimos que sempre exigimos a nós próprios e aos que nos procuraram com pedidos de transmissão. Nunca nos limitámos porém a uma recusa seca é peremptória. Os nossos pontos de vista sempre os exprimimos desenvolvidamente em particular e em público.
Os que nos ouvem com regularidade, devem recordar-se do que aqui foi dito sobre este mesmo tema no ano passado. As nossas sugestões sobre os caminhos a seguir na nossa opinião ficaram então bem claras. Recordemos algumas delas:
Recurso ao folclore português nas suas múltiplas variedades e manifestações.
A ligação intima à realidade portuguesa nos seus mil e um aspectos e facetas.
Recurso à poesia portuguesa popular ou erudita, medieval, clássica ou contemporânea.
O aproveitamento das formas melódicas e rítmicas da música popular portuguesa, ainda não adulterada.
A revisão total dos temas e respectiva forma de expressão com base na construção lírica dos poetas da literatura portuguesa, do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende aos poetas da actual geração de Coimbra. Sem preocupações de síntese, estas são algumas das formas possíveis no nosso entender de encarreirar a música popular portuguesa para alguma coisa de novo, de verdadeiro e de autentico. Há anos que vimos proclamando. Nunca ninguém demonstrou ou procurou demonstrar que no plano dos princípios e em concreto, estávamos errados.
Posto isto temos, para nós, que o trecho que vamos hoje apresentar, preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa com todas as implicações que a sua transmissão através de Em Órbita acarretam.
Tendo por título A Lenda del Rey D. Sebastião, é escrito por um português é tocado e cantado por portugueses. Não vamos fazer uma apreciação exaustiva desta gravação, das suas qualidades que são muitas, e dos seus defeitos que terá alguns.
Vamos apenas apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo. Assim é desde logo um apontamento especial sobre os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais, e num período em que neste programa se dá cada vez mais importância aos criadores e cada vez menos aos intérpretes, a gravação que vamos apresentar tem qualidade interpretativa mais do que suficiente, e uma nota que sobressai com rara evidencia.
O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito, é que em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados. Conta-se uma história, uma lenda. Como lenda que é trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.
Depois, é um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal. É um Sebastianismo colectivo que na lenda se retrata É a ideologia negativista dos que têm uma crença irracional em coisas, em valores e em poderes que não existem, dos que se deixam enganar pelos falsos Messias do oportunismo e da mistificação. A lenda del Rey D. Sebastião, escreveu José Cid, é o Quarteto 1111."
Não me recordo de ter ouvido esta emissão mas recordo-me perfeitamente da polémica que tal ocasionou.
Era usual no final do ano ser feita a eleição das melhores gravações do ano. Assim, recordo-me por exemplo:
Melhor música de 1969: Atlantis – Donovan
Melhor música de 1970: Bridge Over Trouble Water - Simon & Garfunkel
Pior música de 1970: In the Summertime – Mungo Jerry
Melhor álbum de 1970: Bridge Over Trouble Water - Simon & Garfunkel
Foram inúmeros os grupos e interpretes que aprendi a gostar com o “Em Órbita”, há, no entanto 2 ou 3 recordações que destaco: um longo tema de Brian Auger & The Trinity que, descubro agora, era "Listen Here" do LP "Befour", o tema “Flatback Caper” do álbum “Full House” dos Fairport Convention e de Simon & Garfunkel “7 O’Clock News/Silent Night” que abria e fechava as emissões do período de Natal de 1970.
Em 1974, o período áureo da música popular anglo-saxónica tinha terminado e "Em Órbita" muda radicalmente de direcção passando a divulgar música antiga e barroca. Mais tarde organiza concertos de música antiga vindo, nos anos finais, a ser patrocinado pela Portugal Telecom.
Em Novembro de 2001 assisti a um desses concertos no Rivoli, a música era de Georg Philip Telemann (1681-1767) e foi interpretada por Reinhard Goebel e a Musica Antiqua Koln. A 29 de Novembro de 2003 realiza-se no Rivoli o último concerto. A PT termina o patrocínio que vinha fazendo há 7 anos. O “Em Órbita” terminava definitivamente.
Dos bons tempos em que ouvia pontualmente "Em Órbita" ficamos com Brian Auger & The Trinity e o tal "Listen Here" o tema que eu costumava ouvir.
Brian Auger & The Trinity- Listen Here
Nem sempre foi assim, em pequeno tinha o bom hábito de ouvir rádio, os relatos de futebol, está claro, com o “transístor” na orelha, mas também programas, genericamente musicais, pois, nessa altura a programação era sobretudo musical. De entre os muito bons programas que existiram na nossa rádio desde os anos 60, há um que se destacou, pela sua qualidade, irreverência, bom gosto musical e que marcou toda uma geração, refiro-me ao programa “Em Órbita” que teve início no ano de 1965 em FM na RCP (Rádio Clube Português). A escrita deste texto baseia-se em parte na minha memória, outra parte em pesquisa feita na Internet.
Num país governado por uma ditadura, de costumes ultra conservadores, o “Em Órbita” atreveu-se, intransigentemente, a passar o que melhor se fazia na nova música popular anglo-saxónica, então considerada música depravada e de “negros”. Dos diversos apresentadores lembro-me de pelo menos o Jorge Gil, o João David Nunes e o Cândido Mota. Embora possa ter ouvido o primeiro indicativo do programa, o tema “Revenge” dos The Kinks, aquele que verdadeiramente ficou como a marca do programa foi o “Assim falava Zaratrusta” de Richard Strauss, só de o ouvir já se ficava agarrado ao programa. Lembro-me de haver duas emissões, uma das 20H às 22H, julgo eu pois criava conflito com o horário da “Página Um” da RR, e outra das 00H à 01H. A qualidade e actualidade da música passada era efectivamente um dos predicados do programa, sabe-se que temas como “God Only Knows” e “Wouldn’t It Be Nice” dos The Beach Boys foram tocados na mesma altura que foram postos à venda nos EUA e Inglaterra, coisa pouco vulgar para a época em que as novidades chegavam cá com atrasos de longos meses em relação às suas edições nos países de origem. Consta que as tripulações dos voos internacionais colaboravam na aquisição dos discos.
A primeira vez que passaram um tema de música portuguesa foi em 1967 o tema “A Lenda d’El Rei D. Sebastião” do Quarteto 1111. O facto provocou discordâncias no seio dos autores do programa tendo levado à leitura do seguinte texto que não resisto em transcrever:
"Em Órbita vai proceder hoje à transmissão de um trecho de música popular portuguesa. Porque se trata de uma medida sem precedentes neste programa, e por termos o maior respeito pela nossa própria coerência e por todos quantos nos acompanham com a sua adesão consciente e construtiva, tem pleno cabimento algumas palavras introdutórias ao trecho que vamos apresentar. Desde sempre que alguns dos mais conhecidos intérpretes e conjuntos portugueses de música ligeira que nos têm procurado, seguindo modalidades várias de aproximação no sentido de Em Órbita divulgar as suas respectivas realizações, em amostra, em disco ou em registo magnético. Em face dessas sucessivas tentativas, sempre nos recusámos em aludir, por considerarmos que a totalidade dessas realizações não justificava o nosso interesse em abrir excepções, quer por entendermos que a sua transmissão iria ocupar tempo que poderia ser preenchido com larga vantagem pela nossa música habitual, quer por considerarmos que nenhuma delas reunia as condições mínimas para poder representar qualquer coisa de semelhante a uma tentativa honesta e inédita do lançamento das bases da música popular portuguesa que todos nós em boa consciência queremos renovada por inteiro de alto a baixo.
Por várias vezes e sob diversos pretextos temos aqui exprimido alto e bom som que somente transmitiríamos qualquer modalidade de música popular portuguesa que tivesse um mínimo daqueles requisitos que poderemos condensar assim:
1 ° - Autenticidade aferida em função do ambiente e da sociedade portuguesa e da tradição folclórica do nosso país.
2° - Afastamento radical da utilização puramente oportunista de padrões internacionais e pseudo internacionais, impossíveis de transpor com verdadeira honestidade para o nosso meio.
3° - Rompimento frontal com as formas de música popular comercial mais divulgadas em Portugal e que se caracterizam pela teimosa insistência em seguir os figurinos caducos e provincianos de Aranda do Douro, San Remo ou Bênidorm.
4° -Demonstração de um poder criador e interpretativo que ultrapassasse de forma a não deixar dúvidas, apelando a uma imitação grotesca que se faz no estrangeiro, quer na forma de cópia pura e simples, quer na de adaptações apressadas, quer na utilização de uma língua, de um estilo ou de um som de importação, tudo defeituosamente assimilado.
Estes portanto os requisitos mínimos que sempre exigimos a nós próprios e aos que nos procuraram com pedidos de transmissão. Nunca nos limitámos porém a uma recusa seca é peremptória. Os nossos pontos de vista sempre os exprimimos desenvolvidamente em particular e em público.
Os que nos ouvem com regularidade, devem recordar-se do que aqui foi dito sobre este mesmo tema no ano passado. As nossas sugestões sobre os caminhos a seguir na nossa opinião ficaram então bem claras. Recordemos algumas delas:
Recurso ao folclore português nas suas múltiplas variedades e manifestações.
A ligação intima à realidade portuguesa nos seus mil e um aspectos e facetas.
Recurso à poesia portuguesa popular ou erudita, medieval, clássica ou contemporânea.
O aproveitamento das formas melódicas e rítmicas da música popular portuguesa, ainda não adulterada.
A revisão total dos temas e respectiva forma de expressão com base na construção lírica dos poetas da literatura portuguesa, do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende aos poetas da actual geração de Coimbra. Sem preocupações de síntese, estas são algumas das formas possíveis no nosso entender de encarreirar a música popular portuguesa para alguma coisa de novo, de verdadeiro e de autentico. Há anos que vimos proclamando. Nunca ninguém demonstrou ou procurou demonstrar que no plano dos princípios e em concreto, estávamos errados.
Posto isto temos, para nós, que o trecho que vamos hoje apresentar, preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa com todas as implicações que a sua transmissão através de Em Órbita acarretam.
Tendo por título A Lenda del Rey D. Sebastião, é escrito por um português é tocado e cantado por portugueses. Não vamos fazer uma apreciação exaustiva desta gravação, das suas qualidades que são muitas, e dos seus defeitos que terá alguns.
Vamos apenas apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo. Assim é desde logo um apontamento especial sobre os aspectos puramente interpretativos, instrumentais e vocais, e num período em que neste programa se dá cada vez mais importância aos criadores e cada vez menos aos intérpretes, a gravação que vamos apresentar tem qualidade interpretativa mais do que suficiente, e uma nota que sobressai com rara evidencia.
O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito, é que em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados. Conta-se uma história, uma lenda. Como lenda que é trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.
Depois, é um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal. É um Sebastianismo colectivo que na lenda se retrata É a ideologia negativista dos que têm uma crença irracional em coisas, em valores e em poderes que não existem, dos que se deixam enganar pelos falsos Messias do oportunismo e da mistificação. A lenda del Rey D. Sebastião, escreveu José Cid, é o Quarteto 1111."
Não me recordo de ter ouvido esta emissão mas recordo-me perfeitamente da polémica que tal ocasionou.
Era usual no final do ano ser feita a eleição das melhores gravações do ano. Assim, recordo-me por exemplo:
Melhor música de 1969: Atlantis – Donovan
Melhor música de 1970: Bridge Over Trouble Water - Simon & Garfunkel
Pior música de 1970: In the Summertime – Mungo Jerry
Melhor álbum de 1970: Bridge Over Trouble Water - Simon & Garfunkel
Foram inúmeros os grupos e interpretes que aprendi a gostar com o “Em Órbita”, há, no entanto 2 ou 3 recordações que destaco: um longo tema de Brian Auger & The Trinity que, descubro agora, era "Listen Here" do LP "Befour", o tema “Flatback Caper” do álbum “Full House” dos Fairport Convention e de Simon & Garfunkel “7 O’Clock News/Silent Night” que abria e fechava as emissões do período de Natal de 1970.
Em 1974, o período áureo da música popular anglo-saxónica tinha terminado e "Em Órbita" muda radicalmente de direcção passando a divulgar música antiga e barroca. Mais tarde organiza concertos de música antiga vindo, nos anos finais, a ser patrocinado pela Portugal Telecom.
Em Novembro de 2001 assisti a um desses concertos no Rivoli, a música era de Georg Philip Telemann (1681-1767) e foi interpretada por Reinhard Goebel e a Musica Antiqua Koln. A 29 de Novembro de 2003 realiza-se no Rivoli o último concerto. A PT termina o patrocínio que vinha fazendo há 7 anos. O “Em Órbita” terminava definitivamente.
Dos bons tempos em que ouvia pontualmente "Em Órbita" ficamos com Brian Auger & The Trinity e o tal "Listen Here" o tema que eu costumava ouvir.
Brian Auger & The Trinity- Listen Here
sexta-feira, 9 de agosto de 2019
Fotheringay - Wild Mountain Thyme
Fotheringay é o nome de um grupo de Folk-Rock e também do único álbum por eles editado no curto espaço de tempo que duraram. Estávamos em 1970. O álbum conseguia-se ouvir na rádio, se bem me lembro em programas como a “Página Um” e no “Em Órbita”. Os Fotheringay foram formado pela Sandy Denny a minha cantora preferida de ontem, hoje e de sempre. Sobre ela muito haverá a dizer a começar pelo facto de nunca ter tido o devido reconhecimento, nem mesmo depois da sua morte em 1978. Mas fiquemo-nos pelos Fotheringay constituídos após a saída da Sandy Denny dos Fairport Convention.
Já agora, "Fotheringay" é também o nome de uma deliciosa canção de Sandy Denny que abre o 2º álbum dos Fairport Convention “What We Did On Our Holidays” de 1968.
Eram formados por: Sandy Denny na voz, piano e guitarra, Trevor Lucas, seu marido, na voz e guitarra, Jerry Donahue, guitarra e voz, Gerry Conway, bateria e voz e Pat Donaldson baixo e voz. O álbum é todo ele uma pequena pérola da música popular. As composições de Sandy Denny são do melhor que ela escreveu. Vejam-se as canções iniciais “Nothing More” e “The Sea” e ainda “Winter Winds” e “ The Pond and the Stream”. A espantosa versão da canção de Gordon Lightfoot “The Way I Feel” que abre o 2º lado, repare-se nos arranjos vocais, Sandy e Trevor, na guitarra e bateria, espantoso! A finalizar um arranjo tradicional de “Banks of the Nile” com uma interpretação inigualável de Sandy Denny (atenção à subtileza da guitarra, baixo e bateria). Pelo meio 2 temas de cariz mais folk, “The Ballad of Ned Kelly“ de Lucas e uma versão de “Too Much of Nothing” de Bob Dylan.
A capa de fundo preto, com os elementos do grupo desenhados de forma estilizada e com cores fortes predominando os vermelhos, verdes e amarelos, rivalizava com as melhores capas de álbum que então se produziam. Recordo-me agora de uma referência ao grupo num jornal da época que ainda tenho. Procuro e encontro, está no jornal “DISCO MÚSICA & MODA” no nº 9 de 1 de Junho de 1971, num artigo intitulado “ A Folk Inglesa” e, nem de propósito, diz o seguinte:
“ O único e maravilhoso álbum dos “Fotheringay” é talvez o mais belo disco inglês de todo o ano de 1970. É uma pequena obra de arte, desde o desenho da capa, até à captação do som, passando pela incrível suavidade das guitarras de Trevor Lucas e Jerry Donahue, o diálogo eléctrico-acústico, a voz de sonho de Sandy Denny, que se excedeu tanto nas suas próprias composições (“Nothing More”, “The Sea”) como na velha balada escocesa ( a fabulosa “Banks of the Nile”). E, para culminar, o baterista Gerry Conway tinha encontrado um som de inegável subtileza. “Fotheringay” era de facto, um grande grupo. Era, pois eles acabam de separar-se; esperemos agora até ouvir de novo falar de Sandy Denny como solista”.
O disco claro passou quase despercebido e não se encontrava à venda na generalidade das lojas de discos. Quis a sorte que um dia numa loja, na Rua Passos Manuel à esquerda quem sobe, tivesse no 1º andar um pequeno canto com discos à venda e aí encontrei para meu espanto o disco "Fotheringay". Ainda hoje o tenho devidamente preservado, tendo no entanto já adquirido a versão em CD que encontrei num dos Festivais Intercéltico. Também este em CD não é fácil de encontrar em discotecas, mas não resiste a uma pesquisa pela Internet. O CD trás 2 faixas extras:”Two Weeks Last Summer” de Dave Cousins, numa versão melhorada em relação ao original do álbum "Sandy Denny and The Strawbs" e “Gypsy Davey” um arranjo tradicional de Denny/Lucas que me pareceram um pouco desenquadradas do resto do álbum.
2008 viu editado "Fotheringay 2" com composições que estariam na origem de um segundo álbum que não chegou em tempo a ser publicado, em 1971 os Fotheringay já não existiam.
Explica o texto incluído em "Fotheringay 2":
"Destroyed by a misunderstanding, Fotheringay remain one of the great might-have-been of British music. They lasted less than a year, and released just one album, but their disappearance robbed the early-'70s scene of a group of musicians capable of taking folk-rock to new heights of subtlety and musicianship. Now, the nine songs on that album, assumed for almost four decades to be their sole testament, are joined by the 11 that would have constituted a follow-up. After languishing as buried casualties of a sudden and pain-filled split, they have been salvaged and restored by the band's survivors in a way that can do nothing but reinforce the admiration with which the this particular group of musicians are remembered, while demonstrating to listeners of later generations the richness and continuing value of their work."
"Wild Mountain Thyme", um tradicional com arranjos dos Fotheringay, é a canção de hoje.
Fotheringay - Wild Mountain Thyme
PS:
Em 2015 é publicado "Nothing More: The Collected Fotheringay" com 3 CD e um DVD com tudo o conhecido dos Fotheringay e que em devido tempo já dei a conhecer.
Já agora, "Fotheringay" é também o nome de uma deliciosa canção de Sandy Denny que abre o 2º álbum dos Fairport Convention “What We Did On Our Holidays” de 1968.
Eram formados por: Sandy Denny na voz, piano e guitarra, Trevor Lucas, seu marido, na voz e guitarra, Jerry Donahue, guitarra e voz, Gerry Conway, bateria e voz e Pat Donaldson baixo e voz. O álbum é todo ele uma pequena pérola da música popular. As composições de Sandy Denny são do melhor que ela escreveu. Vejam-se as canções iniciais “Nothing More” e “The Sea” e ainda “Winter Winds” e “ The Pond and the Stream”. A espantosa versão da canção de Gordon Lightfoot “The Way I Feel” que abre o 2º lado, repare-se nos arranjos vocais, Sandy e Trevor, na guitarra e bateria, espantoso! A finalizar um arranjo tradicional de “Banks of the Nile” com uma interpretação inigualável de Sandy Denny (atenção à subtileza da guitarra, baixo e bateria). Pelo meio 2 temas de cariz mais folk, “The Ballad of Ned Kelly“ de Lucas e uma versão de “Too Much of Nothing” de Bob Dylan.
Edição de 1970 do Reino Unido, ref: ILPS 9125 |
A capa de fundo preto, com os elementos do grupo desenhados de forma estilizada e com cores fortes predominando os vermelhos, verdes e amarelos, rivalizava com as melhores capas de álbum que então se produziam. Recordo-me agora de uma referência ao grupo num jornal da época que ainda tenho. Procuro e encontro, está no jornal “DISCO MÚSICA & MODA” no nº 9 de 1 de Junho de 1971, num artigo intitulado “ A Folk Inglesa” e, nem de propósito, diz o seguinte:
“ O único e maravilhoso álbum dos “Fotheringay” é talvez o mais belo disco inglês de todo o ano de 1970. É uma pequena obra de arte, desde o desenho da capa, até à captação do som, passando pela incrível suavidade das guitarras de Trevor Lucas e Jerry Donahue, o diálogo eléctrico-acústico, a voz de sonho de Sandy Denny, que se excedeu tanto nas suas próprias composições (“Nothing More”, “The Sea”) como na velha balada escocesa ( a fabulosa “Banks of the Nile”). E, para culminar, o baterista Gerry Conway tinha encontrado um som de inegável subtileza. “Fotheringay” era de facto, um grande grupo. Era, pois eles acabam de separar-se; esperemos agora até ouvir de novo falar de Sandy Denny como solista”.
O disco claro passou quase despercebido e não se encontrava à venda na generalidade das lojas de discos. Quis a sorte que um dia numa loja, na Rua Passos Manuel à esquerda quem sobe, tivesse no 1º andar um pequeno canto com discos à venda e aí encontrei para meu espanto o disco "Fotheringay". Ainda hoje o tenho devidamente preservado, tendo no entanto já adquirido a versão em CD que encontrei num dos Festivais Intercéltico. Também este em CD não é fácil de encontrar em discotecas, mas não resiste a uma pesquisa pela Internet. O CD trás 2 faixas extras:”Two Weeks Last Summer” de Dave Cousins, numa versão melhorada em relação ao original do álbum "Sandy Denny and The Strawbs" e “Gypsy Davey” um arranjo tradicional de Denny/Lucas que me pareceram um pouco desenquadradas do resto do álbum.
2008 viu editado "Fotheringay 2" com composições que estariam na origem de um segundo álbum que não chegou em tempo a ser publicado, em 1971 os Fotheringay já não existiam.
Edição em CD de 2008, ref: FLED 3066 |
Explica o texto incluído em "Fotheringay 2":
"Destroyed by a misunderstanding, Fotheringay remain one of the great might-have-been of British music. They lasted less than a year, and released just one album, but their disappearance robbed the early-'70s scene of a group of musicians capable of taking folk-rock to new heights of subtlety and musicianship. Now, the nine songs on that album, assumed for almost four decades to be their sole testament, are joined by the 11 that would have constituted a follow-up. After languishing as buried casualties of a sudden and pain-filled split, they have been salvaged and restored by the band's survivors in a way that can do nothing but reinforce the admiration with which the this particular group of musicians are remembered, while demonstrating to listeners of later generations the richness and continuing value of their work."
"Wild Mountain Thyme", um tradicional com arranjos dos Fotheringay, é a canção de hoje.
Fotheringay - Wild Mountain Thyme
PS:
Em 2015 é publicado "Nothing More: The Collected Fotheringay" com 3 CD e um DVD com tudo o conhecido dos Fotheringay e que em devido tempo já dei a conhecer.
quinta-feira, 8 de agosto de 2019
The Hollies - Carrie Anne
A década de 60 foi, musicalmente, a mais importante do século XX. O ano de 1967 sobressaiu e foi o mais criativo, senão vejamos 1ºs álbuns:
Pink Floyd - “The Piper at the Gates of Dawn”
Ten Years After - “Their First Album”
The Nice - “The Thoughts of Emerlist Davjack”
Cream - “Fresh Cream” (final de 66) e “Disraeli Gears”
The Velvet Underground - "The Velvet Underground & Nico”
The Doors - “The Doors” e “Strange Days”
Canned Heat - “Canned Heat”
Traffic - “Mr Fantasy”
Jimi Hendrix - “Are You Experienced” e “Axis: Bold as Love”
Captain Beefheart - “ Safe as Milk”
Moby Grape - “Moby Grape”
Leonard Cohen - "Songs of Leonard Cohen"
Nico - "Chelsea Girl"
Country Joe And The Fish - "Electric Music for the Mind and Body"
Grateful Dead - "The Grateful Dead".
E, sem serem 1ºs álbuns:
The Beatles - “Sgt Pepper Lonely Heart Club Band"
The Beach Boys - “Smiley Smile”
The Kinks - “Something Else by the Kinks”
Buffalo Springfield - “Buffalo Springfield Again”
Bob Dylan - “John Wesley Harding”
Peter, Paul & Mary - “Album 1700”
Tim Buckley - “Hello and Goodbye”
Donovan - “A Gift from a Flower to a Garden”
The Byrds - “Younger Than Yesterday”
Incredible String Band - “The 5000 Spirits of the Layers of the Onion”
The Rolling Stones - “Their Satanic Majesties Request”
The Who - “The Who Sell Out”
Jefferson Airplane - “Surrealistic Pillow”
Love - “Forever Changes”
Mothers of Invention - “Absolutely Free”
Todos estes discos podem facilmente encontrar-se nas listas relativas a 1967 entre as melhores do ano. Vou, no entanto, buscar um disco também daquele ano mas pouco considerado e que gosto particularmente pela frescura Pop que transborda por todas as espiras, é o álbum "Evolution" do grupo inglês The Hollies, do tempo de Graham Nash e Allan Clarke, cuja edição americana incluía o êxito "Carrie Anne".
Porque hoje andei a cantarolar "Carrie Anne" aqui vai ela.
The Hollies - Carrie Anne
Pink Floyd - “The Piper at the Gates of Dawn”
Ten Years After - “Their First Album”
The Nice - “The Thoughts of Emerlist Davjack”
Cream - “Fresh Cream” (final de 66) e “Disraeli Gears”
The Velvet Underground - "The Velvet Underground & Nico”
The Doors - “The Doors” e “Strange Days”
Canned Heat - “Canned Heat”
Traffic - “Mr Fantasy”
Jimi Hendrix - “Are You Experienced” e “Axis: Bold as Love”
Captain Beefheart - “ Safe as Milk”
Moby Grape - “Moby Grape”
Leonard Cohen - "Songs of Leonard Cohen"
Nico - "Chelsea Girl"
Country Joe And The Fish - "Electric Music for the Mind and Body"
Grateful Dead - "The Grateful Dead".
E, sem serem 1ºs álbuns:
The Beatles - “Sgt Pepper Lonely Heart Club Band"
The Beach Boys - “Smiley Smile”
The Kinks - “Something Else by the Kinks”
Buffalo Springfield - “Buffalo Springfield Again”
Bob Dylan - “John Wesley Harding”
Peter, Paul & Mary - “Album 1700”
Tim Buckley - “Hello and Goodbye”
Donovan - “A Gift from a Flower to a Garden”
The Byrds - “Younger Than Yesterday”
Incredible String Band - “The 5000 Spirits of the Layers of the Onion”
The Rolling Stones - “Their Satanic Majesties Request”
The Who - “The Who Sell Out”
Jefferson Airplane - “Surrealistic Pillow”
Love - “Forever Changes”
Mothers of Invention - “Absolutely Free”
Todos estes discos podem facilmente encontrar-se nas listas relativas a 1967 entre as melhores do ano. Vou, no entanto, buscar um disco também daquele ano mas pouco considerado e que gosto particularmente pela frescura Pop que transborda por todas as espiras, é o álbum "Evolution" do grupo inglês The Hollies, do tempo de Graham Nash e Allan Clarke, cuja edição americana incluía o êxito "Carrie Anne".
https://www.discogs.com/ |
Porque hoje andei a cantarolar "Carrie Anne" aqui vai ela.
The Hollies - Carrie Anne
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
Robert Wyatt - Shipbuilding
Embora os primeiros anos fossem bastante promissores. os anos 80 não estão entre as minhas maiores preferências, no entanto há canções desta década que têm destaque obrigatório. Hoje volto a uma delas a merecer pertencer a qualquer Top Ten do século passado. "Shipbuilding" é essa canção.
"Shipbuilding" é uma espantosa canção de Clive Langer e Elvis Costello e pertencente ao álbum "Punch the Clock. Elvis Costello no seu melhor e ainda com o extra da participação inesperada de Chet Baker no trompete. Cinco estrelas!
Há, no entanto, outra interpretação de "Shipbuilding" que não fica atrás do original. Refiro-me a Robert Wyatt e à sua versão saída no mini álbum "1982-1984". Pese a má qualidade da gravação em vinil, Robert Wyatt tem aqui uma prestação fora de série, aliás, como ele sempre nos habituou em versões de composições de outros autores a que ele regularmente recorre.
Em 1999 uma edição remasterizada sai na colectânea de 5 EP e ainda um vídeo com o tema, a não perder. Curiosidade a versão de Robert Wyatt é de 1982 pelo que foi editada primeiro que o original de Elvis Costello de 1983. É para ouvir e deixar-se encantar.
Robert Wyatt - Shipbuilding
"Shipbuilding" é uma espantosa canção de Clive Langer e Elvis Costello e pertencente ao álbum "Punch the Clock. Elvis Costello no seu melhor e ainda com o extra da participação inesperada de Chet Baker no trompete. Cinco estrelas!
Edição portuguesa de 1984 com a ref: TM/RT 25 |
Há, no entanto, outra interpretação de "Shipbuilding" que não fica atrás do original. Refiro-me a Robert Wyatt e à sua versão saída no mini álbum "1982-1984". Pese a má qualidade da gravação em vinil, Robert Wyatt tem aqui uma prestação fora de série, aliás, como ele sempre nos habituou em versões de composições de outros autores a que ele regularmente recorre.
Em 1999 uma edição remasterizada sai na colectânea de 5 EP e ainda um vídeo com o tema, a não perder. Curiosidade a versão de Robert Wyatt é de 1982 pelo que foi editada primeiro que o original de Elvis Costello de 1983. É para ouvir e deixar-se encantar.
Robert Wyatt - Shipbuilding
terça-feira, 6 de agosto de 2019
Claire Hamill - Peaceful
De entre os muito bons programas de divulgação musical que a nossa rádio tinha antes de Abril de 74 havia um que ficará para a memória de todos os que seguiam atentamente a produção musical dessa época. Não só a música anglo-saxónica nas suas mais variadas formas: Pop, Rock, Folk, Rock-Folk, Rock progressivo, Country… mas também a música Francesa, a melhor nova música Portuguesa, a MPB, etc.
O Programa dava pelo nome de "Página Um", era apresentado pelo José Manuel Nunes (uma voz que nunca mais se esquece) e passava na Rádio Renascença das 19H30M às 20H30M e posteriormente até às 21H.
A liberdade, o bom gosto e diversidade musical que se sentia em todo o programa talvez se devesse ao facto do programa ser na Rádio Renascença e esta não estar sujeita a uma censura tão apertada como as restantes estações.
O indicativo do programa era o "Page One" um tema do grupo do Porto Pop Five Music Incorporated de Miguel Graça Moura, o mesmo que dirigiu muitos anos mais tarde a Orquestra Metropolitana de Lisboa. O tema começa com uma batida forte de bateria e baixo, o programa é anunciado e o indicativo termina antes da parte cantada começar (Got to be page one …). É difícil exprimir a sensação de tal audição. Como que estava a participar em algo único e irrepetível. O programa apostava não só na diversidade musical como na actualidade e qualidade da música que passava. O programa manifestava preocupações políticas e sociais, nomeadamente pelas reportagens do Adelino Gomes, e ouviam-se músicas incómodas para o regime, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, José Mário Branco e José Afonso eram passagem regular. Recordo-me em 1971 da transmissão, em directo a partir do Cinema Roma, do lançamento do 1º álbum do José Mário Branco "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades" e do 1º EP do Sérgio Godinho "Romance de um dia na estrada" e da importância que tal facto então teve (O meu pai através do Manuel Freire, que trabalhava na mesma fábrica, a F. Ramada em Ovar, comprou o referido EP do Sérgio Godinho e ainda hoje o tenho. Uma relíquia! Já agora, porque é que nunca mais se ouviu "Romance de um dia na estrada" em concertos ao vivo?).
Uma boa parte da minha memória musical passa por este programa que tudo fazia por não o perder. De Inverno ouvia-o enquanto estudava, no Verão vinha mais cedo da praia para estar a horas do início do programa. A enumeração de grupos e músicos então divulgados é infindável, eis alguns, poucos: Crosby, Stills, Nash & Young ("Déjà Vu", "Four Way Street") e todas as suas variantes, Neil Young ("After the Gold Rush", "Harvest"), Graham Nash ("Songs For Beginners", "Wild Tales"), Stephen Stills ("I" e "II") e posteriormente Manassas, David Crosby e esse monumento que é “If I Could Only Remember My Name”. Joni Mitchell ("Blue") a voz de Rouxinol como dizia o José Manuel Nunes, Sandy Denny ("Like An Old-Fashioned Waltz"), Maggie Bell e a Claire Hamill. Jethro Tull ("Benefit"), The Moody Blues ("Question of Balance"), Genesis ("Foxtrot"), Barclay James Harvest e o inesquecível “Mockingbird”. E ainda Maxime Le Forestier (quem se lembra dele?), Serge Reggiani, Leo Ferre. E mais, muito mais, T. Rex, Janis Joplin, Eric Burdon, Cat Stevens, Ian Matthews, Plainsong, Judee Sills, Clifford T. Ward…. Apesar da qualidade global da música passada, como o programa seguia de perto o Top Ten Inglês e Americano por lá passaram também coisas muito pouco interessantes tipo New Seekers, Middle of the Road ou os nada recomendados Mungo Jerry de "In the summertime".
Para um apuramento musical mais refinado então tínhamos o mítico "Em Órbita" ou ainda o "Dois Pontos".
Escolho alguém que ainda não passou por este blog, Claire Hamill.
Claire Hamill, terá sido uma das cantoras mais subestimadas e que mereciam melhor sorte. Uma voz formidável a lembrar por vezes Joni Mitchell e até Melanie, revelou-se com 2 álbuns praticamente esquecidos:"One House Left Standing" (1971) e "October" (1973). Não tenho memória do que dela ouvi, mas muito provavelmente este "Peaceful" do álbum "October" seria uma das que ouvia.
"Probably the best singer you've never heard" em Mojo Magazine (https://clairehamill.co.uk)
Claire Hamill - Peaceful
A liberdade, o bom gosto e diversidade musical que se sentia em todo o programa talvez se devesse ao facto do programa ser na Rádio Renascença e esta não estar sujeita a uma censura tão apertada como as restantes estações.
O indicativo do programa era o "Page One" um tema do grupo do Porto Pop Five Music Incorporated de Miguel Graça Moura, o mesmo que dirigiu muitos anos mais tarde a Orquestra Metropolitana de Lisboa. O tema começa com uma batida forte de bateria e baixo, o programa é anunciado e o indicativo termina antes da parte cantada começar (Got to be page one …). É difícil exprimir a sensação de tal audição. Como que estava a participar em algo único e irrepetível. O programa apostava não só na diversidade musical como na actualidade e qualidade da música que passava. O programa manifestava preocupações políticas e sociais, nomeadamente pelas reportagens do Adelino Gomes, e ouviam-se músicas incómodas para o regime, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, José Mário Branco e José Afonso eram passagem regular. Recordo-me em 1971 da transmissão, em directo a partir do Cinema Roma, do lançamento do 1º álbum do José Mário Branco "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades" e do 1º EP do Sérgio Godinho "Romance de um dia na estrada" e da importância que tal facto então teve (O meu pai através do Manuel Freire, que trabalhava na mesma fábrica, a F. Ramada em Ovar, comprou o referido EP do Sérgio Godinho e ainda hoje o tenho. Uma relíquia! Já agora, porque é que nunca mais se ouviu "Romance de um dia na estrada" em concertos ao vivo?).
Uma boa parte da minha memória musical passa por este programa que tudo fazia por não o perder. De Inverno ouvia-o enquanto estudava, no Verão vinha mais cedo da praia para estar a horas do início do programa. A enumeração de grupos e músicos então divulgados é infindável, eis alguns, poucos: Crosby, Stills, Nash & Young ("Déjà Vu", "Four Way Street") e todas as suas variantes, Neil Young ("After the Gold Rush", "Harvest"), Graham Nash ("Songs For Beginners", "Wild Tales"), Stephen Stills ("I" e "II") e posteriormente Manassas, David Crosby e esse monumento que é “If I Could Only Remember My Name”. Joni Mitchell ("Blue") a voz de Rouxinol como dizia o José Manuel Nunes, Sandy Denny ("Like An Old-Fashioned Waltz"), Maggie Bell e a Claire Hamill. Jethro Tull ("Benefit"), The Moody Blues ("Question of Balance"), Genesis ("Foxtrot"), Barclay James Harvest e o inesquecível “Mockingbird”. E ainda Maxime Le Forestier (quem se lembra dele?), Serge Reggiani, Leo Ferre. E mais, muito mais, T. Rex, Janis Joplin, Eric Burdon, Cat Stevens, Ian Matthews, Plainsong, Judee Sills, Clifford T. Ward…. Apesar da qualidade global da música passada, como o programa seguia de perto o Top Ten Inglês e Americano por lá passaram também coisas muito pouco interessantes tipo New Seekers, Middle of the Road ou os nada recomendados Mungo Jerry de "In the summertime".
Para um apuramento musical mais refinado então tínhamos o mítico "Em Órbita" ou ainda o "Dois Pontos".
https://www.discogs.com/ |
Escolho alguém que ainda não passou por este blog, Claire Hamill.
Claire Hamill, terá sido uma das cantoras mais subestimadas e que mereciam melhor sorte. Uma voz formidável a lembrar por vezes Joni Mitchell e até Melanie, revelou-se com 2 álbuns praticamente esquecidos:"One House Left Standing" (1971) e "October" (1973). Não tenho memória do que dela ouvi, mas muito provavelmente este "Peaceful" do álbum "October" seria uma das que ouvia.
"Probably the best singer you've never heard" em Mojo Magazine (https://clairehamill.co.uk)
Claire Hamill - Peaceful
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
Deep Purple - Third Movement. a) Vivace b) Presto
Estava eu a ouvir o, agora histórico, programa de rádio "Em Órbita" no Rádio Clube Português quando sou surpreendido por um tema dos Deep Purple. Surpreendido pelo som: Rock com Música Clássica, Música Clássica com Rock? E um espantoso solo de bateria de Ian Paice.
A força fantástica da orquestra durante todo o tema. E a duração do tema, mais de 15 minutos! Coisas pouco usuais para essa altura e ainda mais para a nossa rádio. Tratava-se do "Movement Three" do álbum "Concerto for Group and Orchestra" gravado em 1969 ao vivo no Royal Albert Hall pelos Deep Purple com a The Royal Philarmonic Orchestra. Ouvia o tema quase diariamente, incrédulo e admirado. Para a época era realmente revolucionário.
Diferente dos primeiros álbuns do grupo e provavelmente melhor do que qualquer outro posterior. Não me recordo de ver o disco à venda, julgo que o teria comprado. A polémica instalou-se com críticas ferozes de quem defendia a mediocridade daquela música e os elogios pelo arrojo e criatividade de John Lord. No jornal "a memória do elefante" de Julho de 1971 Jorge Lima Barreto fazia coro com os primeiros:
"Com este disco estamos perante a mais controversa produção pop dos últimos anos. A fusão pop - música clássica é-nos tendenciosamente apresentada como uma forma erudita.
…
É lógico e bom de constatar que a ligação não resultou.
…
Uma obra lamentável a todos os títulos lamentável, excepto um: Ritchie Blackmore !!!"
Nunca mais ouvi o disco.
Em 1985 encontro o disco numa edição portuguesa que prontamente comprei. Já em casa ouvi-o por completo o que não conhecia. Não fiquei deslumbrado e a gravação não parecia ter grande qualidade. Lá ficou o disco, no meio dos outros e poucas vezes girou.
Em 2007 encontrei o DVD com a gravação do concerto a preço de saldo. Bom, não resisti e comprei.
Segue, então, "Third Movement. a) Vivace b) Presto"
Deep Purple - Third Movement. a) Vivace b) Presto
A força fantástica da orquestra durante todo o tema. E a duração do tema, mais de 15 minutos! Coisas pouco usuais para essa altura e ainda mais para a nossa rádio. Tratava-se do "Movement Three" do álbum "Concerto for Group and Orchestra" gravado em 1969 ao vivo no Royal Albert Hall pelos Deep Purple com a The Royal Philarmonic Orchestra. Ouvia o tema quase diariamente, incrédulo e admirado. Para a época era realmente revolucionário.
Diferente dos primeiros álbuns do grupo e provavelmente melhor do que qualquer outro posterior. Não me recordo de ver o disco à venda, julgo que o teria comprado. A polémica instalou-se com críticas ferozes de quem defendia a mediocridade daquela música e os elogios pelo arrojo e criatividade de John Lord. No jornal "a memória do elefante" de Julho de 1971 Jorge Lima Barreto fazia coro com os primeiros:
"Com este disco estamos perante a mais controversa produção pop dos últimos anos. A fusão pop - música clássica é-nos tendenciosamente apresentada como uma forma erudita.
…
É lógico e bom de constatar que a ligação não resultou.
…
Uma obra lamentável a todos os títulos lamentável, excepto um: Ritchie Blackmore !!!"
Nunca mais ouvi o disco.
Edição portuguesa de 1985 com a ref: 1907491 |
Em 1985 encontro o disco numa edição portuguesa que prontamente comprei. Já em casa ouvi-o por completo o que não conhecia. Não fiquei deslumbrado e a gravação não parecia ter grande qualidade. Lá ficou o disco, no meio dos outros e poucas vezes girou.
Folheto do DVD editado em 2002 |
Em 2007 encontrei o DVD com a gravação do concerto a preço de saldo. Bom, não resisti e comprei.
Segue, então, "Third Movement. a) Vivace b) Presto"
Deep Purple - Third Movement. a) Vivace b) Presto
domingo, 4 de agosto de 2019
The Beatles - Come Together
Devíamos estar, muito provavelmente, no ano de 1969, um ano particularmente bom para a música popular. O fim de uma década que seria em termos musicais altamente inovadora, o que se ouvia no início da década e no fim era completamente diferente.
Numa das habituais vindas ao Porto, penso que no Natal, o meu pai comprou-me o meu primeiro álbum: "Abbey Road" dos The Beatles saído naquele ano (recordo-me, foi na Confiança, o único espaço no Porto que tinha escadas rolantes). Ainda o tenho comigo, pese a qualidade do som já não ser o que era. Compreende-se, apesar de todo o cuidado na sua manutenção, são os anos, o nº de vezes que tocou, as aparelhagens por que passou. Na então boa aparelhagem Schaub Lorenz do meu pai, ouvi-o infinitas vezes, depois, de 73 a 78, já em Coimbra, num gira-discos de um amigo não teve o melhor tratamento e finalmente, já muito usado conheceu nos finais dos anos 80 o meu Linn Axis.
Apesar de tudo, e com os respectivos cuidados de manutenção, mantém ainda um agradável som que só o vinil consegue dar.
Foi sempre um dos meus discos preferidos dos The Beatles. "Abbey Road" foi o último álbum gravado pelos The Beatles, não o último a ser editado, esse foi o "Let It Be".
"Come Together", a faixa de abertura, foi um enorme êxito. Com uma estrutura musical fora do comum ainda hoje se ouve com agrado. George Harrison assina duas belíssimas canções "Something" e "Here Comes the Sun". O medley final (de "Because" a "Her Majesty") é do melhor que os The Beatles produziram. A destoar só "Oh! Darling" com a vocalização de Paul McCartney a evitar o pior.
Na mesma altura, se bem me lembro, o meu pai comprou ainda o Single "Je t'aime … moi non plus" de Serge Gainsbourg e Jane Birkin.
O segundo álbum que adquiri foi "Déjà Vu" dos Crosby, Stills, Nash & Young de 1970. Outras músicas do outro lado do Atlântico …
Para hoje volto a "Come Together" e passaram-se, entretanto, 50 anos!
The Beatles - Come Together
Numa das habituais vindas ao Porto, penso que no Natal, o meu pai comprou-me o meu primeiro álbum: "Abbey Road" dos The Beatles saído naquele ano (recordo-me, foi na Confiança, o único espaço no Porto que tinha escadas rolantes). Ainda o tenho comigo, pese a qualidade do som já não ser o que era. Compreende-se, apesar de todo o cuidado na sua manutenção, são os anos, o nº de vezes que tocou, as aparelhagens por que passou. Na então boa aparelhagem Schaub Lorenz do meu pai, ouvi-o infinitas vezes, depois, de 73 a 78, já em Coimbra, num gira-discos de um amigo não teve o melhor tratamento e finalmente, já muito usado conheceu nos finais dos anos 80 o meu Linn Axis.
Apesar de tudo, e com os respectivos cuidados de manutenção, mantém ainda um agradável som que só o vinil consegue dar.
Edição do Reino Unido de 1969 com a ref: PCS 7088 |
Foi sempre um dos meus discos preferidos dos The Beatles. "Abbey Road" foi o último álbum gravado pelos The Beatles, não o último a ser editado, esse foi o "Let It Be".
Edição portuguesa, em CD, de 2018 ref: 00600753817223 |
"Come Together", a faixa de abertura, foi um enorme êxito. Com uma estrutura musical fora do comum ainda hoje se ouve com agrado. George Harrison assina duas belíssimas canções "Something" e "Here Comes the Sun". O medley final (de "Because" a "Her Majesty") é do melhor que os The Beatles produziram. A destoar só "Oh! Darling" com a vocalização de Paul McCartney a evitar o pior.
Na mesma altura, se bem me lembro, o meu pai comprou ainda o Single "Je t'aime … moi non plus" de Serge Gainsbourg e Jane Birkin.
O segundo álbum que adquiri foi "Déjà Vu" dos Crosby, Stills, Nash & Young de 1970. Outras músicas do outro lado do Atlântico …
Para hoje volto a "Come Together" e passaram-se, entretanto, 50 anos!
The Beatles - Come Together
sábado, 3 de agosto de 2019
The Nice - War and Peace
O Rock Progressivo nos anos 60
Yes, King Crimson, ELP? Não, o Rock Progressivo começa antes.
Recuamos a 1967 (o ano de todas as músicas) para encontrar o que terá sido o muito provável 1º álbum de Rock Progressivo. Refiro-me ao primeiro registo dos The Nice de nome "The Thoughts of Emerlist Davjack".
Os The Nice, formados por Keith Emerson, Lee Jackson, Brian Davidson e David O'List, gravaram "The Thoughts of Emerlist Davjack" marcado pelo ecletismo e também pelo experimentalismo comum na época. Da melhor música Pop " The Thoughts of Emerlist Davjack" , até ao progressivo "Rondo" passando pelo psicadélico "Dawn" (Pink Floyd!), o álbum é marcado pelo multi teclista e leader do grupo Keith Emerson que se destaca nos temas instrumentais: "Rondo" e "War and Peace".
Os The Nice separam-se em 1970. Keith Emerson forma no mesmo ano os bem sucedidos Emerson, Lake and Palmer, gravam um excelente 1º álbum com o mesmo nome. Toda a discografia posterior é progressivamente de inferior qualidade. No final da década de 70 o Rock Progressivo estava esgotado.
Ouça-se "War and Peace", assinado pelos quatro elementos do grupo o Rock Progressivo dos The Nice em 1967 (gravado em 1967 e editado no ano seguinte).
The Nice - War and Peace
Yes, King Crimson, ELP? Não, o Rock Progressivo começa antes.
Recuamos a 1967 (o ano de todas as músicas) para encontrar o que terá sido o muito provável 1º álbum de Rock Progressivo. Refiro-me ao primeiro registo dos The Nice de nome "The Thoughts of Emerlist Davjack".
Os The Nice, formados por Keith Emerson, Lee Jackson, Brian Davidson e David O'List, gravaram "The Thoughts of Emerlist Davjack" marcado pelo ecletismo e também pelo experimentalismo comum na época. Da melhor música Pop " The Thoughts of Emerlist Davjack" , até ao progressivo "Rondo" passando pelo psicadélico "Dawn" (Pink Floyd!), o álbum é marcado pelo multi teclista e leader do grupo Keith Emerson que se destaca nos temas instrumentais: "Rondo" e "War and Peace".
Os The Nice separam-se em 1970. Keith Emerson forma no mesmo ano os bem sucedidos Emerson, Lake and Palmer, gravam um excelente 1º álbum com o mesmo nome. Toda a discografia posterior é progressivamente de inferior qualidade. No final da década de 70 o Rock Progressivo estava esgotado.
Ouça-se "War and Peace", assinado pelos quatro elementos do grupo o Rock Progressivo dos The Nice em 1967 (gravado em 1967 e editado no ano seguinte).
The Nice - War and Peace
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Manfred Mann Chapter Three - Happy Being Me
Reouvi recentemente o álbum "Manfred Mann Chapter Three Volume Two" saído em 1970. E lá estavam "Lady Ace", "Happy Being Me" e "Virgínia" as que melhor eu me lembrava de quando o álbum foi editado e que eu já não ouvia deste então.
Dos Manfred Mann Chapter Three saíram 2 álbuns: o primeiro, homónimo, publicado em 1969 e este "Volume Two" em 1970, são um marco, bom mas menos conhecido e menos recordado, na carreira de Manfred Mann.
Depois de grandes êxitos no British Pop dos anos 60 como "Pretty Flamingo", "Ha! Ha! Said the Clown" e "Mighty Queen", Manfred Mann forma com Mike Hugg os Manfred Mann Chapter Three de curta duração (acabaram em 1971) precisamente no ano em que veio ao 1º Festival de Vilar de Mouros ofuscado então pela presença de Elton John no auge da sua carreira.
O grupo produzia um som experimental de fusão Rock/Jazz e neste "Volume Two" destaca-se o épico "Happy Being Me" com mais de 15 minutos. Quem se lembra deste tema! Passava na rádio, pese a sua duração. Não me recordo de ver à venda o disco em vinil, nem em CD actualmente, mas encontra-se facilmente na internet. O som é bastante experimental para a época e não tão comercial como os Blood, Sweat & Tears ou os Chicago do mesmo período. Posteriormente são formados os Manfred Mann's Hearth Band com uma longa discografia, um som mais mainstream e que progressivamente deixei de acompanhar. Continuam em actividade.
Manfred Mann Chapter Three - Happy Being Me
Dos Manfred Mann Chapter Three saíram 2 álbuns: o primeiro, homónimo, publicado em 1969 e este "Volume Two" em 1970, são um marco, bom mas menos conhecido e menos recordado, na carreira de Manfred Mann.
Depois de grandes êxitos no British Pop dos anos 60 como "Pretty Flamingo", "Ha! Ha! Said the Clown" e "Mighty Queen", Manfred Mann forma com Mike Hugg os Manfred Mann Chapter Three de curta duração (acabaram em 1971) precisamente no ano em que veio ao 1º Festival de Vilar de Mouros ofuscado então pela presença de Elton John no auge da sua carreira.
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O grupo produzia um som experimental de fusão Rock/Jazz e neste "Volume Two" destaca-se o épico "Happy Being Me" com mais de 15 minutos. Quem se lembra deste tema! Passava na rádio, pese a sua duração. Não me recordo de ver à venda o disco em vinil, nem em CD actualmente, mas encontra-se facilmente na internet. O som é bastante experimental para a época e não tão comercial como os Blood, Sweat & Tears ou os Chicago do mesmo período. Posteriormente são formados os Manfred Mann's Hearth Band com uma longa discografia, um som mais mainstream e que progressivamente deixei de acompanhar. Continuam em actividade.
Manfred Mann Chapter Three - Happy Being Me
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
John Lennon - Woman
Com o fim dos The Beatles em 1970, as expectativas em relação a cada um deles eram muito diferenciadas.
Em relação a Ringo Starr as expectativas eram nulas e assim se confirmaram.
Já em relação a Paul McCartney acreditava-se no melhor, mas o melhor nunca chegou a concretizar-se. Alguns álbuns interessantes, mas o grande disco não aconteceu (e já não vai ser agora).
George Harrison teve o seu maior arrojo de criatividade, logo em 1970, com o triplo álbum “All Things Must Pass” e o melhor ficou aqui.
Com John Lennon a cena foi um pouco diferente, teve, apesar de tudo, uma discografia mais consistente. Depois da experiência com a Plastic Ono Band (por exemplo: “Mother”), grava o álbum “Imagine” a figurar entre os melhores de toda a história dos 4 músicos que compuseram The Beatles. Continuou a gravar com qualidade irregular, destacando-se dos outros ex-Beatles, até à sua morte a 8 de Dezembro de 1980.
Uma semana depois da sua morte encontrava-me eu em Londres e o som de “Double Fantasy” (álbum muito desigual), acabado de sair, invadia as ruas e espaços comerciais.
“Woman” era das canções que mais se ouvia e é a que segue.
John Lennon - Woman
Em relação a Ringo Starr as expectativas eram nulas e assim se confirmaram.
Já em relação a Paul McCartney acreditava-se no melhor, mas o melhor nunca chegou a concretizar-se. Alguns álbuns interessantes, mas o grande disco não aconteceu (e já não vai ser agora).
George Harrison teve o seu maior arrojo de criatividade, logo em 1970, com o triplo álbum “All Things Must Pass” e o melhor ficou aqui.
Com John Lennon a cena foi um pouco diferente, teve, apesar de tudo, uma discografia mais consistente. Depois da experiência com a Plastic Ono Band (por exemplo: “Mother”), grava o álbum “Imagine” a figurar entre os melhores de toda a história dos 4 músicos que compuseram The Beatles. Continuou a gravar com qualidade irregular, destacando-se dos outros ex-Beatles, até à sua morte a 8 de Dezembro de 1980.
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Uma semana depois da sua morte encontrava-me eu em Londres e o som de “Double Fantasy” (álbum muito desigual), acabado de sair, invadia as ruas e espaços comerciais.
“Woman” era das canções que mais se ouvia e é a que segue.
John Lennon - Woman
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