quarta-feira, 28 de junho de 2023

GAC - Ir e Vir

 

Sob o comando de José Mário Branco o GAC (Grupo de Acção Popular - Vozes na Luta) existiu de 1974 a 1978 deixando-nos 4 meritórios LP e vários Singles.

"Abdicando de uma «tendência» crescendo para uma acção meramente individualista, recusando o «vedetismo» (sobretudo no sentido denunciado por Carlos Paredes, «Vedeta é o pré-fabricado, criado por um extremo individualismo») e dando grande destaque à necessidade do trabalho colectivo, progressivamente depurado dos vícios burgueses, através da crítica/autocrítica constantes, o GAC-Vozes na Luta surgiu como um grupo apostando nas propostas da «revolução democrática e popular», na «luta por uma cultura popular e revolucionária, ao serviço dos anseios e das lutas do povo trabalhador».", assim se lê em "Música Popular Portuguesa - um ponto de partida" de Mário Correia. Texto bem elucidativo do ambiente cultural dominante nos ano pós 25 de Abril de 1974.

O GAC é um dos vários exemplos que se podem encontrar onde a ideologia revolucionária era dominante, mas, neste caso, com uma qualidade inquestionável a que não será alheia a presença de José Mário Branco que entretanto abandonaria o grupo para abraçar o desafio do grupo de teatro Comuna para compor a música para a peça "A Mãe".


Edição em vinil de 1976 com a ref: VLP-10003



Em 1976, já em plena ressaca do 25 de Novembro de 1975 e antes de José Mário Branco abandonar o GAC e a UDP (União Democrática Popular) a quem o colectivo estava ideologicamente ligado, tempo ainda para um segundo álbum, “Pois Canté!!”.

“Pois Canté!!” é um disto datado? É verdade.
“Pois Canté!!” está excessivamente marcado ideologicamente com a “Revolução Popular” de cariz maoísta? Também é verdade.
“Pois Canté!!” é um dos discos fundamentais da nossa música popular? Continua ser verdade.

A escolha hoje vai, então, para este excelente trabalho da música popular portuguesa com a superior produção de José Mário Branco





GAC - Ir e Vir

terça-feira, 27 de junho de 2023

Luís Cília - Novembro

 

E entro na recta final dos disco portugueses publicados em 1976 tendo deixado para o final aqueles que eu, de alguma forma, mais aprecio. São 5 trabalhos importantes na música popular portuguesa de então e de sempre.

Começo com Luís Cília. Luís Cília, por ventura terá sido o mais injustiçado e que o alcançou menor notoriedade no panorama musical português. Talvez o menos acessível, o que só por si não significa nada, mas na realidade de uma importância maior do que aquela que lhe foi reconhecida.

Em 1976 é editado o álbum "Memória" que, para além da edição nacional, conheceria edições em Espanha, Itália, RDA (República Democrática da Alemanha) e Bulgária. 


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É deste LP a canção "Novembro" que também seria editada em Single conjuntamente com "A Festa Nunca Acaba (ao Chico Buarque)". Com poema de Mário Correia "Novembro" refere-se ao contragolpe de 25 de Novembro de 1975 e evidencia bem o estado de espírito de quem não se identificou com a viragem â direita ocorrida depois daquela data.





Luís Cília - Novembro

domingo, 25 de junho de 2023

Júlio Pereira – Fernandinho Vai ao Vinho

 

Já recordei os primórdios de Júlio Pereira numa gravação de 1972, o Single com o Hard-Rock dos Xarhanga, assim como o seu mais recente trabalho, "Praça do Comércio" de 2017.

A solo, o primeiro álbum de Júlio Pereira, surge à semelhança de Pedro Barroso que ontem recordei, em 1976 e deu pelo nome de "Fernandinho Vai Ó Vinho".

 "Fernandinho Vai Ó Vinho", apresentava uma salutar sonoridade de fusão do Rock com o Folk, expressão musical pela qual nutri sempre particular interesse. Iniciava-se assim um percurso que conduziria Júlio Pereira a um dos autores de música popular mais importante e original da sua geração.


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Todos conhecemos o Júlio Pereira da década de 80 e das suas obras “Cavaquinho” e “Braguesa”, pelo menos. Tornou-se desde então uma referência da música popular portuguesa. No entanto a sua passagem pelos anos 70 apesar de menos conhecida não é, por isso, menos importante.

Precursor do Heavy Metal português (quem diria!) nos Xarhanga, do Rock Progressivo nos hoje reconhecidos Petrus Castrus, gravou também um disco conceptual de nome “Bota-Fora” (homenagem aos movimentos de libertação) com Carlos Cavalheiro, ou ainda, por exemplo, o 1º álbum a solo “Fernandinho Vai Ó Vinho”. Permaneçamos aqui.

Pese ser um disco facilmente datado, assume características bem interessantes, temático, a vida de um jovem e as suas relações com o mundo pós 25 de Abril, num estilo de opereta pouco vulgar na música portuguesa.

Júlio Pereira a solo, mas não só, vejam a lista de colaboradores, aqui fica completa para que conste:

Sónia Craveiro, José Afonso, Carlos Cavalheiro, Herman José, Jorge Palma, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Carlos Mendes, Francisco Fanhais, Henri Tabot, Jaime Queimado, José Jorge Letria, Vitorino, João Seixas, Helena Isabel, Zita Duarte, Eugénia Melo e Castro, João Henrique, Ana Bola, Sérgio Godinho, Gabriela Góis, Ana Zanatti, Júlio Isidro e Jorge Travassos.

A faixa final é precisamente “Fernandinho Vai Ó Vinho” e é com ela que vamos ficar. Aqui vai “Fernandinho vai ao vinho … parte o copo pelo caminho”.





Júlio Pereira - Fernandinho Vai Ó Vinho

sábado, 24 de junho de 2023

Pedro Barroso - Lutas Velhas, Canto Novo

 

"LUTAS VELHAS CANTO NOVO, de Pedro Barroso, introduz-nos um autor diferente do que nos era dado ouvir: musicalmente mais complexo, menos directo e circunstancial nas palavras, pesquisando nos grandes espaços sonoros, por vezes quase epopeicos/sinfónicos, a inserção de um canto que mais tarde, se viria a revelar profundamente ligado à terra.", afirma Mário Correia em "Música Popular Portuguesa: um ponto de partida".

É de 1976 este "Lutas Velhas Canto Novo" de Pedro Barroso (1950-2020) cantautor de música popular que se iniciou nas baladas e que progressivamente foi ganhando um lugar de reconhecido valor.


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Na contra-capa daquele que era o primeiro registo de longa duração de Pedro Barroso lê-se:

"Este disco tentou registar para que constasse uma acção desenvolvida nos últimos dois anos da canção com um sentido político e uma intenção própria.
Estou também consciente de que a melhor forma de divulgação das minhas cantigas continua a ser a ida em pessoa a locais onde elas podem adquirir o seu significado verdadeiro, uma vez qe a gravação em disco destina-se, infelizmente sempre, a um público restrito.
Tentei que a faceta discursiva de uns trabalhos alternasse com alguns arranjos e recolhas que reflectem precisamente esse diálogo efectuado e que nunca é suficientemente íntimo para quem se considerar ligado a uma arte popular.
Para a irregularidade da apresentação dos meus trabalhos em disco existe uma explicação que é também uma definição de princípios:- é que o (mais) importante é mesmo calcorrear esse Portugal dos montados, povos, aldeias e vilas que para o cantor popular são espaço obrigatório e não paisagem."

Mais um testemunho do clima que se vivia em 1976 e onde os ideais revolucionários ainda eram dominantes. Ouça-se "Lutas Velhas, Canto Novo".




Pedro Barroso - Lutas Velhas, Canto Novo

sexta-feira, 23 de junho de 2023

José Jorge Letria - Diálogo com Lisboa

 

Muitos dos consagrados da música popular portuguesa tiveram edição de novos discos no ano de 1976, excepção, que me lembre, para José Mário Branco a solo que não em colectivo pois uma das surpresas do ano foi mesmo a formação GAC com o excelente "Pois Canté!!".

Mas antes ainda tempo para mais algumas gravações como esta de José Jorge Letria que passou despercebida. Trata-se do Single "Diálogo com Lisboa" com o tema título e "Canto da Hora Presente", os dois em forma de declamação sendo a letra do próprio José Jorge Letria e a música de Rui Reis.


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É de José Jorge Letria o texto da contra-capa que agora reproduzo:

"PORQUÊ ESTE DISCO?

O poema deve ser janela aberta sobre o mundo à nossa volta, espaço de fraternidade e de luta, onde se cruzem bandeiras, braços, ferramentas. Verso a verso se pode soletrar unidade, esperança e alvorada. O poema deve mergulhar raízes profundas e persistentes no coração de quem trabalha, deve ser sentinela e mão amiga, deve dizer deste tempo a força vital que o transforma.

Pedra a pedra, grito a grito, deve ser o cimento que une e fortalece, a voz que insubmissa se levanta, a seiva que alimenta o dia novo. Deve ser, ainda gume afiado contra a hipocrisia, a mentira e a calúnia. Arma serena, defendendo as conquistas populares e também trincheira, oficina e horizonte.

Por isso se fez este disco, testemunho activo de um tempo que se muda no sentido da paz e do progresso. Este é, também, um modo de cantar a plenos pulmões, de abraçar com força quem combate ao nosso lado, de acreditar no futuro.

Escreveram-se estes textos por dentro da Revolução, com amorr, com determinação.

O piano de Rui Reis é o cenário em que as palavras, uma a uma, se integram com hora marcada e objectivo preciso.

Que o que neste disco se diz reforce, a cada passo, a certeza da vitória, foi a intenção de quem isto escreveu. O poema não deve ficar de braços cruzados quando se constrói o amanhã."

Bem datado este texto, assim como a canção que se segue, precisamente "Diálogo com Lisboa".




José Jorge Letria - Diálogo com Lisboa

quarta-feira, 21 de junho de 2023

José Barata Moura - A Valsa da Burguesia

 

Dentro de uma linha que já nos tinha habituado, José Barata Moura edita em 1976 o álbum "A Valsa da Burguesia".

Numa toada pró infantil, são deste ano os trabalhos "Fungagá da Bicharada" e "Canções Infantis", mas com letras a condizer com o clima revolucionário que então ainda se vivia, José Barata Moura dá-nos 19 canções cujos títulos são bem sugestivos do que acabei de dizer. Por exemplo: "A Valsa da Burguesia", "Dá Mais Força à Liberdade", "A Força da Reacção", "Mas Que Raio de Socialismo".



As lides musicais prolongaram-se pela década de 80 entretanto "Desenvolveu, em paralelo, um percurso académico, complementado com a publicação de diversos ensaios, o que o tornou um dos mais respeitados autores no campo da filosofia" em "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX".

" A Valsa da Burguesia"  é o nome do álbum e da canção que hoje fica para recordação a propósito da passagem pela música popular que cá se fazia naquele ano.





José Barata Moura - A Valsa da Burguesia

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Grupo Outubro - Quem Não Trabalha Não Come

 

Grupo Outubro foi mais um agrupamento surgido com o 25 de Abril de 1974 e que cantaram os ideais do processo revolucionário que então se viveu.

O grupo foi formado por Carlos Alberto Moniz, Pedro Osório, Alfredo Vieira de Sousa, Madalena Leal e Maria do Amparo. São deles as seguintes palavras de acordo com o livro "Música Popular Portuguesa" de Mário Correia:

"Por volta de Fevereiro de 1975 iniciámos a nossa experiência de grupo, cantando em festas e convívios populares. Fomos sintetizando num trabalho colectivo as contribuições de cada um de nós. Fomos ganhando, pouco a pouco, coesão. O contacto com o povo e as suas lutas, o apoio que dele recebemos, deu-nos força para prosseguirmos e para nos organizarmos de modo a conseguir uma melhoria qualitativa. Das canções que ao longo de cerca de um ano fomos construindo e apresentando em fábricas, campos, quartéis, organizações populares e casas de espectáculos, seleccionámos para este álbum as que pareceram de maior interesse discográfico ou documental...".


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O álbum a que se referem é "A Cantar Tanbém a Gente se Entende", "... um trabalho de intervenção directa e deliberadamente dirigido para a luta que, em diversas frentes, então se travava."
conforme o livro acima referido.

Fica uma das mais conhecidas deste álbum, "Quem Não Trabalha Não Come".





Grupo Outubro - Quem Não Trabalha Não Come

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Very Nice - Brothers of the Sun

 

Fundada em 1975 a cooperativa "Toma Lá Disco" teve enorme actividade na segunda metade dos anos 70. Já dei conta de algumas gravações efectuadas por alguns dos seus fundadores, Fernando Tordo, Carlos Mendes e Paulo de Carvalho, no ano de 1976, pois hoje mais uma editada naquele ano mas agora na voz de Very Nice.

Na realidade de nome Fernando Girão, pois Very Nice era o nome por que era conhecido no início dos anos 70 quando passou por grupos de Rock como o Pentágono e Heavy Band. Em 1975 participada com o Jorge Palma no Festival da Canção da RTP com a canção "Pecado (do) capital" ficando num modesto 7º lugar.


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Em 1976 é publicado sob o nome Very Nice um Single com duas composições: "Brothers of the Sun" e "Yes I Know", um disco que conta com a presença de Rão Kyao no Saxofone. A sonoridade insere-se no Rock Progressivo tão típico na época, mas pouco gravado em Portugal. Por vezes fez-me lembrar Frank Zappa, foi só a mim? Ouça-se "Brothers of the Sun".



Very Nice - Brothers of the Sun

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Fernando Tordo, Carlos Mendes - De Pé na Revolução

 

Mais um disco publicado pela cooperativa "Toma Lá Disco" no ano de 1976 resultante da parceria entre Fernando Tordo, Carlos Mendes e os poetas Ary dos Santos e Joaquim Pessoa.

No melhor pano cai a nódoa e a prova encontra-se em algumas gravações efectuadas no processo revolucionário resultante do 25 de Abril de 1874. Gravações essas de muito pouca qualidade quer sob o ponto de vista da letra, extraordinariamente panfletária condizente com os tempos que se viviam, quer musicalmente de um simplismo total.




É o caso de mais este Single  com duas canções:

"De Pé na Revolução", música popular do folclore alentejano e letra de Joaquim Pessoa e "Dia de Haver Revolução" com música de Fernando Tordo e letra de Ary dos Santos.

Para ouvir segue "De Pé na Revolução" com qualidade sonora também má (retirada do Youtube) a condizer com o resto, fica como documento a ilustrar o período revolucionário que se viveu.



Fernando Tordo, Carlos Mendes - De Pé na Revolução

terça-feira, 13 de junho de 2023

Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho - Novo Fado Alegre

 

Foram várias as colaborações de Fernando Tordo, Carlos Mendes e Paulo de Carvalho no ano de 1976 pelo que, depois das passagens individuais que publiquei nos últimos dias, justifica-se uma averiguação do que produziram em associação. Para tal terá contribuído o espírito de colaboração que então reinava e que a editora "Toma Lá Disco" por eles formada propiciou.

Começo pelo EP intitulado "4 Canções para Portugal" cuja contra-capa indica como intérpretes Fernando Tordo e Carlos Mendes com a colaboração de Paulo de Carvalho.




As 4 canções são:

"Os Lobos e Ninguém" de José Luís Tinoco
"Estrela da Tarde" de Fernando Tordo e Ary dos Santos
"Cantiga de Maio" de Carlos Mendes e Joaquim Pessoa e
"Novo Fado Alegre" de Fernando Tordo e Ary dos Santos

Fica-se com "Novo Fado Alegre" na voz de Fernando Tordo, canção que também teve uma bela interpretação na voz de Carlos do Carmo.



Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho - Novo Fado Alegre

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Paulo de Carvalho - Quando um Homem Quiser

 

Depois de Fernando Tordo, de Carlos Mendes, claro que tem que ser Paulo de Carvalho também ele membro dos Sheiks dos idos anos 60 de que foi um dos fundadores. Também ele depois da fase dos grupos e do Pop-Rock, optou por carreira a solo e pela música ligeira.

Também ele participou em vários Festivais da Canção da RTP dos quais de destaca a vitória em 1974 com a conhecida "E Depois do Adeus".

É depois do 25 de Abril de 1974 que se vai afirmar igualmente como autor sendo dele a música de "Lisboa, Menina e Moça" popularizada na voz de Carlos do Carmo em 1976.

Neste ano publica o álbum "MPCC" (de Manuel Paulo de Carvalho Costa) que contou com a colaboração do então pouco conhecido Júlio Pereira


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Conta ainda com a colaboração de Fernando Tordo e Ary dos Santos que assinam canções como esta de muito bom gosto "Quando um Homem Quiser".



Paulo de Carvalho - Quando um Homem Quiser

domingo, 11 de junho de 2023

Carlos Mendes – Alcácer Que Vier

 

Depois de Fernando Tordo segue-se Carlos Mendes, nomes importantes do Pop-Rock nacional dos anos 60 e da da música ligeira posteriormente.

Em 1967 abandona os Sheiks e logo no ano seguinte participa no Festival da Canção da RTP e vence o certame com a canção Verão. Voltaria a ganhar o mesmo em 1972 com "Festa da Vida". Grava diversos Single até em 1976 editar o seu primeiro álbum de nome "Amor Combate" onde musicou a poesia de Joaquim Pessoa.

É de Joaquim pessoa o texto que consta na capa:

"Este álbum, AMOR COMBATE, é o exemplo de quanto pode a solidariedade, a amizade, o cooperativismo.

Sendo, como é, o primeiro trabalho feito em conjunto pelo Carlos e por mim, acreditamos ter posto nele todo o nosso esforço e também a arte que aqui vai ser julgada.

Pensamos que o Amor e o Combate devem dar as mãos. A Poesia e a Música podem ser amor. E podem ser combate. E neste disco são amor e combate. Melhor, AMOR COMBATE."

Mais um trabalho saído do processo revolucionário que Portugal vivia e que eu tenho vindo a recuperar, neste caso, ao recordar a música por cá publicada no ano de 1976.


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Um álbum que não se deixou levar pelo facilitismo panfletário de letras pró revolucionárias que então proliferaram.

Um bom trabalho da música popular portuguesa de 1976, "Alcácer Que Vier" a comprová-lo.



Carlos Mendes – Alcácer Que Vier

sábado, 10 de junho de 2023

Fernando Tordo - O Trabalho

 

Fernando Tordo, Carlos Mendes e Paulo de Carvalho integraram, embora o primeiro não em simultâneo com os outros dois, a formação Pop-Rock porventura de maior sucesso que Portugal conheceu nos anos 60, os Sheiks.

Em finais de 1996 Fernando Tordo foi mesmo substituir Carlos Mendes nos Sheiks onde permaneceu cerca de um ano tendo o grupo entretanto terminado. Ainda nos anos 60 inicia parceria com o poeta Ary dos Santos que se prolonga por 14 anos que resultou em inúmeras canções algumas das quais de inegável qualidade e sucesso como por exemplo a bem conhecida "Tourada".

 Depois do 25 de Abril de 1974 os ventos revolucionários que abundavam no nosso país não deixaram maior parte dos nossos cantores de alguma forma indiferentes e Fernando Tordo não foi excepção. Tal é bem patente em boa parte da sua discografia daqueles anos. O ano de 1976 é bem prova disso.


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Em nome próprio publica o Single "Alegria Na Luta" / "O Trabalho", trabalho menor e altamente datado de um dos melhores intérpretes da nossa música ligeira. Com letra de Ary dos Santos e música de Fernando Tordo com arranjos e direcção de Pedro Osório segue "O Trabalho".



Fernando Tordo - O Trabalho

sexta-feira, 9 de junho de 2023

José Cid - Ontem, Hoje e Amanhã

 

Alguns dos nomes oriundos do Pop-Rock nacional dos anos 60 abandonaram o género e na segunda metade dos anos 70 eram cantores prestigiados de música ligeira de diversas matizes com mais ou menor ligação à situação revolucionária que então se vivia. Estou a lembrar-me por exemplo de José Cid, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho...

Iam longe os dias de José Cid do bom, velho Quarteto 1111 ou dos primeiros trabalhos a solo (1971). Uma verdadeira miscelânea musical caracterizou o José Cid da década de 70, desde o Folk-Pop inicial, ao Rock Progressivo, à música ligeira mais comercial que se possa imaginar (ex: "A Anita Não É Bonita").


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Em 1976 publica um Single com as canções "Ontem, Hoje e Amanhã" e "Mosca Super-Star" que foi um enorme sucesso com a primeira canção que tinha sido vencedora do prémio "Outstanding Composition" no Festival Mundial de Tóquio em 1975.

Na faceta menos interessante de José Cid ei-lo com "Ontem, Hoje e Amanhã".



José Cid - Ontem, Hoje e Amanhã

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Saga - 6º Dia

 

Eu bem disse que se procurasse acabava por encontrar gravações de Rock feito em Portugal em 1976, e desta lembrava-me bem pois teve então alguma notoriedade. Trata-se do álbum "Homo Sapiens" de José Luís Tinoco.

Tempos em que o Pop-Rock não foi dominante face à produção de carácter mais social e político de acordo com o processo revolucionário que então ainda se vivia. Numa época de predomínio da canção de intervenção, reduzido foi o investimento na edição de discos dos grupos Pop-Rock pelo que toma particular relevância aqueles que o concretizaram como este de José Luís Tinoco e o grupo Saga.

Arquitecto de formação José Luís Tinoco ficou também conhecido como compositor de canções de relevo como "Madrugada" com a qual Duarte Mendes venceria o Festival da Canção da RTP em 1975. É dele a realização, música e arranjos do álbum "Homo Sapiens"q que contou com a participação vocal do grupo Saga onde constava o Fernando Girão.


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"Homo Sapiens" um disco de Rock-Progressivo com algumas aproximações ao Jazz. Assim começava o álbum, começava com o "6º Dia".



Saga - 6º Dia

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Perspectiva - "Lá Fora" a Cidade

Disse ontem que não me lembrava de nenhum disco de Rock feito em Portugal no ano de 1976, nada como uma pesquisa adicional para desmentir o que tinha afirmado. O que encontrei penso que será actualmente uma raridade do Rock em 1976, mas se encontrei este, provavelmente haverá mais.

Perspectiva é o nome do grupo e o texto seguinte retirado do livro "Memórias do Rock Português"  de Aristides Duarte dá-nos a conhecer um pouco deste grupo que terá tido uma duração muito curta:

"A banda, uma das primeiras a enveredar pelo estilo "sinfónico" e "progressivo" (a par dos Tantra), formou-se no Barreiro.

Tó Pinheiro da Silva era membro de outra banda muito importante, nessa época, a Banda do Casaco. 

Em 1976 conseguem um contrato discográfico com a Imavox, onde pontuavam como directores António Pinho e Nuno Rodrigues.

O primeiro disco gravado pela banda foi o single intitulado "Lá Fora A Cidade", que continha no lado dois o tema "Os Homens Da Minha Terra". Estes temas tiveram acompanhamento de uma orquestra sinfónica, para dar um tom ainda mais "sinfónico" à música da banda.

Muito elogiado pela crítica, este disco é hoje uma das grandes raridades discográficas portuguesas."


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Com uma sonoridade muito datada onde se notam influências claras dos Pink Floyd e com a particularidade de ser cantada em português aqui fica ""Lá Fora" a Cidade".



Perspectiva - "Lá Fora" a Cidade

terça-feira, 6 de junho de 2023

Rão Kyao - Malpertuis

Continuo no ano de 1976, mas agora centrado na música popular portuguesa.

Em 1976, o 25 de Abril de 1974 estava simultaneamente tão perto e tão longe, perto no tempo e nos ideais que muitos ainda acalentavam com o fim da ditadura que o golpe de estado tinha derrubado, distante, pois era por demais evidente que a utopia saída daquele dia não seria concretizada, o 25 de Novembro de 1975 tinha vindo "normalizar" a sociedade portuguesa.

Musicalmente, diz Mário Correia em "Música Popular Portuguesa - um ponto de partida":
"As implicações dos acontecimentos ocorridos em 25 de Novembro de 1975 atingiram profundamente a música portuguesa, desde os aspectos relacionados com a sua divulgação nos meios de comunicação social até à necessidade imperiosa e urgente de refazer os processos criativos em função das novas motivações de vária ordem. De certo modo, encerra-se um ciclo na evolução da música portuguesa: o do canto mais ou menos directo e altamente envolvido nas circunstâncias político-sociais da altura".

No entanto, a inércia musical ainda se iria verificar por mais alguns anos como espero ainda vir a dar conta.

Para já, estamos no ano de 1976. No que diz respeito ao Rock, o praticado em Portugal foi genericamente sempre insípido, pouco inventivo e copiador das sonoridades praticadas em Inglaterra e Estados Unidos. Os ecos do Rock Progressivo vão ter eco tardio em Portugal e algumas bandas vão sobressair na segunda metade dos anos 70. Mas não me recordo de nenhum disco Rock de 1976. A surpresa veio do Jazz.





É verdade foi no Jazz feito em Portugal que tenho memória daquele ano, concretamente do álbum "Malpertuis" o primeiro assinado por Rão Kyao. Foi sol de pouca dura, de seguida troca o saxofone pela flauta de bambu, o Jazz pela música popular e foi o sucesso que se conhece.

Recordo então "Malpertuis" o tema título.



Rão Kyao - Malpertuis

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Joni Mitchell - Song For Sharon

 1970-1980 Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


E por fim, nas escolhas de Miguel Esteves Cardoso para o ano de 1976, eis a minha preferência nº 1: Joni Mitchell com o álbum "Hejira".

"Joni Mitchell lança um álbum que pode ser considerado o seu melhor de sempre" dizia Miguel Esteves Cardoso.  Um percurso único traçava Joni Mitchell que álbum após álbum se ia ultrapassando e redescobrindo novos caminhos para a música popular, "Hejira" expressão maior da fusão do Folk com o Jazz como poucos conseguiram fazer.

Diz ainda: ""Hejira", de 1976, é um lapso na sua progressão musical para o Jazz. É também, a sua obra-prima. Resumindo todas as suas obsessões, desde "Songs to a Seagull" até "Summer Lawns", "Hejira" é uma longa elegia à adolescência perdida. A música espraia-se, descansando sob um fio insuportável de tensão nostálgica, enquanto os textos voltam ao realismo de outrora."


Edição portuguesa em vinil com as ref;ASY 53053, 53053




Quanto às canções do álbum referia "Amelia" e "Song For Sharon" que "contam-se entre as melhores de toda a sua carreira. A última, sobretudo, é indiscutivelmente a sua composição-chave. É certamente a sua canção mais forte, e uma das dez mais singelas de toda a história da música popular."

Como não podia deixar de ser segue "Song For Sharon", são quase 9 minutos mas podia prolongar-se por muito, muito mais.



Joni Mitchell - Song For Sharon

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Kate & Anna McGarrigle - Tell Me Sister

   1970-1980 Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


E vamos para as duas últimas (últimas na minha ordem) escolhas de Miguel Esteves Cardoso para o ano de 1976.

Continuamos no feminino, depois do duo Silly Sisters formado por Maddy Prior e June Tabor mais um duo desta vez é Kate & Anna McGarrigle. Mais dois nomes importantes vindos do Canadá, lembremo-nos de Joni Mitchell, Neil Young e Leonard Cohen. Kate e Anna eram irmãs, a primeira casada com Loudon Wainwright III e tiveram como descendentes dois dignos sucessores musicais, respectivamente Martha e Rufus Wainwright, este último mais conhecido.


Edição em CD de 1994 com a ref: HNCD 4401


O primeiro álbum, "Kate & Anna McGarrigle", foi publicado em 1976 e Miguel Esteves Cardoso deu-lhe justamente 5 estrelas, dizendo a respeito dele:

"A revelação do ano é o álbum-estreia das irmãs McGarrigle. Tomando a música tradicional canadiana na sua forma mais rude e espontânea, juntando-lhe letras desinibidamente femininas e cantando-as caoticamente, sem preocupações de sofisticação ou de harmonia, elas produzem um dos grandes álbuns da década." e mais adiante "É um álbum sobre o desejo, que não desconhece a troça nem o amor. As vocalizações ranhosas e espontâneas são um antídoto benvindo à lamechice tradicional e há uma atmosfera contagiosa de companheirismo e de riso que pervade todas as canções."

Deste ímpar álbum proponho "Tell Me Sister", belissimamente interpretada.





Kate & Anna McGarrigle - Tell Me Sister

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Silly Sisters - The Seven Wonders

  1970-1980 Algumas escolhas de Miguel Esteves Cardoso


Em 1976, Maddy Prior era já uma cantora bem conhecida fundamentalmente pela sua prestação à frente do grupo Folk-Rock Steeleye Span. Rivalizava, no meu gosto com a Sandy Denny.

Em 1976, June Tabor era uma desconhecida. Editou neste ano o primeiro álbum a solo, "Airs and Graces", e após a morte Sandy Denny (1978) tornou-se, ainda hoje, a minha cantora Folk preferida.

As duas constituíram em 1976 um duo que resultou no mesmo ano no álbum "Silly Sister", nome que posteriormente adoptaram para o duo. É este álbum que consta nas escolhas de Miguel Esteves Cardoso no ano de 1976 tendo-lhe dado 4 estrelas.


Edição em CD, de 1988, com a ref: TSCD 450


"O folk inglês, adormecido ou desgraçado nos últimos anos, reaparece em toda a sua estonteante pureza, sem acrescentes nem subtracções, nas vozes de Maddy Prior e de June Tabor, vítreas mas espessas, autênticos instrumentos musicais", é este o parecer de Miguel Esteves Cardoso.

Duas vozes maravilhosas em harmonia perfeita, segue "The Seven Wonders" como exemplo.



Silly Sisters - The Seven Wonders