Em 1970 Stevie Wonder, com apenas 20 anos, assinava já o seu 12º álbum de
estúdio e preparava-se, e bem, para atacar a década de 70. Foi dos poucos que
atravessou os anos 70 com regularidade e qualidade assinaláveis, uma boa parte
das figuras que marcaram os anos 60, a solo ou grupo, tiveram tiveram sérias
dificuldades com a década de 70 e no final eram uma sombra do que já tinham
sido.
Stevie Wonder encontra-se pois como referência da música negra, nas suas
diversa matizes do Rhytm'n'Blues ao Pop, e nutria nesse tempo a minha
simpatia, recordem-se trabalhos como "Talking Book" (1972), "Innervisions"
(1973), "Songs in the Key of Life" (1976) ou ainda "Hotter than July" (1980).
Voltando a 1970, um ano em que muito se ouviu Stevie Wonder sendo o álbum em
causa " Signed, Sealed & Delivered" donde realçaram canções como
""Signed, Sealed, Delivered I'm Yours"", ""Never Had a Dream Come
True", "We Can Work It Out" (as duas primeiras já se encontram noutros
Regresso ao Passado) e também "Heaven Help Us All".
"Let It Bleed", o álbum, é provavelmente o melhor trabalho dos The Rolling Stones, embora haja muitos que torçam por "Exile On Main St." e "Sticky
Fingers". Fechavam a década de 60 com chave de ouro, em termos de
criatividade, atrevo-me a dizer, estavam no seu melhor, um disco centrado no
Blues com variações Country e Rock onde coexistem canções como "Midnight
Rambler", "Love in Vain", "Gimme Shelter" e o épico "You Can’t Always Get What
You Want".
"Let It Bleed", a canção, objecto de diferentes interpretações com variadas
referências, sexuais ("She said, my breasts, they will always be open"), apelo a drogas ("When you need a little coke and sympathy") ou
simplesmente a disponibilidade para ajudar ("And if you want it, you can lean on me").
"Let It Bleed" era objecto na revista "mundo da canção" nº 13 ao ser publicada
não só a letra mas também a pauta com a respectiva música. Agora só resta
ouvi-la...
Muito provavelmente não ouvia o Regresso ao Passado de hoje há mais de 50
anos. As boas canções sucediam-se umas atrás das outras, todas as semanas
havia novidades discográficas de qualidade mais que razoável, pena é que
actualmente tal não acontece ao mesmo ritmo e com a mesma qualidade, tudo se
esvaiu. Valha-nos estes bons velhos tempos que tenho vindo a recordar com
canções que ainda hoje se ouvem com todo o agrado, é o caso de "Patches" de
Clarence Carter.
Clarence Carter, cantor negro, cego de nascença, possuidor de uma longa
discografia, mas com um conjunto reduzido de canções que atingiram os Top de
vendas e que sejam hoje recordadas e reconhecidas.
O maior sucesso foi mesmo "Patches", mais uma vez valha a revista "mundo da canção", que reproduzia a letra no seu nº 13 de Dezembro de 1970 e que motiva
esta lembrança.
"Patches", a história triste de um menino, cujo pai no leito da morte lhe pede
que tome conta da família e que o faz continuando a assegura os estudos.
So ev'ry mornin' 'fore I went to school, I fed the chickens and I
chopped wood, too. Sometimes I felt that I couldn't go on, I wanted
to leave, just run away from home, But I would remember what my daddy
said, With tears in his eyes on his dying bed
He said: "Patches I'm depending on you, son I've tried to
do my best
Da dupla Mick Jagger / Keith Richard sai o Regresso ao Passado de hoje.
Dos bons tempos em que The Rolling Stones rivalizavam com The Beatles na
hegemonia da música Pop britânica saíram canções inesquecíveis, de uns e de
outros, e que perduram no tempo com a certeza de ficarem para sempre como
marcas de uma década ímpar na história da música popular.
A canção a que me refiro é "Ruby Tuesday", na realidade escrita por Keith
Richard e parece com contributos de Brian Jones, mas, como estava acordado,
ficou atribuída à dupla Jagger, Richard (à semelhança do que acontecia com The Beatles onde as canções eram assinadas por John Lennon e Paul McCartney
independentemente de quem escrevia a canção). Uma bela canção publicada no ano
histórico de 1967 onde parecia não haver fim para a criatividade e
originalidade que o Pop-Rock então manifestava.
A canção foi retomada, e foi novamente um grande êxito, em 1970 por Melanie numa
surpreendente interpretação. A letra vinha publicada no nº 13 da revista
"mundo da canção" e origina este regresso, sempre gostoso, a Melanie e à minha
juventude.
Os Canned Heat são um grupo norte-americano formado nos passados anos 60
musicalmente centrados na fusão do Blues e o Rock. Já por várias vezes
passaram nestes meus Regresso ao Passado com alguns temas que vão de 1967 a
1970, o último dos quais foi "Let's Work Together" do LP "Future Blues" de
1970.
O nº 13 da revista "mundo da canção", com edição em Dezembro de 1970, que
tenho vindo a recordar, trazia a letra de mais uma canção dos Canned Heat,
"Sugar Bee" era o nome e pertencia ao mesmo LP sendo o Single que se seguiu a
"Let's Work Together".
Seria o último álbum com uma das melhores formações que o grupo conheceu,
desta formação clássica dos Canned Heat só o baterista Adolfo de la Parra
subsiste na constituição actual.
Ficam as saudades de ouvir aquela que era uma música nova, fresca, cativante
por um dos grupos mais bem sucedidos e populares do Blues-Rock oriundo do
outro lado do Atlântico, os Canned Heat.
Um manancial de canções Pop saíram de Neil Diamond, autor e intérprete de
tantos sucessos, em particular nos anos iniciais da minha adolescência quando
comecei a formar o meu gosto musical. Ouvia então muita música Pop, Folk, Rock
das mais diversas matizes e algum Jazz. As fontes de audição eram
principalmente a rádio, com alguns programas excelentes no conteúdo e forma
como faziam a divulgação da melhor música popular então praticada, discos
emprestados por algum amigo mais velho e aqueles que eu próprio ia aos poucos
adquirindo.
Na selecção natural que fui fazendo Neil Diamond ficou irremediavelmente para
trás e foi-se esvanecendo ficando quase esquecido. Não era de todo o género, o
estilo que mais apreciava, mas (há sempre um mas) quando o ouvia não conseguia
desligar a rádio ou sair da sala onde estava o rádio ligado até a canção
terminar.
A primeira canção que conheci de Neil Diamond foi muito
provavelmente "Sweet Caroline" (1969) seguida de "Cracklin'
Rosie", "Soolaimón", "I Am... I Said", "Song Sung Blue", todas
de 1970, 1971. E outras até ao sucesso da banda sonora de "Jonathan Livingston
Seagull" (1973) (Fernão Capelo Gaivota).
Mas a canção que hoje aqui me traz é "Solitary Man" cuja letra vinha
reproduzida na revista "mundo da canção" de Dezembro de 1970. Trata-se de uma
das primeiras canções de Neil Diamond a alcançar os Top e fazia parte do 1º LP
"The Feel of Neil Diamond" do ano de 1966. Foi recuperada e novamente editada
em Single em 1970 pelo que terá sido neste ano que a conheci e a razão de
constar neste nº do "mundo da canção".
The Hollies, um dos grupos britânicos menos considerado, tiveram nos anos de
60 e 70 algumas das canções Pop mais irresistíveis da época, algumas das quais
já entretanto disponibilizei.
Quer antes, quer depois da partida de Graham Nash, em 1968, para outras
aventuras, as harmonias vocais do conjunto eram uma das características mais
relevantes associadas a melodias que ficavam no ouvido e que bem apetecia
cantarolar. Em 1974 tiveram o seu último grande sucesso com "The Air That
I Breath", depois de já nos terem deliciado com canções tão simples, como
cativantes, de que foram exemplo "Carrie Anne" (1967) ou "He Ain't
Heavy... He's My Brother" (1969).
Este nº 13 da revista "mundo da canção" com edição em Dezembro de 1970
reproduzia a letra do então último sucesso dos The Hollies e é mais uma que me
recordo de ouvir na nossa rádio. Tratava-se de "Gasoline Alley Bred", mais um
tema onde predominavam as harmonias com destaque para a voz de Allan Clarke,
mais uma canção de uma época onde predominavam grandes compositores e
intérpretes, compare-se com os dias de hoje...
Se há canção que ficou, injustamente, perdida no tempo é sem dúvida "Father
and Son", tema de 1970 do 4º álbum de Cat Stevens "Tea For The
Tillerman".
"Tea For The Tillerman", por ventura o disco mais perfeito de Cat Stevens,
contêm algumas das canções mais conhecidas deste cantor inglês que tanto
marcou o início da década de 70. São dele, por exemplo "Wild
World", "Where Do The Children Play?" e este "Father and Son".
Um pai a aconselhar um filho a ficar em casa, a acomodar-se e casar,
"It's not time to make a change / Just relax, take it slowly / You're still
young, that's your fault / There's so much you have to go through / Find a
girl, settle down / If you want you can marry / Look at me, I am old, but
I'm happy" e um filho que se sente compelido a partir e frustrado por o pai não o
ouvir,
"How can I try to explain? / When I do he turns away again / It's always
been the same, same old story / From the moment I could talk / I was ordered
to listen / Now there's a way / And I know that I have to go away / I
know I have to go", é o diálogo de despedida entre pai e filho, provavelmente baseado na sua
própria experiência, o pai de Cat Stevens era dono de um restaurante em
Londres e ele a caminho de ser uma estrela Pop.
Recordações repetidas está este nº 13 da revista "mundo da canção" a
proporcionar. Para hoje volto a Jimi Hendrix e à canção "Voodoo Chile" cuja
letra vinha transcrita naquele nº da revista.
Jimi Hendrix (1942-1970), tinha falecido no mês de Setembro anterior à
publicação deste nº do "mundo da canção" e a canção "Voodoo Chile" tinha sido entretanto editada em Single, no entanto ela já aparecia no álbum "Electric Ladyland" de
1968 em versão longa, quase 15 minutos, e normal com mais de 5 minutos.
Ainda hoje, Jimi Hendrix é considerado, quase unanimemente, o melhor
guitarrista Rock de sempre e aí está "Voodoo Chile", uma entre muitas
composições, a comprová-lo.
Desta vez fica a versão longa de quase 15 minutos... o melhor Blues-Rock encontrava-se em Jimi Hendrix e neste belo trecho.
Em maré de memórias repetidas, aqui fica mais uma: a canção "Black Night" dos
ingleses Deep Purple. Era mais uma letra que vinha publicada na revista "mundo da canção", nº 13 de Dezembro de 1970.
Não sei se já o disse, mas os Deep Purple nunca me encheram as medidas, nunca
fui fã do Hard-Rock e suas sucedâneas versões cada vez mais agressivas e cada
vez menos interessantes, a excepção terá sido o grupo Led Zeppelin,
principalmente nas aproximações Blues-Rock e Folk-Rock. Quanto aos Deep Purple
nunca procurei os discos deles, excepto o álbum "Concerto for Group and
Orchestra", pelo experimentalismo revelado e memórias que me trazia.
Claro que ouvia os Deep Purple, era quase impossível não o fazer, numa altura
em que foram tão populares com temas como "Strange Kind of
Woman", "Child in Time", "Smoke on the Water" ou este "Black Night".
Foi na sequência do álbum "Deep Purple in Rock" e pelo facto deste disco não
ter nenhuma canção elegível para ser editada em Single que a editora os
pressionou para comporem um tema a ser lançado em Single. A inspiração veio
quando decidiram voltar ao estúdio após uma noite bem passada num pub e da
guitarra de Ritchie Blackmore saiu o riff de "Black Night". Ei-lo mais
uma vez.
Em maré de repetições, mais uma hoje, retorno ao grupo inglês Free e à canção
"The Stealer". No final dos anos 60 primeiros anos da década de 70 existiu um
grupo que dava pelo nome de Free e que explorando uma sonoridade genericamente
de Hard-Rock conseguiram, com meia dúzia de álbuns e alguns Singles de
sucesso, ficar na história do Rock daqueles anos.
"All Right Now", do álbum "Fire and Water", foi um mega sucesso e que os
catapultou em 1970 para o topo das tabelas de vendas, seguiu-se ainda no mesmo
ano mais um Single, este já do novo álbum "Highway", "The Stealer" que ficou
muito aquém do anterior.
No grupo destacaram-se o guitarrista Paul Kossoff, falecido em 1976, e o
vocalista Paul Rodgers que após o fim dos Free passou, para além de carreira a
solo, por grupos como Bad Campany, The Firm e já neste novo século, chamou a
atenção na colaboração com os Queen com quem actuou e gravou sob o nome
Queen+Paul Rodgers.
E vinha então a letra de "The Stealer" publicada, em Dezembro de 1970, no nº
13 da revista "mundo da canção", toca a ouvir...
Repetido este Regresso ao Passado com The Jackson 5 e a canção "I'll Be
There". Já anteriormente a disponibilizei com outro pretexto, desta vez o
motivo é a publicação da letra no nº 13 da revista de divulgação musical
"mundo da canção" que estou a recordar.
A fidelidade total de alguém apaixonado na voz ternurenta e inocente de um
miúdo de 11 anos, nada mais nada menos que Michael Jackson, o mais novo dos
manos Jackson que já então sobressaía.
"I'll Be There" era o primeiro single que era extraído do 3º LP do grupo,
exactamente "Third Album", uma balada a que se volta sempre para ir buscar as
nossas recordações do início da adolescência, tinha eu 13 anos!
Aqui fica, simultaneamente inocente e sentimental, é "I'll Be There".
Foram várias as passagens que a revista "mundo da canção" efectuou, no seu
primeiro ano de vida, pelos britânicos The Moody Blues. Este nº 13 a eles
volta com a transcrição de mais uma letra de uma canção daquele que era,
então, o álbum mais recente do grupo, "A Question of Balance".
The Moody Blues abandonavam, infelizmente, a elaboração de álbuns conceptuais
que os vinha caracterizando desde 1967, para efectuarem um disco que não era
mais que um conjunto de canções. Mesmo assim, foi um disco bem recebido,
talvez mesmo mais divulgado que os anteriores e possuía um conjunto de canções
às quais continuávamos presos, "Question", "Melancholy Man" são disso
exemplo.
Era a letra de "Don't You Feel Small", canção assinada pelo baterista Graeme Edge, que vinha publicada e motiva esta recordação. The Moody Blues na
transição do Rock progressivo para o Pop-Rock, ainda assim um grande disco.
Terceira passagem pelos simpáticos Blue Mink, conjunto Pop britânico com algum
sucesso no final dos anos 60 início da década seguinte. Já recordei "Melting
Pot" (1969) e "Our World" (1970), faltou "The Banner Man" (1971), para hoje é
a vez de "Good Morning Freedom", canção de 1970, publicada em Single entre as
duas primeiras referidas.
"Good Morning Freedom", uma cantiga Pop para ouvir ao levantar, alegrar o
momento e continuar a vida com boa disposição. O espírito da época aqui bem
retratado, uma canção que hoje seria impossível.
Blue Mink um conjunto que ficou esquecido no passar dos anos e que nunca teve
o reconhecimento devido. Espero que se divirtam com este "Good Morning
Freedom", aproveitem a letra que vinha publicada no nº 13 da revista "mundo da canção" e toca a cantarolar "A bee bow bow b'b'buppa bow"...
Naturalmente a música Pop-Rock internacional ocupava maior parte do espaço da
revista "mundo da canção" nº 13. Estávamos em Dezembro de 1970 e a hegemonia
da música oriunda do Reino Unido e dos Estados Unidos da América era uma
realidade, a música por cá produzida não era suficiente em quantidade e
qualidade para ocupar maioritariamente o espaço da revista e a música francesa
e italiana que tanto se tinha ouvido durante tantos anos tinha sido suplantada por uma
panóplia de novos músicos que renovavam a música Pop que a juventude de então
tanto apreciava.
Felicidade que esta supremacia anglo-saxónica era acompanhada com boa dose de
qualidade facto que, infelizmente, hoje parece já não acontece com a mesma
abundância.
Vejamos o caso, e a eles volto, dos Blood, Sweat and Tears. Foram das
primeiras formações a fazer a aproximação do Pop e do Rock ao Jazz e
fizeram-no com originalidade e bom gosto destacando-se os 3 primeiros LP que
tanto ouvi em anos já tão longínquos. Infelizmente esgotaram-se rapidamente e
sucessivas alterações na sua composição não terá ajudado a manter a
criatividade original.
"Blood, Sweat & Tears 3" era ainda um grande disco, apesar de eu preferir
os dois primeiros, e nele estavam grandes canções, algumas versões,
como "Hi-De-Ho", "Fire and Rain", "He's a Runner" ou
esta "Lucretia MacEvil" acrescida de "Lucretia's Reprise". Canção composta por David Clayton-Thomas, então vocalista do grupo, sobre mulheres que se servem dos homens e de má reputação, Lucretia é uma delas.
Da nossa vizinha Espanha, este nº 13 da revista "mundo da canção" publicava a
letra de uma única canção, "PostGuerra" de Manolo Diaz.
Monolo Diaz, um músico pouco recordado, mas de extrema importância nos anos 60
e 70 do século passado. A solo gravou pouco, somente 2 LP e alguns Singles,
esteve, em 1970, na génese do importante grupo Aguaviva, formação seminal do
Folk-Rock espanhol.
"Retablo" foi o primeiro álbum por ele publicado no ano de 1967 e nele
constavam canções como "Bibi", já anteriormente recordada, e esta
"PostGuerra", canção de protesto, sucesso em Espanha em particular no meio
estudantil. Há muito, muito tempo que não a ouvia, valham estas passagens pela
revista "mundo da canção" para recordar o que não deve ser esquecido.
Para hoje uma canção da qual não nutro memória mas que no Brasil foi, no ano
de 1970, uma canção com o seu devido sucesso. Nesse ano teve lugar o
V Festival Internacional da Canção Popular que se realizou no Rio de
Janeiro tratando-se de um concurso de músicas brasileiras e estrangeiras,
nesse ano o vencedor foi Tony Tornado e Trio Tornado com a canção BR-3 e era
esta que era alvo de transcrição da letra na revista "mundo da canção" nº 13
decorria o mês de Dezembro de 1970.
Inspirado musicalmente em James Brown, mas também no visual e presença em
palco, Tony Tornado interpretou a canção BR-3 que se referia ao perigo de
circulação na estrada que ligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Rapidamente
se fizeram outras leituras como é fácil de deduzir pela letra e pelo período
que se vivia no Brasil onde estava instalada uma ditadura militar.
Se em termos musicais a sua discografia foi curta, já no cinema e TV teve um
longo percurso, estando presente em telenovelas que foram tão populares com
"Roque Santeiro" e "Sinhá Moça", ambas dos anos 80.
Mas o que agora interessa é este "BR-3", a força da música negra brasileira
que se impunha apesar de todos os contratempos que existiam.
Como referi em post anterior este nº da revista nº 13 publicado em Dezembro de
1970 continha poucas letras de canções portuguesas e agora acrescento que o
mesmo se passava com canções brasileiras, só duas, espanholas, uma, e nenhuma
francesa ou italiana. Seria o domínio crescente da música anglo-americana?
Ora bem, do Brasil é de uma canção de Jorge Ben, autor e intérprete, de nome
"Domênica".
Um período magnífico para a música popular brasileira onde pululavam novos
artistas, novas correntes musicais, muitas misturas e experiências que
resultaram em discos magníficos que continuam a ser referências importantes da
melhor música oriunda do Brasil.
Entre eles estavam Jorge Ben, por quem passo, agora, pela primeira vez. Figura
importante da música brasileira deixou canções inesquecíveis como "País
Tropical", grande sucesso na versão de Wilson Simonal, ou a mais antiga e
extraordinária "Chove Chuva".
Em 1970 publicava "Fôrça Bruta", era já o seu 7º álbum de estúdio e foi
um disco de grande sucesso, nele constava "Domênica" ou melhor dizendo
"Domênica Domingava num Domingo Linda toda de Branco" que agora se recorda.
O artigo mais interessante deste nº 13 da revista "mundo da canção", que viu a
luz do dia em Dezembro de 1970, dando assim início ao segundo ano de vida da
revista, foi, sem dúvida, o assinado por José Cid, nem mais esse mesmo que
naquela altura militava no Quarteto 1111 e se aventurava por novas músicas,
intitulava-se "Pop em Portugal" e revelava a exigência crítica que então se
fazia sentir em boa parte das publicações que surgiam de divulgação musical.
Um artigo onde se lamenta o fim da Filarmónica Fraude, onde se aplaude o 1º LP
de Fausto. Onde se defende a divulgação da boa música anglo-americana em
detrimento à falta de qualidade da música por cá feita que justifique a
passagem de 75% de música nacional. A denúncia da eleição dos reis da
rádio cujas votações colocavam uma tal de Maria Fiúza, os Vodkas e o Conjunto Zoo muito à frente do Quarteto 1111, da Filarmónica Fraude e José Afonso. A
relevância de artistas como Led Zeppelin, Blood, Sweat and Tears, Crosby, Stills, Nash and Young face à menor qualidade que The Beatles vinham
denunciando em alguns temas nos últimos anos, a constatação de que os Cream
eram "...o melhor trio até hoje conseguido na Pop Music". E finalmente
a defesa dos mal comportados Rolling Stones em comparação com os inofensivos
The Beatles.
Infelizmente que José Cid, que tanto contribuiu para a criação de um Pop-Rock
verdadeiramente nacional, tenha abraçado outros estilos musicais próximos da
música ligeira de gosto mais comercial retirando valor à sua obra, ou seja
desenvolvendo-se por caminhos que criticava neste artigo.
É de 1970 o álbum único do Quarteto 1111, marco importante do Pop-Rock
português anterior ao 25 de Abril de 1974. A ele volto novamente, desta vez
com "Lenda de Nambuangongo".
Relativamente à reprodução de letras de canções nacionais este nº 13 da
revista "mundo da canção" resumiu-se a três poemas de temas do Padre Fanhais e
outra do Fausto, foi portanto parca esta edição no que diz respeito à produção
portuguesa. No entanto alguns textos, que hoje aproveito para reproduzir,
indiciavam o estado da arte da canção que por cá se ia ouvindo.
Começo com um texto, assinado por Arnaldo Jorge Silva, onde são
intervenientes, durante um almoço, Nuno Filipe, Teresa Paula Brito e um tal
Verónica. Vale a pena ler para se constatar o espirito da época, "Até
Quando???" se intitula este testemunho.
Seguem-se dois textos onde é abordado o Festival da Canção da RTP, o grande
acontecimento musical que reunia as famílias em frente da televisão para
assistir à selecção da canção que representaria Portugal do certame
internacional dito da Eurovisão.
Primeiro o texto "Festival Festival - iremos bem, iremos mal?" assinado por
Tito Lívio, onde se questiona o critério de escolha das canções concorrentes,
assim como o sistema de votação.
O segundo texto "O Norte do País está este ano representado no Grande Prémio
TV da Canção", onde se apresenta José Sottomayor e José Calvário, dois jovens
do Porto que compuseram a canção "Flor Sem Tempo" tendo o intérprete escolhido
sido Paulo de Carvalho.
Finalmente, outro texto assinado por Tito Lívio relativo aos Prémios Pozal
Domingues do ano de 1970. Os Prémios Pozal Domingues foram instituídos pela
Valentim de Carvalho em memória a um seu destacado colaborador, tendo sido, em
anos anteriores, premiados Amália Rodrigues, a Simone de Oliveira e Adriano Correia de Oliveira. Em 1970 era premiado Manuel Freire pela melhor canção do ano, "Pedra Filosofal", uma das melhores canções de sempre, e que para Tito Lívio
não passava de uma
"... balada monótona e monocórdica que nada de novo trás à música
portuguesa, poema para muitos sem possibilidades válidas de ser musicado.
Quanto a nós a pior canção do ano em face das suas pretensões".
O prémio de melhor disco ia para o LP de Carlos do Carmo, com o qual Tito
Lívio também não estava de acordo ao manifestar
"... o nosso espanto e surpresa perante o galardão de melhor disco atribuído
ao LP de Carlos do Carmo, cançonetista (?) extremamente oportunista e
desigual".
Não resisto a contrariar Tito Lívio e a recuperar Carlos do Carmo com a
conhecida "Gaivota" com que abria o álbum atrás referido. Talvez não fosse o
melhor álbum do ano daí à desqualificação que faz de Carlos do Carmo vai o
abismo.
"Desenvolveu um estilo musical que constituiu um dos contributos mais
significativos para a música popular portuguesa nas últimas duas décadas do
século XX", assim se refere a "Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX" a
Fausto um dos maiores cantores, autores da nossa música de expressão popular
pós 25 de Abril de 1974.
Na realidade já antes Fausto se tinha estreado nas lides musicais e a sua
importância vai mesmo não para duas mas para as três últimas décadas do século
passado.
Depois do EP lançado em 1969 que lhe valeu o prémio "Revelação" atribuído pelo
programa de rádio "Página Um", no ano seguinte surge no mercado o primeiro
registo de longa duração que ficou esquecido no tempo.
"Madrugada" era a canção que abria o LP e era o início de uma aventura
musical, espero que ainda não terminada, que conjuntamente com José Mário Branco e Sérgio Godinho renovou a música popular portuguesa por caminhos
anteriormente não percorridos mas já abertos por José Afonso. Ainda sem o
fulgor e qualidade que mais tarde se lhe veio a conhecer, mas já continha
os ingredientes e prenúncios daquilo que viria posteriormente a produzir.
O tempo amortece as recordações, passados mais de 50 anos algumas memórias já
estão muito distantes e começa a gerar-se uma imagem pálida sobre algumas das
canções e cantores que se ouviram em circunstâncias muito especiais.
No caso concreto, o Padre Fanhais, não era fácil de o ouvir. Sorte de o
ter visto no programa "Zip-Zip" (não se perdia um em casa dos meus pais) em 1969 e de o ouvir passar
no programa de rádio "Página Um". Tocou também em convívios que se realização
à margem do regime, mas não tive a sorte de o ter ouvido ao vivo, também
alguns jornais e revistas fizeram eco deste padre feito músico de
características populares e anti-fascistas.
A revista "mundo da canção" foi uma das publicações a dar destaque ao Padre Fanhais.
Foram várias edições desde o primeiro nº, onde teve honras de capa, a, por
exemplo, o nº 13 de Dezembro de 1970 que agora comecei a recordar. Neste nº
duas páginas eram ocupadas com letras de três canções que pertenciam ao álbum
"Canções da Cidade Nova", eram elas "As Pobres Solteiras", a conhecida "Corpo
Renascido" e "Canto do Ceifeiro".
"As Pobres Solteiras", relativamente pouco conhecida, segue para audição.
Mais um nº da revista "mundo da canção" para recordar, é o nº 13 de Dezembro
de 1970, era o início do 2º ano da revista, um projecto que com os seus
sobressaltos iria durar, como revista, até ao nº 67 de Junho de 1985.
Na capa uma fotografia de Donovan que não tinha correspondência em nenhum
texto sobre ele no interior, somente a letra de uma canção, "Poke at the
Pope".
O álbum mais recente de Donovan era "Open Road" e foi o primeiro que dele
adquiri. Ouvi-o muito e gozei-o muito, gostava de quase todas as canções, mas,
para mim, o ponto alto estava numa canção, que vá-se lá saber por quê, não
ficou com o passar dos anos entre as mais conhecidas e recordadas de Donovan,
"Curry Land" assim se chamava e que em tempos também aqui recordei.
A letra que vinha reproduzida dizia respeito à canção "Poke at the Pope" que
por sinal era das que menos gostava. Aqui fica o protesto anti-clerical de
Donovan com "Poke at the Pope".
Ontem recordei a canção "My Girl The Month of May" na versão do
colectivo
The Bunch
onde, entre outros, participou o então ex-Fairport ConventionRichard Thompson
que dava a voz principal na dita canção.
Richard Thompson
é uma das figuras mais bem guardadas do Folk-Rock que nunca teve a divulgação,
a popularidade e reconhecimento por um público mais vasto como por exemplo têm
Bob Dylan
e
Van Morrison.
Actualmente é dos poucos sobreviventes da década de 60 no activo, talvez a par
dos outros dois referidos, a merecer uma regular e categorizada presença com
novas canções que continua a escrever e gravar. É já depois de amanhã que é
posto à venda, exclusivamente em forma digital sem suporte físico, um conjunto
de seis novas canções sob o título "Serpent's Tears", já depois de no início
do ano ter publicado em igual formato "Live From London" resultante de três
concertos "livestream" realizados no ano passado.
Entretanto foi publicado, e chegou-me há poucos dias a casa, o livro
"Beeswing" com o subtítulo "Fairport, Folk Rock and Finding My Voice
1967-1975" que me vai ocupar e deliciar, espero, a leitura durante os próximos
dias.
"An intimate memoir of musical discovery, personal history and social
revelation, Beeswing vividly captures the life of one of Britain's most
significant artists during a heady period of creativive intensity, is a
world on the cusp of change.",
lê-se na primeira orelha do livro.
Quando "Rock On", o álbum onde "My Girl The Month of May" foi publicado em
1972, foi também editado o primeiro álbum a solo de
Richard Thompson, "Henry the Human Fly", na altura mal recebido pela crítica, mas bem
recuperado hoje em dia. Tempo em que
Richard Thompson
estaria a encontrar a sua voz, e a iniciar uma carreira a solo, e também com a
sua futura esposa
Linda Thompson, que leva a revista Rolling Stone a afirmar, conforme contra-capa do livro:
"Richard Thompson is the greatest guitarrist in British folk rock ... [and]
one of Britain's sing-songwriters."
"The Angel's Took My Racehorce Away" pertence a este álbum inicial e é mais
uma pequena maravilha criada por
Richard Thompson, no coro pode-se ouvir
Sandy Denny
e Linda Peters, alguns meses mais tarde
Linda Thompson.
Richard Thompson - The Angel's Took My Racehorce Away
Este breve passagem por canções com o mês de Maio no título fica, por agora,
com a canção "My Girl The Month of May".
Dion and the Belmonts é um grupo vocal norte-americano do final dos anos 50, tendo uma segunda vida do grupo durado até aos inícios da década de 70. É de 1966 a
canção em apreço que curiosamente teve mais sucesso em Inglaterra que nos
Estados Unidos. Seria mesmo alvo, em Inglaterra, de duas versões, uma primeira
logo em 1967 por The Alan Bown Set e uma segunda recuperada já em 1972
pelo colectivo The Bunch.
Edição espanhola de 1972 com as ref: 86032.I, 86.032 - I
The Bunch foi uma ideia de Trevor Lucas que, em 1972, juntou elementos dos
Fotheringay, Fairport Convention e amigos na gravação de um disco de versões
de canções de Rock'n'Roll. O álbum, de nome "Rock On", foi gravado no recém
criado estúdio The Manor pertença de Richard Branson onde também seria gravado
o primeiro LP editado pela Virgin, "Tubular Bells" de Mike Oldfield.
Este tema tem esta vantagem que é andar a saltar no tempo e no género musical
bastando para isso que a canção tenha no seu nome um mês do ano, neste caso o
mês de Maio.
Hoje dou um salto para este milénio, mais concretamente 2010, e para o Rock
independente dos Arcade Fire.
Da terra de Leonard Cohen, Joni Mitchell e Neil Young, Canadá, os Arcade Fire
foram a melhor promessa musical que o novo milénio anunciava, "Funeral" de
2004 era o disco inicial e foi um álbum arrebatador, melhor era difícil de
adivinhar, provavelmente o melhor disco da década.
Actualmente, com somente 5 álbuns editados perderam algum do fulgor inicial
que se deseja seja devidamente retomado em novas gravações.
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É no 3º álbum, "The Suburbs" de 2010, muito bem recebido pela crítica mas sem
a magia anterior, que se encontra a canção "Month of May".
Win Butler vocalista dos Arcade Fire explica que
"Living in Montreal, the winters are so insane that in May, when the winter
starts to break, there's a crazy feel in the air.", aí está.
...Month of May, everybody's in love And the city was sent from above And
just when I knew what I wanted to say
Talento único, voz excepcional, compositor distinto, José Afonso é uma figura
inultrapassável da nossa música popular. Lutador anti-fascista, viu-se
perseguido e a sua obra censurada pelo regime anterior ao 25 de Abril de
1974.
São dos tempos anteriores a 1974 trabalhos tão importantes como "Traz outro
amigo também" (1970), "Cantigas do Maio" (1971) e "Venham mais cinco" (1973),
deles saíram verdadeiros hinos de resistência que perduram na nossa memória,
espero que de novas gerações também.
"Cantigas do Maio" foi um trabalho inovador quer no contexto da obra do autor
quer no estado da música em geral na altura, tem sido referenciado como o
melhor álbum de sempre da música popular portuguesa.
Não é só o título do álbum que contêm a palavra Maio na sua designação, também
aparece na canção de hoje, "Maio Maduro Maio", de inspiração popular.
Maio maduro Maio, quem te pintou? Quem te quebrou o encanto, nunca te
amou. Raiava o sol já no Sul.
Retorno obrigatório a Julie London sempre que retomo este tema. Não fosse o
álbum que publicou em 1956 intitulado "Calendar Girl" e que continha uma
canção para cada mês do ano acrescida de "Thirteenth Month". E a capa? 12
fotografias a fazer jus ao nome do álbum e que nos remetem para os calendários
que era habitualmente encontrar em algumas lojas, estou a lembrar-me das
oficinas de carros.
Um disco a que sabe sempre bem voltar, composto por um conjunto de canções
maioritariamente standards de Jazz superiormente interpretados por Julie London. Um álbum repleto de romantismo e melancolia cuja audição se recomenda
que seja feita no silêncio da noite.
"People Who Are Born in May" era uma pequena canção dedicada a quem nasceu em
Maio e que devem encontrar alguém nascido em Julho.
...People who are born in May I've heard tell should always try To search around Until they've foundSomeone born in July...
Começo o mês de Maio com o retomar do tema "Os Meses do Ano em Canção" ou seja
aquelas canções que têm o nome do mês no título. E para o primeiro dia mês de
Maio nada mais apropriado que "First of May" dos sempre bem lembrados Bee Gees, pelo menos daqueles primeiros anos que nos deixaram saudades.
Talvez o ponto alto dos Bee Gees se situe em 1969 quando publicaram o duplo
álbum "Odessa" e quando as tensões entre os irmão Gibb se extremaram e se
separaram temporariamente. Provavelmente já o disse mas repito, naqueles
tempos não apreciava os Bee Gees, e posteriormente na fase Disco muito menos,
mas ouvidos a esta distância alguns trabalhos como por exemplo "Bee Gees' 1st"
ou este "Odessa" cativam-me e lamento não os ter devidamente apreciado a seu
tempo.
"First of May" é uma belíssima canção com Barry Gibb na voz e que me traz
fortes recordações da minha adolescência. Mais não fosse por isso que bom
recordar "First of May".
...Now we are tall and Christmas trees are small And you don't ask
the time of day But you and I our love will never die