sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Fausto - Venha Cá Sr. Burguês

Foi há 40 anos!

Com produção de Adriano Correia de Oliveira e José Niza, Fausto grava, em Madrid no ano de 1974, uma parte ainda antes do 25 de Abril, o seu segundo álbum de originais com a designação “P’ró Que Der E Vier”. Tem ainda a participação, entre outros, de José Afonso, Vitorino e Júlio Pereira. O álbum é terminado em Lisboa após o 25 de Abril “P’ró Que Der E Vier” e reflecte, claramente, o entusiasmo do período revolucionário então iniciado; temas como "Venha Cá Sr. Burguês", “Marcolino”, "O Patrão E Nós" a comprová-lo.




Com Fausto ainda em busca de uma sonoridade identitária, que o consagraria como um dos maiores autores da nossa música popular, “P’ró Que Der E Vier” justifica plenamente o destaque no controverso ano de 1974. Com letras que vão de Alexande O’Neill, a Eugénio de Andrade e ao próprio nos temas atrás referidos e ainda em “É Tão Díficil”.

Das canções mais ouvidas, e também editada em Single, "Venha Cá Sr. Burguês" é a proposta que fica para audição.



Fausto - Venha Cá Sr. Burguês

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Luís Cília - D. Sancho

Foi há 40 anos!
O panorama musical de Portugal no ano de 1974 foi marcado por 4 discos, a saber:

- Sérgio Godinho – À Queima Roupa
- Fausto – P’ró Que Der E Vier
- Luís Cília – O Guerrilheiro (regravado em 1982 como “O Cancioneiro”)
- José Afonso – Coro Dos Tribunais (gravado em 1974, editado em Janeiro de 1975)

Comecemos pelo que ficou menos conhecido, Luís Cília e “O Guerrilheiro. Luís Cília foi sempre um caso à parte na música popular portuguesa. Depois do inicial "Portugal-Angola: Chants de Lutte", dos 3 discos "La Poésie Portugaise de nos jours et de toujours" e do excelente “Contra a Ideia da Violência a Violência da Ideia” de 1973, Luís Cília surpreende com “O Guerrilheiro”.
“O Guerrilheiro” é um disco com profundas raízes no cancioneiro tradicional e dir-se-ia contra a corrente no ano em que foi gravado.



No site www.luiscilia.com, no dizer do próprio:
Cheguei a 29 de Abril e, perante o sectarismo que se começou a criar, dei uma entrevista em que dizia que considerava o Alfredo Marceneiro um cantor revolucionário. É uma coisa que mantenho, mas que na altura até disse como uma forma de provocação contra aqueles tipos que achavam que o fado era fascista. De resto, um povo que durante 48 anos não tinha tido acesso a um determinado tipo de música e que a seguir ao 25 de Abril apanhou com doses industriais de uma reles música a que chamavam revolucionária onde 'pão' rimava com 'patrão'... Depois havia uma inflação de 'revolucionários'. Este disco foi então a minha reacção, como também o foi ter dado a mim mesmo como meta, durante um ano, não cantar em Lisboa. Porque era em Lisboa que se dava o folclore todo. Daí eu ter arranjado, desde essa altura, alguns inimigos. Resolvi fazer este disco, que era em tudo contrário à corrente. Decidi fazer um disco cultural, embora também tivesse a sua intervenção”.

É precisamente da canção  “O Guerrilheiro” que a CGTP iria adaptar o seu hino. Ficamos, no entanto, com uma canção mais pequena (“O Guerrilheiro” dura 10 m) e que sabe tão bem recordar, “D. Sancho”.


Luís Cília - D. Sancho

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

T-Bone Walker - Call It Stormy Monday (But Tuesday Is Just as Bad)

Os Blues estiveram na origem de boa parte dos géneros musicais que se estabeleceram na segunda metade do século XX. De origem simples e rudimentar, voz ou voz e viola, as “Work Songs” , os “Cries” e os “Hollers” eram a forma de expressão da população negra escrava e explorada dos EUA. Dos Blues do início do século XX até à década de 40 (dos Blues do Mississipi aos de Chicago) vai um longo percurso. Os Blues iniciais deram origem ao Jazz, ao Rhythm’n’Blues, ao Rock’n’Roll e diversas variantes.

T-Bone Walker (1910-1975) foi um músico de Blues, activo musicalmente de meados dos anos 30 até aos anos 70 e é considerado “o patriarca da guitarra eléctrica”. Dele disse BB King:
"Ele tem uma forma estranha de segurar a guitarra, mantêm-na afastada em vez de a deixar simplesmente repousar contra o estômago… e dir-se-ia que se limita a arranhar ao longo das cordas com a palheta, nem sei mesmo como é que ele consegue tocar na corda certa… e no entanto, que execução! Fiz tudo para conseguir aquele som, consegui aproximar-me, mas nunca o atingi. T-Bone é o primeiro guitarrista eléctrico de que alguma vez ouvi falar… e é o som mais bonito que alguma vez ouvi em toda a minha vida” em "Os Grandes Criadores de Jazz” de Gérald Arnaud e Jacques Chesnel, Editora Pergaminho, 1991.



Em 1947 grava o seu tema mais conhecido “Call It Stormy Monday (But Tuesday Is Just as Bad)”, ou simplesmente “Stormy Monday”, sendo, de então para cá, objecto das mais variadas versões. No concerto de 2005, no Royal Albert Hall, de regresso do super trio de Rock os Cream (1966-1968) de Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce (falecido no passado dia 25) interpretam “Stormy Monday”, eis:



Ainda do mesmo livro: “De Jeff Beck a Johnny Winter passando por Chuck Berry e Jimi Hendrix, não há um que não o cite como referência absoluta de uma coesão perfeita entre a  voz e o som eléctrico.”

Para terminar, regressar a 1947 para ouvir “Call It Stormy Monday (But Tuesday Is Just as Bad)” de T-Bone Walker.


T-Bone Walker - Call It Stormy Monday (But Tuesday Is Just as Bad)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Muddy Waters - I Can't Be Satisfied

O Blues adquiriu diversas formas de acordo com as migrações da população negra norte-americana, ficando conhecidas com a designação da cidade ou região onde se desenvolvia, Delta Blues, Chicago Blues, Detroit Blues, East Coast Blues, Texas Blues, Louisiana Blues, New Orleans Blues , etc..
O Delta Blues era caracterizado por formas musicais rudimentares, ritmos irregulares e expontâneos tendo a voz, suportada pela viola e/ou harmónica, como principal instrumento. O urbanizado som de Chicago destacar-se-ia na cena musical e viria a ter forte influência em muitos futuros grupos e músicos conectados com o Rock, dos The Rolling Stones a Jimi Hendrix. A progressiva electrificação dos instrumentos, ainda na década de 40, primeiro a guitarra eléctrica, depois a bateria, o piano e o baixo, será preponderante no Blues de Chicago e na sua influência no início do Rock’n’Roll. Podemos mesmo afirmar que os Chicago Blues foram a maior influência na história do Rock, com destaque, não só no início, como, em particular, nos anos 60 e 70.

Muitos nomes então surgiram e ficaram célebres na sonoridade dos Blues de Chicago, eis alguns dos mais conhecidos: Freddy King, BB King, Muddy Waters, Buddy Guy, Willie Dixon, Bo Diddley, Mike Bloomfield.

“Muddy Waters, depressa se tornou , após a sua chegada, em 1943, o mais popular dos jovens bluesmen de Chicago. Este filho do Mississippi, discípulo de Robert Johnson, é «lançado» por B. B. Broonzy que, imediatamente, reconheceu as potencialidades deste guitarrista ácido, que utilizava como ninguém o bottleneck* na guitarra eléctrica, reforçado por um cantor com um carisma assombroso: a sua voz ardente e áspera é tão pouco «urbana» quanto possível num contexto ultra-electrificado que prefigura, a partir dos anos 40, o melhor aspecto do rock’n’roll. Em “Os Grandes Criadores deJazz” de Gérald Arnaud e Jacques Chesnel, Editora Pergaminho, 1991.
(* gargalo de garrafa ou dedo metálico que permite ao deslizar nas cordas uma sonoridade metálica prolongada)

 
 
Muddy Waters (1913-1983), ainda nos anos 40, grava diversos Singles, dos quais se destacaria, pelo êxito que teve, “(I Feel Like) Going Home" / "I Can't Be Satisfied” de 1948. Em 1950 grava “Rollin' Stone”, aqui vieram buscar a designação a revista “Rolling Stones” e a banda The Rolling Stones.

Agora, nada melhor que The Rolling Stones em 2006 e "I Can't Be Satisfied".




Com grande êxito nos anos 50 e 60, Muddy Waters manter-se-ia em actividade até à sua morte em 1983.
Para terminar o seu “I Can't Be Satisfied".



Muddy Waters - I Can't Be Satisfied

Os Grandes Criadores de Jazz – Gérald Arnaud/Jacques Chesnel



Tradução da edição original francesa “Les Grands Créateurs de Jazz”, Bordas S.A., Paris, 1989. Edição portuguesa da Editora Pergaminho de 1991.
Na contra-capa do livro:
“Mais de 300 criadores de Jazz, de Armstrong a Thielemans, que pela riqueza dos seus temas e a variedade dos seus estilos, elaboraram em menos de um século uma música de incontestável vitalidade.
Do blues ao free-jazz, todas as grandes correntes: New Orleans, be-bop, jazz cool, West Coast... e também as contribuições e fusões: África, Caraíbas, Brasil, Europa... o que faz desta música uma expressão cultural universal.
Uma descoberta progressiva da história do jazz, instrumento por instrumento, privilegiando os grandes solistas, as suas inovações específicas, a sua história e o seu legado discográfico.”

Organizado por instrumento, voz, piano, guitarra, clarinete, trompete, saxofone, violino, etc. é um livro de rápida consulta sobre mais de 300 fundamentais músicos de Jazz e Blues.



domingo, 26 de outubro de 2014

Louis Jordan - Saturday Night Fish Fry

O Rock’n’Roll só surgiu em Portugal, de forma tímida, nos anos 60.
Em meados dos anos 50 o Rock’n’Roll já é dominante nos EUA com Bill Haley e Elvis Presley à cabeça. Ou seja quando os músicos brancos se apoderaram e “suavizaram” os ritmos e cânticos negros. Para chegarmos às origens do Rock’n’Roll teremos de recuar mais uns anos, e ouvir Blues e Rhythm’n’Blues. Fiquemos, por agora, nos anos 40 e com o músico negro Louis Jordan.



Louis Jordan (1908-1975), músico de Jazz, Blues e Rhythm’n’Blues, percursor do Rock’n’Roll, teve particular sucesso nos anos 40 e 50 influenciou nomes com Bill Haley, Little Richard, Chuck Berry e James Brown.

A escolha musical vai para “Saturday Night Fish Fry”, de 1949, nº 1 nas tabelas de Rhythm’n’Blues, considerada uma das primeiras canções de “Rock’n’Roll”. A presença da guitarra eléctrica e a letra a dar a ligação ao futuro Rock’n’Roll:

"It was rockin', it was rockin'
You never seen such scufflin'
And shufflin' 'til the break of Dawn"


Louis Jordan - Saturday Night Fish Fry

José Afonso – J. V. Moutinho

José Afonso, Organização e Apresentação de José Viale Moutinho, Colecção Vozes Livres, 2ª edição revista e ampliada de 1975, da Paisagem Editora, Porto.
Para além de uma Antologia de Textos de Canções, possui textos de Manuel Simões, A. F., António Cabral, Daniel Ricardo e Cáceres Monteiro. Inclui ainda notícias e textos de jornais sobre a participação de José Afonso no VII Festival Internacional da Canção Popular do Rio de Janeiro (1972).



José Afonso – Balada do Outono

Em Portugal, os anos 60 foram os anos de todas as mudanças (ou a preparação de algumas atrasadas no tempo). Em termos musicais não foi só a explosão do Ié,Ié, Rock, Pop ou o que lhe queiram chamar. Também na área da música dita “popular” a evolução (revolução) foi profunda, do “nacional cançonetismo” vigente, ao surgimento/crescimento do movimento das “baladas”, até à “nova canção portuguesa” do início dos anos 70. Vários nomes são incontornáveis nesta abordagem:
José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Alegre, Luís Cília (entre muitos outros) são nomes marcantes na revolução musical operada ao longo da década.

Comecemos pelo José Afonso, já com algumas gravações nos anos 50,afastar-se-ia, progressivamente, do tradicional fado de Coimbra em busca de novas sonoridades:
"Designei as minhas primeiras canções de baladas não porque soubesse exactamente o significado do termo mas para as distinguir do fado de Coimbra que comecei por cantar e que, quanto a mim, atingira uma fase de saturação” diria José Afonso, em “José Afonso” de José Vale Moutinho, 2ª Edição, Revista e Ampliada.

Em 1960 grava a belíssima “A Balada do Outono”. Curiosamente o EP, sob o nome Dr. José Afonso, dá pelo título “Balada do Outono/Fados e Guitarradas de Coimbra”.
José Afonso, já debilitado fisicamente, ao vivo no Coliseu em 1983, canta “A Balada do Outono”.



(a evolução interpretativa de José Afonso é notória em comparação com a versão de 1960, que ele iria voltar a gravar, em 1981, no álbum "Fados de Coimbra e Outras Canções”)

Para audição “Balada do Outono”, pelo Dr. José Afonso, o início de uma obra ímpar na música popular portuguesa.


José Afonso - Balada Do Outono

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Zeca do Rock – Sansão foi enganado

De volta a Portugal e ao início dos anos 60... Porque o Rock português tem vários avôs aqui fica mais um: Zeca do Rock.

Zeca do Rock (1943-2012) foi um dos pioneiros do movimento Ié-Ié. Sofre influências de Chuck Berry, Little Richard e Elvis Presley, em 1961 grava o primeiro EP onde constava a canção "Sansão foi enganado" escolhida para hoje.

Em 2008 (passados 47 anos!) a banda de Rock Bunnyranch (2002-), de Coimbra, presta homenagem ao Zeca do Rock e inclui no 3º álbum uma honesta versão de "Sansão foi enganado".




Quanto ao original, onde aparece o primeiro “Ié” gravado em português, é para se ouvir várias vezes e no final dar conta que já se está gingar e a sussurrar:

"Quando ele acordou, coitado, não tinha força para nada
foi então acorrentado por ordem de sua amada.
Algum tempo já passado, o cabelo lhe voltou,
cheio de força e zangado, até a casa ao chão deitou, ié!"



Zeca do Rock - Sansão foi enganado

Roxy Music – A Song for Europe

Bryan Ferry atingiu níveis elevados de popularidade a partir de “Slave to love” (1985) ou, se quiserem, com “More than this” ainda com os Roxy Music em 1982. Há quem considere, de então para cá, a sua melhor fase, intérprete de standards de Jazz (“As time goes by”-1999) e de êxitos de Bob Dylan (“Dylanesque”-2007). Sem dúvida, capacidades interpretativas fora do comum; Brian Ferry, esse dandy do rock convertido no Frank Sinatra moderno (dos concertos de rock ao musical dos casinos).

No entanto, no topo das minhas preferências é necessário recuar ao início dos anos 70 para descobrir o seu melhor. Quer a solo (“These Foolish Things”-1973), quer nos primeiros álbuns dos criativos Roxy Music. Rock vanguardista com uma vocalização cheia de “glamour” em tons decadentes. Uma mistura explosiva. Com a Europa ainda à deriva seleccionei, do 3º álbum “Stranded” de 1973, “Song for Europe” do role “grandes canções que não conheceram o sucesso devido”.

Roxy Music numa grande interpretação de “A Song for Europe”, em 1979.



"Tous ces moments
Perdus dans l`enchantement
Qui ne reviendront
Jamais"




Melhor ainda a gravação original dos Roxy Music de “A Song For Europe”; melhor, melhor a audição do original em vinil, bem alto, claro!








Roxy Music – A Song for Europe

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Os Conchas – Oh! Carol

O duo Os Conchas era constituído por José Manuel Concha e Fernando Gaspar que ao vencerem em 1960 o 1º concurso “Caloiros da Canção” gravaram a meias com o Daniel Bacelar aquele que ficou conhecido como o primeiro disco de Rock'n’Roll português. Nele interpretam a conhecida “Oh! Carol” de Neil Sedaka (1959). 

Para apreciar o vídeo de Neil Sedaka em 1959 a interpretar “Oh! Carol”, foi há 55 anos!


(como tudo se modificou)

Até 1964 foram bastante populares e gravaram mais 7 discos de 45 rotações José Manuel Concha rapidamente virou músico “pimba” e ainda por aí anda.

Em português, direitinhos e certinhos o duo Os Conchas interpreta o grande êxito que foi “Oh! Carol”


Os Conchas – Oh! Carol

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Daniel Bacelar – Fui Louco por Ti

De encontro a mais um avô do Rock português deparamos com Daniel Bacelar.
Pioneiro no início dos anos 60 de qualquer coisa que ainda não se chamava “Rock Português”, ficou conhecido como o nosso Ricky Nelson. A primeira gravação é precisamente de 1960 num EP a meias com Os Conchas (tal e qual, metade do disco é meu a outra metade é tua). O disco é considerado a primeira gravação comercial (não se considerando outras experiências ainda dos anos 50 como, entre outras, a  já anteriormente referida, do Joaquim Costa, “ o Elvis de Campolide”, em 1959), de rock'n’roll em Portugal. O próprio Daniel Bacelar em resposta a mail meu, em 2008, dizia:

"Eu tinha 17 anos quando, por puro acidente, ganhei um concurso da Rádio Renascença e gravei um E.P. para a VALENTIM DE CARVALHO sendo o lado A com duas canções minhas e o lado B duas canções pelos Conchas que ganharam também como como duo vocal.
Foi o primeiro disco de rock'n’roll em português (se é que se pode chamar rock'n’roll) e uma série de outros se seguiram tendo gravado o último com cerca de 22 anos.”

Teve a amabilidade de, na altura, disponibilizar-me a sua discografia.
“Fui louco por ti” é uma das faixas desse EP e é a memória para hoje. Também nesse mail refere-se a “um clip meu, com cerca de 28 anos, ainda a preto e branco, quando fui convidado a ir ao programa dos SHEIKS na RTP2 "SHEIKS COM COBERTURA".”

Lembram-se do programa? Pois é esse vídeo que podemos agora recordar com Daniel Bacelar a interpretar “Hello Mary-Lou”, sucesso de Ricky Nelson em 1961.



Tinha “estilo” e não ficava atrás do que se fazia lá fora… e já agora desenferrujem as pernas e sigam a assistência.
 
A proposta de audição é “Fui louco por ti” do EP “Caloiros da Canção nº1” com acompanhamento do Conjunto de Jorge Machado.


Daniel Bacelar - Fui louco por ti

Bob Dylan - The Times They Are A-Changin'

Foi há 50 anos. O ano de 1964 vê Jean-Paul Sartre recusar o prémio Nobel porque para um escritor comprometido politicamente não é a mesma coisa assinar Jean-Paul Sartre ou Jean-Paul Sartre, Prémio Nobel.
A canção “Caroline” dos The Fortunes (grande êxito em 1965 com “You've Got Your Troubles”) dá nome à famosa estação de Rádio Pirata, “Radio Caroline”, instalada em águas internacionais para difundir a música Pop e Rock que não passava nas estações oficiais. O vídeo “Caroline” é bem ilustrativo.



Thimoty Leary é expulso da Universidade de Harvard por fumar LSD com os alunos e é fonte de inspiração para todo o movimento hippie e para JohnLennon: “Tomorrow Never Knows”, “Come Together”, “Give Peace a Chance” e para The Moody Blues em “Legend of a Mind”.
A geração Beat do final dos anos 50, início dos nos 60 (Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William S. Borroughs), é o embrião do movimento hippie, misturando-se e confundindo-se com este. “Love and Peace” torna-se o lema de uma geração. Vestes estranhas, coloridas e velhas, identificam os seus elementos, e serão determinantes ao longo de toda a década de 60 na atitude anti guerra do Vietname, na luta conta o consumismo capitalista, no gosto pela música de protesto e no consumo generoso de estupefacientes. A juventude negava a “american way of life”.





Para terminar, nada melhor que novo regresso a Bob Dylan, desta vez para o álbum “The Times They Are A-Changin'” e o tema título. Estávamos em 1964, definitivamente os tempos já eram outros.



Bob Dylan - The Times They Are A-Changin'

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Conjunto Mistério – Tired of Waiting For You

Mais um conjunto português em destaque na 1ª metade da década de 60: Conjunto Mistério.
Como ainda não tinham nome ao serem entrevistados na rádio pelo Carlos Cruz, este apresentou-os como “conjunto mistério” e o nome pegou.
Em 1963 vencem o Concurso “Conjuntos Portugueses do tipo do "The Shadows"”, apresentado pelo Fernando Pessa e realizado no cinema Roma para promover o filme “Summer Holidays” (Mocidade em Férias) com Cliff Richard e The Shadows. Outras influências se fizeram sentir e o Conjunto Mistério evolui para sonoridades mais Pop-Rock.

Em 1965 gravam uma versão de “Tired of waiting for you” que é a preferência para hoje.
“Tired of waiting for you” é um original dos britânicos The Kinks, que então rivalizavam em popularidade com The Beatles. Não fosse a existência destes, e The Kinks teriam hoje o reconhecimento que The Beatles têm.
Do 2º álbum dos The Kinks um vídeo da época de "Tired of waiting for you”.



Numa época em que os conjuntos portugueses privilegiavam versões de êxitos internacionais eis a interpretação do Conjunto Mistério de “Tired of waiting for you”.


Conjunto Mistério - Tired of Waiting For You

domingo, 19 de outubro de 2014

POPMUSIC-ROCK – Philippe Daufouy/Jean-Pierre Sarton



Livro de 1972, editado pela Champ Libre, Paris, descreve as origens e evolução musical do Rock’n’Roll e da Pop Music, terminando com uma discografia selectiva até 1971. Particularmente interessante é a 2ª edição portuguesa da Regra do Jogo com um longo e fundamental posfácio de Miguel Esteves Cardoso com o título “O Ovo e o Novo (uma) Discografia duma Década de Rock: 1970-1980” escrito em Novembro/Dezembro de 1980.
 


sábado, 18 de outubro de 2014

David Bowie - Rock 'n' Roll Suicide

(Resposta a mais um pedido para o Regresso ao Passado, desta vez David Bowie)

A década de 70, forma musicalmente um “U” como bem observava Miguel EstevesCardoso no seu posfácio da 2ª edição (1981) ao livro “Pop Music / Rock” de Philippe Daufouy/Jean-Pierre Sarton:

“ Por muito geométrico que pareça, e apesar da ignorância do Sr. Gauss no que toca às coisas do Rock, os pontos altos da década são 1970 e 1980. A partir de 1970 a qualidade, medida pela quantidade de lançamentos importantes, decresce progressivamente. Atinge a fossa mais profunda e pestilenta em 1975, recuperando depois nos anos seguintes, até atingir novo auge em 1980”, afirma o MEC. Ou seja, a primeira metade da década de 70 a viver, por inércia, à sombra dos anos 60 (até espremer e não dar mais) e a revolta punk da segunda metade vir reavivar a cena musical.

No entanto, um conjunto de músicos a que MEC chama “os sobreviventes” destaca-se sobressaindo com “qualidade constante e ininterrupta ao longo da década”: Joni Mitchell, Leonard Cohen, Bob Marley e David Bowie.

Sem mais delongas fiquemos com David Bowie e com o álbum “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” de 1972. Para começar, a faixa de abertura, “Five Years” (o alienígena Ziggy Stardust, que vem para salvar a terra, anuncia que esta irá ser destruída dentro de cinco anos):



“The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” foi o melhor álbum da década de 70 e termina com “Rock 'n' Roll Suicide” (o suicídio de Ziggy Stardust que entretanto se transformara em estrela de Rock e líder da banda ”Spiders from Mars").

 













De acordo com as instruções impressas na capa do LP “TO BE PLAYED AT MAXIMUM VOLUME”, aqui vai “Rock 'n' Roll Suicide”:


David Bowie - Rock 'n' Roll Suicide

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Cat Stevens - Lady D'Arbanville

(Respondendo a um pedido aqui vai um Regresso ao Passado dedicado a Cat Stevens)
O período de ouro de Cat Stevens vai de 1970 a 1974 com 6 álbuns de qualidade superior à média, é também o mais conhecido, pelo que vale a pena recuar um pouco mais no tempo e recuperar o seu primeiro registo de 1967 (Ah! Grande ano!), tinha ele 19 anos, de nome “Matthew & Son”. Que delícia!
 


(era assim em todo o lado ou eram mesmo só os alemães que não se mexiam?)

Ainda em 1967 grava o 2º álbum “New Masters” donde se destacava “First Cut is the Deepest” popularizada mais tarde por Rod Stewart e mais recentemente por Sheryl Crow e James Morrison. Mas será preciso esperar por 1970, depois de convalescença de tuberculose e prática de meditação, para se verificar a “explosão” Cat Stevens, primeiro com “Mona Bone Jakon” e depois com “Tea for the Tillerman”. Entre estes 2 LP fiquemos com o primeiro que ficou menos conhecido “Mona Bone Jakon” e com a irresistível faixa de abertura "Lady D'Arbanville".



"Lady D'Arbanville", que tantas vezes ouvi nas noites quentes da praia do Furadouro (em Ovar), seria o arranque para uma brilhante carreira até à sua conversão ao islamismo em 1978.
 
"My Lady D'Arbanville, why do you sleep so still?
I'll wake you tomorrow, and you will be my fill,
Yes, you will be my fill”


Cat Stevens - Lady D'Arbanville

José Almada – Oh Pastor que choras

No fundo de memórias quase perdidas estava a música de José Almada. Cantor de uma sensibilidade enorme, deixou-nos nos inícios dos anos 70 2 LP de antologia.
José Almada não foi um nome que atingisse grande popularidade e, infelizmente, pouco mencionado quando, de alguma forma, se aborda aquele período musical.
Que injustiça!
(Re)descobri há alguns anos a discografia que ele nos deixou, em particular o álbum “Homenagem” de 1972 gravado para a etiqueta Zip-Zip e fiquei completamente grudado à simplicidade, intensidade, singularidade e pureza das canções por ele compostas. Uau! É do melhor que se possa imaginar. Como é que foi possível tal obra ter ficado completamente desconhecida? Atrevo-me a colocar “Homenagem” junto do melhor de Sérgio Godinho/José Mário Branco.
Do EP “Mendigos” de 1970 a canção “Mendigo” letra e música de José Almada.
 


Após mais de 30 anos de isolamento José Almada voltou ao convívio musical e fui descobri-lo na minha terra natal, Ovar, na praia da minha juventude o Furadouro. De então para cá ficámos amigos, trocamos mensagens e partilhamos amizade nas redes sociais.



“Oh Pastor Que Choras” é uma bela canção, com letra de José Gomes Ferreira (um dos seus poetas preferido) e música de José Almada, e faz parte do referido LP “Homenagem” Com uma voz cheia de beleza e estranheza aqui fica “Oh Pastor que Choras” de 1970:


José Almada - Oh Pastor Que Choras

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Joaquim Costa – Tutti Frutti

Aqui fica um episódio dos primórdios do Rock’n’Roll em Portugal:

1959.

Joaquim Costa ouve Bill Haley numa Jukebox no Campo Mayer e aquela música “entrou pelo corpo adentro”, disse. Joaquim Costa ficou conhecido como “O Elvis de Campolide” e foi o primeiro português a gravar um disco de Rock'n'Roll. Aconteceu no Verão de 1959 e só foram prensados 2 exemplares em 78 rotações (edição não comercial paga por ele). Pelos vistos a gravação foi feita sem guitarras eléctricas, amplificadores e sem saber inglês, cantava de ouvido e o que contava era a ”atitude”.

2007.

Joaquim Costa 72 anos sobe ao Palco do Maxime em Lisboa pela mão de Paulo Furtado mais conhecido pelos seus projectos: Legendary Tigerman e Wraygunn. Eis o registo.

   

Poucos meses depois, a 15 Fevereiro 2008, o coração parou depois de uma vida cheia de rebeldia e de ritmo.
"Tutti Frutti", original de 1955 de Little Richard, foi uma das duas canções por ele gravadas em 1959, o primeiro disco da história do Rock’n’roll em Portugal.


Joaquim Costa - Tutti Frutti
(a qualidade sonora não é evidentemente a melhor)

Adriano Correia de Oliveira - O Senhor Morgado

Faz hoje 32 anos que faleceu Adriano Correia de Oliveira.

Adriano foi, a par de José Afonso e Luís Cília, um dos mais proeminentes cantores de intervenção anteriores ao 25 Abril. As primeiras gravações datam do início dos anos 60, tendo ficado particularmente conhecido o tema “Trova do vento que passa” (Há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não) de 1963 que se tornou um verdadeiro hino de resistência ao fascismo. Outras canções do mesmo período foram bastante populares: “Capa Negra, Rosa Negra”, “Lira” e “Menina dos olhos tristes” numa forte influência do fado de Coimbra. “Menina dos olhos tristes” é uma bela balada de denúncia da guerra colonial: “O soldadinho não volta / do outro lado do mar /…/ O soldadinho já volta / está mesmo quase a chegar / Vem numa caixa de pinho / do outro lado do mar”.




Adriano era dotado de um timbre de voz ímpar e virá no final da década de 60 a ter um papel decisivo na renovação da nossa música popular. Os anos de 1969, 1970 e 1971 vêem surgir 3 discos fundamentais, respectivamente, “O Canto e as Armas”, “Cantaremos” e “Gente de Aqui e de Agora”. A evolução musical é notória e culmina no excelente “Gente de Aqui e de Agora” com apurados arranjos orquestrais. É, em meu entender, o melhor registo de Adriano e um marco no surgimento da nova Música Popular Portuguesa. José Niza, compositor e director musical responsável pelo disco, afirma, segundo Mário Correia no livro “Música Popular Portuguesa”, na capa interior do disco:
"O Adriano tem atrás de si uma tradição importante pelo que deixou e pelos novos caminhos que aponta e possibilita. Em síntese, penso que a ponte que vi construir-s e ao longo destes dez últimos anos atingiu a margem do outro lado…”

De “Gente de Aqui e de Agora” são inesquecíveis canções como, “Emigração”, “E alegre se fez triste”, “O senhor morgado”, “A vila de Alvito”, “Roseira Brava” e ainda “História do quadrilheiro Manuel Domingos Louzeiro”.

À memória de Adriano Correia de Oliveira recordamos “O Senhor Morgado”.



Adriano Correia de Oliveira - O Senhor Morgado

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Filarmónica Fraude – E Tudo Acabou em 69

Diário de Lisboa de 12 de Agosto de 1968, sob o título “A «Filarmónica Fraude» nas noites brancas de Alvor”, escrevia Fernando Assis Pacheco:

“A cinco quilómetros de Portimão, na Praia de Alvor, ouve-se boa música pop tocada por um conjunto português, a «Filarmónica Fraude», que cinco estudantes da cidade de Tomar organizaram para matar o tempo.”

A gravação de 2 EP e 1 LP em 1969 foram suficientes para a FilarmónicaFraude deixar um lugar único na história da nossa música popular.
Em 2013, com edição da Guerra e Paz, e autoria da própria Filarmónica Fraude (conversas e escrita de Rui Miguel Abreu), é publicado o livro “E Tudo Acabou em 69” com todas as histórias contadas pelos próprios elementos do grupo.

Lê-se de uma acentada e no fim fica a sensação de saber a pouco… mas, como que a compensar, incluído vem um CD com 4 canções novas da “Filarmónica Fraude”. A não perder!



Filarmónica Fraude – Animais de Estimação

Quem se lembra de “Animais de Estimação”? e “Menino” (quando eu era pequenino)? ou ainda “Sebastião Morreu”? Pois é! Eram a Filarmónica Fraude de boa memória.
Caso ímpar na cena musical do final dos anos 60 aliavam um som original, suportado na música tradicional com fortes influências da música Pop, a letras cheias de ironia e sátira social.
A duração do grupo foi infelizmente curta, gravariam, em 1969 (já lá vão 45 anos!), um único e excelente LP, o primeiro álbum conceptual feito em Portugal, de nome “Epopeia”. Teríamos de esperar por 1975, para na excelente Banda do Casaco, pela mão de António Pinho, elemento destacado da Filarmónica Fraude (e Nuno Rodrigues ex-Música Novarum), retomar-se o melhor que por cá se fez na fusão da música Pop e a música de raiz Folk.

Uma das faixas de “Epopeia” chama-se “25” que de acordo com texto do blog http://rodamarante.blogs.sapo.pt :
"...era para se chamar "25/68". Era uma metáfora sobre o regresso dos soldados da Guerra Colonial que então decorria. "25/68" era o formato do número de companhia dos militares portugueses utilizado na altura. A Censura cortou. A faixa passou a chamar-se simplesmente "25"..."

(atenção à letra!)


Para audição, vamos então revisitar “Animais de Estimação” tema incontornável da Filarmónica Fraude.


Filarmónica Fraude - Animais de Estimação

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Chinchilas - I’m a believer

Em mais uma incursão pelas versões que os grupos portugueses faziam de sucessos internacionais deparamo-nos, em 1967, com uma bem conseguida versão de “I’m a believer” pelos Chinchilas, um grupo muito interessante da 2ª metade dos anos 60. “I’m a believer” é um original de Neil Diamond e foi popularizado pelos The Monkees em 1966.

A melhor versão que conheço é, no entanto, a admirável interpretação de RobertWyatt (músico de outras áreas) que data de 1974.



(Robert Wyatt compositor/baterista/cantor do grupo de fusão Jazz/Rock  Soft Machine tinha ficado paraplégico no ano anterior)

Para memórias mais recentes, também os Smash Mouth recuperaram “I’m a believer” no filme Shrek.
“I’m a believer” era a faixa de abertura do 1º EP dos Chinchilas. Em dias sombrios é bom recordar e cantarolar:
Then I saw her face, now I'm a believer
Not a trace of doubt in my mind.
I'm in love,I'm a believer!
I couldn't leave her if I tried.”


Chinchilas - I'm a believer

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Bob Dylan - All I Really Want To Do

Foi há 50 anos.
Enquanto, por cá, a popularidade ia directa para o 1º Festival da Canção da RTP  e para o seu vencedor António Calvário com a canção “Oração”, mas repudiada no Festival da Canção da Eurovisão com o último lugar e 0 pontos, lá fora o sucesso dos The Beatles ultrapassava fronteiras e conquistava o mundo.
The Beatles editavam 2 LP (Long Playing): “A Hard Day’s Night” e “Beatles For Sale” e em Fevereiro invadem os Estados Unidos. Do outro lado do atlântico a resposta vem com The Beach Boys e nada menos que 4 LP: “Shut Down Volume 2”, “All Summer Long”, “Beach Boys Concert” e “The Beach Boys' Christmas Album” (o início de uma salutar rivalidade que se prolongaria ao longo da década). 

Nos Estados Unidos a música folk vai ter uma década de oiro  e no ano de 1964 destacaram-se as edições de 2 LP de Bob Dylan “The Times They Are a-Changin'” e “Another Side Of Bob Dylan”, a gravação de Joan Baez “Joan Baez/5”, 3º disco de estúdio, e o álbum de estreia do duo Simon and Garfunkel, “Wednesday Morning, 3 AM”. 
O vídeo vai para Joan Baez e “There But For Fortune”, música de Phil Ochs outro nome grande do Folk norte-americano.





Em Portugal, o ano de 1964 veria surgir 2 conjuntos que iriam marcar a sonoridade da música Pop nos anos seguintes, Os Sheiks e os Ekos. As influências externas passavam dos The Shadows, até aí omnipresentes, para os The Beatles, então à conquista do mundo. O melhor da nossa música popular ia para o 1º álbum de José Afonso, "Baladas e Canções".

Sheiks, Ekos, José Afonso novos rumos da música portuguesa, então dominada por Calvário, Madalena, Simone, Maria Pereira, Toni de Matos..., a serem objecto de futuros Regresso ao Passado.  Para já mantemo-nos na música Folk dos Estados Unidos e no que viria a ser o seu representante maior, Bob Dylan.
Do álbum “Another Side Of Bob Dylan” a faixa de abertura “All I Really Want To Do”



Bob Dylan - All I Really Want To Do